Parece que foi ontem aquele aceno antes de sumir na curva que eu espreitava pela fresta da janela todos os dias como um ritual de renovação constante para mais um dia de batente da Zélia.
Antes daquele dia 1° de
fevereiro de 1978, eu jamais poderia imaginar que a miséria daquelas redondezas
lá de Paciência fosse mais saudável que a saudade que eu inaugurei naquele
instante em que um passarinho trouxe a notícia do trem malvado.
Nos tempos em que fui me
acostumando a conviver com uma grande perda os mecanismos de se compartilhar a
angústia ficava restrito ao recolhimento, às ilusões, ao choro contido que se
confundia com a crise de identidade muito comum a um fedelho perdido aos quatro
ventos.
Hoje, minha sombra não é tão
nebulosa que eu não possa seguir adiante e sempre. Mas meus fantasmas estão
sempre me conduzindo de forma trôpega, para que eu não cicatrize jamais essa
ferida aberta.
Na verdade, são meus anjos
reatando a todo instante o cordão umbilical. Deve ser por isso que eu até hoje
ainda acordo sempre com um grande beijo. Deve ser por isso que eu continuei
tirando notas boas senão te meto o chinelo.
Consegui ser o que muita
gente nunca será por causa da bagagem que carrego nessa viagem sem volta. Para
minha sorte, consegui também transformar minha dor na arte de prosseguir. Descobri
um jeito de modificar a velha angústia em combustível. Suor e lágrima agora têm
o mesmo gosto, a mesma fragrância, a mesma essência.
A saudade que me entorpece
nunca me matará, mas se um dia eu morrer hoje eu vou aí te acordar do jeito que
eram minhas manhãs.
Diria que não existem tão belas palavras, pois falaste de quem ainda ama, de quem te ensinou ser esse homem exemplar que é.
ResponderExcluirObrigado, meu grande amigo, Rubens! Ninguém na face da terra sente dor sem motivos. Um grande abraço!
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