terça-feira, 29 de julho de 2014

A vida é bela


  Eu nunca tive interesse em tomar depoimento de quem foi ao inferno e voltou para contar passagens tenebrosas e horripilantes sobre como seria ver a morte de perto.
   Dificilmente alguém que já viveu tal infortúnio iria imaginar que seu interlocutor almejasse criar coragem para transpor o muro que nos cerca neste plano através da desgraça alheia.
   Eu pelo menos prefiro acreditar que uma mente aliviada pela sorte de deuses e anjos apenas deseje a misericórdia e a piedade dos mais chegados, de quem está sempre próximo, vivenciando e tomando partido de nossas turbulências.
   E uma minúscula tragédia desses novos tempos não é suficiente para a mente humana se conformar com seu próprio fim. Por isso a morte ainda é um grande desafio, mesmo para aqueles que têm a sensação do dever cumprido.
   De qualquer forma, é nesses sustos que a gente toma, quando há uma repentina e passageira certeza de que iremos partir naquele exato instante, que o medo toma conta e começamos a especular sobre tudo que ainda não foi realizado, conquistado.
   Seria a minha tarefa a executar por aqui apenas esse monte de coisas que eu fiz até agora? E as paixões e os amores que eu poderei sentir, curtir e compartilhar? E a Bonequinha, cujo projeto de felicidade eu preciso vivenciar para me sentir no apogeu? E as outras crias que também me contemplam com amores únicos? São seres especiais que eu preciso amamentar por muito tempo ainda.
   Se há algum mecanismo, algum critério específico para definir o tempo de vida dos mortais, eu sugiro que a trajetória mais longa e mais bela seja estendida a quem tem mais amor para dar nesse mundo, a quem tem mais poder de transformar seus vícios, seus pecados e suas limitações em algo verdadeiramente grandioso aos olhos de quem usufrui do meu amor, da minha atenção e é plenamente correspondido.
   Certamente, alguém como eu, em puro momento de encantamento ou falsa ilusão tenha duvidado que exista mais prazeres do que desgraça na vida reservada a cada um.
   Mas o perigo também nos enche de fé e coragem para acreditar que a riqueza maior de nossa existência é mais abundante que os fantasmas que desenhamos. Com isso, as tristezas e angústias perdem completamente seus sentidos. Porque há uma força, uma Luz que incide sobre nossos caminhos, nos fazendo acreditar sempre no amor.
   Porque a vida é verdadeiramente bela. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Rio dos gambás


  Domingo, dia 20 de julho, o jornal O Globo publicou uma matéria dando conta da frequência de gambás em algumas localidades da zona sul do Rio, assim como a ocorrência de gaviões, canários, capivaras e tartarugas em outros pontos da cidade.
   Na mesma edição, reportagem alerta para a proliferação de edificações ilegalmente construídas na região do Itanhangá, aos pés do maciço, em direção à Floresta da Tijuca.
  Tão estarrecedor quanto à presença de animais de várias espécies no meio urbano é a falta de comprometimento da publicação em dispensar aos seus leitores a relação de causa e efeito entre os dois eventos.
   Já não basta que o poder público permita construções irregulares em áreas que já poderiam estar protegidas de qualquer processo de degradação, através de mecanismos que pudessem efetivamente erradicar a ocupação do solo urbano sem o mínimo controle dos órgãos governamentais.
   Antes mesmo de a mídia espetacularizar a presença de aves, mamíferos e répteis no convívio humano, as três esferas de governo há muito tempo trata com total descaso a questão ambiental, ou pelo menos de forma tímida os projetos de desenvolvimento das grandes cidades.
   Seja em tragédias de grandes proporções ou em eventos aparentemente inofensivos, a verdade é que a falta de fiscalização que o prefeito Eduardo Paes admite ser difícil executar contribui para transformações urbanísticas distante de tudo que foi discutido em encontros anteriores, principalmente a Rio+20, cujo propósito da sustentabilidade, se posto em prática, poderia desenhar um cenário mais adequado às urgências que se verificam agora.
   Com isso, a população assiste a esse crescimento desordenado que culmina com o desequilíbrio ecológico inserido na vida urbana de uma grande metrópole como o Rio, onde o despreparo do poder público anda em descompasso com a realidade da cidade maravilhosa, com a contribuição da imprensa espetaculosa.
   Lamentável! 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Copa do povo




     Ainda que a campanha da seleção brasileira tenha sido decepcionante, nada poderia tirar o brilho da Copa realizada no Brasil.
   Se a família do Felipão não teve o desempenho que se esperava,, pelo menos os brasileiros tomaram para si o protagonismo do maior evento esportivo do mundo.
   Não há dúvidas de que essa foi realmente a melhor das Copas, como já se imaginava, independente do triunfo ou da desgraça da equipe brasileira.
   Dificilmente em outras sedes onde aconteceram outros Mundiais havia toda a consagração de grupos de diferentes costumes, apesar de  serem nessa atmosfera da Copa do Mundo rivais em extremos.
   Historicamente, há no Brasil um clima de cordialidade e fraternidade que automaticamente acaba contagiando qualquer mortal que se aventure pelo nosso país.
   Num ambiente de festa, então, a confraternização fica mais evidente ainda, garantindo o retorno do forasteiro, assim que ele tiver mais motivos para isso.
   É claro que os organizadores não poderão tirar proveito sozinho da festa no Brasil, cabendo a eles apenas a sorte de ter escolhido o Brasil para ambientar a Copa. Muito menos algumas figuras públicas que certamente vão querer se beneficiar, colhendo alguns dividendos, ou votos, como queiram, já que este ano o calendário emenda os preparativos para as eleições.
   O povo brasileiro, sim, é que merece os créditos do sucesso da Copa, por ter recebido com entusiasmo os visitantes. Mesmo que de tempo em tempo, seria um prêmio a quem está sempre sorrindo, apesar das atribulações da vida brasileira, com carestia, inflação, insegurança, corrupção e outras inquietações do cenário político, que ainda assim não tiram a alegria estampada no rosto de cada brasileiro que conseguiu conciliar a sua vida social com a rotina da Copa do Mundo.
   É o primeiro indício de que a população está separando o joio do trigo, considerando as questões relativas à realização da Copa, principal alvo dos protestos pelo país.
   Em meio às homenagens que vão fazer aos melhores da Copa,deveria haver um troféu especial ao povo brasileiro que segurou a onda numa boa.
   Pelo menos nesse quesito, a taça é nossa.

O melhor da Alemanha

  


  Não poderia ser diferente que uma grande conquista viesse por intermédio de todo um planejamento, como parte maior desse triunfo da Alemanha na Copa do Mundo no Brasil.
   Por tudo que se viu durante os jogos, o desempenho das melhores seleções, as inovações táticas que já se conhecia dos principais times do mundo, tudo prenunciava que essa Copa também seria a melhor nesse aspecto.
   Apesar do brolho das melhores estrelas da Copa, aqueles que sempre fazem a diferença e sobressaem em grandes desafios, o futebol vai tomando forma do que é realmente uma modalidade esportiva de caráter coletivo.
   Fica, principalmente, para o Brasil o exemplo de como um trabalho brilhantemente executado dentro das quatro linhas é fruto de organização e profissionalismo por parte de quem se propõe a fazer do futebol um projeto de grandes conquistas em toda sua essência.
   Durante todo o período em que a seleção da Alemanha ficou sem ganhar um título de Copa do Mundo, alguns times daquele país já vinham se destacando nos principais torneios da Europa, assim a atuação de jogadores alemães em outras equipes do velho continente, fruto, justamente de um trabalho renovador que a federação alemã promoveu em seus quadros nos últimos tempos, quando figuras importantes que conhecem de fato o futebol resolveram revolucionar a arte de jogar bola, e que agora com essa grandiosa conquista mostra para o mundo que a revolução do futebol não se dá sem grandes transformações.
   Não chega a ser surpresa que nessa Copa no Brasil os maiores craques do torneio não tenham resolvido, sozinho, o desafio de suas equipes na disputa. Todos aqueles de quem mais se esperava de um grande craque definharam agora porque o conjunto prevaleceu ao talento individual. E as seleções que ignoraram essa premissa básica do futebol ficaram pelo meio do caminho, inclusive o Brasil, que me disputas anteriores sempre se valeu da excepcionalidade do craque da vez.
   Agora, esse título de campeã vem realmente premiar tufo aquilo que Joaquim Low projetou para fazer da seleção da Alemanha a melhor do mundo.
   Por todo o trabalho realizado antes dessa importante conquista, a Alemanha ainda pode colher novos frutos, porque certamente a organização, disciplina, seriedade e,m principalmente, profissionalismo vão continuar.
   Dificilmente outra seleção vai chegar ao topo se não trilhar esse caminho que a Alemanha já percorre há muito tempo, por isso é a melhor.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Vergonha nacional



  O mínimo que Luiz Felipe Scolari poderia fazer depois de tamanho vexame foi assumir o mea-culpa após o jogo, talvez o único ponto positivo de quem tinha a responsabilidade de conduzir um grandioso projeto para o futebol brasileiro, considerando os novos ventos que já sopram em outras praças, como ficou provado nessa fatídica partida que mostrou o nível a que chegou o futebol da Alemanha nos últimos tempos, tanto que é de lá, daquele país, o melhor time do mundo atualmente.
  Mas, desde o momento em que Felipão não consegue explicar as escolhas que fez, sobretudo as alterações no time ao longo dos jogos, ele simplesmente demonstra que não tinha um padrão ideal para a seleção brasileira, capaz de fazer frente a uma equipe de grande porte.
   Nesse sentido, pode-se concluir que o Felipão não tinha competência para dirigir a seleção brasileira, justamente por não ter atualizado seu currículo de técnico vencedor em outras disputas. Com os jogadores que ele tinha em mãos, possivelmente outro técnico com visão mais ampla do que se passa no futebol atualmente evitaria, no mínimo, um desastre como esse.
  Pelo nível do futebol praticado em território brasileiro, como mostra o Campeonato Brasileiro, interrompido por causa da Copa, nenhum treinador do Brasil se mostra à frente de seu tempo. Os que atravessam a fronteira para dirigir outras equipes só atuam em praças onde o futebol ainda engatinha.
   O que não quer dizer que um treinador brasileiro não possa acompanhar a evolução do futebol. Acontece que na maioria das vezes as comissões técnicas são instruídas a trabalharem de acordo com a política dos clubes, o que não é diferente em se tratando de CBF, cuja filosofia extremamente arcaica, desde gestões anteriores, pode ter inibido o trabalho de outros treinadores, não se sabe. Se o Felipão também foi vítima do sistema, agora é tarde.
   O que não pode é um plano mal traçado, sem planejamento, expor ao ridículo jogadores de talento reconhecido, como esse grupo que foi convocado para o hexa.
   A reestruturação do futebol brasileiro deve começar pela cúpula da CBF, aposentando de vez o seu velho conservadorismo e reconhecendo que não somos mais os melhores boleiros.
   Para que outras gerações não tenha esses dissabores que o futebol também proporciona ao povo brasileiro. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Força, Neymar!


    
    Toda vez que o espetáculo do futebol sofre baixas, os únicos que saem ilesos são os deuses da bola, ainda que os anjos percam as asas e o rumo, e se juntam ao diabo, aquele ser errante que torna a cena mais triste possível.
  Não somos culpados que as outras pátrias não têm anjos para adorar, pois, aqui nós tivemos um monte deles, desde aquele de pernas tortas, o baixinho, o dentuço, fora os outros anjos que se fizeram príncipes e até rei.
   Agora, nessa Copa quase minha, quase nossa, o anjo de canelas cinzentas talvez tenha deixado para o ato final do espetáculo tudo aquilo que já se conhece de um lindo anjo.
   E Neymar, nessa cadeia sucessória é o anjo da vez. Para o povo brasileiro, já tão carente de grandes homens, restava pelo menos a alegria de um grande drible, um grande lance, que enquanto encanta a alma da pátria futebol, ofusca os olhos da besta-fera e sua beleza sem graça.
  Porque no futebol é assim. Para sorte do espetáculo ou da tragédia, a democracia transcendental permite que anjos e demônios se digladiem para ver se o final vai ser belo ou nebuloso.
   Mas os anjos deixam rastros e seus arcanjos vão incorporar as proezas do menino de canelas cinzentas. E Neymar já é eterno, porque asas de anjos renascem sempre. E como os deuses do futebol não podem conspirar contra a eternidade dos anjos, os demônios têm vida curta e os anjos nunca saem de cena.
   Força, Neymar! 

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Uma nova ordem

   Assim como nos primeiros resultados da fase inicial da Copa, as partidas das oitavas de final também revelaram disputas eletrizantes, fazendo desse Mundial o melhor de todos nesse aspecto.
   Embora muito cedo para avaliar os desdobramentos ao longo dessa reta final que se aproxima, os posicionamentos das seleções já dão a dimensão do que pode ocorrer até a grande final, principalmente com relação às equipes de quem menos se esperava, e que acabaram batendo um bolão, mesmo em confrontos com seleções tradicionais, de títulos no currículo.
   Costa Rica, Colômbia e Bélgica, por exemplo, com menos frequência em Copas, já se igualam a seus rivais nas quartas de final, pelo desempenho demonstrado ao prosseguir na disputa. Se vão sobreviver por mais tempo vai depender de como se comportarão nesse mata-mata, se vão conseguir essa mesma postura em confrontos mais acirrados.
   De qualquer forma, são novidades que surpreendem mais do que o tropeço de seleções mais tarimbadas que sempre definham precocemente em todas as edições.
   Mas nessa Copa no Brasil, especificamente, não parece que a revelação de seleções do segundo escalão seja algo passageiro, momentâneo, ou como se costuma dizer, fogo de palha.
   Na partida em que a Costa Rica venceu a Itália, ainda na fase de grupo, ficou evidente que com disciplina tática, preparo físico e postura ofensiva é possível se igualar a uma forte seleção, desde que se consiga manter o foco durante os 90 minutos mais prorrogação, como aconteceu agora nas oitavas de final com essas seleções que ainda resistem.
   Como já ocorre com os maiores times do mundo, que despontam justamente pela mentalidade inovadora de um clube campeão, algumas federações, tanto as emergentes quanto as mais consagradas já vêm há algum tempo fundando uma nova filosofia para o futebol.
   Não deixa de ser animador que as seleções que já têm conquistas importantes promovam essas mudanças para se manterem no topo. Mas é também gratificante e saudável para o futebol que esses ventos soprem em outras praças.
   Se isso não refizer uma nova ordem no futebol de imediato, já na Copa no Brasil, pelo menso nessa edição já há indícios de que em pouco tempo poderemos vislumbrar outra configuração no posicionamento das melhores seleções do mundo.
   A FIFA, sempre irredutível em seu conservadorismo, também já sinaliza com transformações para o velho esporte bretão ao adotar recursos tecnológicos, embora isso não seja suficiente para inovar sua velha política. Mas isso é uma outra história.
  Mas, com relação ao que se pratica dentro das quatro linhas, quem acompanhar essa nova tendência, não só do advento de tecnologia, mas também da excelência de outros fatores, poderá num breve espaço de tempo ocupar melhores posições no ranking e, consequentemente, remexer a elite do futebol