Toda vez que o espetáculo do futebol sofre baixas, os únicos que saem ilesos são os deuses da bola, ainda que os anjos percam as asas e o rumo, e se juntam ao diabo, aquele ser errante que torna a cena mais triste possível.
Não somos culpados que as outras pátrias não têm anjos para adorar, pois, aqui nós tivemos um monte deles, desde aquele de pernas tortas, o baixinho, o dentuço, fora os outros anjos que se fizeram príncipes e até rei.
Agora, nessa Copa quase minha, quase nossa, o anjo de canelas cinzentas talvez tenha deixado para o ato final do espetáculo tudo aquilo que já se conhece de um lindo anjo.
E Neymar, nessa cadeia sucessória é o anjo da vez. Para o povo brasileiro, já tão carente de grandes homens, restava pelo menos a alegria de um grande drible, um grande lance, que enquanto encanta a alma da pátria futebol, ofusca os olhos da besta-fera e sua beleza sem graça.
Porque no futebol é assim. Para sorte do espetáculo ou da tragédia, a democracia transcendental permite que anjos e demônios se digladiem para ver se o final vai ser belo ou nebuloso.
Mas os anjos deixam rastros e seus arcanjos vão incorporar as proezas do menino de canelas cinzentas. E Neymar já é eterno, porque asas de anjos renascem sempre. E como os deuses do futebol não podem conspirar contra a eternidade dos anjos, os demônios têm vida curta e os anjos nunca saem de cena.
Força, Neymar!
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