segunda-feira, 12 de julho de 2021

DE REPENTE, O MAR

      


    Hoje eu vi o mar pela primeira vez na vida, quem diria. E olha que eu já fui marinheiro, singrei alguns mares e já fiquei também várias vezes vislumbrando o horizonte nessas praias da vida, que a gente sempre frequenta em momentos de lazer.
   Mas, como é que pode um negócio desse a essa altura do campeonato de uma longa trajetória? Como se explica esse contrassenso? 
   É fácil compreender o espanto que essa constatação acima causa, mas o próprio movimento das águas em seus vários fluxos, de intervalos diferentes em cada ocorrência, parem pra reparar, é um fato novo, inédito, pelo simples fato de que há um efeito diferente toda vez que o movimento se repete e continua mais e mais vezes sem parar. 
   Se os fatores geológicos daquele fenômeno, movimento de marés, em conexão aos outros elementos da natureza, os ventos, o sol, ajudam  a atestar uma certa simetria, em que tudo parece certinho, perfeito e maravilhoso, pense na energia que toda essa movimentação gera em paralelo ao espetáculo deslumbrante produzido a todo instante.
   Não é coisa que se descobre ou sente olhando o mar de uma varanda, de uma janela, de uma foto ou binóculo. Esse panorama é muito superficial, limitado apenas  à estética das coisas, como várias outras maravilhas ao nosso redor que apenas ofuscam os olhos e pronto.
   É preciso um contato direto, tipo pele à pele com o mar, desde a mão alisando a água naqueles passeios luxuosos de barco, em que se permite esse prazer, que delícia, para quem pode, obviamente; ou os pés fincados na areia esperando a hora certa de entrar num curto  espaço daquela imensidão à frente.
   É quando começa a influência daquele fenômeno da natureza na vida de quem se projeta ali, uma troca incessante de matéria se instaura ali, num fluxo constante. Você pensa em todas aquelas coisas que você reivindica para si, e outras, das quais você quer se livrar. Olha ai a velha convergência de corpo e mente. Sim, a mente fixa e constrói o cenário de tudo que se pretende para sua vida chegando ao sabor da maré, que maravilha, e levando pra bem longe, bem além do horizonte, tudo aquilo que não presta mais.
    É claro que tem toda uma questão espiritual envolvida, porque, além da ligação com a natureza, há uma conexão com Deus, mas, sempre lembrando que a denominação religiosa fica à mercê de cada um. Se a natureza tem seu processo seletivo, as pessoas têm seu bom e velho livre arbítrio.
   E aí, gente, você fecha os olhos, eleva os pensamentos  e vê nitidamente no retorno das águas os trastes, bagulhadas  e quinquilharias que você  costumava conservar como bibelôs, agora tudo se afastando lentamente ao sabor do vento, a onda levando, vai com Deus. 
   Eu acredito que a própria natureza se renova quando cumpre esse papel de nos renovar também. É uma troca. Tanto que ela também se rebela quando a gente a maltrata, degrada e destrói.
   Portanto, é nesse sentido  de que há um fato novo a todo momento, tudo se transformando em tempos e situações diferentes, que o mar é diferente cada vez que o vemos e sentimos. Uma síntese de nossa vida, enfim, em que tudo pode ser renovador e revigorante, assim mesmo, de forma fortuita e inesperada.

7 comentários:

  1. Parabéns meu amigo 👏🏾👏🏾👏🏾

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  4. O CAPITÃO E O MOÇO. (Alessandro Frezza).


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