quinta-feira, 3 de março de 2022

A NOVA VELHA ORDEM



   Não tem como saber se os outros conflitos tinham todo esse bafafá que é visível nas redes sociais por causa dessa guerra atual. Na época das duas grandes guerras, claro, não havia essa comunicação dimensionada de hoje, por isso só saiu nos livros de história os mortos e feridos.
      Pelo tempo que já passou, não há ninguém que possa reproduzir uma resenha que tenha havido na ocasião, de algum bate-boca, nem que seja de uma conversa na calçada com a vizinhança, numa dessas noites calorentas, enfim...e as pessoas disparando impropérios contra os Aliados, outros, contra o Eixo.
     Prefiro acreditar que havia mais preocupações com um familiar que tenha partido para a guerra e o reflexo do conflito na vida brasileira como um todo. Qualquer cidadão brasileiro, rico ou pobre, de direita ou de esquerda, negro ou branco, tinha um parente, amigo ou vizinho lutando na guerra, o que envolvia todos os brasileiros numa só corrente pelo fim da guerra.
     A divisão ideológica que já era iminente só se deu no fim das batalhas, com a Guerra Fria oficializando o racha no mundo, pelo menos até o famoso muro ruir de vez, porque, de lá pra cá foram surgindo vários atores nesse cenário, embolando um pouco o meio de campo na globalização. Nações que estavam em segundo plano nas rodas de conversa da elite mundial ganharam corpo nessa remexida toda aí.
     Hoje a gente vê a China, a própria Rússia e países do mundo árabe ocupando um espaço bem maior que antes, com mais voz ativa, com bala na agulha mesmo, para ser mais específico sobre o poder deles agora. Não chega a ser uma nova ordem, como propagam por aí. É apenas uma mudança nas peças do tabuleiro, simples assim. É o poder econômico que sempre fala mais alto, e esses emergentes já ditam regras também.
    A questão ideológica é menos importante nesse cenário. Não interessa mais saber como cada país se administra em casa. Um exemplo é a China, uma nação comandada por um partido comunista e completamente capitalista além de suas fronteiras. A Rússia, ainda exalando a fragrância do regime soviético; países árabes, também com controle do estado e observando valores diferentes do ocidente, enfim...uma diversidade que em nenhum momento vai impedir relação comercial com quem quer que seja.
     Com essa nova roupagem, esse novo desenho no mundo, o velho conceito de esquerda e direita vai perdendo a sua essência. São vertentes que ficarão restritas ao plano interno de cada administração. Cada um terá de mostrar sua capacidade de sobrevivência com outros elementos. O domínio de novas tecnologias, a responsabilidade ambiental com novas matrizes energéticas e o caráter social de gestão pública é que definirão o ranking das nações. Isso, sim, talvez seja uma nova ordem mundial de fato. 
     É claro que não se pode ignorar o poder bélico de qualquer nação. Isso ainda será um peso considerável, principalmente para quem se preparou pra ter um arsenal pra chamar de seu. O que a Rússia faz hoje contra a Ucrânia, outras nações já usaram o mesmo expediente para expandir seus domínios.
     As sanções que querem impor à Rússia podem influenciar o destino do conflito, sim, por causa dessa conexão global que interliga os sistemas e pode perfeitamente definir os desdobramentos, não só de conflitos como de outras formas de relação entre os países nessa nova velha ordem mundial.
                                                                  
                                                                      Foto: UOL

Nenhum comentário:

Postar um comentário