Um indivíduo está no trem que vai levar vários refugiados embora. É um momento de alívio saber que está salvo da guerra, livre do perigo e a expectativa de um recomeço, além, é claro, da gratidão pela mão estendida no momento mais difícil. Agora é deixar tudo para trás, passar uma borracha e retomar a vida, o pior já passou. Não importa pra onde vai o trem. Que parta logo o trem.
Mas, eis que o sujeito é abordado por uma autoridade ou alguém encarregado de organizar aquela viagem confortável rumo ao futuro. O cara é simplesmente retirado do trem porque ele não preenche os requisitos para estar ali, ele não pertence àquela casta, ele não pode integrar aquele grupo por estar fora dos padrões de quem efetivamente merece partir naquele trem.
A gente até tenta disfarçar pra não parecer tão trágico, mas é difícil não fazer a pior leitura do cenário descrito, uma reprodução nua e crua do apartheid que até hoje ainda serve de pano de fundo nas práticas humanas.
O ideal seria que um momento de crise revelasse mais eventos positivos que as mazelas que já são comuns em tempos normais. Já são mais de dez dias que a guerra do Putin vem descortinando não só a verdade sobre o telhado de vidro de ambos os lados do conflito como também as feridas da convivência humana.
Longe das muitas trincheiras espalhadas pela Ucrânia movem-se as fileiras de gente correndo dos avanços da Rússia, pra que haja um pouco de sossego, de paz, mas em vez disso, o separatismo como complemento do motivo da guerra, a própria extensão de todo esse enfrentamento.
Não basta só fugir da guerra. É preciso passar pelo crivo da intolerância. É um processo seletivo que acaba excluindo as pessoas por sua origem, cor e outros critérios que destoam completamente do que seria humanamente viável para amenizar as dores, angústias e aflições que só uma guerra é capaz de provocar.
Tão ou mais difícil que retomar na Ucrânia a democracia que tanto incomoda o Putin é estar revivendo de tempos em tempos a barbárie, a dificuldade de se conviver com o outro, a cultura da perseguição, justamente na oportunidade que a humanidade tem de mudar de fase, evoluir como pessoa humana e coletivamente.
Por um momento a gente até pensa que uma tragédia assim dessa magnitude serviria pra isso, para promover a melhor das revoluções, mas, parece que nem a dignidade das pessoas se salva dos escombros.
E o destino da humanidade por enquanto fica assim, como uma viagem de trem.
Disseram que a pandemia ia servir pra humanizar e abaixar nariz empinado, engano!😱
ResponderExcluirMais uma vez, Miguel, parabéns pelo artigo!
ResponderExcluirPaulo Paduano.
ResponderExcluirOlá amigo! Numa guerra não há vencedores ou vencidos. Quem mais sofre é a população civil, crianças, idosos, doentes, a Natureza, etc...Cada um paga seu preço através da lei de Causa e Efeito. O dinheiro que é gasto para matar e destruir poderia ser aplicado na Educação e na Saúde da população já tão sofrida. Os refugiados da ignorância são obrigados a deixar tudo que construíram em suas vidas e passam a pagar preço da ignorância e ambição de governos insanos e desumanos. Essa guerra não é só entre a Rússia e a Ucrânia, os Estados Unidos também tem os seus interesses e é um grande fornecedor de armas para matar. Os campos de refugiados são locais bucólicos e agradáveis, na África por exemplo muitas pessoas morrem de fome, crianças são estupradas e as doenças se espalham pela convivência da aglomeração, ainda mais nesta pandemia. Finalizando a guerra é a prova da prática do derespeito, do amor incondicional e da animalidade dos desejos materiais que devem ser extirpados da Humanidade.
ResponderExcluirCorreção: Os campos de refugiados não são locais bucólicos e agradáveis...
ResponderExcluirCorreção: do desrespeito e da ausência do amor incondicional..
ResponderExcluir.
Lindo texto. Parabéns! Sou sua fa
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