terça-feira, 8 de março de 2022

TEMPO PERDIDO



    Já dá pra ter uma noção do quanto essa guerra vai ter os mesmos desdobramentos dos outros conflitos, ou seja, as mortes, os escombros e a crise pós-guerra. Se não rolar uma crise econômica com a mesma magnitude daquele crash de 1929, vai de qualquer forma dar uma sacudida geral, e atingindo mais países, especialmente aqueles que não pegaram em armas.
     Não é difícil perceber que a única precaução que tomaram depois dos armistícios foi se armar até os dentes, tanto que o Putin está pouco se lixando para o poderio bélico e militar de seus eventuais oponentes.
      O que poderia efetivamente mudar o rumo das principais nações depois de todo aquele perrengue da Guerra Fria era criar alternativas que minassem de vez a dependência do petróleo. Praticamente todo o Ocidente está impondo sanções à Rússia, mas dependem de parte do petróleo russo pra sobreviver.
    Eu fico imaginando o Putin lá no seu bunker rindo da cara dessa gente e vendo a Europa entrar em pânico com a ameaça do cara de fechar a torneira do gasoduto que alimenta as lareiras do Velho Mundo, vai vendo.
     Os estudos e pesquisas sobre outras matrizes energéticas ficaram em segundo plano, porque ficou geral amarrado à indústria automobilística e seu velho combustível fóssil, inclusive o Brasil, que teve a oportunidade de criar autossuficiência em combustível com o ProÁlcool na década de 70, o que seria um sobressalto do Brasil naquela época.
    Hoje, com essa guerra aí, muita gente estaria encomendando nosso etanol, a essa altura, completamente evoluído e fortalecido pelas inovações tecnológicas dos órgãos científicos do país. Mas, os generais não conseguiram conter a sanha e o olho grande dos usineiros, que preferiram jogar o patriotismo e a soberania do Brasil para o alto e vender açúcar que é melhor.
     Nas fontes de energias renováveis, o histórico brasileiro é de total atraso, considerando a riqueza de nossos recursos naturais para fortalecer o segmento. É um cenário que mostra claramente o quanto o Brasil poderia sair ileso depois que Rússia recolher suas armas.
    É essa visão que a gente tem de ter sobre os efeitos de uma guerra para todo o mundo. É avaliar o tempo perdido por conta de interesses das corporações e da maioria dos governos que não tiveram a responsabilidade de se fortalecer, de se resguardar, de se inovar como alternativa à crise como essa.
    O mundo todo está há mais de 30 anos discutindo política ambiental que sugere justamente essa independência por meio do potencial energético que cada nação pode desenvolver. Ninguém chega a um acordo satisfatório, ninguém cumpre metas que eles mesmos assinam nos protocolos.
  Um país como a Alemanha, moderno, na vanguarda de pesquisas e uso de fontes renováveis, mas usa carvão até hoje e ainda depende do gás da Rússia em seu parque industrial.
   Vai ter muita coisa para se discutir depois dessa guerra. Com relação à geopolítica, uma remexida básica para saber para que lado cada um vai ficar. Mas, dentro da política interna de cada nação, uma ampla reflexão, visando futuras transformações, para se evitar eventuais dependências como essas aí, de todo mundo quase que comendo na mão do Putin.

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