terça-feira, 19 de novembro de 2024

A MESMA INCERTEZA DE SEMPRE



  Toda vez que essa gente se reúne para fazer acordo, traçar planos e diretrizes visando novas forma de governança, há sempre uma expectativa de algo que possa efetivamente promover mudanças no mundo, diante de tantas necessidades, mas sem garantia alguma de que haverá, de fato, grandes transformações.
    O próprio documento que eles assinam ao final do encontro deixa bem claro o caráter facultativo das intenções de cada um em botar em prática os itens propostos no acordo.
    Seja na área econômica ou na questão ambiental, a boa vontade de cada nação esbarra em seus próprios interesses. Basta olhar desde os primórdios desses encontros, fóruns econômicos e debates sobre meio ambiente, em que níveis estão as metas que cada um se comprometeu atingir dentro do prazo estabelecido.
    É prematuro dizer que o G20 terá o mesmo desfecho, ou seja, a mesma incerteza de encontros anteriores. Até porque, é animador saber que o debate sobre a fome, uma mazela que assola milhões de pessoas no mundo, ganha essa dimensão toda, mas é preciso distinguir como o tema é tratado em nível global até hoje, já que é a FAO que cuida do assunto e tem lá suas dificuldades pertinentes a cada região que o órgão assiste; e o tratamento que cada nação vai dispensar à questão da fome dentro da agenda interna de cada país.
    Com base na própria realidade brasileira, a fome vem atrelada a outras questões como déficit habitacional, falta de saneamento básico, coleta de lixo e a violência que realça ainda mais o cenário dessas regiões com miséria em larga escala.
    É dentro desse cenário que o governo brasileiro, os estados e os municípios devem sempre adotar políticas para diminuir os números dessa mazela, como bem sugere o documento do encontro, não seria diferente.
    No mais, o G20 discorreu sobre as velhas propostas para mudanças climáticas, tema recorrente, e uma eventual mudança na governança global, ou seja, outro item complexo, que certamente vai gerar interpretações de toda ordem entre os participantes, o que mais uma vez põe em xeque o sucesso de mais um encontro.
    O certo seria a gente estar falando sobre esses eventos com perspectivas bem positivas com relação ao futuro, mas ainda não há indícios dessa possibilidade.


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

NO LIMITE, NA MEDIDA

 

 Toda vez que a gente altera nossa agenda, acrescentando ou eliminando hábitos, é uma mudança de rumo também, porque desenha um novo caminho, uma trilha diferente daquela percorrida todos os dias, já quase parecendo até um modelo ideal a ser seguido para todo o sempre.
    Só que não. A monotonia é um sinal de que tudo já não anda mais naquele compasso que indicava o progresso, a evolução de tudo que pertence a nós, o sonho que vai se materializar, os projetos que tomam forma, o sopro que transforma a realidade também.
    Há sempre um gancho, um gatilho como se diz hoje, fechando um ciclo e, claro, abrindo outra porta com outros desafios à frente. São outras oportunidades que surgem, outras pessoas que aparecem ao nosso redor, outros amores e amigos, além de critérios diferentes para chegar à conclusões diversas.
   O melhor de tudo é a noção de que tudo tem uma medida certa para cada circunstância, e mais gratificante quando se faz essa descoberta.
    Não é sobre a dimensão das conquistas, isso é outra coisa. É sobre a energia que se usa para atingir objetivos. Há um meio termo, um equilíbrio entre a escassez e o desperdício de energia nos pequenos e maiores projetos.
    Agora mesmo, frequentando a academia, mais como aprimoramento que estética, a gente trabalha constantemente com nossos limites, o limite de nossos esforços, a proporção com que usamos nossas forças. No intervalo entre um exercício e outro a gente vai fazendo essa viagem louca cheia de descobertas pelo caminho.
     Com a experiência que já temos de outros quadrantes, não é difícil transportar a faculdade de empregar nossos limites às outras várias áreas de atuação, a todos os outros ambientes de convivência humana.
    E com isso, os sentimentos, as emoções dentro dos limites que cada ocasião exige. O sucesso de cada conquista, de cada vitória, de cada esforço e comprometimento depende exclusivamente da forma, ou melhor, da proporção com que se emprega as emoções.
    Há um fluxo diferente e específico de emoção para cada empreitada. A forma como gesticulamos, falamos, choramos, rimos. Um tom de voz, um olhar diferenciado pode estragar ou coroar um desejo qualquer por alguma coisa ou alguém. As paixões, as tragédias e quaisquer outras variantes das relações humanas, todos são resultados da medida certa ou errada de como nos expressamos.
   Leva tempo para criar esse discernimento e adquirir essa sabedoria. Mas, vamos que vamos. A gente vai aprendendo na prática, dosando um pouco mais, um pouco menos o que parece ser ideal para o que pretendemos na vida.


quinta-feira, 11 de julho de 2024

POR ONDE ANDA O FUTEBOL-ARTE?

    


   O futebol brasileiro está numa fase tão ruim que não dá pra ficar fazendo rodeio, como sempre vem sendo feito principalmente pela mídia em geral, que é sempre cautelosa por causa de interesses entre as partes envolvidas.
    Mas eu e uma pá de gente que não tem nenhum trato firmado com boleiros, cartola nem com patrocinadores, a gente pode com toda liberdade descer o sarrafo nessa atual geração que vem jogando um futebol bem muquirana, sem deixar mostras de que pode evoluir depois de um tempo de pantomina, que a gente nem sabe até quando vai durar.
     Foi-se o tempo em que eram críticas veladas apenas sobre a gestão do futebol, a maneira como essa gente administra a maior paixão do brasileiro, o calendário sufocante, a arbitragem deficiente, gramados ruins, essas coisas.
     Mas, quando a bola rolava os olhos do público brilhavam pelo espetáculo que desviava a atenção de toda as aberrações fora das quatro linhas. Agora, há uma incidência maior de bola batendo na canela e saindo pela lateral, porque o cara não sabe dominar a bola. O outro tem baixo índice de pontaria para o gol, pois só chuta com uma perna, facilitando até a vida do marcador, entre outras deficiências que num processo rigoroso de triagem já bane o cara pra sempre do futebol, vai vendo.
    E o sujeito é bem ciente de suas limitações, mas não é capaz de ficar depois do treino ensaiando e aprimorando pra melhorar o nível, como faziam os boleiros de outrora. Mas, mesmo assim paga pra produzirem aquele vídeo bonitinho cheio de jogadas de efeito e vender seu pseudo-talento lá fora.
    São essas figuras que a gente vê surgirem do nada na seleção, por intermédio sei lá de quem, nesses critérios de seleção que tá difícil de entender. Até onde eu entendia a lógica natural da escalação da seleção, eram os melhores de fato que vestiam a amarelinha. Parece que agora mudaram o critério de escolha, sei lá, deve ter outros fatores envolvidos no processo, que a entidade não divulgou ainda.
    Mesmo nas Copas em que o Brasil não ganhou nada, aquela formação era a melhor daquele momento. Hoje, é possível ver aqui no Brasileirão jogadores num nível bem melhor que algumas figurinhas que atuam no exterior. Fica aí a seleção pagando esse mico na Copa América sem necessidade, principalmente pra nós, saudosos de áureos tempos.
   O estrelismo dos melhores jogadores sempre foi uma coisa natural, mas com base em suas performances dentro de campo. Os bad-boys e os comportadinhos tinham o mesmo nível de audiência no meio da galera, porque batiam um bolão de fato.
    Agora, tem uma molecada por aí mimizenta demais, ganhando uma fortuna com baixo rendimento, quando não voltam depois uma temporada, por deficiência técnica, ficam naqueles timecos de quinta na Europa e nas Arábias, o novo eldorado dos fins de carreira e dos pernas de paus, dando a acreditar que o futebol-arte foi pra escanteio.


sábado, 15 de junho de 2024

A URGÊNCIA DO RETROCESSO

  

   Em tempos normais a questão do aborto dá sempre pano pra manga. Mas, ainda que a discussão ficasse num nível aceitável de polarização, num racha comum de ideias e posicionamento, havia sempre um cenário bizarro no que sempre foi proposto e prontamente combatido sobre a interrupção da gravidez em todos os seus elementos, seus fatores, circunstâncias e consequências.
    Agora, quando a própria sociedade espera que o debate flua dentro da lógica da atual realidade, trazendo as respostas que ela sempre busca de soluções imediatas, eis que surge um representante do atraso, o retrocesso pelas vestes de quem se acha um legislador de fato, mas que emperra todo o processo no momento em que a questão exige austeridade, rigor e comprometimento para que as leis estejam sempre adequadas ao comportamento atual.
    Se uma parte considerável de gravidez indesejada advém de uma forma de violência, que é o estupro, então a questão do aborto precisa estar inserida dentro das pautas que reivindicam penas igualmente extremas contra estupradores conjugados de acompanhamento, assistência e outros suportes dentro do que já é discutido à luz do feminicídio.
     Dentro de um contexto histórico e cultural no Brasil, o aborto sempre foi praticado em todos os estratos sociais. Tem sempre uma clínica clandestina operando o procedimento, além de outros métodos arriscados utilizados para interromper gravidez, que isso não é novidade para ninguém. Se havia preconceito e cancelamento sobre quem praticava o aborto, em nenhum momento se sinalizava com soluções de violência, julgamento sumário e cerceamento de liberdade como estão propondo agora, tentando afrouxar a pena de estupro e ainda equiparar o aborto à homicídio.
    E apesar de todo esse barulho e absurdo em torno da questão, nada vai mudar. Haverá sempre alguém procurando um lugar para interromper sua gestação, seja por não ter se protegido na relação, ou aquela que sofreu o estupro, a mais hedionda prática contra a dignidade humana, que pelo aumento cada vez maior de casos registrados, já deveria movimentar o legislativo para, aí sim, para tornar as penalizações pertinentes mais rigorosas.
    Em vez disso, surge um estúpido fingindo ser legislador, trazendo consigo os desígnios e a moral da igreja para interferir mais uma vez na vida em sociedade, como já fazia a igreja católica antigamente impedindo os métodos anticoncepcionais.
     Definitivamente, não é dentro de conceitos e princípios de quaisquer denominações religiosas que a questão do aborto deve ser discutida. O fundamentalismo das religiões foge da razão e com isso usa a violência como meio de defesa de seus ideais. A história da humanidade está cheia desses absurdos no passado.
    Em meio à urgência do deputado Arthur Lira em ratificar esse maldito projeto, inclusive, algumas alas femininas da Igreja também se levantaram contra o projeto de lei. São mulheres que sofrem no seu dia a dia junto com a fé que professam e certamente vão gritar com a mesma estridência com que pregam seus versículos, engrossando o coro de uma grande batalha contra mais um absurdo.
    Um barulho necessário e urgente para que o Brasil não se torne a filial de nações por ai, cujas leis permitem a violência contra as mulheres como prática cotidiana.
    Não passará.


domingo, 2 de junho de 2024

VITÓRIA DA RAÇA

    

  É sempre gratificante ver um jogo de futebol com todos os elementos que fazem de uma partida em especial um grande espetáculo, como foi esse jogaço da final da Liga dos Campeões, em Wembley, entre o poderoso Real Madri e o Borussia Dortmund.
     Mas diante de tudo que tem acontecido com esse garoto Vini Júnior, não tem jeito, a gente vê a disputa com olhos e sentimentos bem distantes da velha estética do futebol. Ou pelo menos o que já se vislumbra há muito tempo longe da praça do velho esporte bretão, mas que também assenta as arquibancadas, porque o público, ou parte dele é o mesmo, ou seja, o futebol acaba sendo uma extensão da roda girando, da terra em movimento. Então... é o futebol reproduzindo a própria translação do planeta.
     Sem fazer depreciação alguma ao Borussia Dortmund, em diversos lances do Vinícius Júnior suplantando um alemão, foram muitos, eu lembrei de Jesse Owens, atleta negro que nas Olimpíadas de 1936, em Berlim, superou os alemães nas provas de atletismo e deixou o Führer pê da vida na tribuna.
    É claro que o palco do jogo era outro, o time alemão, hoje, completamente miscigenado, o próprio Real Madri com jogadores alemães e tal, enfim, as principais equipes do mundo falando várias línguas, mas, quando via o neguinho iludindo o alemão, eu lembrei de como a historia se desenrola desde sempre e várias vozes, sejam as malditas ou as miseráveis tomando cada vez mais fôlego.
  E esse jogo só não teve as reverências dirigidas ao Vini Júnior em La Liga, mas, certamente, tinha na arquibancada do rival gente se coçando, se contorcendo todo para gritar aquele velho bordão que o Vini Júnior ouve quando entorta o marcador e corre para comemorar e confirmar em gesto que está ali, numa espécie de rito de passagem ou relação de pertencimento, seja lá onde couber a maestria de Vinícius Júnior com sua arte nos pés e a bandeira empunhada, porque o talento de Vini Júnior é o seu próprio ativismo.
    A grandeza do Real Madri já é reconhecida e eternizada, assim como a diversidade do público do futebol que prestigia o futebol cada vez mais globalizado, de clubes com várias nacionalidades, vários idiomas, e ainda assim há uma parcela que se incomoda que seja o Vini Júnior quem torna por hora o futebol mais vistoso, mais belo, como já fizeram no passado outros boleiros de canelas cinzentas.
    Até que surjam outros com o mesmo talento e vozes mais ativas no combate a toda sorte de preconceito, no momento é Vini Júnior quem ganha o jogo, o prestígio e o respeito na raça e pela raça.


sábado, 25 de maio de 2024

LEMBRANÇAS



 Ainda estão sendo contabilizados os danos causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, aqueles passíveis de serem recuperados e que poderão com um tempo ocupar o mesmo espaço físico de antes.
   A casa, os móveis, o carro na garagem, o jardim, o quintal, a rotina do bairro, tudo misturado à sensação de um recomeço. A própria cultura de cada região vai se reconstituindo, quando na vida de cada um só sobrarem as cicatrizes cheias de histórias que ninguém gostaria mais de reviver algum dia.
    É verdadeiramente desesperador ter de juntar os caquinhos do jeito de ser de uma cidade inteira com suas particularidades, a atmosfera, a essência de tudo que faz aquele lugar funcionar, a química que cada lugar tem entre sua beleza, suas mazelas e perspectivas.
    Naquelas imagens de satélites, drones, é possível imaginar daqui a pouco tudo com a mesma aparência novamente a partir da tipografia da tragédia. O bar abrindo, o shopping fervendo, a feira e aquela gente gritando, a Lapa de lá também voltando a bombar, enfim, o cotidiano das cidades voltando à normalidade.
    Mas só depois. Vai demorar um pouco mais, até todo mundo ter a oportunidade de retomar suas resenhas, agora repletas de casos escabrosos, da saudade de sua gente, da tristeza pelos que nunca mais voltarão. Imagina como serão os próximos encontros, muitos com as vísceras ainda de fora, mas tendo de retomar seu rumo.
    Pra muita gente vai ser diferente esse recomeço. Muitos vão deixar para trás suas coisas, ou o que sobrou disso, e renascer em outra cidade, outro estado, ou até mesmo sair do país com o que couber na bagagem. É sobre a parte que a imagem lá de cima não mostra. O microcosmo da tragédia que é composto das perdas de cada um. 
    Como a mulher que na hora do resgate chorava copiosamente porque não conseguiu pegar o álbum de fotografia que continha a única lembrança de sua mãe. O guarda voltou lá e pegou o que parecia ser para ela seu maior patrimônio, a garantia de poder conservar a melhor lembrança, ainda mais agora que outras lembranças, desta vez ruins, habitarão sua mente.
    Se vale em nossas vidas esses contrastes, que possamos ter em maior número as melhores, já que as tragédias são inevitáveis e estarão sempre em  nossa galeria.


domingo, 19 de maio de 2024

QUE NÃO VIRE NOVELA

  

  Vai demorar um pouco para a vida do povo gaúcho voltar à normalidade. Se aos poucos em vários lugares o nível da água vai baixando e alguns vão recomeçando depois de muita faxina e descarte, a economia do estado segue completamente sem prazo para a retomada.
    Pois é, se a vida das pessoas vai, cedo ou tarde, voltando ao que era antes, a atividade econômica em todos os segmentos é que vai ter de dar uma sacudida geral, porque, na moral... não dá mais pra essa gente tocar seu negócio sem um pingo de responsabilidade e ignorando os preceitos ambientais.
    Da mesma forma que cobram do poder público políticas que acompanham tendências que já se verificam em outras praças, os empresários também precisam rever seus conceitos e passar a adotar um modelo de gestão responsável e totalmente alinhado à causa ambiental.
  Mas, por outro lado é preciso um comprometimento maior do meio jurídico, sem se deixar levar por interpretações que a lei sempre oferece, que acabam livrando detratores do meio-ambiente de responsabilização criminal. Como já acontece faz tempo em casos que repercutiram bastante e ficaram por isso mesmo.
     A empresa lá de Brumadinho causou toda aquela tragédia com 270 mortes e toda a cidade cancelada, nessas atividades de mineração no Brasil que ainda prejuízos à sociedade, e os réus no processo ainda estão entregando suas defesas à justiça.
   O cara abre uma fábrica de detergente e descarta seu lixo químico no rio que corre atrás da firma e seu alvará continua valendo. Fazendeiros desmatam sistematicamente para plantar boi no lugar, mas como têm bom conceito e goza de status junto à jurisdição local, tá tranquilo. Aqui no Rio áreas protegidas por lei são devastadas para construção desses condomínios em empreendimentos sem preocupação alguma com a natureza.
   Isso é um pouco do que ocorre pelo Brasil afora com a leniência da justiça, de prefeitos e governadores que afrouxam leis para atender interesses.
    Lá no Rio Grande do Sul, pela dimensão da catástrofe, nada será como antes, nem mesmo quando a água baixar. Vai ter de haver uma discussão séria e profunda sobre o futuro do estado e a vida das pessoas, e claro, sem essa politização e polarização, muito comuns nesses tempos atuais.
   Falando com otimismo, é provável que o impacto daquela tragédia vai servir de alerta para tudo que precisa ser debatido no país. Porque, não é possível que depois de toda essa tragédia não haverá nenhuma mudança de rumo na causa ambiental no Brasil.
   Aguardemos os próximos capítulos.


quarta-feira, 15 de maio de 2024

OS DONOS DO CAOS



   Bom...agora que já está tudo encaminhado com relação ao socorro às vítimas, a solidariedade das pessoas no Brasil inteiro, a questão dos recursos enviados ao governo gaúcho, com a flexibilização das tratativas com o governo federal, enfim, a tendência é que não falte esforços a toda ajuda ao Rio Grande do Sul.
    Só que agora é virar a página ainda dentro da tragédia e revirar tudo que foi mexido para que as coisas chegassem nessa proporção.
   Antes que apontem o dedo para a atual gestão do estado gaúcho é bom lembrar que administrações anteriores contribuíram em muito para esse cenário, porque a dimensão de todo esse caos naquelas terras é reflexo de vários procedimentos, decisões e canetadas que ao longo dos tempos foram ajeitando a vida e os interesses de muita gente.
    Toda vez que se altera uma letra sequer das leis para que a agenda brasileira fique adequada a novas tendências no plano ambiental, há sempre um lobby, um corporativismo a serviço do atraso no Brasil. Há sempre um jeito de flexibilizar uma norma qualquer em nome da camaradagem ou por pressão mesmo, pois, aqui em terra brasilis muita gente vê com bons olhos a modernidade, desde que não atrapalhe seus negócios, tá pensando o quê?
     O Rio Grande do Sul certamente não é a única praça em que afrouxam as regras para atender interesses. Prefeitos e governadores, dentro de suas velhas atribuições, arranjam sempre uma maneira de agradar seus pares fora de palácios e gabinetes. E com isso aquela letrazinha da lei que acendeu uma chama de evolução e maturidade da consciência ecológica dá lugar ao entendimento de que as coisas podem ficar assim por mais um tempo, não tem importância não.
   Tão logo abra tempo e espaço para discussões, é bom que se interpele dentro de novos procedimentos quem acenou com essas alterações que interromperam uma nova agenda para a relação com o meio-ambiente.
    Com certeza ninguém vai sofrer qualquer tipo de retaliação, ser preso ou cancelado, mas a sociedade precisa saber da movimentação dessa gente que vive ignorando e subvertendo as leis ambientais que foram criadas com muita dificuldade para ordenar o desenvolvimento sustentável do Brasil. É gente tentando legalizar desmatamento, anistiar grilagem de terras, acabar com demarcação de terras indígenas, liberar desmate em vegetação nativa, e por aí vai. Tem gente que nem acredita em aquecimento global e vai criando obstáculos à adequação das normas ambientais. Infelizmente tem gente no meio dessa tragédia gaúcho que contribuiu para aquele cenário.
     Agora mesmo, segundo reportagem do jornal Hora do Povo, o Ministério Público solicitou ao Tribunal de Contas da União apuração total nos expedientes do governador Eduardo Leite que afrouxaram leis ambientais, assim como o Congresso Nacional que referendou 25 projetos de lei e 3 propostas de emenda constitucional que certamente tiveram e ainda poderão ter impacto desastroso na vida brasileira.
    Mais do que expor as ações nefastas dos donos do caos, que atentam contra o desenvolvimento do país é impedir o avanço dessas práticas nocivas ao povo brasileiro.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

E DEPOIS DA TRAGÉDIA?



  Em meio a todo o desenrolar da tragédia a imprensa sempre dispensa um tempo para explicar a causa do problema, ou pelo menos parte do processo que culminou no desastre que todo o Brasil vem acompanhando.
    Na verdade, é a parte mais importante sob o ponto de vista técnico, já que mostra para todos saberem como se dá esse fenômeno e seus efeitos na vida das pessoas com a paralisação das cidades envolvidas.
   Aquela chamada curta que o âncora ou o setorista faz levando ao ar a fala de um especialista que explica minuciosamente lá na origem do problema, o detalhe geológico, geográfico, e o porquê de tudo isso acontecer naquela região e tal.
    No caso específico do Rio Grande do Sul, parece que naquela região a água demora a escoar por ser muito plana, com pouca declividade, enfim, um problema que é pertinente à geografia local.
    Em outras localidades onde costumam ocorrer os mesmos eventos a questão tem fatores diferentes, porque a composição geográfica e o relevo são diferentes e, claro, o processo se dá de outra forma, ou seja, em cada região afetada por grandes volumes de chuvas o conjunto de elementos naturais do local é que define a estabilidade, o fluxo, o tempo e a constância dos eventos.
    Já foi falado, todos esses eventos têm solução, desde que seus projetos sejam concebidos através de dados e informações que a própria geografia local oferece para confecção dos trabalhos. São casos específicos de cada região.
    Sendo assim, parte das próprias prefeituras a implementação dos projetos que visem resolver o problema de sua cidade. O governo do estado também tem sua cota de responsabilidade por ser gestora de uma área que congrega outras localidades também sobrecarregada, porque dependendo de uma região de alta complexidade em seu relevo, dificilmente o acidente fica concentrado ali na sua origem.
   Mas, de qualquer forma, ainda dentro de um mesmo conjunto de relevo que permite fazer um estudo pertinente àquela região. Estudos estes que técnicos e especialistas da região, oriundos dos órgão de pesquisas certamente já apresentaram ao governo local para tirar do papel o que já poderiam ter amenizado os efeitos de muitas tragédias dessa natureza pelo Brasil afora.
   Além dessa agora, no Rio Grande do Sul, a gente já teve tragédia na Bahia, Minas Gerais, na região nordeste, aqui no Rio de Janeiro, nas comunidades e região serrana, todas dentro de um calendário específico e níveis de manifestação inerentes a cada localidade por causa da geografia também diversa.
   A Rio+20, conferência realizada aqui no Rio de Janeiro, em 2012, teve uma agenda só de prefeitos para justamente tratar dessa questão de forma racional, dentro das necessidades e especificidades de cada região.
    Enfim, o que será feito após a tragédia?


segunda-feira, 6 de maio de 2024

SOS RIO GRANDE DO SUL

 

   O Brasil está vivendo mais uma vez a agonia de uma tragédia que já faz parte do calendário brasileiro, não é de hoje. Desta vez o Rio Grande do Sul com seus principais rios transbordando e causando danos de toda ordem e ceifando vidas, que é o prejuízo maior nessa história toda.
     E como sempre ocorre, a solidariedade das pessoas no país inteiro se mobilizando nas redes sociais, as três esferas de governo envolvidas nas questões de logística e envio de recursos, enfim, o velho pacote de medidas para fazer tudo voltar ao normal lá na frente, quando os rios voltarem aos seus cursos normais.
    Apesar de toda perplexidade que as imagens divulgadas causam na opinião pública, não há novidade alguma quando o país inteiro acompanha mais uma tragédia, praticamente cancelando uma cidade inteira.
    Uma região tão importante para o cenário do Brasil, como é Porto Alegre e seu entorno, mas com os mesmos problemas que já afetaram outras localidades no Brasil, e claro, a mesma falta de perspectiva quanto à soluções para um velho problema que afeta o todo o território brasileiro em espaços de tempo que permitem que governo, a sociedade, o poder público, autoridades dos principais órgãos ligados à questão esqueçam de prosseguir com as discussões pertinentes ao tema.
    Seria até animador ver toda essa correria para ajudar as vítimas, mas é triste constatar mais um cenário de incerteza, antes mesmo de os rios se acalmarem e um monte de gente recomeçar suas vidas depois do caos em mais uma metrópole populosa e cheia de problemas a serem resolvidos.
    As próprias imagens vistas do alto, não só revelam a dimensão do problema como sugerem a necessidade de discussões urgentes, como já foi constatado em outros eventos que também foram ignorados depois do temporal.
    Há uma questão ambiental que precisa urgentemente ser discutida dentro das particularidades de cada região, todo mundo sabe disso, mas ninguém se adianta em botar em prática as recomendações que já foram feitas nos fóruns de debates e viraram promessas de governo e poderiam, a essa altura, ter evitado tragédias como essa que causa transtorno, prejuízo e morte ao povo gaúcho nesse momento.
     É sempre bem vinda qualquer ajuda que possa aliviar o sofrimento das pessoas numa hora de angústia para a cidade de Porto Alegre e redondezas, mas seria mais animador ainda se houvesse uma virada de rumo que tornasse a vida brasileira em todos os seus quadrantes saudável e promissora.
    O Brasil tão moderno em certos aspectos, sempre acompanhando as tendências de modernidade, peca numa questão que já deveria estar inserida em todos os projetos de desenvolvimento e evolução das principais cidades, que é a causa ambiental.
   Em nenhuma cidade ou região não há planejamento para buscar soluções para as principais metrópoles do país. Falta o uso de tecnologia para prever e evitar catástrofes, não há política ambiental abrangente que vise melhorias e conforto para o cidadão. Isso é falado toda hora.
     Falta tudo, até vontade política.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

LÁ SE VÃO AS REFERÊNCIAS



   Tem uma questão do tempo que passa bem despercebido das pessoas, no momento em que ficamos envolvidos e concentrados num outro elemento que o tempo também se encarrega de revelar, mas de uma forma mais explícita.
    A gente vai envelhecendo e vai também absorvendo e adotando como modelo a ser seguido todo um conjunto de ações e recomendações que forjam o jeito de ser de cada um.
    Cada vez que a gente olha para aquela pessoa que deu essa contribuição lá trás, a gente vislumbra essas pessoas com satisfação, com o coração pulsando num compasso diferente, porque elas são diferenciadas, sim. E a gente precisou delas por várias vezes. Estava sempre ali disponível pra qualquer resenha, para um ou tantos sufocos dos quais fossem necessários tirar.
   Mesmo depois de cascudo, feliz de quem tem o seu guru de estimação pra mandar aquele esporro em forma de papo reto, aquele colo que a gente está sempre precisando, alguém pra falar que você está fazendo merda a metro, ou que a gente está mandando bem, tirando onda, essas coisas.
   Pois é, gente, o tempo voa e essas pessoas vão sumindo de nossas vistas. Vão sobrando poucos recursos pra nós. Chega uma hora que não tem ninguém a quem recorrer mais. Meus pais se foram; meus tios, todos partiram; até aqueles velhinhos clientes que viraram amigos e conselheiros também meteram o pé.
    E até normal se sentir meio que sem chão por alguns instantes, como que órfãos em várias circunstâncias da vida. A gente amava se ver em enrascada, porque o socorro logo vinha. O mundo não acabava com nossas tragédias, desamores, topadas e gripes. A expectativa era sempre de uma luz no fim do túnel.
    Mas a luz não se apaga, nem dá tempo, porque a página vira, nêgo véio. Há uma mudança de rumo em curso no universo de cada um, uma mudança de status, porque viramos uma outra figura nesse mesmo cenário.
    Com o tempo, fomos perdendo aquelas pessoas que eram nossas referências. Não há ninguém mais lá na frente. Ainda bem que aprendemos a voar, pois agora nós temos seguidores nessa outra parte da viagem.
    Nós é que somos a referência agora de um monte de gente bronzeada, que vem atrás do que você tem a lhes dizer, a fazê-los chorar, se for preciso, porque eles querem ser disciplinados, adulados e amados o tempo todo, até se sentirem importantes no mundo real, não no virtual, obviamente.
    À medida que vamos perdendo nossos ídolos de verdade, passamos a vestir capa e empunhar espada. Passamos a ser o colo de quem espera isso de nós, nos tornamos protetores de filhos, netos, sobrinhos, alunos e afins.
   Apesar das lacunas que ficam pela ausência das pessoas, somos privilegiados pela mudança de papéis, por uma nova responsabilidade, por uma nova missão e desafio. Afinal de contas, chegou a nossa vez de contar histórias, pois há quem as ouçam.
    Em todo esse caminho que ainda falta percorrer, essa é a segunda parte de viver intensamente.