quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

NOS TEMPOS DA LAMA

  

    Parece que está mudando um pouco esse conceito de chuvas de março no Rio de Janeiro, que é uma chuvarada danada quando assenta a primavera por aqui até os festejos de fim de ano, já reparou?
    Geralmente nessa época do ano o chão já rachava de tanto calor e o São Pedro tirando folga, que a primavera deve ser bom pra ele também e os santos que já foram gente não são de ferro, eu imagino.
    Passou um filme na cabeça, enquanto a água descia firme pelas ruas, e o pensamento lá pras bandas de Paciência, década de setenta, aquele monte de moleque sem futuro, mas cheios de sonhos que a molecada falava um pro outro como que cada um queria que sua vida fosse.
    Um temporal desse era um playground na vida da gente. Se tivesse relâmpago, mamãe cobria o espelho e a gente jogava gude no tapete, porque a gente era muito fominha mesmo. Mas, fora isso, havia um lirismo numa poça d’água, lá fora, que ninguém enferrujava nem pegava gripe e bactéria, por mais que se pulasse com os pés nus, que chinelo atrapalha, solta as tiras e estraga a brincadeira.
   Havia sempre uma deformaçãozinha no dedão, na sola do pé, nas canelas cinzentas pelo tempo decorrido de recreação. Do começo da  aborrescência até atingir seu grau máximo, eram insígnias que marcavam a maturidade e a resistência pra qualquer moleque que nunca botava galho dentro de qualquer desafio. Podia até apanhar depois, mas no dia seguinte o conceito subia no grupo. Tirou onda, moleque. No final das contas, o dedo esfolado demorava mais tempo pra sumir que a marca do chinelo no rabo quente.
    Brincar na lama era um acontecimento. Um momento sublime de consagração da infância. A delícia de chafurdar naquele barro lamacento, o campinho transformado em charco, deslizar no barranco até o calção ficar puído. Pois bem, chegar em casa em desalinho, aos farrapos era obrigação, foi combinado isso com a turma, não podia dar mole, não.
    Das cicatrizes que marcam a infância, as minhas não têm um trauma sequer, que me fizessem ressignificar o conceito de um tempo esplendoroso para as outras gerações. Nem a guerra das mamonas deixou trauma em nossas vidas. A nossa selva era diferente, fica difícil explicar como a gente sobrevivia ao perigo iminente. Madeira, arame, barbante, lata, papelão, cola e cuspe. Ficaria muito complicado mesmo explicar a métrica dos brinquedos inventados num tempo em que tudo já vem pronto.
     Deixa pra lá. De repente, nem entenderiam como o Merthiolate tirava a alma do corpo com aquela pazinha transparente, nesses tempos em que o bagulho agora vem com cheiro de tutti frutti, vai vendo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

E O DEVER DE CASA?



     Em uma de minhas passagens pelo túnel Santa Bárbara eu vi um rapaz atravessando uma das galerias de bicicleta e com aquela caixa às costas usadas para entregas, numa travessia proibida e bem arriscada pelo longo trajeto até a saída do outro lado.
     Antes mesmo de concluir o trajeto da galeria eu logo imputei a culpa à prefeitura, que a essa altura já deveria ter construído uma ciclovia naquela e em outras travessias pela cidade, lembrando que as ciclofaixas espalhadas pela cidade têm mais o caráter de lazer que o compromisso de viabilizar mais alternativas de mobilidade urbana numa cidade cheia de desafio como é o Rio de Janeiro.
     Agora, tanto a COP30, em Belém, quanto os outros encontros anteriores de pauta ambiental têm discutido a questão em escala global, com o documento final cheio de incertezas quanto ao futuro do planeta, e agora mais ainda bem divididos sobre se vão ou não ficar explorando petróleo, carvão, como forma de gerar combustível, energia, essas coisas.
     Mas paralelo aos compromissos acertados nesses eventos, certamente muitas cidades já saíram na frente e implementaram práticas ligadas diretamente à questão ambiental, num conjunto de ações pertinentes à realidade, cultura e geografia de cada região. É uma agenda isolada dos protocolos produzidos nos fóruns, mas que faz parte da mesma tendência de tornar mais moderna, funcional e sustentável a vida de uma grande metrópole.
     Já foi sugerido em várias reuniões que cabe às prefeituras a iniciativa das ações ligadas à causa ambiental, independente dos acordos dos encontros.
     Aqui no Rio, a gente anda pela cidade e vê cada vez mais as pessoas usando bicicletas de todos os formatos em seus deslocamentos sem nenhum ordenamento que atenda a essa nova tendência. Já deveria ter faixas exclusivas nas principais vias da cidades para atender um grande público que faz uso do meio para trabalhar, não para apenas respirar o ar da rua.
     Além do mais o Rio de Janeiro ainda peca muito em outros quesitos. Além dos modais de transporte bem precários, o carioca ainda convive com lixo pelas ruas e esgoto a céu aberto em várias regiões. Quando chove forte por aqui, a cidade praticamente para. Ou seja, quem vive por aqui vê que o Rio de Janeiro ainda não se enquadra nas condições de uma cidade moderna em todos os sentidos.
       De todas as intervenções urbanas que a prefeitura executa, nenhuma muda o cenário de abandono que a população sofre e acompanha todos o dias.
    É importante fazer esse relato em paralelo ao que está sendo acertado na COP30 para escancarar a realidade de muitas cidades que não fazem o dever de casa.
     E o Rio de Janeiro não é diferente.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

NOS BAILES DA VIDA

    

     Você pega o trem azul e o sol na cabeça. É a rotina normal de quem chacoalha num trem da Central. Há quem reconheça nosso esforço diário de luta, lembrando que a massa que faz o pão vale a luz do seu suor.
     O grande barato da poesia é a proeza do poeta em tornar mais lírica e bela a vida das pessoas. O que seria de nós não fossem os poetas tão empenhados e dedicados a retratar da forma mais sublime e reluzente a rua onde a gente mora, a máquina que a gente impulsiona, os conflitos que a gente engole a seco, as tempestades que nos abraça.
    Eu fico cantarolando as toadas do Lô Borges, que deixou rastros de beleza espalhados por onde andou, e agora também um punhado de tristeza entre nós, e bate aquela saudade dos tempos em que havia poetas em cada esquina, aos montes até virar um clube.
    Se cheguei a reclamar do meu fardo algum dia, foi mal. É que às vezes eu até esquecia que tinha um fundo musical na vida que a gente levava, de tanta gente cantando com poesia tudo que eu imaginava fazer naquela época. Não é pra me gabar, não, mas, minha geração é privilegiada.
    Já vai longe quando ouvi “Travessia” pela primeira vez, só descobrindo muito tempo depois a revolução que isso causou. Até hoje eu me vejo cantarolando que meu caminho é de pedra, de tanto o Bituca invadir minha mente.
    Foi minha primeira imersão na música de fato. Milton Nascimento foi o carro-chefe de todo o repertório que se criou no meu círculo de crescimento e evolução junto com matemática, história, química e biologia, até que apareceu Elis Regina no meu dial junto com Gilberto Gil, Caetano, Gal, Rita Lee, além do Beto Guedes, 14 Bis e Flávio Venturini. Essa turma era a playlist do nosso baile. Sim, minha geração curtia baile de MPB, sim, senhor. O meu era na matinê do Olaria, tirava onda.
    Mas, na década de 80 surgiram umas figuras que até hoje habitam o meu imaginário. Do mesmo pé que brotou a nata da MPB nasceu o Djavan, o Guilherme Arantes e a Marina Lima. Esse trio bagunçou o meu coreto de vez. Era como se minha juventude tivesse um LP só com trilhas sonoras das minhas crises de identidade, meus complexos, das minhas descobertas, meus amores e paixões, tudo junto, misturado e divididos em lado A e lado B. Tenho comigo até hoje as lembranças do que eu era.
     Agora, fica a tristeza de ver essa turma partindo antes do tempo, porque ainda dava para produzir mais, eles nunca param. Era bacana vê-los trabalhando com artistas da nova geração, ampliando ainda mais a influência musical de mais e mais gerações de novos músicos com novos públicos, diversificando a música popular brasileira para que ela projete nas novas gerações a mesma satisfação que a gente teve nos bailes da vida.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

OS POTES SEM TAMPA



     É muito comum a gente fazer associação de algum fato do cotidiano com a natureza humana. Há sempre alguma coisa acontecendo por aí, que muitas vezes a gente até estende para o nosso universo. E não é que nisso achamos respostas e tiramos algumas conclusões!
     Arrumar armário de cozinha é como aquelas limpas que a gente está sempre fazendo nas gavetas também, eliminando coisas que estão naquele espaço há tanto tempo não se sabe por quê.
    No caso do armário, são os potes que você procura pra guardar alguma coisa, mas que tem de ter tampa, seja a prenda para aquela visita que merece o mimo, a marmita pra fugir do Fast-food, enfim, são mil e uma utilidades. Os potes de repente já até superaram o Bombril em matéria de funcionalidade, lembra da propaganda?
    Eles já se tornaram tão importantes na vida das pessoas que tem gente que vai acumulando potes de vários tamanhos. Um para cada situação diferente pra não pegar ninguém desprevenido, tá pensando o quê? Para quem gosta de reutilizar potes nesses tempos de consciência ecológica, tudo bem guardar o pote de manteiga, pote de sorvete, eu não curto, só abro uma exceção para o pote do Spoleto, que é um luxo, de grife, mas tem de ter tampa.
   E os potes têm suas tampas específicas, no tamanho certo, não cabem em outros potes, que não cabem em outras tampas, enfim.
    E é aí que mora o problema. Justo o pote que você precisa, cadê a tampa? Então, você se dá conta de potes sem tampa, ou de tampas sem pote, olha a confusão. Naquele mosaico que se forma a sua frente, feito aquelas peças de quebra-cabeça, a gente imagina e questiona a utilidade de um pote sem tampa. O que dá pra fazer com um pote sem tampa? Eu particularmente não encontrei resposta convincente.
    Parece que a cabeça vai fervilhando nessa brincadeira de encaixar as coisas, que uma passagem qualquer de nossas vidas vem à tona de repente, as situações conflitantes, as crises, as incertezas e, claro, as pessoas que hoje só povoam sua mente, mas que num passado recente ou que vai longe esteve presente em seu espaço, respirando seu ar, quem nunca?
    Num círculo qualquer de sua vida, seja num relacionamento, ambiente de trabalho, vizinho, parentes, enfim, já deve ter tido alguém assim sem utilidades, pessoas que não serviram pra nada na vida de alguém, não acrescentaram nada em seu currículo, são pessoas como um pote sem tampa.
     Como aqueles potes sem tampa que você conservou por muito tempo e resolveu descartar por não ter utilidade alguma, quem já não deve ter insistido em conservar alguém por perto, ali, pele a pele, achando que ainda pudesse servir para conservar seus sonhos, propósitos de vida, guardar dentro a alegria de uma vida plena e saudável?
    Os potes sem tampa não conservam o frescor, a fragrância, o sabor, a essência do que se pretende guardar ou carregar consigo. Algumas pessoas são assim na vida de alguém em algum lugar, sem utilidade alguma. Então, por que guardar por tanto tempo esse negócio?
    Pois bem, quando você finalmente resolver descartar aquele pote sem tampa, olha o espaço que vai sobrar na sua vida, quer dizer, no seu armário.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

O RIO DE SEMPRE

   

      Além do balanço e da avaliação que certamente serão feitos depois de toda a repercussão da ação policial mais impactante de todos os tempos é questionar também o prosseguimento da agenda do aparelho de segurança do estado no combate à criminalidade.
    Primeiramente a avaliação não pode ser considerada positiva quando quatro agentes do estado foram mortos na operação, apesar de mais de cem suspeitos mortos e uma grande quantidade de armas apreendidas. Se houve baixa para o estado, é prejuízo para a sociedade também, por isso se descarta o sucesso da operação. Isso deve ser revisto para futuras movimentações das forças de segurança em confronto com a bandidagem.
     Mas, e agora? Qual a próxima etapa dessa operação? Porque não acabou ainda. No dia seguinte a cidade volta a sua rotina normal, mas a facção criminosa que sofreu esse revés tem estrutura suficiente para recompor suas fileiras. Já devem estar até encomendando novas armas e arrebanhando sua gente novamente, é assim sempre, não seria diferente agora.
    E o governo estadual sabe perfeitamente que é preciso novas incursões em outras frentes para abafar e aniquilar as ações da criminalidade em toda sua estrutura. Se ao longo de todo esse tempo de agonia da população as facções criminosas estão sempre batendo de frente com o aparelho do estado, e afligindo a população com sua truculência, é porque o estado ainda não conseguiu implementar um plano de segurança eficaz em toda sua plenitude.
     Se todos esses que morreram tentando intimidar e enfrentar a polícia são comprovadamente criminosos, a população vai, sim, comemorar, no momento em que inocentes finalmente e felizmente ficaram de fora da linha de fogo nessa operação. É o princípio básico da segurança pública a proteção da população.
    Agora, a próxima etapa dessa operação deve mirar efetivamente o outro grupo que compõe essa grande rede de poder paralelo: aqueles que municiam os criminosos com armas e drogas, e patrocinam de fato a atividade ilegal dessa gente nas comunidades. Seria muito inocente acreditar que a estrutura do poder paralelo se limitasse apenas nesse ambiente das favelas e pronto. Há outros personagens em outros pontos nesse círculo que precisam também ser aniquilados, senão, continua tudo a mesma coisa.
    E outro detalhe...a polícia vai levantar acampamento da favela ao final da operação, ou vai ficar por lá ocupando o espaço da bandidagem, não dando chance para outros criminosos assumirem seus postos?
    A questão da segurança pública tem uma dimensão muito maior do que essa espetacularização de imprensa e polarização inútil numa hora dessa.
     Forças Armadas nas fronteiras, corrupção do agente público, reformulação da legislação, politicas publicas nas comunidades entre outras ações são fatores que precisam se ajustar e se inserir em um plano de segurança verdadeiramente sério para trazer segurança e paz, tanto para o morro quanto para o asfalto.
    Se não for assim, segue o fluxo de sempre.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

MÃOS INVISÍVEIS

  


    Antigamente ela tremia só de ver a pessoas agoniadas, sem rumo. Hoje, já faz parte de sua rotina abraçar quantos ela puder. E a gente só sabe dessas coisas porque ela explana sua peregrinação, ela não esconde de ninguém a satisfação de dar conforto a quem precisa.
     É interessante como essa causa que ela abraça não atrapalha sua agenda de trabalho, lar, família, fora os contratempos, que 24 horas é pouco para um dia tão intenso na vida dessa gente ativa aos extremos.
    Mais surpreendente ainda é que a gente não vê sua nobre obra nas redes sociais, no momento em que há uma profusão de pessoas pegando os outros de surpresa pelas ruas para uma boa ação.
    É claro que não cabe fazer juízo de valor sobre a forma como cada um ajuda o próximo. Eu sempre acredito na conveniência das pessoas, posto que existe uma história por trás de qualquer ação do ser humano, existe sempre uma razão que passa ao largo do julgamento das pessoas.
    Eu comemoro quando o sujeito ganha uma motocicleta para trabalhar, o outro tem suas compras pagas por um estranho no supermercado, um catador tem seu dia recompensado pelo fardo, enfim, não faltam pessoas com a sorte de uma providência repentina.
    Mas não deixemos nunca de exaltar aquela mulher que carrega seu cajado invisível e as mãos calejadas de tanto afagar o próximo, o espírito sempre pronto para massagear o ego de um infeliz que atravessa o seu caminho, com o fôlego e energia para prosseguir como que sem destino, que em cada esquina tem uma alma com um vazio qualquer.
    Há um calendário diferente na vida de quem espera o tempo dos outros para suprir suas necessidades. É um universo de gente que não sabe a hora de comer, beber, dormir e sorrir, mas na calada do dia ou da noite surge o vulto dos benfeitores aplacando parte da miséria refletida na escuridão. Tal como fantasma ou anjo, são seres comuns subvertendo a ordem do submundo.
   Eu gosto desse silêncio que esconde um grande projeto, uma grande campanha sem ruído, mas que faz barulho. Da escuridão com luz intensa, do inferno sem demônios por perto. Na ação dessa gente invisível, na morte iminente, a vida é que reluz.
   É um verdadeiro exército de gente invisível, almas empenhadas em renovar o mundo e diminuir o fosso entre a penúria e a sorte. Quanto mais gente retirando as pedras do caminho de um desafortunado, melhor até para quem toma coragem de estender a mão também, porque, é essa fileira de bem-aventurados que desafoga a miséria e suas várias facetas espalhadas por aí.
   Que as ações dessa gente invisível e iluminada tenham cada vez mais a dimensão da escuridão em que elas transitam.

domingo, 19 de outubro de 2025

REVIGORANTE



    Que correria é essa por aí, minha gente? Não era assim antigamente. Tudo bem que o mundo está girando, as placas tectônicas batendo, todo mundo respirando ao mesmo tempo, uma loucura esse alvoroço todo.
     Num primeiro olhar parece até alguma coisa acontecendo lá fora quando a gente abre a janela para espiar o mundo ao nosso redor. Antes fosse. Para os nostálgicos bate até uma saudade daquele pega pra capar de antigamente.
    Só que o mundo que bomba hoje é esse universo louco que a tela do celular descerra para todo mundo que está fora de seu mundo real. Com isso, tanto o quintal quanto a janela mudam de lugar. Há uma outra perspectiva sobre o que podemos vislumbrar. O mundo virtual é o verdadeiro mundo das pessoas, é onde elas ficam mais tempo. Só sai de lá pra dormir e olhe lá.
    Não que a gente não precise se informar, se inteirar das coisas, acompanhar tendências e surfar em várias ondas, mas nessa velocidade toda, eu às vezes aperto a campainha de parar pra eu descer. Pois bem, já até fiquei com a sensação de ter passado do ponto muitas vezes. Eu confesso, fica difícil acompanhar esse ritmo todo, penso até que não tô dando conta, talvez não mesmo, vai vendo esse negócio.
    É que eu sinto a necessidade das coisas que eu fazia antes, que eu larguei um pouco só pra cair na gandaia do mundo virtual sem ter hora para voltar para casa, só porque o bagulho tá maneiro por aqui também. Era a desculpa que ia dar para quem perguntasse por que demorei, principalmente mamãe.
    Eu bem tenho motivos para comemorar a adaptação ao novo estilo de vida. A minha geração se saiu bem nesse rito de passagem, ficha de telefone, bola de gude, cartinha pra namorada, eita! Tudo bem, tem coisa que não dá mais, mas é saudável reviver velhos hábitos sem complexo de inferioridade a toda essa modernidade, sem sentir inveja de ninguém, pois nos meus áureos momentos de euforia eu ria muito das histórias do Zé Carioca, Professor Pardal, Bolota, Mickey e outros ídolos com status de influencer, tá pensando o quê?
    Estava fazendo palavras cruzadas, hábito que eu retomei, tentando encaixar o significado de revigorar em sete letras, quando lembrei do conceito de se renovar.
    Não são coisas que médicos recomendam, porque eles gostam muito de empurrar remédios ou essas resenhas de podcast, grupos de whatsapp, essas coisas. Somos nós que temos em mente que eram práticas prazerosas, com efeito positivo para a saúde mental.
    Mas também não posso me sentir um estranho fazendo palavras cruzadas, lendo um livro ou jogando Paciência com cartas de verdade, enquanto as veias abertas do mundo virtual pulsam freneticamente lá fora. Esse renascimento é uma filtragem de tudo que é oferecido na grande rede. É importante essa triagem, mesmo que tenhamos que voltar no tempo.
    O melhor nesse cenário é que temos opções para tudo que for revigorante em nossas vidas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

ALEGRIA, ALEGRIA



    Não poderia ser diferente a reação de uma grande massa de brasileiros nas ruas de praticamente todas as principais cidades do Brasil nesse dia histórico.
     É claro que qualquer brasileiro com o mínimo de bom senso, consciência e, principalmente, patriotismo iria gritar mais alto contra toda e qualquer tentativa de retrocesso por parte, justamente de parlamentares, aqueles que teoricamente os representam, de ensaiar e levar a cabo esse malfadado projeto de anistia para eventuais punições de políticos às voltas com investigações na justiça.
    No momento em que há vários projetos para a vida brasileira em andamento no Congresso Nacional, é inadmissível que parlamentares queiram legislar de acordo com seus interesses.
    Não poderia jamais passar batido pela população o que se revela um grande retrocesso para todo o país, entendendo que uma sociedade moderna depende exclusivamente de uma legislação rigorosa o suficiente para punir quem sequer que seja, claro, dentro das prerrogativas dos próprios órgãos jurídicos para essa grande e importante tarefa, e não a interferência do Legislativo para decidir o destino de seus pares no âmbito da justiça, como quer essa horda de deputados clamando em alto e bom som por anistia.
     É animador para a democracia essa resistência, essa vigilância constante, porque o futuro do Brasil vai precisar sempre que a população reivindique que o país prossiga adiante com seus projetos e urgências no âmbito dos três poderes constituídos, cada um com seus papéis na agenda brasileira e conforme a constituição determina.
    Diante de tamanha movimentação em prol da justiça e da soberania, o ideal é que haja uma renovação completa nas próximas chamadas do eleitorado nas cadeiras do Congresso Nacional para que não sobre assento a quem insista em subverter a ordem democrática. Independente de quem vai governar o país, é importante que o Legislativo tenha o máximo de figuras comprometidas com os interesses da população, empenhadas em levar adiante os principais projetos para o Brasil.
    Esse é o momento ideal para apagar os últimos vestígios daquela velha república cheia de vícios; expurgar das fileiras da Câmara dos Deputados todos aqueles que atentam contra a soberania nacional. Fora de qualquer corrente ideológica, o mais importante é a responsabilidade de cada um com a coisa pública.
    Se todas essas pessoas, esses políticos malfeitores que fazem propaganda contra o Brasil, empunhando e saudando a bandeira alheia não têm a mínima noção de civilidade e patriotismo, há uma massa muito maior a levantar a nossa verdadeira bandeira.
    É essa gente que vai efetivamente fortalecer a democracia brasileira aos moldes do que se pretende para um país moderno, independente e soberano.
    No mais, sem anistia.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

LEMBRA DO JORNAL?

  

   Ah, essa maravilha das tecnologias impulsionando nossa vidas, que a gente quase esquece de como eram as coisas no passado. Mas nada vai prosseguindo, seguindo seu rumo sem que possamos olhar para trás e lembrar que tudo funcionava, sim, ainda que houvesse uma certa precariedade.
    Numa perspectiva da mesma proporção de tempos de outrora certamente essas ferramentas de última geração que a gente usa agora ficarão obsoletas já na semana que vem, sei lá.
    Para a minha geração que beira os sessenta anos com margem pra mais ou pra menos é gratificante cumprir esse rito de passagem com um certo saudosismo até, porque, na moral...era bem bacana e igualmente desafiador colocar aquelas fichas no “orelhão” e mandar o papo num tempo recorde.
    Para quem ainda mantém hábitos antigos é normal ser questionado por conservá-los até os dias de hoje sem constrangimento algum. Já me perguntaram por que ainda leio jornal como se não houvesse funcionalidade tal prática hoje em dia.
    No intervalo entre uma matéria e outra fiquei imaginando a dificuldade que eu teria se tivesse de explicar ou traduzir a essência de se aprofundar mais nas coisas pra buscar resultados, se inteirar dos fatos numa outra dimensão. A estética de se debruçar sobre algo mais apurado torna automaticamente sem sentido a natureza do que hoje é completamente superficial.
     A gente que teve de se adaptar às novas funções que as tecnologias criaram acabamos ganhando também mais quilometragem mesmo demorando mais tempo para processar tudo ao mesmo tempo. A sabedoria e a capacidade de se adequar aos novos tempos será sempre lembrados como uma grande conquista. Nada pode desconstruir essa realidade.
      Há um grande barato nesse resgate do que parece às novas gerações algo ultrapassado e fora de propósito. Talvez até faça parte da evolução humana conseguir conciliar o passado e o futuro para entender todo o processo, como já fazem os antropólogos em seus campos de atuação.
   Ainda mais hoje, quando principalmente a informação vem cheia de lacunas a serem preenchidas, é mais confiável recorrer a métodos antigos para chegar o mais próximo possível da realidade de tudo que está ao nosso redor.
    O mundo está bombando, mas essa profusão de informação rasteira deixa de fora o que precisa ser de fato divulgado, fazendo um universo de gente se contentar com a notícia sem apuração, mas espetaculosa, naquele velho cenário em que a forma é que se sobressai ao conteúdo.
     Vai vendo então.

domingo, 3 de agosto de 2025

OTIMIZANDO O BALCÃO DE NEGÓCIO


   Aos poucos vai se dissipando essa nuvem de impertinência quanto às coisas do Brasil e finalmente a questão do tarifaço vindo lá da terra do Tio Sam vai se assentando no seu ambiente devido, em que as partes vão se falando, interagindo dentro da normalidade e razão com que devem rolar todos esses expedientes de relacionamento humano, de povos e também de nações.
   É importante destacar que o governo americano sempre impôs sanções a seus interlocutores toda vez que os Estados Unidos farejam perigo em suas relações comerciais com algum prejuízo ou déficit iminentes.
    Tudo que o Brasil exporta tem um preço, ainda que isso traga benefícios para as nossas contas. Qualquer país que precisa comprar de fora de suas fronteiras para atender suas demandas internas se preocupa também em proteger seu mercado interno. O protecionismo sempre foi uma prática normal não só aos americanos. Os blocos econômicos em todo o mundo também puxam mais brasa para suas sardinhas, não é de hoje.
    Por isso não seria diferente para o Brasil defender seus interesses toda vez que há interferência e instabilidade no mercado, seja em tempos de crises ou na agenda normal da globalização.
    Para os Estados Unidos, se aumentam os riscos para seus negócios quando novos acordos se concretizem em escala global, é bom que os americanos saibam que as consequências de eventuais sanções a quem quer que seja têm efeito nos dois lados, tanto que houve reação inversa de representantes de setores americanos envolvidos no comércio com o Brasil à decisão de Donald Trump de levar a cabo aquele tresloucado propósito, ainda mais como nos moldes antigos, com requintes de intromissão a uma causa que só compete ao Brasil resolver.
     Hoje o Brasil é um país totalmente fortalecido em todas as suas instâncias e instituições e isso se reflete em sua relação com o mundo todo. Se antes havia dúvidas e incertezas de uma nação fragilizada economicamente de quando o Brasil dependia de altos investimentos vindo de fora para se manter de pé; de quando o Brasil pedia dinheiro emprestado e não pagava, só pedia moratória, empurrava com a barriga, e por isso se rendia à intromissão alheia, principalmente dos Estados Unidos, hoje isso não tem mais.
    Felizmente o Brasil amadureceu o suficiente para manter de pé suas posições diante de qualquer parceiro em igualdade de condições, justamente por sua independência e soberania. Será sempre saudável para o país e para os brasileiros que o Brasil seja respeitado e fortaleça cada vez mais suas relações com qualquer nação, sem que isso implique interferência externa aos interesses e assuntos do Brasil. Ou seja, nossos abacaxis a gente mesmo descasca.
    Sobre o imbróglio comercial com os americanos, tudo será resolvido dentro da esfera comercial e diplomática entre os dois países.
    Nem precisa desenhar pra entender esse balcão de negócio.


domingo, 27 de julho de 2025

DESENHANDO O MAPA


    Em meio a toda essa confusão envolvendo o Brasil e os Estados Unidos é possível discutir essa questão dentro da lógica do cenário da economia global, que é o único ambiente em que deve ocorrer de fato a discussão, sem esse falatório e polarização, levando o assunto para outra área em que a irracionalidade é o pano de fundo.
    Se ao longo desses tempos os Estados Unidos dominaram o mundo pelo poderio militar, tecnológico e, claro, econômico, agora os americanos já têm concorrente, a China, que já se faz presente em praticamente todo o mundo no aspecto econômico através de acordos de toda ordem com vários países, dos mais ricos com fluxo de mercadorias e em países que precisam de infraestrutura que os chineses facilmente disponibilizam aos seus parceiros.
    Esse é o principal fator de aborrecimento dos EUA que certamente já surte efeito nas relações comerciais em nível global. Uma remexida no comércio mundial que de tempo em tempo causa animosidade nas partes envolvidas, só isso. Na época da Guerra Fria, a União Soviética também fez muito barulho por suas ligações com nações estranhas aos interesses americanos.
    Petróleo, tecnologia, ciência, armamento sempre estiveram no centro de disputa global com os Estados Unidos se sobressaindo em posição de domínio total. Agora já não se pode mais admitir essa possibilidade diante do poderio da China que já é o maior protagonista desse novo ciclo da globalização.
     O Brics, grupo de países do qual faz parte o Brasil é o principal motivo de insatisfação americana pela expectativa dessa nova força econômica ampliar seus domínios e redesenhar o mapa geopolítico. É certamente a maior ameaça à hegemonia dos Estados Unidos, o que explica o destempero de Donald Trump e a reação americana com tarifaço, interdição e toda sorte de retaliações que resvala em questões políticas, como já ocorria em outros tempos.
    De qualquer forma, é muito cedo para afirmar com segurança o desdobramento disso tudo, mas certamente haverá transformações, as peças se movimentado nesse tabuleiro gigante, novos domínios de tecnologia, energia, parcerias em demais áreas estratégicas, enfim, as nações tomando posições no mundo com países emergentes subindo na escala, outros consolidando sua condição e muito assunto nas mesas de negociação até esse cenário ou o próprio mapa do mundo tomar outro formato.
    Se houver mais elementos que expliquem toda essa confusão, beleza. Fora isso, só desenhando. Aí, já não é mais comigo.