A Tia Vanda era uma
professora muita enérgica, autoritária, a ponto de bater fortemente com o apagador
na carteira para silenciar o burburinho, o falatório, a balbúrdia que se
instalava em sala de aula. Ela chegava a morder a língua com a onomatopeia de
um cão raivoso como ameaça maior a tão impertinentes pirralhos que éramos.
Sua reprimenda à frente dos colegas era como
um açoite em praça pública a quem se atrevesse com desobediência.
Para sorte de outras gerações
que passaram pelo crivo da Tia Vanda, não era possível que coubesse nas vestes
daquela bruxa apenas a substância dos grandes tiranos. Era inaceitável que não
houvesse naquela índole maquiavélica um naco qualquer da essência de uma fada.
E tinha. Se o conforto dos rebentos é o afago
de suas amas-secas, para nós, pupilos da Tia Vanda, a ternura reservada vinha
dos traços de giz, rabiscando para os mais frágeis seres de cara para a lousa
envelhecida a sapiência em linhas tortas, de garranchos, no papo reto cuspindo
o futuro em forma de sopa de letrinhas, soprando o conhecimento para quem
estiver sentado, prestando a atenção, senão te puxo as orelhas.
Não sei por onde anda a Tia
Vanda. Talvez ela nem esteja mais envolvida com birra, teimosia, ditado,
conselho de classe e reunião de pais.
Pode ser que nem esteja mais
nesse plano. Se estiver, certamente estará imaginado os engenheiros, advogados,
jornalistas, garis, professores e tantos outros que ensaiaram seus projetos,
construíram seus próprios sucessos e fracassos, e que sobreviveram para
relembrar os sonhos, as utopias, as fantasias e os desejos que a Tia Vanda
ajudou a realizar.
Nas lembranças que eu tenho
da Tia Vanda não tem as agruras do magistério, as impertinências do poder
público com as outras tias de todos os recantos.
A justiça para a Tia Vanda é
o afeto dos nossos governantes para a classe mais importante desse país.
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