sábado, 26 de novembro de 2022

A VIDA POR UM FIO



   Um grupo está reunido em protesto bloqueando o fluxo de uma estrada em Mato Grosso. Alguém chega e pede passagem alegando que precisa passar para levar seu filho a uma cirurgia de emergência no olho. O favor foi negado e rechaçado em função do comprometimento do grupo com a causa reivindicada ou reclamada, melhor dizendo. “Que fique cego, não vai passar!”.
    Qualquer um no argumento mais plausível vai interferir na contenda alegando que a liberdade ou direito de um termina quando a do outro começa.
    Termina aí o que poderia ser resolvido da forma mais sustentável, mais racional, ou dentro de um elemento que eu considero o mais importante nas relações humanas em qualquer circunstância: o fator humano.
     Por mais que a causa fosse justa e amparada no que é permitido manifestar, há sempre uma brecha, um atalho, uma exceção à regra, quando a vida é que está por um fio, mas parece que o mais elementar foi ignorado. Isso não tem nada a ver com processo político
    O que fica parecendo é que o Brasil está inaugurando uma era de grandes conflitos, como se nunca tivéssemos tido uma grande causa para resolver com distúrbios, cancelamento e mortes. É como se a gente não tivesse experiência de reverter situações de crise, incertezas, por isso que a vida alheia fica por um fio.
    Nunca fomos arrasados por uma guerra, mas temos nossas enchentes, alagamentos, queda de barranco, bala perdida, fome, desemprego, cenários que sempre despertam a solidariedade, porque a vida das pessoas está em primeiro lugar.
    De tantas vezes que o brasileiro foi conclamado a resolver pendengas sem garantia de sucesso, o futuro do Brasil é incerto até hoje. Um novo processo começando não é um progresso em si, é um recomeço apenas. Porque nós brasileiros estamos sempre começando do zero e contabilizando momentos importantes, apesar de difíceis, mas históricos para fins de registros.
    Essa balbúrdia que a gente tem presenciado em algumas vias pelo Brasil não pode ser considerado um fato importante para entrar nos anais da história. Para a sociedade lembrar lá na frente de um movimento político e tal, que trouxe mudanças para a vida brasileira. Só que não.
     Só serão lembrados como protagonistas da cultura do ódio, arruaceiros, impondo ação sem qualquer embasamento legal que justifique esse delírio, essa estupidez, essa falta de humanidade.

                                                        Foto: UOL Noticias

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

VIVA O BRASIL

 

   Não tinha como ser diferente a reação popular com uma vitória maravilhosa da seleção brasileira na estreia no Qatar. A expectativa e preocupação que são sempre normais antes da partida deram lugar à empolgação da torcida em todo o Brasil depois que o jogo terminou.
     Eu fui para a rua depois do jogo e vi uma alegria que há muito tempo não se via. Eu até pensei que não houvesse muita animação por ser apenas o primeiro jogo, ainda mais depois de um tempo conturbado que envolveu e dividiu os brasileiros por todo o país no cenário político.
    Mas, felizmente, a alegria tomou conta das pessoas em todos os cantos da cidade, e em todos os lugares onde havia concentração da torcida para assistir ao jogo a comemoração por cada gol era única, num só barulho, num só grito que estava guardado no peito de cada brasileiro, que no momento certo iria extravasar aquilo que o brasileiro está acostumado a fazer, que é comemorar.
      O Brasil estava precisando muito dessa alegria de norte à sul do país. Veio em boa hora essa vitória brasileira na Copa, para que a população pudesse novamente sorrir e vibrar, porque o futebol tem, sim, essa força, essa magia de resgatar a felicidade do povo brasileiro que sabe de sua responsabilidade e consciência no que diz respeito ao destino do país.
     A alegria que a galera extravasa nesse momento festivo que o futebol sempre proporciona certamente não vai tirar o foco do brasileiro sobre o destino do pais nesse processo que interessa a todos.
     A mesma liberdade que a gente tem de fazer escolhas nos permite também gritar juntos, porque a felicidade é de todos quando houver motivos para comemorar e saborear o gosto da vitória, assim como aflige a todos num período tenso e incerto para o país.
    O Brasil já passou por momentos mais críticos que esse e em nenhum momento o brasileiro deixou de comemorar quando havia festa e júbilo, nem esqueceu do respeito que cada cidadão deve demonstrar um para o outro em momento de transformação, mudança e transição.
     O futebol nem é mais o ópio do povo, como se dizia antes. O brasileiro está mais maduro e consciente sobre o que pode verdadeiramente mover a sua paixão e qualquer outro sentimento no momento adequado. O Brasil nem é mais a pátria de chuteira, pois a sociedade vai buscando um outro espaço para a nação brasileira ocupar no cenário mundial.
    Aos poucos a gente vai fazendo o mundo todo olhar para nós de um jeito bem além do orgulho que o Brasil tem de saber jogar bola.
     Continuamos buscando com determinação, amor e alegria tudo aquilo que a nossa liberdade nos permite buscar, sem que isso possa desconstruir o que o brasileiro tem de melhor, que é a sua alegria de viver.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

POR TRÁS DOS ARRANHA-CÉUS

  

  Bom, se todo mundo achava que essa Copa no Qatar seria diferente, porque no mundo islâmico não pode isso, não pode aquilo, não foi diferente das outras edições os cenários que geral já está acostumado a ver em paralelo as ações dentro das quatro linhas.
    Hoje, mais do que nunca um evento que reúne pessoas do mundo inteiro vai ter um caráter político numa dimensão cada vez maior, porque isso já é uma tendência no mundo, independente de como se dão as regras do país anfitrião e os interesses da Fifa em todo esse cenário.
    Pra começar aquela cerimônia de abertura politicamente correta, de igualdade, liberdade, essas coisas, o Morgan Freeman gastando a fala, beleza, sob a vista do dirigente do país, o Emir Tamim que governa o país com mão de ferro e não escondeu o constrangimento de aplaudir a peça que reivindicava justamente o que o seu regime veta e condena.
    Lógico que não se pode julgar a soberania de um país independente como o Qatar, que tem suas leis, sua cultura, religião, enfim, mas a gente foca nas contradições de quem almeja se inserir numa nova ordem mundial com as mesmas mazelas e incongruências de outras nações poderosas, e não consta que o Qatar seja um eldorado naquele espaço do Golfo Pérsico. Não parece que o Qatar seja só de arranha-céus.
     A Copa do Mundo é um evento esportivo, mas o anfitrião da vez sempre aproveita para mostrar ao mundo o que ele pretende no cenário global com a capacidade que ele tem de se desenvolver, se modernizar por intermédio de seus recursos e ainda ampliar as relações com quem quer que seja pelo mundo afora.
    No Qatar, todo o barulho que se ouve fora das quatros linhas é uma síntese do que já rola em vários cantos do planeta. As manifestações, protestos e reivindicações num ambiente de Copa do Mundo são um grito a mais no meio da torcida ou dos jogadores em campo, um pequeno universo que concentra e representa segmentos da sociedade cancelados, açoitados, marginalizados e desfavorecidos em seus redutos.
     Para a opinião pública, é importante que o movimento das mulheres no mundo todo, o combate ao racismo dentro e fora do ambiente futebolístico e demais reivindicações estejam também sob os holofotes de todo o mundo apontados para o Qatar.
    Também é fundamental que um regime autoritário e excludente sinta a atmosfera desse movimento dentro de seus próprios domínios, pois não se perderia jamais a oportunidade de ampliá-lo numa ocasião como essa, numa praça como essa em que há registros de impedimento de várias naturezas.
    Enfim, depois do apito final, não se sabe que frutos o Emir vai colher por receber o mundo em sua casa e quais os benefícios disso tudo para a população local.
     Em meio a tantas incertezas por trás dos arranha-céus, o melhor legado é a liberdade.

sábado, 19 de novembro de 2022

A BOLA DA VEZ


   É bola rolando mais uma vez nesse grande campeonato que é a Copa do Mundo, sempre num lugar diferente, porque tem uma fila gigante de países querendo sediar um evento dessa magnitude.
     E dessa vez é o Qatar, esse país forasteiro no cenário do futebol, mas que tem bastante grana para organizar a festa segundo os critérios da FIFA. Eu digo forasteiro, estranho, porque o Qatar não tem tradição no futebol, pelo menos por enquanto, já que aos poucos todo mundo vai aprendendo a jogar bola.
    De qualquer forma, é mais uma festa com um monte de gente de idioma, cultura, religião e habilidades diferentes para fazer gol. Esse Qatar que poderia estar falando português, tá pensando o quê?
     Pois é, lá no passado, nas Grandes Navegações, Portugal andou dando umas esticadas bem além do Cabo da Boa Esperança e ciscou também lá pelas bandas do Golfo Pérsico, chegando a amarrar umas caravelas num píer qualquer do Qatar, mas os turcos cortaram o barato dos gajos em pegar as pérolas de lá com a mesma facilidade com que surrupiaram o ouro do Brasil.
     Mas isso é outra história, gente, até porque o Qatar hoje vive da renda e riqueza do petróleo e do gás, o suficiente pra levantar aqueles arranha-céus e claro, fazer estádios bem bacanas para acomodar uma massa cheia da grana, porque essa Copa não é pra mochileiro, não, companheiro. Um souvenir lá é mais caro que a camisa oficial da seleção aqui no Brasil, vai vendo.
   No mais, o Qatar será momentaneamente o Planeta Bola, onde os confrontos revelarão as diferenças como contraponto da disputa. Vai ter partida entre nações irmãs, amigas, e outras como reedições de velhos conflitos, como Estados Unidos e Irã, de por exemplo. Haja coração e fair-play. Disputa entre colonizador e colonizado. Qualquer falta desleal, é puro revanchismo. E Jogador que faz o sinal da cruz quando entra em campo pode correr risco na terra do Islã. Não adianta nem chamar o VAR.
     Aos torcedores só resta seguirem as regras da casa. Aliás, a regra é clara por lá. No começo os caras até flexibilizaram, mas depois endureceram e agora é bico seco geral. Eu lembro logo de alemães e ingleses numa hora dessa, coitados, ficaram tão bolados quanto o patrocinador. A FIFA vai pensar duas vezes antes de escolher um país islâmico para sediar a Copa novamente.
    A gente descontrai, mas sabe que tudo isso faz parte de um grande cenário de diversidade que é o planeta em sua integridade. Não faltam eventos no mundo que trazem à tona essa questão tão importante, principalmente agora nesses tempos de intolerância em nível global. E a Copa do Mundo é o acontecimento que mais aflora essas diferenças.
    É claro que há toda uma questão política envolvida nesse processo de espalhar a maior disputa do futebol no mundo, e o mundo árabe também é protagonista na história de formação de civilizações e a pluralidade cultural ao redor de cada nação, assim como o ocidente e outros continentes, de onde brotam gente de todos os cantos jogando bola e rompendo fronteiras, disseminando a arte do velho esporte bretão.
    E a peleja no Qatar não será diferente. Vamos que vamos.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

DE QUEM É ESSE LIXO?

  

    A única vez que a Baía da Guanabara esteve sob os holofotes da mídia foi quando o poder público ensaiou despoluir toda aquela área naquele velho e mal fadado projeto criado em 1994, resquícios ainda de todo aquele discurso da Eco-92 que o Rio sediou.
   Naquela época, a única preocupação era recuperar o ecossistema local e deixar o espelho d’água reluzente para a foto do cartão-postal da cidade ficar bem bacana, e todas as cidades do entorno da Baía com saneamento básico, olha que maravilha.
    Agora, foi preciso uma carcaça velha de navio se desprender do ferro, bater na Ponte, levar perigo aos usuários da via, para todo mundo se lembrar que ficou muita coisa por fazer na Baía da Guanabara ao longo dessas décadas.
     Hoje, a questão ambiental é muito mais complexa, há uma série de fatores envolvidos, e haja fóruns para discutir o assunto. As nações e vários organismos se encontram e haja documentos, relatórios, promessas e um falatório interminável para no final resultados bem aquém do que esperavam.
     A COP-27 está aí em mais uma tentativa de tornar o planeta mais atraente, mais saudável e sustentável, essas coisas. As pautas discutidas agora são muito mais abrangentes, mais globais, melhor dizendo.
    Portanto, menos mal que o incidente não trouxe danos maiores para a vida das pessoas e para a estrutura da ponte. Continuamos respirando aliviados e sobrevivendo ao descaso de governantes de todas as esferas, empurrando a responsabilidade, um para o outro, como sempre acontece.
     Tanto a Capitania dos Portos, o Instituto Estadual do Meio Ambiente e o Ibama não levarão a culpa por esse entulho a céu aberto. Tem uma questão jurídica envolvida que vai livrar a cara dessa gente toda. E aquele trambolho vai ficar lá por mais tempo compondo aquela paisagem, ofuscando nossas vistas, nossas vergonhas e tudo mais.
    A Baía da Guanabara é apenas mais uma promessa de tempos atrás, com o mesmo nível de degradação que há muito se verifica nos rios, lagoas, no Pantanal, no Cerrado, na Floresta Amazônica, guardadas as devidas proporções, tudo bem, mas com o mesmo grau de preocupação e urgência frente às demandas de todo o seu entorno.
     O pior já passou.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

CERTAS CANÇÕES DA VIDA

 

   Muito bacana o último show do Milton Nascimento em Belo Horizonte. Em pouco mais de duas horas de espetáculo, o Bituca reviveu toda a sua trajetória de mais de 60 anos de carreira. Um período que se confunde com a vida de uma enorme legião de fãs, inclusive, a minha.
    Vendo aquele público maravilhoso em completa devoção e agradecimento a tudo que Milton Nascimento produziu ao longo da carreira passou um filme na minha cabeça.
    Quando eu comecei a prestar atenção em músicas, identificar o que soaria melhor para mim, Milton Nascimento já soltava a voz nas estradas. Foi nessa época que eu ouvi “Travessia”. Eu não tinha a menor ideia de quem era Milton Nascimento, mas foi através daquela bela canção que minha mente fluiu para os melhores acordes.
      A minha sorte foi ter em meu convívio familiar a referência de pessoas que já haviam identificado Milton Nascimento como um talento nato, e ter apostado em tudo que o Bituca produzisse dali pra frente e botasse para rolo nas rádios, nas vitrolas e nos bailes da vida.
      E assim me foi apresentado Milton Nascimento de forma compulsória, mas que certamente teria influência em minhas escolhas, porque até nisso Milton Nascimento se tornou especial, ou seja, ele serviu de referência não só para vários artistas que surgiram depois, além, claro, da reverência que astros já consagrados faziam para ele, a gente aqui de fora, só ouvindo, criava automaticamente um modelo a ser seguido nas primeiras playlists.
    Tudo que a gente queria ouvir de outras vozes teria que ter o nível de Milton Nascimento, ou algo próximo daquela beleza de som, de voz, de poesia em forma de canção.
    E Bituca foi com o tempo fazendo parte de vários momentos de minha vida, como certamente serviu de trilha sonora do grande público em fases pertinentes a cada um, porque é assim mesmo toda a obra de Milton Nascimento, uma canção que valia por uma época no plano cultural, social, político, enfim, eu sinto uma saudade danada de quando tocava “Maria Maria”, “Canção da América “, “Coração de Estudante “, “Caçador de mim”, “Encontros e Despedidas”, e por aí vai o que representou para mim a vida e a obra de Milton Nascimento.
     Até hoje eu fico cantarolando que meu caminho é de pedra, é verdade. Talvez seja uma forma de reconhecimento ao maior talento, de amor à melhor das poesias e, principalmente, de agradecimento à influência adquirida.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

SEM PLAQUINHA NO QATAR



    Ah, não leva a mal, não, mas vou cornetar a seleção também. Começou a temporada de dar pitacos na escalação da seleção brasileira, já sabendo que a maioria das pessoas que discutem futebol o faz com uma certa paixão clubista ou pelo bom e velho bairrismo que ninguém é de ferro.
     Não é diferente quando rola a convocação dos jogadores para disputar um Copa do Mundo aquele fuzuê de milhões de brasileiros que viram técnicos de futebol de uma hora pra outra, dando pitaco de tudo quanto é formato e escalação ideal para o tão cobiçado caneco de campeão.
    É até normal no meio desses “entendendores” de futebol aquelas falas sem sentido com escalações meio que de várzea até, tudo bem... é tudo movido pela paixão de ver o seu perna de pau preferido vestindo a amarelinha. Vestindo a amarelinha pra jogar mesmo, tá, pessoal, enfim...!
     Agora, o difícil é entender o critério do técnico oficial, no caso, o Tite, para escalar o nosso scratch que vai defender nossas cores no Catar. Pois é, eu puxei scratchl lá do fundo do baú de propósito, porque antigamente havia mais razão na escolha do time. Lembrando que no Brasil sempre vai haver dificuldade de escolha, pois em qualquer época tem uma galera boleira top de linha. E a Taça das Favelas está aí servindo de peneira.
    Por conta disso eu vou, sim, puxar brasa pra sardinha do cara que mais tem causado nesses últimos tempos: o Gabigol. Até porque tem uma nação levantando essa bola, quer dizer, a plaquinha, né. É verdade que o craque do Flamengo divide opiniões. “Ah, mas na Europa ele não rendeu o esperado, não jogou nada!!”, é o que mais se fala do cara.
    Bom, vamos partir do princípio que o time mais badalado desperta um olhar mais instigante do treinador da seleção. Pelo menos era assim no passado. E o Flamengo hoje é esse time badalado, inclusive com o protagonismo do Gabigol, decisivo em partidas importantes, se é que isso vale alguma coisa, tá ligado?
     Eu sempre acreditei que o jogador ganha experiência aqui também, não é só jogando lá fora, onde alguns ganham mais dinheiro que prestígio. E o Gabigol encontrou aqui no Brasil a sua forma de viver e ser feliz. Basta ver o que ele já fez no Flamengo, num período que se confunde com a própria evolução do rubro-negro nos últimos tempos.
     Ou seja, o Gabigol já roeu o osso desde o começo, e agora justamente quando o cara vai começar a desfrutar de todo o prestígio, moral com a torcida, o Tite só chama o Pedro e o Everton Ribeiro? Tudo bem, merecido os caras irem pra Copa, mas o Gabigol já viaja na janelinha do avião bem antes de seus companheiros de time.
     A gente vai ficar aqui torcendo e confiando na escolha do Tite, comemorando e tal. A galera que vai ao Catar já não vai poder tomar uma, bico seco, tranquilo...mas poderia estar exibindo a plaquinha do Gabigol, tá vendo aí, Tite?

sábado, 5 de novembro de 2022

O BEM AINDA É MAIOR

   
    
     Que confusão parece ser essa que está fazendo o mundo viver um caos bem pior do que aquele do qual originou tudo isso ao nosso redor? Quando se começa uma fala, uma discussão assim já questionando alguma coisa é porque o negócio está sinistro mesmo, tá ligado?
    Não parece que a pandemia e a guerra tenham revirado as coisas desse jeito como as pessoas estão falando, botando a culpa no vírus e nas rusgas entre Putin e Zelensky. Tudo bem que esses eventos de doença e guerra deixam marcas que interferem na vida global, mas não há registros de que isso tenha apagado o lado bom do mundo.
     Até porque já houve outras guerras e outras doenças afligindo as pessoas ao mesmo tempo em que uma outra parcela mostrava seu lado mais cruel.
     Mas, agora, por conta de uma atenção maior às tragédias, muito de ações isoladas voltadas para o bem têm ficado em segundo plano. As tragédias as quais me refiro são desconstruções da vida prática, não essas tragédias que costumam provocar a comoção nacional, toda vez que cai um avião, um barranco desliza, um edifício desaba ou pega fogo ou uma celebridade morre.
    A audiência maior hoje é a agenda de ódio, de intolerância e impaciência com quem pensa diferente, com quem acredita numa outra realidade. A gente fala essas coisas por conta das eleições, mas já rola essas impertinências em outros ambientes de convivência humana, não é de hoje.
     E com isso na comunicação global, incluindo a mídia, as redes sociais, conversas de botequim, fórum de debate, encontro de chefes de estados, missa, culto, pajelança, reunião de condomínio, churrasco na laje e outras resenhas que tenham agrupamento de homo sapiens a pauta é a mesma de sempre: se não for fofoca, é gente discorrendo sobre coisa ruim.
    Até eu aqui. O texto já vai terminar e eu ocupei a maior parte do espaço sem um mínimo de audiência ao lado bom da vida. O que vão pensar meus 22 seguidores da página?
     Está cheio de gente por aí praticando o bem sem a menor visibilidade, no momento em que explanar a melhor faceta humana serve de alívio nesses dias loucos, além, claro, de um estímulo a mais para um outro horizonte.
     É gente que de uma forma qualquer massageia o ego de alguém sem exposição alguma. Tipo o cara que dá aula de reforço numa praça, olha que bacana. A pessoa às vezes nem quer aparecer, uma atitude nobre, claro, mas o mundo precisa saber dessas práticas, senão fica parecendo que o mal predomina sobre o melhor que as pessoas têm para oferecer e não é bem assim, bate na madeira aí.

                                                         Foto: Portal VER