Um grupo está reunido em protesto bloqueando o fluxo de uma estrada em Mato Grosso. Alguém chega e pede passagem alegando que precisa passar para levar seu filho a uma cirurgia de emergência no olho. O favor foi negado e rechaçado em função do comprometimento do grupo com a causa reivindicada ou reclamada, melhor dizendo. “Que fique cego, não vai passar!”.
Qualquer um no argumento mais plausível vai interferir na contenda alegando que a liberdade ou direito de um termina quando a do outro começa.
Termina aí o que poderia ser resolvido da forma mais sustentável, mais racional, ou dentro de um elemento que eu considero o mais importante nas relações humanas em qualquer circunstância: o fator humano.
Por mais que a causa fosse justa e amparada no que é permitido manifestar, há sempre uma brecha, um atalho, uma exceção à regra, quando a vida é que está por um fio, mas parece que o mais elementar foi ignorado. Isso não tem nada a ver com processo político
O que fica parecendo é que o Brasil está inaugurando uma era de grandes conflitos, como se nunca tivéssemos tido uma grande causa para resolver com distúrbios, cancelamento e mortes. É como se a gente não tivesse experiência de reverter situações de crise, incertezas, por isso que a vida alheia fica por um fio.
Nunca fomos arrasados por uma guerra, mas temos nossas enchentes, alagamentos, queda de barranco, bala perdida, fome, desemprego, cenários que sempre despertam a solidariedade, porque a vida das pessoas está em primeiro lugar.
De tantas vezes que o brasileiro foi conclamado a resolver pendengas sem garantia de sucesso, o futuro do Brasil é incerto até hoje. Um novo processo começando não é um progresso em si, é um recomeço apenas. Porque nós brasileiros estamos sempre começando do zero e contabilizando momentos importantes, apesar de difíceis, mas históricos para fins de registros.
Essa balbúrdia que a gente tem presenciado em algumas vias pelo Brasil não pode ser considerado um fato importante para entrar nos anais da história. Para a sociedade lembrar lá na frente de um movimento político e tal, que trouxe mudanças para a vida brasileira. Só que não.
Só serão lembrados como protagonistas da cultura do ódio, arruaceiros, impondo ação sem qualquer embasamento legal que justifique esse delírio, essa estupidez, essa falta de humanidade.
Foto: UOL Noticias