quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cidade partida

    
     Num passado não muito distante ocorreram duas mudanças no cenário geopolítico da cidade do Rio de Janeiro que implicaram alterações na forma de gerir e conduzir a cidade, quando esta deixou de ser capital do país, e após a fusão, quando se confirmou o Rio de Janeiro como uma grande metrópole.
     Há quem acredite que com essas mudanças o Rio perderia muito dos louros que colhia, quando gozava do status de Distrito Federal.
     Pelo menos agora, não tem sentido algum discutir os eventuais prejuízos e compensações que foram dispensados à cidade, em função dessa modificação.
     Dificilmente o Rio de Janeiro deixou de receber, ao longo desses anos, os recursos destinados à cidade, pela parte que lhe coube, na divisão do orçamento, advindos do governo federal ou estadual.
     Agora, quando assistimos à um temporal sazonal infernizar a vida do povo carioca, inviabilizando parte da rotina local, concluímos tristemente que falta ao Rio um choque de gestão. Um novo modelo na forma de gerir os problemas que a cidade tem.
     Nesse último temporal que castigou vários pontos do Rio, a prefeitura pode experimentar os equipamentos que emitem sinais de alerta em áreas de risco nas comunidades, cujas ocupações irregulares vêm, há muitas décadas, causando vítimas fatais, pela ineficiência da administração pública.
     Não deixa de ser um alento saber que o trabalho da prefeitura com a Geo-Rio finalmente trouxe resultados tímidos, mas importantes, já que houve tempo de alertar algumas pessoas sobre o risco que corriam, evitando mortes quase certas. Mas é pouco, se comparado à dimensão do problema a ser enfrentado.
     Se em administrações passadas a municipalidade não conseguiu realizar trabalhos preventivos de contenção de encostas e ocupações irregulares, durante esse mesmo tempo a comunidade científica, através dos principais órgãos técnicos e ambientais, incluindo o Clube de Engenharia e o CREA-RJ, vem, sistematicamente, apresentando projetos importantes sobre a ocupação do solo urbano, estudos técnicos sobre o complexo relevo do Estado do Rio de Janeiro e mapeamento das áreas de risco, através de pesquisas realizadas na UFRJ, UERJ e UFRRJ.
     Estamos nos preparando para sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíadas, sem saber que o legado desses eventos trarão algum resultado prático na vida da população carioca.
     De qualquer forma, é bom lembrar que as mazelas do Rio de Janeiro não são o retrato fiel do cartão-postal da nossa cidade. Muito pelo contrário, são o contraste da beleza que queremos conservar e do bem-estar que almejamos para todos.
     Vivemos numa cidade partida, dividida entre a miséria e o glamour. Mesmo que fôssemos ainda a capital federal, não fugiríamos da expansão urbana que se acentuou rapidamente. E o progresso da cidade do Rio de Janeiro estaria, de qualquer jeito, intrinsecamente ligado à competência dos agentes públicos que se propuseram a administrar a Cidade Maravilhosa.

sábado, 23 de abril de 2011

A bola vai rolar

    
     Toda vez que começam a discutir sobre os preparativos para a Copa do Mundo, não só os olhos do mundo se voltam para o Brasil, como também aqui, mais e mais brasileiros vão se dando conta de que o cronômetro já foi acionado.
     Tem muita gente que já está esperando a hora da grande festa, a abertura, os jogos da seleção brasileira e a atmosfera futebolística que vai pairar sobre a rotina do nosso povo, durante os dias em que durar o evento. Não demora muito e começam os prognósticos sobre os eventuais campeões e as manifestações dos milhões de técnicos de futebol espalhados pelo Brasil, além da chegada da imprensa internacional, em meio aos turistas vindos de todos os cantos, de todos os continentes.
     É justamente esse fluxo de gente vindo para cá que preocupa os organizadores de tão importante acontecimento do mundo esportivo.
     É claro que vai dar tudo certo no final. Com relação aos atrasos no cronograma das obras de reforma dos estádios que vão sediar os jogos, o governo, na pior das hipóteses, vai adotar o regime de urgência e acelerar os preparativos, sem a necessidade de licitação, como manda e permite a lei. Tudo bonitinho, portanto. No espocar dos fogos da festa de abertura todo mundo vai respirar aliviado, com a sensação do dever cumprido.
     Outra questão que está deixando muita gente de cabelo em pé são os aeroportos, cuja infraestrutura deixa a desejar, simplesmente porque aumentou a demanda, pela concorrência com os ônibus. Tem gente pagando menos para ir à Minas Gerais de avião do que pela estrada, com direito à buracos  e chegando bem depois.
     Mas isso não é nada que a Agência Nacional de Aviação Civil não resolva, passando um pito nas companhias, que em contrapartida, poderão aumentar o preço das passagens, diminuindo a procura e aliviando o sistema, pelo menos durante a Copa, quando muitos vão preferir guardar o dinheiro para comprar camisa oficial, tomar cerveja, comprar os jogos pela Tv, e se sobrar algum, ainda adquirir aquela sinistra e barulhenta vuvuzela tupiniquim, a ter de viajar de férias em pleno recesso nacional pelos jogos do Brasil.
     Quisera os pessimistas de plantão que tudo fosse resolvido assim, com um toque mágico. Só que a tal varinha de condão não vai conseguir retocar a imagem  do país lá fora, logo após a festa de enceramento, quando geralmente se faz um balanço do espetáculo, analisando os prós e contras, e o próprio legado deixado à população, independente de o nosso capitão levantar o caneco.
     Toda essa suposição levantada é uma reprodução do discurso que muita gente está fazendo, especulando sobre o vexame do Brasil, caso algo dê errado com algum item das exigências que a FIFA faz para que o anfitrião não fique com a imagem arranhada.
     Pois, me desculpem, todos vocês, mas eu acho que já estamos passando por um grande vexame, pelo simples fato de os delegados da FIFA desembarcarem aqui para conferirem se está tudo dentro do cronograma estabelecido.
     Para se ter uma idéia, em 2002, quando o Japão sediou aquela Copa junto com a Coréia do Sul, a Alemanha, anfitriã quatro anos depois, já anunciava que estava tudo pronto naquele país. Pelo jeito, só conseguimos “tirar onda” dentro das quatro linhas.
     Fomos, durante muitos anos, relegados ao segundo plano no cenário mundial. O Brasil era conhecido por pedir dinheiro emprestado e moratória depois; jogando bola sem ganhar nada, além do período nebuloso que vivemos até chegarmos aos dias de hoje, quando já somos convidados a sentar à mesa nas grande festas de arromba que o Primeiro-Mundo costuma promover.
     Nos damos ao luxo de meter o bedelho na política alheia, enviar soldados ao exterior em missão de paz e, pasmem, emprestar grana para o FMI.
     Pois, bem! Já estamos bem grandinhos para ficar comprando ingressos em fila que não anda, debaixo de tiro e porrada, em plena odisséia para 2014.
     Estava na dúvida sobre o que foi pior para o Brasil: as botinadas do Felipe Melo ou o gol do Gighia?
     Acho que vou ter de reformular a pergunta.   

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A descoberta

    
     Há exatos 511 anos, segundo o calendário gregoriano, descobriram que nossa terra, ou melhor, nosso país seria uma grande nação. Pela dimensão continental que hoje classificam o Brasil pelo seu perfil de potencial consumidor é natural que estejamos em destaque, pela cobiça que despertamos, muito antes de o nosso Brasil varonil ser uma nação independente.
     Cada vez que os desbravadores percorriam as trilhas do Pau-Brasil, passando pelo Ciclo do Ouro, desenhava-se, a partir de então, uma história de luta que nortearia a trajetória do Brasil até os dias de hoje.
  Quando lembramos nossos esforços para nos tornarmos uma república sem a ingerência dos colonizadores, o processo pela abolição da escravatura talvez tenha sido o primeiro sinal de que teríamos pela frente uma série de batalhas até que o Brasil se tornasse um país hegemônico e soberano.
     No momento em que os tripulantes daquelas caravelas aportaram em Cabrália e dizimaram grande parte dos índios ali existentes, consolidou-se no Brasil, não só um processo de miscigenação do povo brasileiro, como também uma política de segregação que se acentuou com a chegada dos navios negreiros, que culminou com uma grande dívida existente até hoje.
     Depois de um longo período de adequação gradativa de inserção social temos hoje uma mulher brasileira na presidência do Brasil. Pelos fatos históricos que ilustram a nossa trajetória, temos muito mais a lamentar, pelo tempo que se passou, até podermos comemorar uma conquista dessa magnitude.
    Certamente teremos à frente do poder outros segmentos da sociedade, excluídos ao longo desses séculos. Mas, não há dúvidas de que a conquista das mulheres, pelo seu espaço na vida brasileira, contribuiu enormemente para inaugurar o Brasil na vanguarda dos novos tempos, embora existam algumas lacunas que as atuais políticas sociais vêm tentando preencher.
     A presidenta Dilma Rousself vem pleiteando, junto ao Conselho de Segurança da ONU um assento permanente do Brasil naquela entidade. Diferentemente de outras tentativas de lograr êxito nessa empreitada, pelo menos agora o governo brasileiro acena com uma proposta de observância dos Direitos Humanos, cujos tratados podem fazer as nações reaverem suas políticas externas, quando da interferência em outros países, por razões comerciais, como também fazendo seu dever de casa, corrigindo velhos erros do passado, em que impera a intolerância contra grupos sociais, historicamente excluídos do processo político, econômico e social interno.
     Pelo passado histórico de nossa presidenta no cenário político, é natural que agora como chefe da nação ela trouxesse essa questão à tona. A própria ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, levantou essa bandeira da colega brasileira, por ter convivido com esse martírio, em seu país.
     O caminho pelo qual o Brasil percorre para assegurar o seu poder de voto no Conselho de Segurança da ONU, através da China, não pode ser visto como algo diferente, porque o governo chinês também tem telhado de vidro, e o seu interesse comercial com o Brasil certamente vai tornar simpática a aspiração do Brasil àquele Conselho, como fez Barack Obama, quando veio aqui nos bajular.
     De qualquer forma, caminhamos bastante desde aquela descoberta, apesar de termos errado de rota, como fez Cabral.

   

terça-feira, 19 de abril de 2011

Recomeço

     Uma mulher está na Guiana Francesa, vivendo e trabalhando com uma lacuna, um vazio, que se não chega a interromper sua história, pelo menos oxigena a tristeza contida nela. Ela tem o olhar distante, como que a procurar seu filho, ao longe, perdido em sua terra natal, o Haiti, com a dura missão de prosseguir em sua infeliz rotina de quase órfão. Aquela negra que varre, limpa e espera o tempo passar também renova a esperança de encontrar seu fliho, podendo voltar a vê-lo, ou esperando sua chegada repentina.
     Pelas manobras que a diplomacia dos dois países fazem para tão intrincada questão, não demora muito e o avião pousa em terra firme, trazendo o seu rebento, agora quase homem.
     Pela expectativa que se forma e o sofrimento pela incerteza do final feliz ou trágico, ainda assim o horizonte desponta à sua frente, com a fé de um dia poder sorrir novamente. Quando tudo parece perdido, eis que o semblante da infeliz muda, depois de angustiantes noites ao som de grilos.
     Já em Realengo, o desafio maior é da reconstrução. Juntar os caquinhos, agora que as aulas foram retomadas, fica mais complicado, no momento em que se deve conciliar a dor que aperta , toda vez  em que for fazer o trajeto que a morte fez, subindo as escadas e invadindo a sala de aula, e a responsabilidade  de seguir em frente, buscando o combustível dessa nova caminhada em sua própria angustia, como forma de superação humana.
     São duas histórias de perda com trajetórias diferentes. É como se essas pessoas tivessem ido ao inferno por caminhos diferentes.
     Para quem fica aqui nesse plano a perda tem uma dimensão muito maior do que se possa imaginar. Tão trágico quanto a ausência de alguém importante é a lembrança de nunca mais poder investir no futuro do filho, interrompido abruptamente.
     A evolução humana está em constante movimento porque estamos sempre trocando figurinhas, passando adiante tudo que concebemos como útil para nossa espécie. Estamos sempre projetando em alguém especial o futuro que não conseguimos realizar, botar em prática, ou dando prosseguimento, através de outra geração, a um projeto bem-sucedido que deve ser empurrado para frente e aprimorado depois.
     Quando ficamos sem aquela pessoa em quem confiávamos, em quem poderíamos depositar as nossas fichas, parece que corremos o risco de sermos extintos, pois nunca mais amaríamos alguém que pudesse herdar nossas maiores aspirações e conquistas.
     Deve ser por isso que tememos a morte, pois seu silêncio acaba cortando nosso próprio barato, até sermos trazidos de volta para a realidade que não interessa porque o mundo não mais gira, a banda parou de tocar, a criança não chora, não mama. É com se houvesse um intervalo entre a vida e a morte.
     Por conta de nossas limitações e fragilidades, habitamos também o mundo da lua, o universo virtual, onde se mata sem alguém morrer, onde se goza sem ter prazer; e assim vamos fingindo que somos fortes.
     Tão forte que não nos damos conta de que o recreio já terminou e a professora já está na sala.    

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Francamente!

     Os vereadores do Rio resolveram majorar seus próprios vencimentos. Até aí, tudo bem, porque esta é uma prática que já ocorre há muito tempo, assegurado por lei, portanto, sem chance de alguém reclamar, coisa que o povo não costuma fazer.
     Como ninguém consegue agradar a todos ao mesmo termpo, eis que surge alguém com o voto contrário. O vereador Eliomar Coelho, além de considerar fora de propósito o aumento a seus pares, tratou de protocolar e oficiaizar o estorno do acréscimo em seu contra-cheque.
     Pela conduta e currículo do nobre vereador, não há surpresa alguma, para quem surgiu na política para servir de exemplo para a sociedade.
     Infelizmente, o que mais chamou a atenção foi o argumento que o vereador Leonel Brizola Neto utilizou para defender o aumento aos membros da casa. Ele, simplesmente, afirmou com todas as letras, que os parlamentares precisam ganhar bem para não se corromperem.
     Ora, ora, vereador! Que critério vossa excelência utilizou para chegar à brilhante conclusão?
     Não é difícil mostrar exemplos que desmontam sua ridícula tese. Eu conheço gente que ganha um, eu disse um salário, e consegue sustentar sua nobre família, sem nenhum apontamento em ficha policial, pagando em dia a conta da venda na favela, quase não comendo carne e com os filhos encaminhados, estudando na rede pública.
     Por outro lado, ainda dentro do mesmo universo de bem-feitores, existe aquele sujeito com o "boi na sombra", ganhando uma fábula como executivo de uma grande empresa, proporcionado tudo do bom e do melhor a sua prole, mas que conseguiu o sucesso profissional, sem sucumbir às imoralidades que a vida pública também escancara, por intermédio de legisladores com mente tacanha.
     Francamente! Sou pobre, mas sou limpinho, meu chapa!   
    

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cortina de fumaça

    
     Geralmente quando se faz uma crítica negativa de um assunto tão relevante quanto esse novo ensaio sobre a Campanha do desarmamento fica parecendo que a gente está torcendo contra, mas quando lembramos que em 2005 mais de 60% dos brasileiros optaram por manter a comercialização de armas no país, há que se considerar alguns aspectos que cercam o comportamento da população brasileira.
     É preciso deixar bem claro que independentede qualquer opinião majoritária, essa mesma parcela continua incrédula, apavorada, descrente, mas esperançosa, porque até hoje não aconteceu nada que trouxesse tranquilidade e paz de que todos precisam.
     Se as grandes cidades incharam ao longo desses anos, o maior dos projetos não conseguiu acompanhar esse crescimento galopante. Ao mesmo tempo em que não há hospitais eficientes e escolas de qualidade para todos, a atual política de segurança também não atende à grande demanda. Ou seja, não há segurança para todo mundo.
     Com isso, cada um se vira como pode, de acordo com seu poder aquisitivo. São carros blindados, condomínios fechados, segurança particular, milícias, seguros. Só que antes mesmo de o mercado absorver as necessidades que foram surgindo, o cidadão comum já procurava se defender com o respaldo da lei, inclusive.
     Hoje, muitos brasileiros têm armas de fogo legalizada, com registro, em casa, para se resguardar de qualquer perigo que ronde o seu lar, que segundo a Constituição, é inviolável. Essas pessoas, dificilmente vão entregar sua arma num momento com este. A dor do seu semelhante, que sofreu a violência dos novos tempos, não será suficiente para demovê-lo da ideia de guardar uma arma em casa. Muito pelo contrário, ela vai se reforçar ainda mais, comprando mais fechaduras, câmeras de vídeo, alarmes e outros serviços que a indústria da segurança, inteligentemente, colocou à disposição da população.
     Diante desse quadro de incerteza, nada mudará o estado de medo, independente do resultado do plebiscito, caso haja uma nova consulta ao povo. Mesmo que a maioria resolva abolir a venda legal de armas no Brasil, a outra parcela representará a insatisfação com a inércia que se verifica, o que significa que qualquer medida do governo na área de segurança não contempla todo mundo.
     Esta semana, saiu num jornal de grande circulação a foto de um grupo de alunos na sala de aula, portando armas de brinquedo que seriam entregues em ato simbólico de paz. Ora! Quem usa armas de brinquedo são os delinquentes maiores e os menores infratores, de vez em quando flagrados e presos. Bem diferentes do tempo da antiga brincadeira de “polícia e ladrão”, as crianças de hoje brincam de Counter Strike. Um jogo virtual, em que a violência é a tônica para a sobrevivência. Na verdade, uma versão mais que moderna dos velhos filmes de bang-bang, cujo conteúdo povoava as cabeças pouco pensantes.
     A lei n° 10.826, do Estatuto de Desarmamento, que pune por porte ilegal de armas, constitui um importante mecanismo para recuperar armas das mãos de quem não pode usá-las. Mas, não adianta nada se o indivíduo pode comprar outra no mercado paralelo, quando ganhar a liberdade, sob condicional, habeas-corpus, indulto de Natal ou regime semi-aberto; instrumentos legais de uma lei arcaica que beneficia o infrator e aterroriza a sociedade.
     Pois, é! Quando o próprio estado de direito abre brechas para foras-da-lei sobreviverem é porque chegou a hora de reforma, de mudanças na ótica de um problema grave, remexido, até hoje, sob os holofotes e do alto de palaques.
     Bem disse Ophir Cavalcante, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, para quem essa nova tentativa de promover o plebiscito representa uma “cortina de fumaça” para deviar a atenção das pessoas dos problemas na política de segurança no país.
     O senador Demóstenes Torres, de Goiás, também não vê com bons olhos uma nova consulta à população sobre a venda de armas. Segundo ele, não basta tirar a arma do cidadão de bem; é preciso evitar que ela chegue às mãos dos homens do mal.
     Chega de tiro no pé!l  
    



          

domingo, 10 de abril de 2011

Adeus às armas

        Agora que a tragédia de Realengo despertou o interesse na retomada da discussão acerca da comercialização e controle de armas no país, é bem provável que este seja o grande mote para futuros debates que se seguirão na questão da violência que aflige os brasileiros.
        Infelizmente, a cada evento de revés na sociedade vem à tona algo que não se resolveu, por comodismo, inércia, ou, até mesmo, despreparo na condução de um processo que possa erradicar ou amenizar os efeitos de uma grande mazela social.
        Quando eu afirmei aqui que o governador Sérgio Cabral relembrou a questão em hora inoportuna, no momento após a tragédia naquela escola, é porque o mais importante era tratar do problema da segurança nas escolas, atribuição da municipalidade, portanto.
        Mas, até hoje, como nenhuma política de segurança conseguiu diminuir os índices de violência no Brasil, principalmente nas grandes metrópoles, nunca é tarde, aliás, está mais do que na hora de se traçar um plano verdadeiramente eficaz no combate à violência.
        Muito antes, quando já se praticava outras modalidades de crimes como, seqüestro, assalto à banco e ataques à pedestres nas ruas, já se especulava sobre a origem das armas nas mãos de bandidos, ou em cenário de fato isolado do cotidiano. Já tivemos outros casos em que anti-herois da sociedade levaram pânico às pessoas, causando perdas irreparáveis, e as discussões, na época, apenas ensaiaram um projeto que trouxesse resultados promissores.
        Recentemente, a polícia fluminense fez uma grande apreensão de armas  no Complexo do Alemão, por conta da implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora naquela comunidade. Pelo montante do armamento recuperado na operação, ficou evidente a quantidade e a facilidade com que armas entram no país de forma ilícita. Surpreendentemente, nessa investida da polícia no Complexo, o que teve de mais importância junto à opinião pública foi a retomada daquele território e a devolução do direito de ir e vir dos moradores locais. Se o governador e o secretário de segurança na ocasião acenaram com algum projeto para frear um suposto tráfico de armas, a promessa ficou na intenção e nas páginas do noticiário.
        Oxalá não precise a sociedade vivenciar outra experiência de barbaridade para recomeçar uma outra discussão inútil.
           Quando as três esferas de governo manifestam sua parceria em prol do bem comum, a esperança surge acompanhada da incerteza, pela dúvida quanto ao futuro, ou, até mesmo pela decepção pelo voto talvez desperdiçado.
        Mais uma vez o governo e o Viva Rio resolveram recomeçar a campanha pelo desarmamento, uma reedição da mesma campanha de anos atrás, quando apenas se barganhou com a sociedade a devolução de armas em poder de cidadãos comuns. O Movimento Viva Rio, dentro de suas atribuições de elemento da sociedade civil tem mais é que promover essas iniciativas, mas pelo lado do poder público, a fiscalização permanente das fronteiras, pelas Forças Armadas e Polícia Federal se faz necessário para que essas ações tenham resultados imediatos.
        De qualquer forma, ainda existe uma luz no fim do túnel. Enquanto a sociedade vai assistindo ao ricochetear de uma bala perdida ou direcionada, pelo menos  nossos brasileirinhos, aqui no Rio, tem uma razão para voltar a sorrir. O deputado estadual Zaqueu Teixeira, presidente da Comissão de segurança da Assembléia Legislativa do Rio, assegurou que vai convocar o deputado Comte Bittencourt, presidente  da Comissão de educação da casa, para uma audiência pública para discutir a segurança nas escolas.
       Que chegue o fim dos estampidos e blá-blá-blá!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Simplesmente chocante!

     É chocante! Incrível como se pode tratar de forma emocional, sensacionalista, um absurdo que deve ser abordado de maneira racional, visando resultados imediatos.
     No episódio macabro que chocou o Rio de Janeiro, com repercussão no mundo inteiro, os desdobramentos da tragédia na escola de Realengo não podem se limitar ao plano sentimental, com relatos de testemunhas em estado de choque e depoimento emocionado do policial que conseguiu evitar que o atirador invasor prosseguisse em sua sanguinária e premeditada intenção de executar tal plano.
     Como o fato ocorrido naquela escola resvala na questão da segurança, seria interessante que o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes apresentassem, em conjunto, algum plano de ação no sentido de evitar a repetição de casos como esses, em vez de ficarem discorrendo sobre a ação do psicopata, como eles classificaram o criminoso.
     No caso de Sérgio Cabral, na oportunidade que teve, ele simplesmente pregou uma política séria no combate e controle de armas no país, assunto que deveria ser tratado em outra ocasião, inclusive em âmbito nacional, por ser esta uma questão que envolve todo o país.
     Com realção ao prefeito, este poderia apresentar algum projeto de segurança nas escolas sob a tutela do município. A tal parceria, alardeada exaustivamente durante o último pleito, poderia se concretizar agora, com policiamento ostensivo nas adjacências das escolas, auxilando a ronda escolar que a Guarda Municipal já efetua, mesmo de forma tímida. A tecnologia também poderia ser empregada no conjunto de ações e ser implementado, como por exemplo, catraca eletrônica na porta das escolas, com detector de metais, assim como cartão eletrônico para alunos e funcionários da instituição.
     Recursos não faltam ao município, considerando  a construção do Centro de Controle que a prefeitura está concluindo, com objetivo de monitorar as ruas da cidade, empenho este que deveria ser estendido para a segurança dos alunos sob sua tutela, quando estes adentram pelo portão da escola.
     Seria o primeiro passo para evitar que outras tragédias aconteçam, e o primeiro indício de respeito às vidas humanas, tão recorrentes nos dias de hoje.

sábado, 2 de abril de 2011

Exemplo

     Nada teve mais destaque esta semana do que o fim da luta que José Alencar travou, por um bom tempo, para viver um pouco mais, como ele mesmo fazia questão de frisar, toda vez que concedia entrevista na porta do hospital.
     Quem acompanhou durante esses anos a batalha daquele homem pôde perceber que não lhe faltou coragem e fé. Sua alegria e serenidade parece que ilustrava a comoção que tomou conta do Brasil a cada etapa daquele período de sofrimento, muito sofrimento para uma pessoa só.
     Durante sua passagem como vice-presidente do governo Lula, muita gente passou a conhecer um pouco da trajetória de um cidadão que se enveredou para a política depois de colher os louros com homem de negócio.
     Pela transparência  e capacidade com que conduziu sua vida pública, é bem provável que ele tenha aplicado na vida política os mesmos mandamentos de um bom empreendedor.
     Talvez esteja aí o grande diferencial de José Alencar frente a seus pares, fazendo deste ilustre personagem integrante de um seleto grupo de brasileiros que saíram da vida pública com a imagem imaculada, em tempos em que as vicissitudes da política costumam desviar os caminhos de quem recebe as benesses para um servidor exemplar.
     Certa vez, José Alencar disse que era preciso lutar pela vida, pois cada um tem a sua para cuidar, e ele estava fazendo a parte dele.
     Pois, é! É preciso que cada um faça sua parte sem desviar dos caminhos a serem seguidos.
     Exemplo é o que não falta.