Num passado não muito distante ocorreram duas mudanças no cenário geopolítico da cidade do Rio de Janeiro que implicaram alterações na forma de gerir e conduzir a cidade, quando esta deixou de ser capital do país, e após a fusão, quando se confirmou o Rio de Janeiro como uma grande metrópole.
Há quem acredite que com essas mudanças o Rio perderia muito dos louros que colhia, quando gozava do status de Distrito Federal.
Pelo menos agora, não tem sentido algum discutir os eventuais prejuízos e compensações que foram dispensados à cidade, em função dessa modificação.
Dificilmente o Rio de Janeiro deixou de receber, ao longo desses anos, os recursos destinados à cidade, pela parte que lhe coube, na divisão do orçamento, advindos do governo federal ou estadual.
Agora, quando assistimos à um temporal sazonal infernizar a vida do povo carioca, inviabilizando parte da rotina local, concluímos tristemente que falta ao Rio um choque de gestão. Um novo modelo na forma de gerir os problemas que a cidade tem.
Nesse último temporal que castigou vários pontos do Rio, a prefeitura pode experimentar os equipamentos que emitem sinais de alerta em áreas de risco nas comunidades, cujas ocupações irregulares vêm, há muitas décadas, causando vítimas fatais, pela ineficiência da administração pública.
Não deixa de ser um alento saber que o trabalho da prefeitura com a Geo-Rio finalmente trouxe resultados tímidos, mas importantes, já que houve tempo de alertar algumas pessoas sobre o risco que corriam, evitando mortes quase certas. Mas é pouco, se comparado à dimensão do problema a ser enfrentado.
Se em administrações passadas a municipalidade não conseguiu realizar trabalhos preventivos de contenção de encostas e ocupações irregulares, durante esse mesmo tempo a comunidade científica, através dos principais órgãos técnicos e ambientais, incluindo o Clube de Engenharia e o CREA-RJ, vem, sistematicamente, apresentando projetos importantes sobre a ocupação do solo urbano, estudos técnicos sobre o complexo relevo do Estado do Rio de Janeiro e mapeamento das áreas de risco, através de pesquisas realizadas na UFRJ, UERJ e UFRRJ.
Estamos nos preparando para sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíadas, sem saber que o legado desses eventos trarão algum resultado prático na vida da população carioca.
De qualquer forma, é bom lembrar que as mazelas do Rio de Janeiro não são o retrato fiel do cartão-postal da nossa cidade. Muito pelo contrário, são o contraste da beleza que queremos conservar e do bem-estar que almejamos para todos.
Vivemos numa cidade partida, dividida entre a miséria e o glamour. Mesmo que fôssemos ainda a capital federal, não fugiríamos da expansão urbana que se acentuou rapidamente. E o progresso da cidade do Rio de Janeiro estaria, de qualquer jeito, intrinsecamente ligado à competência dos agentes públicos que se propuseram a administrar a Cidade Maravilhosa.