Toda vez que eu escrevo sobre essas tragédias provenientes de temporais eu tomo um certo cuidado pra não estar repetindo sempre a mesma coisa, porque parece até que eu colo aqui nesse espaço o mesmo texto sobre o assunto já abordado em outros eventos dessa natureza.
Se antes a gente focava no descaso das autoridades, não é difícil perceber que tudo continua do jeito como sempre esteve. Quando se menciona a solidariedade das pessoas num momento difícil como esse, é animador saber que tem gente disposta a minimizar o sofrimento das vítimas. E sobre os recursos que o governo federal sempre envia às prefeituras, a primeira dúvida que surge é como e em que é usada aquela grana, enfim.
Essa questão financeira é importante destacar porque tem de estar atrelada a um projeto, um estudo já feito sobre cada situação. Assim como já ocorreu em outras regiões devastadas por temporais com registros de destruição e mortes, não é diferente que nesse novo evento, agora no litoral paulista, já tenha sido feito todo um estudo técnico com todas as informações, recomendações e procedimentos que o poder público deve seguir para ir diminuindo os efeitos de eventos naturais na vida das pessoas.
Depois de todo esse tempo com inúmeros registros de calamidades em regiões críticas, a única certeza é que o Brasil como um todo não está preparado para o extremismo climático que afeta todo o planeta. E o que pior, não há nada sendo feito ou discutido nesse sentido, apenas sucessivos alertas de estudiosos e os velhos paliativos nesses encontros das três esferas de governo.
É claro que todo mundo se envolve numa hora dessa. Os governos federal, estadual e municipal, cada um no papel que lhe cabe na questão. Mas é preciso entender que todos esses eventos são assuntos pertinentes à cidade afetada. Os relatórios são feitos baseados no relevo, geografia, condições locais.
De todos os encontros para tratar do assunto o mais importante foi o Rio +20, em 2012. Tudo bem que houve impasses como nos outros fóruns, mas esse encontro, particularmente, focou na questão das cidades. Não é à toa que aquele evento foi uma reunião de prefeitos.
A gente vê o presidente e o governador também chegando junto, mas a responsabilidade é do prefeito. Ele dele que tem de partir a iniciativa de botar em prática as intervenções que precisam ser feitas, porque cada cidade tem uma particularidade, uma característica específica na sua geografia.
O mau uso do solo urbano como efeito de construções irregulares tem a leniência da municipalidade. É o prefeito que faz vista grossa quando as favelas se proliferam em áreas críticas. É de responsabilidade do chefe do executivo municipal quando constroem em áreas de proteção ambiental toda sorte de empreendimentos para fomentar o turismo local, numa total desobediência as leis ambientais.
Em todos essas localidades onde ocorrem essas tragédias, isso tudo se repete sempre, como se já fizesse parte do calendário das cidades. É só olhar a região serrana aqui no Rio de Janeiro, que tem o seu tempo exclusivo de calamidades, mortes e descasos também.
No caso do litoral paulista são seis cidades afetadas pelas fortes chuvas, incluindo Caraguatatuba, que em 1967 um acidente da mesma natureza matou 450 pessoas. Pois é, não fizeram nada. É mais uma região que sofre com chuvas constantes, e sem nenhuma iniciativa para minimizar os impactos de eventos naturais.