terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

TRAGÉDIA REPETIDA



  Toda vez que eu escrevo sobre essas tragédias provenientes de temporais eu tomo um certo cuidado pra não estar repetindo sempre a mesma coisa, porque parece até que eu colo aqui nesse espaço o mesmo texto sobre o assunto já abordado em outros eventos dessa natureza.
  Se antes a gente focava no descaso das autoridades, não é difícil perceber que tudo continua do jeito como sempre esteve. Quando se menciona a solidariedade das pessoas num momento difícil como esse, é animador saber que tem gente disposta a minimizar o sofrimento das vítimas. E sobre os recursos que o governo federal sempre envia às prefeituras, a primeira dúvida que surge é como e em que é usada aquela grana, enfim.
   Essa questão financeira é importante destacar porque tem de estar atrelada a um projeto, um estudo já feito sobre cada situação. Assim como já ocorreu em outras regiões devastadas por temporais com registros de destruição e mortes, não é diferente que nesse novo evento, agora no litoral paulista, já tenha sido feito todo um estudo técnico com todas as informações, recomendações e procedimentos que o poder público deve seguir para ir diminuindo os efeitos de eventos naturais na vida das pessoas.
    Depois de todo esse tempo com inúmeros registros de calamidades em regiões críticas, a única certeza é que o Brasil como um todo não está preparado para o extremismo climático que afeta todo o planeta. E o que pior, não há nada sendo feito ou discutido nesse sentido, apenas sucessivos alertas de estudiosos e os velhos paliativos nesses encontros das três esferas de governo.
     É claro que todo mundo se envolve numa hora dessa. Os governos federal, estadual e municipal, cada um no papel que lhe cabe na questão. Mas é preciso entender que todos esses eventos são assuntos pertinentes à cidade afetada. Os relatórios são feitos baseados no relevo, geografia, condições locais.
   De todos os encontros para tratar do assunto o mais importante foi o Rio +20, em 2012. Tudo bem que houve impasses como nos outros fóruns, mas esse encontro, particularmente, focou na questão das cidades. Não é à toa que aquele evento foi uma reunião de prefeitos.
    A gente vê o presidente e o governador também chegando junto, mas a responsabilidade é do prefeito. Ele dele que tem de partir a iniciativa de botar em prática as intervenções que precisam ser feitas, porque cada cidade tem uma particularidade, uma característica específica na sua geografia.
    O mau uso do solo urbano como efeito de construções irregulares tem a leniência da municipalidade. É o prefeito que faz vista grossa quando as favelas se proliferam em áreas críticas. É de responsabilidade do chefe do executivo municipal quando constroem em áreas de proteção ambiental toda sorte de empreendimentos para fomentar o turismo local, numa total desobediência as leis ambientais.
    Em todos essas localidades onde ocorrem essas tragédias, isso tudo se repete sempre, como se já fizesse parte do calendário das cidades. É só olhar a região serrana aqui no Rio de Janeiro, que tem o seu tempo exclusivo de calamidades, mortes e descasos também.
    No caso do litoral paulista são seis cidades afetadas pelas fortes chuvas, incluindo Caraguatatuba, que em 1967 um acidente da mesma natureza matou 450 pessoas. Pois é, não fizeram nada. É mais uma região que sofre com chuvas constantes, e sem nenhuma iniciativa para minimizar os impactos de eventos naturais.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

PEDAÇOS DA HISTÓRIA

 

   Quantas histórias já foram contadas na Marquês de Sapucaí? Um pergunta que já deve ter fervilhado a cabeça de muita gente. Já tive pensando nisso, mas sem tentar especular o quantitativo, imagine, já passou tanto tempo.
    Hoje, o que se pode de fato constatar é a forma como são contadas essas histórias na avenida. Os enredos, além de uma ilustração clara do que está sendo proposto apresentar ao público, revela também um viés, uma ótica diferenciada de como se deu um episódio qualquer que o carnavalesco resolveu levar para a passarela.
     Até mesmo quando a escola traz um fato já bem conhecido pela sociedade, há sempre uma informação nova, um dado qualquer que automaticamente dá ao assunto abordado uma outra dimensão. O propósito do carnavalesco é justamente criar uma perspectiva diferente, porque as histórias precisam ser contadas da forma como aconteceram de fato, diferentemente de como a gente soube pelos livros de história.
     O cara vai pesquisar, colher informações, entrevistas, depoimentos, buscas, e o resultado acaba sendo um retrato mais fiel da história que a gente já conhece ou de um episódio desconhecido do público, que foi pouco difundido, mas que agora vem à tona.
    E o carnavalesco, por todo esse trabalho de imersão na história, ele mesmo faz descobertas, claro, e com isso acaba contribuindo para grande parte da nossa história. Quanta coisa que passou ao longo desses tempos completamente despercebida do público e agora ganha publicidade, vai formando uma espécie de quebra-cabeça, porque em nossa história está sempre faltando um pedaço.
    Para parte do público que se interessa pela história é sempre gratificante conhecer novos elementos de tudo que se passou lá atrás e uma criar nova consciência e esclarecer melhor, formar opinião sobre tudo que é importante saber sobre nossa formação como sociedade, nossa cultura, origem de nossa gente com efeito na diversidade do povo brasileiro, as etnias, religiões e toda forma de vida.
   É isso que basicamente as escolas trazem, só que com um olhar diferente, o que se reflete até na maneira como a escola evolui na Marquês de Sapucaí.
    A magia do carnaval não se restringe à estética das cores, dos batuques e das performances dos passistas. A importância do carnaval na avenida é a oportunidade de se fazer uma leitura de como vem por exemplo, um carro alegórico, as alas e suas representações, a comissão de frente com aquele teatro maravilhoso como cartão de vista da escola, tudo com uma mensagem embutida.
   Se não for assim nem adianta atravessar a avenida, porque a cultural em geral tem essa premissa básica.
    Mais do que uma grande festa, o carnaval é a cultura que enriquece a nossa história.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

JÁ É CARNAVAL


   O Carnaval tem sofrido muitas mudanças nos últimos tempos, principalmente no período que consta no calendário. Antigamente, era um corre-corre danado para aproveitar os quatro dias de folia, mais o restinho da semana. Quando geral retomava suas vidas, ficava sempre aquele gostinho de quero mais.
    Só que há muito tempo que ninguém respeita e segue à risca o que determina de fato o calendário gregoriano. Se a Igreja escolhe os dias para o diabo e sua tribo se divertirem, os foliões de verdade, que não fazem parte dessa turma, querem mais tempo para se refestelarem nas ruas depois um ano dando duro direto.
   Quem não gosta de carnaval até fica resmungando pelos cantos, reclamando que neguim já começa a esquentar os tamborins bem antes do tempo certo, e ainda estica um pouco depois, quer dizer, bem depois da tal terça-feira gorda.
    É que parece que havia um trato firmado entre cariocas e baianos pra esticar a folia um pouco mais. Os daqui do Rio começariam antes e os da boa terra, depois. Era um acordo de boca, não esses contratos lavrados em cartório com firma reconhecida e tal.
    Hoje, pelo menos no eixo Rio-Salvador, ninguém obedece mais esse compromisso de lábia, e geral vai ampliando a festa até o próprio mês de fevereiro ser exclusivo do carnaval, sem interferência alguma da Cúria Romana. A própria Igreja só vai contar o período de quaresma a partir de primeiro de março, que por coincidência, é o aniversário da fundação da cidade, e agora?
     Bom, isso dá pano pra manga se forem mexer na maior festa popular do Brasil, querer tudo certinho, religiosamente no tempo certo. Se for para mexer em alguma coisa, que tratem de desassociar essas figuras que não têm nada a ver com o carnaval.
     Eu já pesquisei e vi que o Marquês de Sapucaí nem gostava de carnaval. Aquela avenida tinha de ter o nome de gente que usou sua competência e arte para chegar à apoteose e serviu de referência para a nobreza do carnaval até hoje. Eu sugiro o Joãozinho Trinta, o cara que deixava aquele lugar um luxo e ainda fez escola para quem veio depois.
    Mas isso fica pra depois. O negócio agora é deixar fluir. E é isso que o povo já começou a fazer, cada um dentro de suas possibilidades, sua grana, alegria e descontração, que vão definir a fantasia que cada um vai querer vestir.
    O Carnaval vai rolar no momento em que vários eventos ruins estão ocorrendo pelo mundo, e a gente, infelizmente, não pode interferir, apenas mentalizar positivamente para que as partes se entendam.
     E nós aqui que já temos nossa cruz pra carregar, vamos dar uma pausa nessa via-crúcis para pular bastante e fazer valer o ritual da maior festa popular de que se tem notícia.
   Bom Carnaval.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

A AGONIA DOS PEQUENOS

  

    Uma mulher dá à luz uma criança em meio aos escombros do terremoto que atingiu a Síria. Ela não resistiu, mas a criança foi resgatada com vida, ainda presa ao cordão umbilical.
     Há todo um simbolismo nesse quadro cruel, em que o futuro ganha um fôlego a mais, no momento em que a vida fica por um fio, mas segue em frente respirando e ressurgindo das cinzas, dos rescaldos, dos entulhos, dos escombros.
    Eu vi a imagem da remoção do bebê e lembrei daquela plantinha que nasce na fenda de uma pedra, por entre o limo, onde só um passarinho ou uma abelha podem pousar. A própria natureza se encarrega de reforçar para nós a possibilidade do renascimento, a iminência de um sopro de vida, quando tudo se mostra sombrio e desanimador.
    Aquela cena do menino quase engolido pelas pedras, quase sugado pela energia do solo instável, mas firme ali com os olhos expressivos, bebendo água na tampinha de garrafa oferecida pelo pai, é doído, mas é também um fio de esperança, tanto para quem sente na pele quanto para nós que vemos de longe as vísceras e a aflição daquelas crianças.
    Pelo menos é assim que eu vejo o retrato de quando a vida das pessoas beira o precipício, principalmente as crianças, que além de serem as mais indefesas, são as que não têm culpa alguma. Tudo bem, é um evento natural, vão falar, mas, há tecnologia capaz de prever essas catástrofes e fazer o país tocar rumo seu novamente.
   No caso da Síria, há anos em conflitos internos, o ambiente e situação política impossibilita qualquer tentativa de união em torno de um problema que afeta a todos. Reconstrução é sempre difícil, ainda mais com a economia fragilizada, embargos econômicos e dependendo de ajuda externa.
   O que ameniza um pouco é a solidariedade dos países, da ONU. Mas já já as placas tectônicas voltam a bater em níveis críticos e recomeça o mesmo martírio de sempre, porque a região ali tem essa falha geológica, é normal ter esses eventos assim por lá.
    Como já ocorre em outras regiões de fortes abalos, é urgente a cooperação com aparato tecnológico de nações que resolveram esse drama por terem recursos suficientes até para auxiliar os países que agora choram a baixa de sua gente.
    Pelo bem da humanidade e, principalmente, das crianças, já era pra ter rolado uma discussão nesse sentido.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

O CARIOCA NÃO MERECE ISSO

 

    Esse temporal que atinge a cidade do Rio de Janeiro já faz parte do calendário das cidades que compõem a região metropolitana da maioria dos estados do Brasil. É uma situação pertinente às maiores concentrações urbanas, enfim.
   Apenas esse aspecto sazonal já seria suficiente para implementar uma reformulação completa na vida, na agenda, na realidade de uma grande cidade como o Rio de Janeiro, por exemplo.
   Não faltam estudos sobre o crescimento, as necessidades e o que precisa ser feito para adequar a gestão da nossa cidade com o seu potencial, que incluem a população, os serviços, as demandas, os recursos naturais, a geografia local, relevo, tudo que é levado em conta para se criar um modelo adequado de vida para a população.
    Só que quanto mais vai se protelando um projeto de grande magnitude, que poderia efetivamente trazer o tão esperado bem-estar para todos, piora ainda mais a situação, porque é preciso refazer até os estudos, os dados, as informações que vão ficando defasadas pelo acúmulo de pontos e itens não executados. Daí esse cenário cada vez mais catastrófico na realidade da cidade maravilhosa.
     E o que a gente vê hoje nesse cenário caótico nas ruas da cidade é fruto de várias décadas de descaso. Lembram do grande temporal de 1968? E do outro transtorno em 1988? Pois é, não houve nenhuma ação impactante para amenizar o sofrimento da população, e se naquela época já havia uma urgência enorme, imagine agora com um acúmulo maior das ações que ficaram só no papel, nas promessas de campanha ou nos compromissos de fóruns sobre questões urbanas.
     Se a cidade do Rio de Janeiro foi crescendo ao longo dos tempos, é natural que um temporal que sempre acontece afete um número cada vez maior da população, e o que é pior, comprometendo os principais serviços.
  Pela importância do Rio de Janeiro para seus próprios habitantes, não rola mais as pessoas penarem na volta para casa, porque trem, ônibus e metrô não têm a estrutura estabelecida nas regras de concessão dos serviços. Não tem cabimento um cidadão ser arrastado por uma correnteza, ter a rua e a casa alagadas, pela ausência de políticas públicas amplamente discutidas em sucessivos encontros sobre a questão.
     Não tem como esperar mais que o poder público inclua nas ações de intervenção urbana as pautas da agenda ambiental que vão embasar os projetos de transportes, moradia, segurança, saúde, saneamento, substituindo essas maquiagens que prefeitos e governadores vêm sistematicamente implementando e empurrando goela abaixo da população faz tempo.


                                                                  Foto: O Globo 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

OS DESAFIOS DE GLÓRIA MARIA



   No dia 20 de novembro de 1971, quando o Elevado da Paulo de Frontin caiu, a Glória Maria encarou o que ela mesma já havia classificado como seu primeiro e grande desafio na carreira.
    Se for considerar o que era a jovem repórter e o status do noticiário em tv naquela época, não há dúvidas de que havia um grande desafio pela frente, tanto para Glória Maria em início de carreira quanto para o telejornalismo, ainda ampliando seu espaço.
   De lá para cá, o próprio telejornalismo foi se aprimorando ao longo dos tempos, numa época em que o noticiário de uma forma bem ampla ainda estava muito ligado ao meio Rádio. A televisão ainda estava se inserindo no seio do público.
    Então, nesse espaço de tempo em que o noticiário televisivo foi ampliando seu campo de atuação, inovando através de novas tecnologias até os dias de hoje, Glória Maria acompanhou todas essas mudanças, assim como fez parte de praticamente todos os fatos e acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo.
    Quando a gente vê esses relatos emocionados de figuras já consagradas dando depoimentos sobre a trajetória de Glória Maria, não é difícil imaginar a referência que ela foi para uma gama de profissionais, com quem ela conviveu ao longo de mais de 50 anos de carreira.
   São figuras que certamente incorporaram esse modelo desafiador de buscar a informação, porque a própria imprensa tem esse caráter desafiador. E apesar das dificuldades que ela certamente enfrentou, foi nesse cenário de desafio que a Glória Maria conseguiu imprimir sua marca em todas as pautas que lhe foram confiadas.
    Dificilmente há alguma coisa, algum lugar, uma situação qualquer que Glória Maria não tenha vivido com um microfone na mão, porque desde que eu me conheço assistindo televisão eu já vi Glória Maria cobrindo política, tragédias e paisagens. De gabinete de político, passando por escombros de conflitos à desfiladeiros e montanhas de gelo, a trajetória de Glória Maria se confunde com a própria história do telejornalismo.
    Por todas as vezes que Glória Maria se dispôs a buscar a informação, indo, inclusive, muitas vezes, além de seus limites, fica o registro de toda a contribuição que Glória Maria deu para tornar o telejornalismo cada vez mais abrangente e desafiador.