Outro dia, um sujeito estava procurando nas redes sociais uma ilha deserta para se refugiar das dores do mundo e da banalização da violência sistematicamente caracterizada nas falas, enfim, nos relacionamentos nesse novo meio social.
O escárnio e tom malicioso de sua reivindicação não deixou, porém, de revelar o desespero de alguém que, como todos nós, vive às voltas com um novo modelo e ambiente de linchamento social.
Se a violência também tem seus contrassensos, não deixa de ser bizarro que alguém busque conforto e sossego em meio a tantas atribulações, principalmente no Facebook, onde imperam as mais diversas nuances de enfrentamentos. É como se o sujeito procurasse no inferno soluções para se viver no paraíso.
É claro que não havia garantias de que esse entrelaçamento de ideias e de gente fosse o maior congraçamento do globo terrestre. Como já especulavam os teóricos, o choque era iminente e seus desdobramentos não seriam diferentes do que se confirmou na grande rede.
Triste disso tudo é constatar que os eventos de revezes, percalços, tragédias e outros dissabores da vida humana têm mais audiência que os eventos pacíficos.
É mais fácil esfacelar, criar conflitos e discórdia do que promover a paz. Até os fatos mais burlescos e inusitados descambam para o confronto, porque tem sempre alguém para desqualificar quem está em evidência, seja em situação desfavorável ou de conforto.
Como bem profetizaram os especialistas, essa conexão global desenhou um novo mapa e criou outras fronteiras. E por incrível que pareça, essa interatividade constante dimensiona mais o aspecto individual que o coletivo, o que provoca mais racha, discussões e o que é pior, a exclusão, o separatismo e a intolerância com requintes de preconceito e discriminação.
Portanto, não existe mais ilha deserta. O anonimato, o sossego, a paz ainda que relativa e o isolamento estão nas ruas, onde ninguém se entrelaça, apenas se esquiva um do outro. Pode se estar sozinho numa multidão, desde que não esteja conectado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário