Não é porque a democracia está esculhambada que não devemos mais preservá-la. De todos os momentos de revisão e reflexão sobre a nossa trajetória, o pior é quando optamos por andar pela contra mão de nossa própria história.
Nessa grita para mudança de regime por parte de uma parcela da população falta um pouco mais de análise sobre o esforço que todos fizemos para que chegássemos aonde estamos. Digo todos porque a sociedade não se dividiu quando reivindicamos a redemocratização do país. Se havia alguém contra todo aquele estardalhaço era mais interesse individual. ou no máximo corporativo, que coletivo.
Se hoje há várias tribos sequiosas de poder, a própria democracia instaurada permitiu essa oportunidade, essa liberdade a quem quer que fosse, trazendo à nova cena política novos personagens e também velhas raposas que, juntos, redigiram uma nova constituição.
Mas, apesar de a nova Carta recuperar as garantias individuais e coletivas que a ditadura militar havia interrompido, não houve muita preocupação em resguardar o patrimônio público tanto no plano institucional como no campo jurídico. A legalização da imunidade parlamentar é uma prova do que consideramos hoje uma grande aberração.
A indignação que hoje pesa sobre o Partido dos Trabalhadores nesses registros de malfeitos dos integrantes da sigla faz sentido pela bandeira da moralidade pública que o PT levantava quando era oposição, e depois se curvou às incongruências do status quo, mas não se pode, nem tirar-lhe o peso da culpa nem atribuir ao partido o pioneirismo da corrupção no Brasil.
Das velhas figuras que sempre dão cria na política até os dias de hoje, a sombra e a herança daquele regime opressor e excludente que tenta se eternizar no tecido social, enquanto a liberdade conquistada vai dando confiança aos filhos da velha política.
Já passou da hora de as eleições renovarem apenas nossas expectativas de tempo em tempo. É a democracia que escolhemos que nos permite a liberdade de escolher quem pode nos representar de fato; é através da democracia que podemos trocar as peças de nosso tabuleiro.
É compreensível esse sentimento de revolta que passa ao largo da razão, mas não é voltando no tempo que se recomeça tudo novamente. Há registros do quanto foi doloroso aqueles anos de chumbo, quando tudo era precário e limitado e não se podia levantar a voz contra os protagonistas daqueles tempos nebulosos.
O saudosismo não pode estar atrelado ao retrocesso. Ao contrário do que pensam uma parcela significativa, é melhor que tenhamos sempre essa liberdade de escolha.
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