quarta-feira, 18 de agosto de 2021

NOVOS RUMOS AO AFEGANISTÃO

     

  É natural que a situação no Afeganistão cause todo esse rebuliço fora das fronteiras daquele país. Sob o ponto de vista humanitário esse assunto vai se estender bastante, e certamente todo mundo vai se envolver, no momento em que vidas humanas estão no centro da questão, em que o Talibã retoma o poder local e reacende o medo da população com a iminência de futura repressão pelo rigor com que a Sharia é defendida e posta em prática pelo grupo fundamentalista que agora comanda o Afeganistão.
    Se antes a presença das tropas americanas por lá é que determinava os rumos do país, a verdade é que independente de toda movimentação e posicionamento da comunidade internacional, agora, qualquer mudança que possa ocorrer dentro do território do Afeganistão vai partir única e exclusivamente de sua própria sociedade, em meio, infelizmente, à tensão que já se iniciou.
    Será necessário, sim, ajuda dos principais países, principalmente aos refugiados, mas o contingente que está lá, a população como um todo, terá de encarar talvez o mais árduo desafio de suas vidas, erguer o país, voltar à normalidade, sem qualquer interferência externa, que ao longo dessas duas décadas fez parte da realidade do Afeganistão com a presença dos EUA em seus domínios.
   Agora, é a soberania do Afeganistão que está em jogo, e ninguém vai poder fazer nada. É claro que a ONU e demais países vão se manifestar, principalmente pela defesa de direitos fundamentais que o código jurídico implantado pelo Talibã, o Sharia, restringe ao pé da letra. 
   Vale lembrar que durante esse período em que os EUA permaneceram em solo afegão, deu tempo de o governo de ocasião criar mecanismos e fortalecer instituições de modo a evitar eventual ruptura como parece ocorrer agora. A própria fuga do presidente Ashraf Ghani revela a fragilidade do governo para lidar com a situação.
    Ao governo americano  não cabia o interesse e o esforço de modernizar o estado de direito do Afeganistão. A política externa dos EUA sempre teve outro viés, todo mundo sabe, o que parece ter mudado completamente agora. Inclusive, foi o Donald Trump que fechou acordo para retirada das tropas. Joe Biden, também defensor da proposta, apenas cumpriu o trato, o que certamente vai modificar a política externa americana daqui para frente.
    Vai ter sempre uma nação se metendo na vida dos outros, mas sem tropas envolvidas. Há modos e tecnologias diferentes hoje em dia.
     De qualquer forma, é  triste saber que as pessoas no Afeganistão  poderão voltar  a ser reprimidas em seu cotidiano, a liberdade cerceada, sobretudo as mulheres, no momento em que há em todo o mundo uma bandeira em prol da causa feminina combatendo toda a sorte de violência e repressão. Mas, infelizmente, é uma questão a ser resolvida internamente, lá entre eles. Eventuais pressões por parte de organismos e nações serão importantes para ajudar a flexibilizar as leis islâmicas por parte do Talibã, quem sabe, ou não.
    Tirando o nosso Brasil como exemplo, a gente vem ao longo  desses anos e décadas fazendo alterações, adequando a legislação de acordo com a nossa realidade de país soberano. Aqui também as mulheres não votavam. Até hoje há discrepâncias de direitos e oportunidades, mas houve avanços, muita coisa mudou. Apesar de algumas dificuldades, nós temos nossas causas, nossas reivindicações, nossas demandas, nossas instituições, num cenário que nos permite modernizar nossas vidas sem interferência externa, estamos trabalhando para isso.
    Não será diferente o rumo que o Afeganistão deverá tomar para buscar segurança e liberdade para o seu povo.


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