domingo, 16 de junho de 2013

Copa das manifestações

    Já tem muita gente tentando desqualificar essas manifestações contra o aumento da passagem dos ônibus, argumentando que ela não representa os anseios da população, que seria apenas implicância de pequenos grupos e partidos políticos querendo desestabilizar a ordem pública.
     Tirando o quebra-quebra que culmina em danos ao patrimônio público, essas mobilizações refletem, sim, a insatisfação de grande parte da população que sofre todos os dias com a ineficiência dos transportes públicos nas grandes cidades, principalmente os ônibus, cuja tarifa sofreu majoração, sem perspectiva de melhoria na qualidade dos serviços oferecidos à população das cidades onde ocorrem estes distúrbios.
    Se vinte centavos não pesam no bolso da galera, o barulho fica por conta da precariedade do sistema de transporte coletivo dos grandes centros urbanos. Em tempos de eventos esportivos que o Brasil sediará os absurdos, as suspeitas de superfaturamento em obras dispendiosas acabam servindo de combustível para a indignação geral, e a chiadeira com relação aos ônibus torna-se plausível pela questão da mobilidade urbana como elemento principal das reformas de preparação para os jogos.
     Ao mesmo tempo em que compromete a viabilidade dos eventos, deixa em dúvida o tão propalado legado que tanto prefeitos maquiadores, governadores omissos e a presidenta - aliás, muito vaiada no discurso de abertura do jogo em Brasília - enchem a boca para garanti-lo para o futuro. Muita gente que vem de fora assistir aos jogos não tem a noção do sacrifício imposto à população brasileira para a realização desses eventos. 
     Para o presidente da FIFA, Joseph Blatter, que percorreu todo o país, acompanhando as obras de perto, não é difícil compreender a inquietação do povo. Em vez de indagar sobre o respeito do público no Estádio Mané Garrincha com a presidente, quando vaiada, ele deveria guardar seu pito aos torcedores do velho continente que hostilizam jogadores forasteiros com conotação racista. 
     Independente do desempenho do scrath de Felipão dentro das quatro linhas, a verdade é que há um clima de insatisfação com a maneira com que a coisa pública vem sendo manejada sem nenhuma contrapartida positiva. E a reboque de toda essa indignação popular podem surgir outros focos de tensão, de movimento de outra natureza. O próprio governador Minas Gerais, Antonio Anastasia, conseguiu na justiça uma liminar proibindo o Sindicato dos Trabalhadores da Educação e da Polícia Civil de promoverem manifestações durante a Copa das Confederações.
     Se o poder público não conseguir garantir à sociedade que a vida social dos brasileiros não será posta ao avesso toda vez que o nome do Brasil fica em evidência fora de nossas fronteiras, não será surpresa se esse quadro caótico se refletir nas próximas eleições que ocorrerão logo após a Copa do Mundo, ano que vem.
    E não adianta essas campanhas institucionais pela TV, reeditando aquele velho ufanismo de tempos atrás, porque se o futebol ainda é o ópio do povo, uma parcela significativa já não se entorpece facilmente. E o que pode parecer apenas arruaça de pequenos grupos isolados, periga se avolumar e resvalar em outras questões também relevantes.
   É a bola rolando e a roda da história girando, monsieur.

 

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