Já tem muita gente tentando desqualificar
essas manifestações contra o aumento da passagem dos ônibus, argumentando que
ela não representa os anseios da população, que seria apenas implicância de
pequenos grupos e partidos políticos querendo desestabilizar a ordem pública.
Tirando o quebra-quebra que
culmina em danos ao patrimônio público, essas mobilizações refletem, sim, a
insatisfação de grande parte da população que sofre todos os dias com a
ineficiência dos transportes públicos nas grandes cidades, principalmente os
ônibus, cuja tarifa sofreu majoração, sem perspectiva de melhoria na qualidade
dos serviços oferecidos à população das cidades onde ocorrem estes distúrbios.
Se vinte centavos não pesam
no bolso da galera, o barulho fica por conta da precariedade do sistema de
transporte coletivo dos grandes centros urbanos. Em tempos de eventos
esportivos que o Brasil sediará os absurdos, as suspeitas de superfaturamento
em obras dispendiosas acabam servindo de combustível para a indignação geral, e
a chiadeira com relação aos ônibus torna-se plausível pela questão da
mobilidade urbana como elemento principal das reformas de preparação para os
jogos.
Ao mesmo tempo em que
compromete a viabilidade dos eventos, deixa em dúvida o tão propalado legado
que tanto prefeitos maquiadores, governadores omissos e a presidenta - aliás,
muito vaiada no discurso de abertura do jogo em Brasília - enchem a boca para
garanti-lo para o futuro. Muita gente que vem de fora assistir aos jogos não tem a noção do sacrifício imposto à população brasileira para a realização desses eventos.
Para o presidente da FIFA, Joseph Blatter, que percorreu todo o país, acompanhando as obras de perto, não é difícil compreender a inquietação do povo. Em vez de indagar sobre o respeito do público no Estádio Mané Garrincha com a presidente, quando vaiada, ele deveria guardar seu pito aos torcedores do velho continente que hostilizam jogadores forasteiros com conotação racista.
Independente do desempenho
do scrath de Felipão dentro das
quatro linhas, a verdade é que há um clima de insatisfação com a maneira com
que a coisa pública vem sendo manejada sem nenhuma contrapartida positiva. E a
reboque de toda essa indignação popular podem surgir outros focos de tensão, de
movimento de outra natureza. O próprio governador Minas Gerais, Antonio
Anastasia, conseguiu na justiça uma liminar proibindo o Sindicato dos
Trabalhadores da Educação e da Polícia Civil de promoverem manifestações
durante a Copa das Confederações.
Se o poder público não
conseguir garantir à sociedade que a vida social dos brasileiros não será posta
ao avesso toda vez que o nome do Brasil fica em evidência fora de nossas
fronteiras, não será surpresa se esse quadro caótico se refletir nas próximas
eleições que ocorrerão logo após a Copa do Mundo, ano que vem.
E não adianta essas
campanhas institucionais pela TV, reeditando aquele velho ufanismo de tempos
atrás, porque se o futebol ainda é o ópio do povo, uma parcela significativa já
não se entorpece facilmente. E o que pode parecer apenas arruaça de pequenos
grupos isolados, periga se avolumar e resvalar em outras questões também relevantes.
É a bola rolando e a roda da história girando, monsieur.
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