terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O AÇOITE CONTINUA




   Não dá pra passar em branco um assunto dos mais cruéis na realidade humana: a barbárie, que ao longo dos tempos, ao longo até da existência do homem prevalece sobre qualquer natureza em que os indivíduos se confrontam. 
    O espancamento do jovem congolês Moïse Kabamgabe até a morte em seu próprio local de trabalho revela, além do extremismo que aos poucos vai se banalizando, ilustra o descaso com a vida alheia e a velha impunidade de sempre, porque não é de hoje que esse tipo de coisa acontece ao nosso redor, sem que haja uma reparação qualquer, uma resposta à sociedade.  
    Toda e qualquer manifestação de repúdio ao ódio, ao racismo, à xenofobia é pouco nesse momento, porque não adianta apenas se escandalizar toda vez que as pessoas chegam ao extremo. Não pode o sentimento de tristeza que abala as pessoas virar apenas um espetáculo midiático no momento de dor para a família do rapaz, e para nós brasileiros que também vivenciamos a violência em nossa agenda.
    É preciso uma resposta imediata dos órgãos de segurança e do Judiciário para identificar e punir com rigor os autores de tamanha crueldade. Seria o primeiro esforço para ir eliminando aos poucos a cultura da intolerância, do ódio que ainda impera na maioria das vezes em que há um distúrbio, uma rusga qualquer nas relações humanas.
     O rapaz não morreu no conflito que marca o seu país. Ele veio morrer onde esperava preservar sua vida. Ele foi surrado até a morte aqui no Brasil ao reivindicar um direito legítimo de quem trabalha, porque, infelizmente, ainda há uma parcela que não se desgarrou do açoite como forma de eliminar as pessoas. Uma das faces mais cruéis da história da humanidade vem, sistematicamente, se repetindo, e o que é pior, sem sinal algum de que isso possa ser interrompido algum dia.
    Agora, o mínimo que se espera é o máximo rigor da lei, porque existem elementos suficientes para isso. A própria repetição desses fatos como rotina, tanto aqui no Brasil como em outros quadrantes já implica uma urgência. 
    E o Brasil, por ser uma nação soberana, hospitaleira e, principalmente, por sua miscigenação, pode perfeitamente dar o exemplo de como barrar esse processo de barbárie cotidiana. 

                               Foto: reprodução/facebook
    

6 comentários:

  1. O cara sobreviveu os conflitos de sua terra natal e veio morrer num país que julga as pessoas pelo tom da pele,que não deveria acontecer pois se olharmos para trás onde vemos as origens do povo brasileiro atual ,nós somos um país sem cor, altamente miscigenado e em pleno século XXl,vivemos com se estivéssemos nos séculos XVll e XVlll,fico envergonhada

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  2. E infelizmente isso nunca vai ter fim , o ser humano é miserável ( matasse por ser gordo , magro de más, gay , por ser branco também ) . A realidade é essa .

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  3. Parabéns pelo texto, Miguel. Muito lúcido. E ao que tudo indica morto por outros funcionários, ou seja, os capatazes e senhores do mato ainda vivem.

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  4. Miguel, infelizmente não me surpreende é grave nossas questões, sociais, econômica, educacional e financeira. Lamentável a falta de consciência , respeito e olhar p outro julgando comemorando o feito, pior somos várias sociedades na mesma sociedade.Lamentavel

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  5. Um absurdo, todos falam mais numa manifestação pode reparar que quem gosta de apoiar não tem um branco no meio de nada, infelizmente a maioria do povo brasileiro é racista sim

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  6. E dizem que a escravidão foi abolida, sinto muito, Princesa Izabel, seu gesto foi inútil!
    Quanta maldade, misericórdia!
    Justiça!

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