quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

PRORROGANDO A RABANADA



   Não tem jeito, todo ano é assim. No começo até a metade do período tudo flui dentro dos conformes. Na outra metade parece que toda aquela arrumação vai ficando fora de ordem.
    Na folhinha do calendário é fácil reparar que nos primeiros meses do ano as anotações estão bem grafadas, as letras bem certinhas. Tem até aquelas setinhas apontando um assunto importante para o tal dia especial.
    Do meio do ano em diante os lembretes já começam a surgir em forma de garrancho, rabiscado de qualquer jeito e até tapando uma daquelas fases da lua. O aniversário de muita gente que você lembrava todo ano foi esquecido; não tem mais a marcação do dia em que comprou o gás; o dia das bodas passou em branco. Cadê aquele coração ao lado de um número referente a alguém? As flores que sugerem afeto. A lâmpada de uma grande ideia.
     Na verdade, não tem tristeza alguma nisso que parece um vazio. Pense no quanto de tempo as pessoas levaram cuidando e investindo nos outros, sem que o seu próprio dia do mês lá no papel não tenha uma menção qualquer a respeito de si mesmo.
    A representação da ordem e disciplina das coisas e fatos da vida que o calendário revela a todo instante vai esvaziando, sim, à medida em que seus anseios e aspirações vão se tornando prioritários, e agora você já reserva mais tempo e espaço para si. Isso, sim, já pode ficar marcado na folhinha como um dia grandioso, uma conquista, marca lá.
    Uma coisa é ter a capacidade de acumular funções, de conciliar as tarefas, os projetos. Assobiar e chupar cana como as pessoas se gabavam de realizar com facilidade. Tem ações em todo esse pacote que são metas dos outros que lhe impõem. São favores que te suplicam por graça ou exploração. E objetivos sem garantia de sucesso, sem planejamento.
     Outra coisa é a velha lista de prioridades, onde o que fica para depois não quer dizer que é menos importante, apenas mais complexo, o que vai te exigir mais espírito, mais concentração, mais conhecimento, mais equilíbrio, enfim. Daí a necessidade de você ser o primeiro da fila, só isso.
  Antes que pensem que sou narcisista, individualista, egoísta, em detrimento do que posso oferecer de melhor, devo dizer que precisamos estar preparados em todos os aspectos até para massagear o ego de alguém, senão o serviço não fica perfeito. Imagina, o ano passou e eu acabei adiando meu ensaio de aprender a fazer rabanada, justamente pensando nos felizardos que vão degustá-la depois.
     Talvez seja meu projeto para o ano que vem. Só não sei se será o primeiro da fila.

2 comentários:

  1. Ainda dá tempo para aprender.

    ResponderExcluir
  2. 🤩😍👋🏼👋🏼👋🏼👋🏼👋🏼👋🏼👋🏼👋🏼👋🏼

    ResponderExcluir