segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

UM NOVO TEMPO

 

   Não é de hoje que eu vejo as pessoas muito metódicas nesse período de Natal, fim de ano, enfim. Todo ano há uma métrica certa pra ajeitar tudo, mesmo pra quem deixa tudo para última hora.
   A arrumação da casa, aquela correria toda no supermercado, no shopping, fora os projetos de desapego total prometidos para próximo ano, já no primeiro dia útil. Nada de fumar, beber, só agenda fitness, vida nova. Tem gente que só limpa as gavetas e troca a cortina nessa época. É uma agenda tão certa quanto à Missa do Galo.
     Mas, quando alguma coisa sai errado cada um escolhe seu culpado preferido, aquele em quem certamente vão atribuir a culpa pelo contraste à estética das coisas que sempre funciona direitinho, mas que esse ano deu ruim. Quer dizer, ainda é estranho para muita gente quando algo foge do padrão.
   Pra mim, a culpa disso tudo é do Galileu Galilei. Antigamente, era tudo aleatório, aí vem o cara com mania de perfeição e começa a medir as coisas, fazer com que tudo fosse certinho, todas as ordens de grandeza, inclusive o tempo, fazendo com que as pessoas escolhessem um momento ideal pra fazer algo, quando na verdade o fortuito e o inesperado também podem trazer soluções e mais felicidade. Rabanada, por exemplo, é coisa pra se fazer quando se tem vontade, em qualquer época do ano. A mesma coisa bacalhau, panetone, fazer regime e malhar.
    Definitivamente, essa simetria do mundo, de tudo certinho sempre, atrapalha a evolução das coisas e das pessoas. Já notaram que muitas coisas só dão certo dentro da margem de erro, pra mais ou pra menos? O acaso está aí para reforçar isso. As preliminares podem ser melhores que o coito em si, por que não? Quantas peladas são decididas já nos acréscimos?
    Pois é, e nesse cenário muitas coisas boas estão no lugar e num tempo diferente do costume. Eu sempre digo que chutar o pau da barraca faz bem pra humanidade, desde que não traga más consequências para o mundo, apenas o torne mais agradável ou dentro dos padrões de cada um. Às vezes dar sete pulinhos só não adianta, porque o fardo do cara é tão grande que precisa de mais ondinhas, vai vendo.
     Portanto, abaixo o modelo padrão do mundo! É preciso rever todos os manuais de instruções através de emendas também, e elaborar novas formas de vida. Repaginar também as velhas teorias. Até Freud voltaria para reformular o princípio do prazer, só que agora com a rabanada como objeto de estudo, olha que delícia.

5 comentários:

  1. Sou a favor do improviso do inesperado e do quando der vontade... enfim sou desse jeito!!!

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  2. Margareth Manoel dos Santos27 de dezembro de 2022 às 05:34

    No seu caso você já arrumou um culpado, galileu kkkkk vamos viver o inesperado como disse o comentário anterior. Parabéns pelo texto.

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  3. Nada como a surpresa!!!!

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  4. Miguel seus escritos são como diz o Poeta Milton Nascimento: --- " Certas canções que ouço / cabem tão dentro de mim / que perguntar carece/ como não fui eu quem fiz(?)"

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