terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2013 não vai terminar agora

   Há sempre um balanço a se fazer ao final do ano, tendo sido o período conturbado ou não. Mas, o esgotamento das folhinhas do calendário não coincide com o resultado de todas as ações de 2013. Porque é sempre assim: fica sempre alguma coisa para o ano seguinte. Já faz parte da nossa cultura deixar um restinho para terminar depois.
   Desde o sujeito que vai empurrando seus sonhos, aos governantes que vão sempre reeditando suas agendas de acordo com suas conveniências, numa manobra que desconstrói completamente os cálculos gregorianos.
  O interessante é que muita coisa sem muita importância foi realizada com mais afinco, ao passo que o que era realmente necessário ficou em segundo plano. E como não é novidade vermos subverterem a ordem das coisas todo ano, fica difícil traduzir em bons números todo o esforço empregado ao longo de 2013.
  De qualquer forma, não há nada que tenha sido tão emblemático e significante que as manifestações de junho, em meio às incertezas que provocaram essa inquietude em toda aquela massa que saiu às ruas.
   Nada se compara ao clamor da população depois de um período de inércia e passividade, no momento em que se avolumavam cada vez mais os malfeitos, a embromação, o desprezo e a falta de zelo com a coisa pública.
   Se ficaram tantas coisas para o ano que vem, nada poderá mais ser realizado à revelia do povo.
   Eu costumo dizer que falta às ações do agente público a lucidez que sobra nos atos mais simples das figuras anônimas, sempre entregues às suas lutas diárias, sem, contudo perder as esperanças.
   Mas as maiores aspirações sociais dificilmente tomarão corpo pelas mãos de um ato isolado, ainda que tivéssemos um grande herói, um grande líder, cujo espírito de decisão dependeria única e exclusivamente do envolvimento geral nos principais projetos voltados ao interesse coletivo.
   É nesse sentido que o grito das ruas marcou esse ano de 2013, num momento de congraçamento pelas causas mais urgentes, reivindicadas por mais e mais vozes que em tempos anteriores só eram comuns em ambientes de entretenimento e lazer.
   Se estamos longe de inaugurar uma nova era para o cenário do Brasil, pelo menos se ensaia a revolução que vai culminar com o esgotamento dos malfeitos, há séculos impregnados no tecido social da nação brasileira.
   Em 2014 teremos dois eventos com focos diferenciados na agenda do país. Em meio à Copa do Mundo e eleições, grande parte da população certamente saberá separar o joio do trigo, o que poderá revelar outros desdobramentos no cenário político, assim como a total observância às regras práticas e socialmente viáveis na execução dos principais projetos para o Brasil, por parte do poder público.
   Considerando a timidez com que os principais agentes políticos reagiram ao chamamento popular em 2013, não há dúvidas de que a opinião pública vai acenar com novas manifestações, até que as três esferas de governo correspondam, sem vacilações, aos anseios da sociedade.
   Existe uma dívida muito grande que será cobrada com fôlego e vigor renovados para 2014, à medida que as representações políticas continuarem hesitando em reverter esse quadro caótico da atual realidade brasileira.
   Feliz Ano Novo a todos os brasileiros, e muita luz para encarar os desafios que virão.
              
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Obrigado a todas as pessoas que prestigiaram esse breve espaço ao longo de 2013!
  

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Os sinos que não dobram

   Nada poderia ser mais angustiante para a Irene agora que as luzes vão se acendendo em todos os pontos de seu trajeto cotidiano, nas fachadas, nos postes, nas árvores, nas vitrines, no mesmo ritmo do corre-corre frenético ao final de mais um ano de celebrações pelas conquistas do período, ou de juntar os caquinhos pelos revezes de um ano conturbado como foi o da Irene em 2013.
   Vão passar muitos calendários e primaveras até que a senhora da bolsa marrom desmanche a tristeza estampada como maquiagem e conserve apenas a saudade dos tempos em que tudo tinha outras cores, outras formas, outras luzes.
  As bodas de ouro, o passeio matinal, o comprometimento ao longo desses anos, a árvore frondosa dessa união, tudo são marcas de uma história que tomou outro rumo com a ausência de seu mais fiel companheiro de todas as horas.
  Se não podemos resistir ao nosso próprio fim, pelos menos temos o desafio de sobreviver ao passamento de todos daqueles que nos rodeiam, sem, no entanto, conviver com aquelas dores profundas. E as angústias da Irene certamente ela não carrega em sua velha bolsa marrom. Simplesmente estão estampadas em meio às rugas.
  Fica até mais fácil para quem chora até hoje uma grande perda compreender esse enredo trágico da Irene.
  Apenas coincidiu de ser no Natal, mas seria tão doloroso quanto em outros momentos o infortúnio de quem perdeu seu amado. E a Irene vai passar por muitos Natais com esse vazio, assim como o sujeito que dorme sob a marquise; a família desalojada pelas enchentes; o desempregado que não teve o que comer; o pai em frangalhos, que enterrou sua filha por causa de uma bala perdida e todos os outros farrapos humanos.
   Para essas pessoas, as luzes de Natal não têm o brilho intenso. Elas sobrevivem da dor alheia, porque eu e mais de um milhão de outros seres mortais também compartilhamos a miséria e a desgraça como sendo nossas também.
  Para essas pessoas, os sinos não dobram.


domingo, 22 de dezembro de 2013

A questão dos ônibus continua

   A prefeitura do Rio anunciou novo aumento do preço das passagens de ônibus, como parte dos procedimentos com os quais estamos acostumados a conviver no apagar das luzes do final de ano.
   Independente do reflexo que isso pode ter nas ruas, como aconteceu recentemente, o Sr. Eduardo Paes tem contas a acertar com a população. Quando houve toda aquela pressão para a Câmara dos Vereadores investigar transparentemente o serviço que as empresas de ônibus prestavam para a cidade, em nenhum momento o prefeito se dispôs a contribuir com as informações que o legislativo municipal precisava para conduzir os trabalhos daquela Casa.
   No auge da composição da CPI dos Ônibus, ele apenas se limitou a creditar aos vereadores da Comissão a responsabilidade pelos trabalhos que a população exigia, no momento em que os integrantes da CPI não representavam o grupo ideal para a conclusão dos trabalhos, pela ligação direta que os nobres condutores tinham com o executivo municipal.
  Com o esfriamento das manifestações, a CPI dos Ônibus acabou não prosseguindo, e tanto a prefeitura, como a Câmara dos Vereadores ficaram devendo à sociedade as respostas que poderiam esclarecer as causas da ineficiência do principal sistema de transporte terrestre da cidade do Rio de Janeiro.
  Agora, o Tribunal de Contas do Município vem alertando a prefeitura sobre a majoração dos preços das passagens dos ônibus, cujo sistema passa por uma análise do plenário do TCM, que não consegue concluir a auditoria dos serviços desse modal por falta de dados que a municipalidade e as empresas de ônibus ainda não encaminharam ao Tribunal, como relata o presidente do órgão, Thiers Montebello, que acrescenta ainda que nessa apuração que o TCM realiza inclui-se também a qualidade do serviço, além das contas do setor.
   E o próprio conselheiro do órgão, Ivan Moreira, declarou que além da dissonância com a prefeitura, há também dificuldades em se captar informações junto às empresas, o que levou o conselheiro à conclusão bem pessimista sobre a questão. Em reportagem para o jornal O Globo, dia 21, Moreira não se furtou a descrever o cenário que ilustra a área de atuação dos ônibus na cidade. Segundo ele, “Não parece possível negar que há irregularidades e obscurantismo nessa modalidade de serviço público”.  
  Se a CPI dos Ônibus não se libertou do corporativismo que costuma imperar nas casas legislativas, pelo menos o Tribunal de Contas do Município faz valer sua independência em prol da população do Rio de Janeiro, tramitando com a lisura que a opinião pública sugere na prestação de contas à sociedade.
  


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O STJD não sabe julgar

    Não podia ser diferente que no dia seguinte ao julgamento do STJD que redesenhou a tabela do Campeonato Brasileiro, com o rebaixamento da Portuguesa, houvesse essa enxurrada de críticas por parte da opinião pública.
   Tudo bem que há toda uma paixão clubística como cenário da execração pública que o Fluminense sofreu com essa decisão judicial remexendo o resultado do Brasileirão disputado em campo.
   Mas pela indignação que eu presenciei nos bares, em volta das manchetes dos jornais e no trem, não me parece que esse barulho todo tenha como alvo principal a figura do tricolor das Laranjeiras, especificamente e sim, a moralidade como um todo, que falta também em outros cenários da vida brasileira.
  A diversidade de opiniões que grassou nas ruas só se difere pelo teor das considerações, mas tem em comum a lucidez que, segundo a grita geral, faltou no veredicto do judiciário desportivo.
  E já que todo mundo deu sua opinião, algumas até descabidas, eu fiquei também inclinado a me posicionar sobre um desfecho mais adequado ao comportamento, tanto do Fluminense quanto da Lusa, durante o tempo em que tudo isso se passava dentro das quatro linhas.
   Apesar de o STJD ser bem claro quanto às sanções aos clubes que põe em campo jogadores em situação irregular, é preciso observar se as penalidades impostas estão de acordo com a imprudência do time punido.
  Para começo de conversa, os eventuais prejuízos e benefícios que ambos os clubes, Fluminense e Portuguesa, obtiveram no final da disputa não se deram em função de um confronto direto entre os dois.
  O jogador Héverton não foi escalado imprudentemente num jogo contra o time carioca. A única situação em que poderia haver uma punição mais severa ao clube paulista, com perda de pontos, era se o atleta em questão tivesse influenciado o resultado de um confronto entre ambos. Se o Héverton entrasse em campo e revertesse um placar adverso a sua equipe, o Fluminense poderia, sim, reivindicar a reparação de um eventual prejuízo em função da escalação infeliz do jogador.
  No mais, a Lusa só ganhou um ponto no jogo em que o jogador foi escalado.
  Nesse sentido, os 4 pontos que a Portuguesa perdeu só culminou com o seu rebaixamento porque a diferença de pontos na parte de baixo da tabela era pequena.
  Seguindo essa linha de raciocínio, o STJD foi rigoroso demais, considerando que o clube paulista conquistou em campo os pontos que o livraria do descenso, enquanto que o Fluminense, em função de atropelos de sua administração ao longo do campeonato, não evoluiu o suficiente para evitar a sua queda.
  A responsabilidade da entidade de justiça desportiva do futebol brasileiro está em estabelecer parâmetros e critérios confiáveis na execução de penas previstas, de modo que a principal modalidade esportiva do Brasil mantenha intacta a credibilidade que falta a seus gestores.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Quantos lados tem uma bola?

   O enigma em torno da esfera mais notável do mundo não se restringe as suas implicações geométricas, apenas. Mesmo com toda especulação em torno de seus raios, área e circunferência, é fácil reproduzir naquele contorno e interior os dois universos do mundo da bola e seus desdobramentos no planeta chamado futebol.
  Se as leis da física não permitem alternativas à exatidão das coisas, a matemática do velho esporte bretão tem fórmulas que extrapolam completamente a lógica do cálculo puro e simples.
  Longe de imaginar, no entanto, que as várias interpretações das leis brasileiras têm seu pioneirismo na legislação do futebol. O difícil é acreditar que não havia o propósito de construir essas variantes de leitura das normas disciplinares em vigor no país no instante de suas formulações.
   O poder do julgador diante dessa liberdade para traduzir as letras da lei não pode, em nenhum momento, tornar a arte de fazer justiça plena um ofício meramente infeliz e bizarro, dissonante da nova ordem.   
  Tão importante quanto se adequar aos novos tempos, é imprescindível que os rigores da lei operem a ordem em qualquer instância, sem que isso banalize na realidade do futebol ou de outros quadrantes as aberrações que têm despontado no horizonte ultimamente.
  A urgência de novos tempos para o futebol brasileiro sugere um só caminho, sem volta, sem atalhos, de mão única.
  Passemos a bola para o STJD.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Rio em alerta

   Não se pode demonizar o prefeito Eduardo Paes pelo caos em que se encontra a situação do Rio de Janeiro, porque em outras gestões houve a promessa de obras de intervenções urbanas que pudessem efetivamente amenizar eventuais prejuízos causados pelas chuvas que inviabilizam completamente a cidade.
  Mas também não podemos endeusar o atual prefeito pelo visível esforço para acabar com esses transtornos. Num primeiro plano, é evidente que há uma preocupação em se preparar a cidade do Rio para a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
  Antes que se proponha a administrar uma cidade como o Rio de Janeiro, qualquer candidato sabe da agenda que precisa ser seguida para que a população não sofra todos os anos com esses problemas que já fazem parte do calendário da cidade.
  Nunca é demais lembrar que o Rio de Janeiro é um território de relevo e geografia complexos, em que é preciso um estudo altamente técnico, por meio do qual se permitirá gerenciar com resultados mais promissores os riscos que grande parte dos moradores corre regularmente.
  A Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e, principalmente, a GeoRio têm feito esforços fora do comum para socorrer possíveis vítimas  de deslizamentos e alagamentos, em função do sistema de alerta que a prefeitura implantou recentemente, o que, de uma certa forma, evita danos maiores.
  Técnicos e especialistas, incluindo engenheiros, geólogos, geógrafos e físicos, têm promovidos importantes debates e discussões, alertando o poder público sobre a urgência de projetos de urbanismo, levando em conta justamente essa complexidade que o mapa da região fluminense apresenta.
  Eu participei de alguns desses encontros no Clube de Engenharia e puder perceber a seriedade com que estudiosos de importantes centros acadêmicos, como UFRJ, UERJ, UFRRJ, têm apresentado soluções comprovadamente eficazes na questão da ocupação do solo urbano, tratamento de lixo e água e outros procedimentos de cunho urbanístico, cuja excelência depende exclusivamente do detalhamento desses estudos.
  Infelizmente, o poder público, tanto o governo estadual e municipalidade, não costumam participar dessas discussões, apesar de receber o convite para tal, de modo que importantes soluções para o Rio de Janeiro ficam longe da agenda do governo.
  Nesse sentido, as regiões mais críticas, incluindo a periferia da cidade e a região metropolitana, sofrem com desabamentos, alagamentos e deslizamentos de terra, constantemente.
  O Programa de Aceleração do Crescimento que as três esferas governamentais promovem na cidade do Rio é uma oportunidade única para se colocar em prática os mais relevantes projetos traçados, não só para a cidade maravilhosa, como para toda a região fluminense.  

   

domingo, 8 de dezembro de 2013

Ascensão e queda

   A culpa pela má campanha de um time ao final de uma temporada recai automaticamente nas costas do técnico e do próprio elenco, cuja avaliação passa pelo crivo dos torcedores, antes mesmo de especialistas, comentaristas e demais palpiteiros se debruçarem sobre os reais motivos do rebaixamento de um grande clube.
   Mas a dimensão de uma tragédia como essa na história do Fluminense e do Vasco da Gama vai muito mais além do que a competência da comissão técnica e dos jogadores, que dentro de suas limitações técnicas e profissionais de cada atleta, de uma forma ou de outra, marca sua passagem pelo clube, mesmo com um revés assim.
   Muito se fala sobre reformulações do futebol, como se novas estratégias assentadas dentro das quatro linhas fossem o suficiente para dar o ar de modernidade que o futebol brasileiro ainda não acompanha de outras praças.
    Quando o dirigente negocia jogadores importantes do elenco em pleno andamento do campeonato, como é o caso Fluminense, por mais competente que seja o técnico da equipe, dificilmente o time vai conseguir manter o nível que a equipe mantinha antes dos desmandos do cartola. Porque é impensável que um clube seja campeão brasileiro e no outro ano, rebaixado.
   É nessa circunstância que os ares de modernidade que pairam já em outras praças ainda não fincaram terreno nos campos do Brasil. As relações pouco transparentes de gestores e patrocinadores acabam sempre influenciando a formação das equipes e, consequentemente, no desempenho do grupo, por força de interesses que de uma forma geral degradam a imagem do futebol como um todo.
   Isso tudo porque os clubes brasileiros, em sua maioria, são comandados por pessoas que entendem muito pouco de administração e menos ainda de futebol. Portanto, fica difícil um clube atingir o nível das equipes mais competitivas e promissoras do mundo, quando não há no comando alguém que tenha vivido todas as fases de evolução do futebol, alguém que venha se atualizando constantemente, acompanhando de perto os novos caminhos que o futebol vem trilhando nesses últimos tempos.
  Apesar de toda a história brilhante que construiu ao longo de sua carreira como jogador, Roberto Dinamite não deu mostras de que tenha evoluído como alguém que se propõe a comandar e manter viva toda a tradição de um grande clube como o Vasco da Gama.
   Com isso, torcedores das Laranjeiras e da Colina vivem a angústia de acompanhar a ascensão e queda de dois clubes que por suas conquistas contribuíram para engrandecer o nome do Brasil no cenário do futebol.
   Mais do que se reerguer, o grande desafio é mudar as cabeças pensantes nos grandes clubes. E as de Fluminense e Vasco da Gama não fogem à regra.
       

A ira do torcedor

   As imagens desagradáveis que o Brasil inteiro presenciou no jogo entre o Atlético Paranaense e o Vasco da Gama revela com exatidão a desorganização do futebol brasileiro em todas as suas nuances.
  Não é de hoje que são registradas cenas lamentáveis de selvageria entre torcedores e ninguém até hoje tomou providências para que se elimine de vez a violência nos estádios de futebol. 
  Nem o advento do Estatuto do Torcedor foi o suficiente para trazer segurança nas arquibancadas e no entorno dos estádios. Toda vez em que dirigentes são responsabilizados sobre confrontos de torcidas, estes sempre imputam a culpa nas forças de segurança local, a polícia, que tem sempre um discurso pronto para se eximir de culpa também.
  Já o torcedor brigão, ou marginal, como queiram, também tem suas garantias de que tudo continuará como antes. Qualquer processo que implique uma eventual punição corre sempre no âmbito da justiça comum, cujas letras, parágrafos e incisos oferecem uma infinidade de atalhos para que o infrator seja sempre beneficiado.
  Quando aqueles torcedores do Corinthians provocaram a morte do menino em Oruro, na Bolívia, só houve punição por parte da justiça daquele país. Aqui, muito pelo contrário, além de não ter tido nenhum tipo de discussão acerca desses absurdos, pasmem, um integrante daquele grupo preso na Bolívia foi flagrado novamente num confronto com torcedores rivais, no Estádio Mané Garrinha, em Brasília.
  No caso específico desse incidente em Joinville, entre a torcida do Atlético Paranaense e do Vasco da Gama, certamente vai haver aquele velho jogo de empurra entre dirigentes e a polícia local acerca da segurança do evento, sem, é claro, nenhuma perspectiva de que alguém vai ser responsabilizado, enfim.
  Ao final de toda temporada do futebol brasileiro, há sempre um balanço de tudo que ocorreu o ano inteiro dentro da seara do velho esporte bretão. E essa questão da violência que assola o futebol do Brasil fica sempre para uma outra ocasião.
  Com isso, a impunidade continua com cadeira cativa no futebol brasileiro.
  Desse jeito, não há como aplacar a ira do torcedor.

  

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mandela nas mentes humanas

   A África do Sul não é o único país onde o separatismo culminou em grandes conflitos, assim como a exclusão não ficou restrita apenas à questão racial.
  Mas foi na África do Sul onde nasceu o grande líder a conduzir com sabedoria a bandeira contra a barreira do preconceito que chegou a extremos em outras nações também.
   A liberdade, igualdade e fraternidade, tão propaladas em revoluções de outrora, principalmente na Revolução Francesa, não chegaram a desenhar novos horizontes porque os baluartes daquela revolta apenas tomaram para si as rédeas de um sistema extremamente excludente das mãos da monarquia e da Igreja.
   As feridas do colonialismo e da escravidão deixaram cicatrizes em todos os recantos de população afrodescendente, inclusive no Brasil.
   E se na África do Sul o apartheid não foi totalmente erradicado, pelo menos a luta de Nelson Mandela não foi em vão, haja vista o mapa geopolítico implantado naquele país após sangrentas batalhas e do poder de diálogo do maior líder político da era contemporânea.
   Além da mensagem de paz e tolerância, Nelson Mandela deixou um exemplo a ser seguido por todas as nações envolvidas nessas diferenças de etnias e classes. Nenhum país poderá atingir um nível considerável de desenvolvimento humano e social enquanto perdurar essas divisões que o atual sistema insiste em perpetuar.
   Qualquer projeto de cunho social, político e econômico só terá progresso quando as mudanças propostas estabelecerem oportunidades sem privilégios e exclusões. Numa dimensão global, o próprio continente africano precisa estar inserido nas mudanças desse atual modelo de economia mundial arcaico, protecionista e corporativista.
   Portanto, apaguem-se dos anais da história todas as revoluções que não mudaram o rumo das coisas e eternize nas mentes humanas a revolução de quem nunca se sentiu inferior, apenas igual.
  Nelson Mandela ontem, hoje e sempre. Porque a luta continua.

   

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Lazer interrompido

   Pelo caráter multicultural que a Lapa tem, principalmente nos fins de semana, de alternativas mil para todas as tribos, tanto para quem aqui vive quanto para os visitantes, o poder público bem que poderia dispensar atenção especial na questão da segurança, sem que isso implique desguarnecer outras áreas, de entretenimento ou não, que também demandam proteção policial eficiente e permanente.
   Como se não bastassem os dissabores por que passa a população em seu cotidiano normal, estende-se ao momento de lazer a agonia do carioca nos principais quadrantes da cidade, onde há aglomerações de pessoas em busca de diversão e descanso.
   Assim como acontece nas imediações da Lapa, todos os dias, recentemente o Rio reviveu o inferno dos arrastões nas praias e como sempre o policiamento se mostrou ineficaz, sem a regularidade que a ocasião exige, o que mostra que a política de segurança é muito mais oportunista, eventual, do que preventiva.
   Hoje, costura-se cada vez mais um processo de integração de grupos sociais distintos, depois que as redes sociais ampliaram esse movimento incessante de troca, Nesse sentido, essas concentrações urbanas ganharam importância e dimensão suficientes para despertar um intercâmbio crescente, mas também a cobiça de bandidos, pela vulnerabilidade desses espaços, dada a desproporção da oferta de segurança.
  A Lapa representa hoje uma grande referência cultural e turística, e por isso, cada vez mais exposta aos olhos do mundo pela diversidade, liberdade e democracia. Por outro lado, fica mais visível o descompasso entre a realidade local e a propaganda que os governantes fazem dessa imagem arranhada, no momento em que o povo brasileiro dá exemplo de convivência para o mundo.
  Em agosto de 2011, quando houve aquele trágico acidente com o bonde de Santa Teresa, o poder público deixou à mostra o descaso com as maravilhas que podem nos trazer benefícios, o despreparo para administrar nossas riquezas e belezas.
 Seja qual for o viés com que o governo hesita nos expedientes de gestão pública, o mais grave são as perdas humanas. E quando a integridade física da população fica comprometida, até mesmo em seu instante de lazer, qualquer medida sazonal será mero paliativo para vender uma boa imagem do Rio de Janeiro.