quinta-feira, 3 de setembro de 2020

HOMENS BIZARROS

   Pelas atribulações evidentes hoje no cenário político, é importante que façamos uma avaliação sobre o comportamento de todos aqueles que nos representam em todas as esferas de governo. Um olhar mais crítico sobre a forma e modelo com que conduzem o que é público e de interesse coletivo, mais precisamente sobre suas atribuições e prerrogativas dos cargos que ocupam.
   Seria até interessante e mais agradável uma análise sobre o que falta acontecer, o que falta o homem público realizar dentro do que compete a ele executar, enfim, elementos de grandes projetos e uma realidade positiva que pudessem embasar essa discussão, mas vendo agora esse expediente do prefeito Marcelo Crivella usando funcionários sob seu comando constrangendo pacientes e obstruindo o trabalho de repórteres na porta de hospitais públicos  dá bem a dimensão de como o poder pode desconstruir a consciência do homem público de suas funções. 
   É sabido que o regime democrático permite que qualquer cidadão se sinta representado, mas também define o campo de atuação, os deveres e responsabilidades dos mandatários de cargos públicos. Estes não podem perder a noção dos cargos que ocupam. Não consta que eles podem extrapolar o limite de suas funções. É inadmissível que a sociedade tome prejuízos de qualquer ação extracampo de quaisquer agentes públicos.
   Não podem o prefeito, o governador, o presidente ou quem quer que seja fazer o que bem entender, como se isso fosse normal, só porque têm o poder nas mãos. Ao contrário do que ele acredita, o prefeito não pode armar-se de grupelhos para esculhambar o trabalho da imprensa que se serve justamente de trazer os fatos da realidade que nos cerca.
   Não cabe num regime democrático espaço para perseguição, repressão e autoritarismo de qualquer natureza por pura conveniência ou intolerância à oposição, como fica bem evidente em algumas falas e ações  do presidente Jair Bolsonaro em casos recentes de ataques verbais à jornalistas e opositores, assim como a confecção de relatórios sobre funcionários com viés ideológico contrário à situação, numa clara demonstração  de perseguição totalmente fora dos padrões de convivência política que dita as normas da democracia. 
   Nesses tempos de aberrações políticas e homens vacilantes há um desgaste considerável para quem se excede no poder e um revés a mais para o processo evolutivo que a própria política deveria implementar. Em vez disso, o homem público pouco afeito aos princípios básicos da convivência política perde a oportunidade do prestígio e gasta a energia que o poder lhe confere em práticas sem cabimento. 
   Resta à sociedade ou parte dela não cair nessa pilha e observar sempre quem tem de fato talento para o jogo político e não recorra à ações maliciosas e fraudulentas. Que haja sempre vigilância por parte dos órgãos concebidos para vigiar as normas que cabe ao homem público observar e obedecer.
   Que possamos encerrar esse ciclo de pantomina e seus homens bizarros. 
   
   


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