domingo, 5 de junho de 2022

A PARTILHA



   Há sempre uma dúvida sobre como começar a escrever os assuntos de mais uma eleição no Brasil. O tempo vai passando e aumentam também os problemas a serem resolvidos, claro, e por mais que se adote prioridades, o critério nem sempre é o ideal.
     Os brasileiros já estão carecas de saber dos principais assuntos a serem tratados. Vão acontecendo coisas no Brasil, e quando se pensa quais serão as pautas para mais uma disputa, eis que tudo vai tomando o mesmo rumo de sempre, ou seja, ninguém dá importância a nada.
    Mas a gente que é a parte mais sofrida de todo esse processo vai entendendo os motivos pelos os quais os maiores problemas dos brasileiros vão ganhando sobrevida.
     Já está na hora de a sociedade começar a repensar a forma como ela própria contribui para toda esse estado de coisa. Já não basta discutir a precariedade dos serviços públicos, a corrupção, as reformas e outros mais.
    Além do descaso, a população ainda paga do próprio bolso para que toda essa bagunça continue. Cada cidadão desse país dá sua cota de contribuição para que nossas próprias mazelas se perpetuem. Ou seja, a gente está patrocinando nosso próprio martírio. E o pior de tudo é que isso passa despercebido de muita gente.
     Mesmo que o Brasil estivesse num processo considerável de evolução em todos os aspectos da nossa realidade, esse montante destinado ao processo eleitoral já seria um absurdo. Mas como há precariedade, mazelas e toda sorte de aberrações na agenda brasileira, esse fundo eleitoral é uma afronta à dignidade das pessoas de bem nesse país.
     Não tem como dar início a um amplo projeto de reconstrução do Brasil com essa mancha, essa coisa bizarra, esse gasto supérfluo frente às maiores necessidades e urgências para a população brasileira.
 Com certeza não será nessa eleição especificamente que isso será discutido, mas é preciso pressa. É um processo longo que vai exigir a participação de todos.
    Considerando que são os próprios parlamentares que podem deliberar sobre o assunto, será preciso uma nova geração de políticos totalmente comprometidos com a transparência, a responsabilidade com o dinheiro público.
    Para isso, é necessário uma ampla campanha de renovação do Congresso em todos os estados brasileiros. Não adianta só mudar o presidente da república. Tem de tirar de cena toda essa corja, da direita, da esquerda, do centro, que legisla faz tempo e ainda põe seus herdeiros para dar continuidade ao velho processo. É essa gente que vai postergando essas aberrações com a coisa pública. Depois daquela pouca vergonha dos financiamentos de campanha com empresários, eles miram agora justamente no que teria de ser usado para benefício da população.
    Nesses novos tempos de redes sociais, em que há uma nova dimensão para o processo eleitoral, essa farra com o dinheiro público pode ser perfeitamente revista com uma nova mentalidade política por parte do eleitorado. Só nós podemos mudar isso.
    Seria o primeiro indício de renovação política que a sociedade brasileira tanto espera e o Brasil precisa.

                                                  Arte: O GLOBO

2 comentários:

  1. É meu caro Miguel, o quadro de políticos não se renovará nem a longo prazo, os partidos não abrem espaço pra novas candidaturas, pois tem que ter muita verba desses novos candidados, disputar uma vaga no meio dos '' lobos'' é praticamente impossível, além do que, a panelinha tem a máquina ao seu dispor, sair vê -se , políticos profissionais, de famílias abastadas, mamando na terá há gerações

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  2. Fala Miguel,acabei de ler o artigo A partilha. Parabéns pela sua lucidez política,artigo esse digno de estar pela qualidade literária nas páginas dos melhores jornais do país,parabéns!

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