A ideia é que com o tempo aqueles dois corpos se fundam num só. Isso era bem provável, pois a cumplicidade entre ambos está no mesmo nível do amor, do sexo, essas coisas. Até passa despercebido de muitos casais o detalhe das chamas de corpos nus depois de várias vezes em ebulição. É sabido e há registro de tantos outros casais que já não se importam com a química que ainda pode reacender a velha chama.
Mas para aquele casal, não, nunca teve essa interrupção. Eles nunca deram moral para suas libidos perderem o fôlego e não mais alavancarem suas vidas social e de alcova, porque já havia há muito tempo um processo de devassidão mútua, tudo consentido por seus anjos e fantasmas.
Só que ultimamente tem batido um certo cansaço. A vida está corrida para os dois. Cada um para um lado, correndo atrás do pão, quase não sobra tempo pra comer a carne. Nossa, que horror! Mas é a pura verdade. É uma agenda bem escassa esse expediente de fazer sexo. Não é mais a toda hora que os lençóis voam. Nem os travesseiros saem mais do lugar de tão monótono que está o negócio.
Não é possível, deve ter um momento qualquer em toda essa agitação do dia a dia que traz a lembrança do silêncio que falava as coisas no ouvido, das bocas que murmuravam, e ficava tudo em desalinho ao redor. Bate uma saudade danada, a nostalgia da libertinagem só dos dois, fechamento como os amantes falam hoje.
Hoje, a única coisa que está salvando é aquele sexozinho sem vergonha debaixo dos lençóis, sem preliminares, sem sedução, cada um arregaçando suas vestes. Será por isso que os pijamas são largos? Por sorte que ainda faz umas fagulhas por ali, rapidinho, nada está perdido. Mal ou bem ainda rola o gozo que sacode os dois simultaneamente, e um beijo ardente de durma bem, porque foi bom esse bagulho, ô, se foi... É só uma questão de tempo e conversa retomar a velha ordem.
Se tem algo ou alguém que tenha interferido no processo, certamente conspirou a favor, algum deus, anjo ou orixá, sei lá. Surtiu o efeito desejado a satisfação recíproca, enquanto dormiam de conchinha naquela noite, ainda mais agora que veio a certeza do quanto ainda se atraem, se desejam e se amam.
É resenha que fala, né, essa prosa informal, quando os interlocutores se conectam entre ideias e propostas. Quanto tempo não se falavam abertamente, francamente, sobre seus propósitos de vida, da carne ao espírito, com a mesma cumplicidade dos tempos de bonança. A quanto tempo não se olhavam com excitação, inclusive?
Eles lembraram que era comum se beijarem durante o sexo, porque é parte integrante de seus momentos morderem os lábios do outro ao longo do coito. Aquilo era a válvula de escape deles. Podia ser menos importante, fútil para outros seres, mas para eles era imprescindível. Parece que a seiva que se desprende daqueles corpos tem mais intensidade quando se mordem ardentemente. É coisa deles esse arrebatamento em larga escala.
Depois dessa, é bem capaz de nunca mais separarem seus destinos de seus desejos. Foi bom pra eles essa conversa sobre a volúpia dos lábios.
É verdade amigo até porque tudo começa com um bom beijo 💋 é a partir daí que ambos os cor se acendem!
ResponderExcluirMuito bom, Miguel!
ResponderExcluirPaulo Paduano