terça-feira, 14 de junho de 2022

ANARRIÊ ERA UM CHAMADO



   Aos poucos vai sumindo, vai se ouvindo cada vez mais ao longe os últimos acordes daquilo que era prenúncio de uma grande festa, lembra? Era a chamada para que todos chegassem para a festança. Dá uma angústia danada só de saber que não haverá mais aquela maravilha de alvoroço por um mês ou mais em vários recantos da cidade. Mas é uma angústia em formato de saudade.
    Pois é, nessa época do ano havia em todos os cantos um barulho de sanfona ecoando bem de longe. Você, sem querer, até se pegava, já se balançando todo naquele mesmo compasso de sempre, que vai ou não vai. A cidade parava; a semana ficava diferente enquanto o final de semana não chegava.
     E é também pra bem longe do tempo que a gente se transporta, hoje, naquela viagem cheia de bandeirinhas coloridas pelo caminho e o céu pintadinho de balão.
    Das saudades que a gente sente, talvez essa também tenha várias histórias ao redor, porque era o mesmo tempo em que quase tudo se formava. Do núcleo de família ao ambiente escolar, havia valores atrelados a quaisquer sonhos e aspirações. Era tudo conectado. Ninguém se desgarrava de sua realidade pra viver aquela vibe. Simplesmente, se conciliava tudo numa mesma agenda, num mesmo calendário.
    Na efervescência dos primeiros amores, tinha de chegar em casa antes de a fogueira se apagar, mas dava tempo das delícias das paixões juninas e proibidas também, e seus outros encantos, que logo logo as férias terminavam.
    Quem não se lembra daquela música chiclete que não saía da cabeça porque era a trilha sonora da festa e do flerte que todo mundo teve a chance de materializar, quem nunca? O beijo que eu tentei a sorte na escola, eu esbarrei com ela no arraiá. Foi difícil esquecer aquela paixão. Quase bagunçou meu desempenho escolar, oh meu Deus!
    Mas a azaração era só um ingrediente a mais na grande confraternização que conectava toda a cidade. Havia lugares que eram pontos de concentração, de encontros das quadrilhas, um monte de ônibus chegando, recepção calorosa, fazia parte do protocolo o entendimento entre as tribos.
    Hoje, fica difícil reproduzir aquela maravilha em sua plenitude, no momento em que algumas vertentes da cultura popular vão se esvaindo como a fumaça das fogueiras. Aos olhos da nova geração, parece que nada mudou, mas é mentiraaa.
    A minha geração por um momento pensou que tombariam esse patrimônio que nós soubemos conservar. Agora, a gente tem de contar as histórias, porque nossos filhos e netos não as viverão.
     Fica a lembrança de como era doce aquela ciranda. Anarriê! Que saudade daquela paz na roça!

6 comentários:

  1. Muitas saudades das festas juninas e arraiás. Anarriê!

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  2. Com o passar do tempo muitas manifestações culturais estão desaparecendo, aí veio a pandemia da Covid-19 e nos fez parar de vez. As festas juninas fazem parte das nossas vidas e do imaginário popular. Não podemos deixar morrer!

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  3. Bons tempos que não voltam mais infelizmente!!!

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  4. Amoooo...sou apaixonada por festa junina, dançar um arrasta pé,comer comidas típicas,🎊❣️

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  5. Que saudades, Miguel. Muito bom o texto! Parabéns!
    Paulo Paduano

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  6. Época boa,ia muito a festival de quadrilhas saudades

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