A gente fica andando pelas ruas e acaba encontrando um monte de coisas ruins, como o avesso do que pretendemos para o mundo que habitamos e que, ao mesmo tempo, nos cerca.
Antes da primeira curva nos deparamos com primeiro sinal de desgosto, de desânimo, quase desmanchando o naco de esperança que ainda resta para o resto da caminhada, quando de repente a natureza humana revolve seu lado obscuro pelas incertezas e descortina o que pode ser a mais bela das riquezas do homem.
Quem vê aquele sujeito , diariamente, no sinal da Praça do Pacificador, em Duque de Caxias, vendendo guloseimas, não pode imaginar que por trás daquele indivíduo desafortunado esconde a nobreza do homem simples, cujo sorriso e bom-humor ao amanhecer serve como cartão de visita ou boas-vindas a quem pretende ou necessita de uma alvorada voraz, tão cantada em prosa e verso.
Na natureza sublime daquela pseudo-miséria muita gente passa despercebido da altivez em grau máximo numa mesma pessoa, toda vez que o sinal fecha. Para quem pensa que o Daniel precisa de alguma ajuda mais complexa, a sua ocupação parece ser uma mera terapia, um expediente de prosseguimento da vida que segue.
Confesso que já tive vontade de perguntar quais são suas aspirações, dentro das limitações de um cadeirante que reforça seu orçamento, vendendo balas e drops. Mas, sua dignidade é muito maior que a minha curiosidade e benevolência.
Deixei para lá. Quando a luz vermelha sumiu, também fui. Ainda deu tempo de ver pelo retrovisor um grande homem sem as incertezas de um ser comum.
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