quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O tal fim do mundo

     Há uma margem de erro muito grande para se acreditar que o mundo possa verdadeiramente se acabar nesse dia de hoje. Dificilmente haveria precisão nos cálculos de equivalência entre o calendário maia e o nosso calendário gregoriano. O que é certo é o movimento dos astros, dos meteoros, assim como o movimento de toda a galáxia, incluindo a translação da terra e a influência de tudo isso na vida das pessoas, segundo teoria de astrólogos e outros que  se aprofundaram nas coisas transcendentais
     Se existe a possibilidade de um meteorito  se chocar contra a Terra e acabar com tudo isso que se construiu até agora, a certeza do fim do mundo fica por conta de cálculos remotíssimo, intuitivos, ainda pelo senso comum, como conta de cabeça, embora dentro da lógica e previsibilidade que a mente humana pode profetizar.
     Ainda que a era Galileu Galilei tenha tornado as coisas mais ou menos certinha e perfeita, um movimento brusco, para mais ou para menos da primeira bússola, do primeiro esquadro e transferidor pode ter deixado nossos ancestrais e primitivos completamente fora de órbita, tanto que já previram o fim do mundo umas duas vezes e não aconteceu nada.
    Se alguém chegou perto de que o mundo chegaria ao fim, apenas sinalizaram o fim dos tempos, não do mundo, o que pode implicar no máximo numa mudança de comportamento das cabeças pensantes, tornando o nosso velho mundo de guerra mais vivo do que nunca.
    Curiosamente, em toda essa comédia de erro o maior dos equívocos foi descobrir que em nenhum momento os Maias cogitaram o fim do mundo em seus registros.
     Portanto, pode ir cada um retomando seu rumo que o mundo está respirando por aparelho, mas não está morto, não.     

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Contrato Social

     É mais provável que a presidente Dilma Rousseff só tomou essa decisão de manter a parte dos royalties que cabe aos estados produtores de petróleo por uma questão de credibilidade junto à opinião pública.
     Para um país que precisa manter fortalecidas as relações comerciais fora de suas fronteiras não fica bem quebrar contratos, uma vez que esse procedimento certamente não seria bem visto pelos diversos parceiros que o Brasil tem em  todo o mundo.
     No mesmo espaço de tempo em que o Brasil projetava ampliar seus laços com nações amigas figuras importantes da trajetória política brasileira se esmeraram em fazer de nosso país um recanto para toda a população, antes mesmo que os forasteiros nos tomassem como um eldorado.
     Pela história de luta política de Dilma Rousseff seria inconcebível que ela adotasse uma postura que não fosse a de proteger e ratificar a soberania brasileira.
     Só que a responsabilidade da presidente vai muito mais além da preocupação em cuidar da imagem do país perante à sociedade brasileira e a comunidade internacional. Pela bagagem trazida dos tempos de luta armada é importante que Dilma Rousseff continue empunhando a mesma bandeira dos ideais de interesse público, visando o resgate da dívida pública que o governo federal vem acumulando desde mandatos anteriores, fruto de má-gestão e corrupção.
    Ao acenar com medida provisória, obrigando o repasse de 100% dos royalties futuros para investimentos em educação a presidente estabelece com a sociedade um outro contrato, ao qual deve ser dispensado o mesmo tratamento quanto à observância das disposições nele contido.
    Ainda que não tenha força de lei, a intenção da chefe da nação traz um alento a quem vislumbra um novo horizonte para a coisa pública, dentro das atribuições que confere ao poder público a responsabilidade de gerir os recursos públicos com transparência e visão administrativa suficientes para trazer resultados promissores que possam efetivamente remexer os indicadores sociais críticos na área de educação.
     Agora cabe ao Poder Legislativo cuidar para que esse contrato social se torne uma realidade.     



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A questão dos royalties

     Um aspecto positivo da passeata pelas ruas do Rio sobre a questão da redistribuição dos royalties do petróleo é a capacidade do governo do estado de mobilizar forças em prol  dos interesses da população, tendo em vista os investimentos que dependem dos recursos provenientes da parte que cabe ao estado pelo manuseio do petróleo em território fluminense.
     Todo esse contingente concentrado aqui na capital pode não ser suficiente para demover a presidente da ideia de canalizar parte dos lucros para os estados não produtores. Ela sabe perfeitamente dos benefícios que vultosos recursos pode trazer para o povo do estado do Rio de Janeiro, mas não é isso que está em jogo, e sim , o entendimento de que a riqueza do petróleo nacional  é de todo o povo brasileiro, segundo argumento da outra parcela que corre por fora do eixo Rio de Janeiro-Espírito Santo.
     A verdade é que o veredicto da presidente é tão incerto quanto o destino que o poder público deu ao longo desses anos a essa dinheirama que entrou nos cofres públicos do nosso estado, e até hoje não vemos resultados promissores nas propostas de investimentos que os royalties do petróleo poderiam efetivamente proporcionar.
      Assim como não há garantias de que os novos beneficiários da fatia dos royalties darão destinação satisfatória a essas benesses, em nenhum  momento o governador Sérgio Cabral sinalizou qualquer mudança no emprego dos royalties nas áreas em que há urgência maior, acenando apenas que vai haver dificuldades na folha de pagamento e nos projetos envolvendo os eventos esportivos que a cidade do Rio vai sediar, diga-se Copa do  Mundo e Olimpíadas.
      Como bem disse o tributarista Ives Gandra, o governo dá menos retorno ao imposto que cobra, e isso não é diferente com a utilização dos royalties do petróleo nas questões que envolvem os problemas que a população do estado enfrenta nesse mesmo espaço de tempo em que se explora petróleo por aqui.
      Apesar de  todo o peso político que o estado do Rio sempre teve no cenário nacional, seria muito difícil garantir direito adquirido sobre tais recursos na esfera jurídica, considerando que qualquer decisão a respeito de área estratégica cabe ao governo federal.
      De qualquer forma, o governo do estado do Rio de Janeiro, desde gestões passadas, não conseguiu utilizar com eficiência esse benefício aos cofres do estado. Se Sérgio Cabral se preocupa agora com o pagamento ao funcionalismo e com as obras para a Copa e Jogos Olímpicos, não faltam exemplos de como os royalties do petróleo poderiam, de fato, beneficiar toda a população do estado, caso o governo estadual  tivesse ao longo de toda a história dos royalties responsabilidade com o dinheiro público.
      O Programa de Despoluição da Baia de Guanabara  é o maior exemplo de omissão do poder público com a questão ambiental no estado, que poderia ser viabilizado com recursos dos royalties, assim como a dragagem da Lagoa de Jacarepagua, com o tratamento do esgoto em seu entorno, haja vista o crescimento de empreendimentos imobiliários na região e a proliferação de comunidades carentes de saneamento básico, inclusive.
     Agora que o estado do Rio de Janeiro está na iminência de sofrer considerável desfalque em seus cofres, é bom que a sociedade, os senadores e a bancada fluminense na Câmara de Deputados reveja e defina o destino correto do nosso dinheiro.
     Veta, Dilma!
     

sábado, 17 de novembro de 2012

Quase uma república

       Existe uma distância muito grande entre os ideais de construção de uma República e a realidade estampada no âmbito de uma grande nação.
       Infelizmente, nesse espaço em que houve o fortalecimento das principais instituições criadas para viabilizar o país, mesmo com a soberania brasileira estabelecida e a consciência do homem público da urgência de um país próspero e justo, ninguém conseguiu até hoje fazer das oportunidades e grandes conquistas comuns a todos.
        Mais que uma enorme dívida, essa lacuna presente na história contemporânea do Brasil representa um desafio que só pode ser encarado se houver a responsabilidade que o agente público deixou de lado ao cumprir o seu papel de representante  dos anseios e aspirações da população brasileira.
       Na véspera dessa comemoração, o ministro Luis Eduardo Cardozo, da Justiça, indignou-se com as condições precárias do sistema penitenciário do país, um dos muitos vestígios de inoperância das instituições brasileiras. Não fosse o oportunismo do discurso eloquente do nobre ministro, ele certamente estenderia seu  inusitado protesto às deficiências que no mesmo nível se fazem presentes em outras áreas dos principais serviços públicos dispensados aos cidadãos de norte à sul do Brasil.
       Ao longo de todo esse tempo, a trajetória da nação brasileira mostra que a mudança de um regime político apenas referendou um país independente aos olhos da comunidade internacional, para fortalecer a credibilidade que qualquer país precisa para assegurar suas relações além-fronteira, mesmo com sacrifício à população.
       Hoje, a República e seus códigos e vícios ainda deixam a desejar, tanto a sociedade como o indivíduo. Em nível coletivo, a sociedade se ressente de mecanismos que possam trazer o bem-estar e a garantia de cidadania em sua totalidade, sem que a vida humana esteja sob riscos.
       A violência que aflora em São Paulo e Santa Catarina, e que já chegou a níveis alarmantes também no Rio de Janeiro, é a prova cabal de que falta uma política nacional de segurança, como já chegaram a ensaiar, mas que esmoreceu por falta de vontade política e nenhuma preocupação com o interesse público.
       A seca que assola o nordeste brasileiro, atualmente fulminando gado e gente no sertão da Bahia,  é um outro problema nacional que atinge as grandes cidades, pelos efeitos do êxodo rural, facilmente solucionado pela transposição das águas do Rio São Francisco, cujas obras se arrastam  por força de interesse político.
       A questão do crack, por exemplo, não é menos grave, porque o próprio poder público não consegue cumprir o seu papel de tutor do cidadão, para que ele não fique entregue à própria sorte.
      A instituição da República pode ter sido o primeiro passo para o reconhecimento da vida em  sociedade, pelo aspecto democrático que esse novo regime sugeria, pela importância dos mais nobres valores humanos. Mas, infelizmente, a República ainda está longe atingir o seu apogeu, enquanto a dignidade humana estiver tão ou mais vulnerável quanto nos tempos de colonização e Império.
       Se o marechal Deodoro da Fonseca tinha realmente boas intenções, ele deve está dando cambalhotas até hoje em sua sepultura.
     
      

sábado, 10 de novembro de 2012

A Batalha de Barack Obama

     Um certo jovem negro, Jesse Owen, após o tiro de largada, cortou o vento nos ares de Berlim, assombrando o mundo e esculhambando o grande líder miserável.
       Foi a esse cenário e perspectiva que me reportei quando Barack Obama bateu Mitt Romney e sua insistente retórica de reformar o imprestável e perpetuar o lastimável.
       Se a analogia não é adequada para ilustrar o triunfo de Barack Obama, pelo menos serve para trazer à luz da nova era a urgência de um novo paradigma, sem o distanciamento que marcou o egocentrismo como forma de poder.
       Na verdade, nunca uma eleição americana reproduziu tanto a Guerra de Secessão, quanto essa que teve confrontação de grupos sociais e econômicos diferentes e distantes, dentro de um mesmo ambiente de crise e expectativa de futuro. Se as baixas daquele conflito teve sangue manchando a história, agora, os excluídos e forasteiros ajudam a reconstruí-la, mesmo nesse espaço de tempo em que tudo parecia próspero e eternamente hegemônico.
     Nem um pouco diferente do que acontece em outros quadrantes do planeta, a construção da supremacia dos Estados Unidos perante o mundo dispersou a exclusão que existe até hoje, apenas compensada e confortada pela satisfação de se viver na maior nação do planeta.
     Enquanto o republicano tinha o corporativismo como pano de fundo de sua plataforma, o democrata pregava a unicidade para construir um outro modelo de sobrevivência, porque já não funciona mais essa prerrogativa de prevalência de um grupo sobre o outro, o que de repente a ala conservadora acredita que Obama quer reverter.
     O presidente Barack Obama não é diferente de ninguém, quando lembramos das limitações que qualquer homem público tem para conduzir uma nação, um estado ou cidade, seja pela sua competência administrativa, num cenário de responsabilidade e transparência; ou pelos obstáculos  que surgem, pertinentes ao jogo político cheio de vícios e procedimentos que passam ao largo do interesse público.
      Para quem reformou o sistema de saúde e deu fim à Guerra do Iraque, Barack Obama cresceu no conceito da opinião pública.
     

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Tio Sam e eu

       Quando o furação Sandy passou pela costa leste dos Estados Unidos os americanos já estavam em polvorosa pela acirrada disputa eleitoral, num país também cheio de crise e incerteza. Se haverá algum debate sobre futuros projetos com vistas a minimizar os efeitos de altas tempestades naquelas terras a discussão vai ficar para depois. Para quem está há muito tempo contribuindo para o aquecimento global não custa nada esperar mais um pouco.
       Mesmo porque, com a crise que vem desestruturando a economia americana dificilmente seu parque industrial vai frear as emissões de gases poluentes, sem a certeza de que as outras grandes nações o farão também. É mais fácil eles gastarem outros tantos bilhões de dólares em tecnologia de prevenção, quando a poeira baixar. Até porque os furacões, muito comuns por lá, não são o único tormento daquele povo, lembrando que eles estão bem em cima de divisão de placas tectônicas que chacoalham o tempo todo,  dando um solavanco maior de vez em quando, causando mais estragos ainda. 
       Pode ser até que Barack Obama ganhe mais poder e bala na agulha para fazer altos investimentos, lá na frente, se ele conseguir, primeiro vencer as eleições, para depois taxar os ricos americanos, como manda a cartilha do Partido Republicano. Isso se Mitt Romney não conseguir convencer a maioria estadunidense de que seus fundamentos em  economia podem tirar o país do buraco.
       Mas, a efervescência do sufrágio americano é muito mais intrincada do que qualquer tempestade que possa mudar a rotina da população local, com aquelas cédulas que mais parecem um questionário de pesquisa de opinião, as pessoas votando por afinidade, e não por princípios, como bem ocorre por aqui, em terra brasilis. Para uns, é melhor que não tenha casamento gay, com coisa que isso seja uma  tragédia; para outros, fica a certeza de que seus filhos não irão à guerra, embora o lobby da indústria armamentista possa influenciar nesse processo, tal qual os ruralistas brasileiros fazem para modificar o Código Florestal na minha terra.
       Estou convencido de que a única coisa que difere as eleições americanas da nossa, toda moderninha, com o resultado saindo na hora, fresquinho, daquelas urnas eletrônicas, todas eficientes e práticas, é o voto facultativo que não tem por aqui, embora essa profusão de partidos que entram na nossa disputa venha, ao longo de todos esses tempos, emperrando a responsabilidade do poder público, pelo compromisso que passa a ser da conta e risco de todos, inclusive eu, que de repente voto melhor que os americanos, já que eu tenho muito mais opções, mas que acabo sempre sendo voto vencido.
       Pensando bem, é melhor que no dia das eleições, aqui no Brasil, não tenha expediente, porque eu tenho mais o que fazer quando tem feriado por aqui.  

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Descaso com a história

       Agora parou um pouco, mas tinha um monte de gente dizendo que a cidade está bombando. Durante as eleições, então, serviu até de mote de campanha. Deve ser por causa das obras na cidade, como apronto para os eventos esportivos que o Rio de Janeiro vai sediar.
       Considerando o legado que esses investimentos podem deixar para a população, é até compreensível o desconforto dos moradores durante as obras que infernizam o trânsito, fora os investimentos vultosos que poderiam ser empregados em outras áreas também importantes.
       A questão da mobilidade urbana é mais do que necessária para viabilizar a vida das pessoas que se deslocam naquele velho trajeto casa-trabalho-casa. Só que a nossa cidade, assim como outra qualquer, tem uma história que vem dos primórdios de nossa civilização. E isso pode ser conferido na miscigenação de nosso povo, na arquitetura e nas manifestações culturais.
        É natural que haja contrastes entre o velho e o novo, como forma, não só de medir o nosso grau de evolução, como também de mostrar a preocupação de se manter intactos os vestígios de tudo aquilo que nos originou.
       Foi divulgado esta semana que o poder público pretende demolir aquele prédio próximo ao estádio do Maracanã, que num passado, não muito remoto, foi sede do Museu do Índio. Muita gente não sabe, mas ali tem representações de várias etnias que vivem a divulgar a cultura desses nossos antepassados, na expectativa de alguém abraçar aquela causa, como já foi prometido por organizações e políticos que lá visitaram. 
       Se aos olhos da sociedade e do poder público aquelas instalações não têm nenhuma funcionalidade, não custa lembrar que na época do museu os maiores expoentes da causa indígena, os irmãos Villas Bôas e o antropólogo Darcy Ribeiro frequentaram aquele espaço para se debruçarem sobre a questão indígena no Brasil.
       Hoje, existem várias entidades de pesquisa, como Centro Brasileiro de Arqueologia, que se consultado, pode contribuir com projetos voltados justamente para o resgate de nossa rica história e conservação dos vestígios de nossos ancestrais, para que possamos investigar, conhecer e manter viva toda a nossa trajetória, mas que fica relegada ao ostracismo por políticas públicas que pouco se interessam pela cultura brasileira.
       
       
       

domingo, 21 de outubro de 2012

A Avenida Brasil e o mensalão

       Só mesmo um folhetim para mobilizar esse monte de gente ao redor do óbvio, para ver o final (in)feliz que todos já conhecem, e mesmo assim fica todo mundo na expectativa de saber o que vai acontecer.
       João Emanoel Carneiro não é o primeiro, nem será o último a brincar com a paciência do espectador, decidindo a sorte de um ou de outro personagem, como bem entender, até concentrar, no último capítulo, toda a população saindo correndo do trabalho, ou deixando de fazer outra coisa, e depois não ficar satisfeito com o que viu, e no dia seguinte ficar conjecturando nos bares, no escritório, no trem, e em casa também, sei lá.
       Foram meses e capítulos de gente transitando pela famosa Avenida, quase que embaralhando a ficção com a realidade, enquanto que fora da telinha o mundo bombando, com a realidade nua e crua, das incongruências de personagens nefastos e os  malfeitos da vida real.
      Agora que a trama já chegou ao fim, Carminha e seus pares não poderão mais perpetrar aquele joguinho sujo. A novela agora é outra, a do mensalão, lá no Supremo Tribunal Federal, que está prestes a decidir o destino de um bando, ou quadrilha, como queiram, de neguinho acostumado a comemorar o sucesso da tramoia, do golpe sujo, mas o ministro Joaquim Barbosa doido para reverter esse cenário de picaretagem que assola o país.
       Pode ser que apareça outra história de gente maliciosa, sem escrúpulo, mas o Supremo Tribunal Federal está focado nessa gente bronzeada que nunca viu o sol nascer quadrado. Mesmo porque, a tarefa de Joaquim Barbosa é muito mais dura que o enredo de João Emanoel, que em nenhum momento se deparou com um Lewandowski a acreditar que aquela gente sem caráter são pessoas de boas intenções, e além do mais, nem a Carminha, nem o Max se lembraram do tal ato de ofício para reivindicar sua inocência.
       Enquanto os membros da Suprema Corte tiveram que se esmerar com gravações de conversas telefônicas, depósitos suspeitos para enquadrar José Dirceu e sua corja, João Emanoel Carneiro, se tivesse de fazer algum esforço para provar a falta de ética dos personagens, basta lembrar que ninguém ao longo da novela fez propaganda de algum produto.
        Você acha que algum anunciante ia querer associar o seu produto à imagem de gente faca cega? Se fosse sangue bom, estaria todo mundo ganhando um dinheiro por fora, nos comerciais. A Carminha anunciando o último modelo de sandália, o Max fazendo propaganda de banco, e a Suélen mostrando em rede nacional a segurança e o conforto de um bom absorvente.
       Da próxima vez que anunciarem uma novela decente, mande um papo reto, João Emanoel Carneiro. Vou assistir aos próximos capítulos lá do mensalão.
       Se a vida imita a arte, eu já nem sei. Vou ficar com o nobre colega. Pelo menos Joaquim Barbosa está tentando mudar o roteiro, o enredo e os personagens.
     
       
     
       
       
       

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Lar doce lar

       O governo do estado do Rio de Janeiro manifestou o desejo de desapropriar o terreno onde está localizada a Refinaria de Manguinhos para ampliar um projeto de urbanização visando construções populares.
       Sérgio Cabral argumenta que a empresa não paga os impostos devidos, além de procedimentos pouco éticos na comercialização de produtos ali distribuídos, segundo análises feitas pela Agência Nacional do Petróleo, o que não vem ao caso, ainda mais que esse imbróglio pode se arrastar por muito tempo.
       Eu não estou nem levando em conta o prejuízo que os cofres do estado vem tomando, pela sonegação que o governador alega, nem o projeto social que a refinaria desenvolve junto à comunidade vizinha.
       Mesmo que o governo estadual não vença, a curto prazo, uma eventual e provável batalha judicial, para implementar um importante projeto para aquela região, fica o alento para a população do Rio de ver o poder público finalmente tentar resolver, ou pelo menos amenizar um dos maiores problemas que afetam as grandes cidades: o déficit habitacional.
       Nas décadas de 60 e 70 governos anteriores até ensaiaram um grande projeto nesse sentido, com a construção de conjuntos habitacionais espalhados pela cidade, o que, na verdade se deu mais por interesses comerciais, de especulação imobiliária muito em voga naquela ocasião. E o que parecia ser uma grande conquista social, para atender a grande demanda do êxodo rural da época,  acabou enfraquecido por gestões posteriores que não conseguiram conter a favelização no Rio de Janeiro.
       Agora que o poder público acena com essa empresa de tornar socialmente mais atraentes e produtivas áreas pouco férteis ao erário público e à sociedade, não custa lembrar que ao longo de todo o território fluminense, principalmente na região metropolitana do Rio, não faltam áreas improdutivas que poderiam, se não erradicar, pelos menos diminuir os números dessa grande mazela social.
       Na Avenida Brasil, Linha Vermelha, Via Dutra e Rodovia Washington Luis há uma infinidade de terrenos abandonados, cujos donos, grandes empresas e as Forças Armadas, não têm nenhum interesse ou responsabilidade social para alavancar o desenvolvimento social para essas regiões, através de geração de emprego, renda e habitação, que a retomada dessas localidades pode proporcionar.
        Assim como está sendo feito nesses processos de despropriação para a construção de vias públicas e ampliação do Metrô, o governo do estado do Rio, por intermédio da parceria alardeada aos quatro cantos pode perfeitamente enquadrar os malfeitores da coisa pública para equacionar um velho problema social.
       

domingo, 7 de outubro de 2012

Carta aberta ao novo prefeito

          Excelentíssimo senhor prefeito da cidade do Rio de Janeiro,


     Muito antes desse resultado que definiu os rumos para a nossa cidade e o destino da população carioca já havia uma expectativa muito grande a respeito das mudanças que precisam ser feitas para a cidade do Rio de Janeiro se tornar, não somente atraente aos olhos dos forasteiros, da mídia internacional e da imaginação de quem acha que estamos no eldorado.
      Vivemos há muito tempo acreditando que os nossos problemas são iguais a qualquer outra grande metrópole do mundo. A diferença é que durante todo esse tempo o esforço que foi feito para reverter o quadro de desordem urbana, por culpa do poder público, e incerteza por parte da população, não correspondeu à expectativa do crescimento galopante que desenhou o mapa da cidade maravilhosa, desde quando Estácio de Sá fincou terreno por aqui.
       Eu continuo acreditando que Vossa Excelência tem boas intenções, assim como os outros mandatários da nossa cidade tiveram, mas que frustaram um universo considerável de pessoas que sabiam o que estavam fazendo quando depositaram toda a confiança e o seu voto neles. Mas diante dessa experiência de decepções anteriores, eu fico achando que vai haver alguma dificuldade em função dos interesses que sempre cercam  a busca pelo poder e o mesmo poder, depois estabelecido e confirmado.
      Mesmo com a mesma margem de voto expressiva que o credenciou a esse cargo importante, não se pode ignorar a outra parcela que apostou numa outra corrente política que também poderia desenvolver um bom trabalho à frente da prefeitura. Uma gama de gente que sempre teve um olhar diferente para o Rio. Uma visão bem além do conformismo que toma conta de uma maioria que não enxerga a cidade como um todo. Uma maioria que está feliz porque sua rua ficou mais ou menos bonitinha e pronto.
       Na verdade, senhor prefeito, pode ser que esse outro contingente que não optou pela sua reeleição esteja pensando numa integração maior entre os diversos segmentos sociais, as regiões e os serviços públicos oferecidos pela municipalidade.
      Dentro desse seu novo mandato, sr Eduardo Paes, vão acontecer uma Copa do Mundo e uma Olimpíadas, e eu sei perfeitamente que a cidade do Rio precisa estar preparada para organizar esses eventos, para confirmar a sua capacidade de bom gestor, pelo menos segundo a opinião da maioria da massa votante da cidade do Rio de Janeiro.
        Mais do que qualquer legado que esses eventos possam deixar para a população, o importante é que sua nova gestão traga benefícios concretos, de modo que o Rio de Janeiro seja viável, única e exclusivamente, para as pessoas que aqui vivem e trabalham, aquelas que efetivamente contribuem para que ela seja uma cidade maravilhosa.
         

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ao vencedor, o desafio

       Mais uma campanha eleitoral chegando ao fim e a mesma lacuna de tempos atrás, de outras votações com o mesmo discurso vazio, com pouca objetividade, sem alguma discussão que efetivamente possa acompanhar as urgências de uma grande cidade como o Rio de Janeiro, cuja população está longe de ver suas reais necessidades atendidas, ou pelo menos acenadas nas plataformas.
       Mesmo levantando bandeiras diferentes, nenhum proponente trouxe à luz dos debates e discussões alguma proposta que abrangesse a cidade do Rio como um todo, de acordo com suas peculiaridades de uma grande metrópole.
       Se um candidato a um cargo da Câmara dos Vereadores mirar um tema ou um segmento específico da população ele pode até usar todo o seu mandato para legislar sobre uma determinada questão, dentro das comissões que compõe aquela Casa. Mas o prefeito, não. O chefe do executivo municipal precisa ser mais abrangente em suas propostas, considerando que a cidade tem diferentes problemas em diferentes regiões.
       Não se pode governar para uma parcela, somente. Para a cidade em sua totalidade, não adianta representar a voz dos deficientes físicos, apenas, embora a questão da acessibilidade, por exemplo, mereça atenção. Prometer que vai ter ônibus a R$ 1,00 aos domingos não resolve o velho problema do transporte público. Colocar dois professores numa sala de aula não me parece o cerne da questão da educação em nossa cidade.
       Quando o Rio de Janeiro sediou recentemente a Rio+20, não só a sociedade, mas também esses mesmos que já miravam a cadeira de prefeito tiveram a oportunidade de se adequar a uma realidade muito mais ampla que essas promessas tímidas que se verificam no horário gratuito.
       O prefeito-candidato Eduardo Paes tem afirmado que melhorou para muita gente as mudanças que ele operou. No entanto, mesmo que num futuro próximo ou distante essas mudanças beneficiem todos, ainda assim haverá um grande desafio pela frente, considerando que transitam pelo Rio um universo de pessoas que, mesmo não votando na cidade, andam de trem, de metrô, de barcas, ônibus, vans, fora as pessoas que vem ao Rio procurar hospitais públicos, por causa da deficiência em seu  local de origem.
      Tanto o prefeito, quanto o governador costuma destacar a tal parceria entre o governo municipal, estadual e federal, sem que isso traga algum resultado satisfatório para a cidade do Rio e região metropolitana. Eduardo Paes, dentro das atribuições que lhe confere o cargo, certamente vai concentrar seus esforços e responsabilidades dentro dos limites do Rio de Janeiro, apenas. Só que enquanto houver qualquer descompasso em serviços públicos que abranjam toda a região metropolitana, no caso de transportes que interligam as cidades do Grande Rio, e os hospitais públicos que atendem moradores da Baixada Fluminense, São Gonçalo e Alcântara, esses mesmos serviços ficam precários pela demanda em grande escala, cujos números dificilmente estão inseridos nas projeções da municipalidade carioca.
       Hoje, andando pela janela do carro ou pela janela do ônibus, não é difícil mensurar a dimensão dos problemas da cidade maravilhosa, que nunca herdou nenhum legado de gestões anteriores e eventos importantes que ocorreram por aqui.
       Antigamente falava-se muito em vontade política para governar a cidade. Além da transparência, é preciso coragem e competência administrativa para colocar a cidade do Rio de Janeiro no rol das cidades mais viáveis do mundo, ainda que não fôssemos sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíadas.
    O que não pode é perdurar essa diferença entre a realidade que a população enfrenta todos os dias e o cenário que estão desenhando e colorindo para a cidade do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A arte do desencanto

      Um dia desses vinha passando pela Avenida Atlântica e vi um monte de quadros expostos à venda, bem em frente a um famoso hotel. Desacelerei um pouco o carro para vislumbrar aquela pequena, mas deslumbrante galeria ao ar livre, como que a confortar a rotina massante que vivemos todos os dias, de trânsito caótico, da efervescência que uma grande metrópole respira.
      Por alguns segundos pude perceber o quanto a arte nos conforta das dores do mundo. Eram rostos humanos, paisagens e naturezas mortas na dimensão exata de como a arte deve ser politizadora, socializante ou, pelo menos, romântica. Foi gratificante pensar que um sujeito anônimo representava ali, dentro de pequenas e imensas molduras nossos mais nobres anseios e aspirações, de como a arte nos impulsiona pelos valores que herdamos dos semelhantes de outrora.
     Como nem tudo é perfeito, logo percebi que me transportei do céu ao inferno, rapidamente, sem precisar dobrar a esquina. Em meio àquela profusão de óleos, pasteis e crayons surge, de repente, figuras humanas com número abaixo, em cavaletes claudicantes, suporte de mentes vacilantes e obscuras, como uma extensão medonha da vernisssage que eu acabara de vislumbrar. O realismo em nuances diferentes, no mesmo vetor, na mesma calçada. O bem e o mal ocupando o mesmo espaço e tempo.
      Fui obrigado a disfarçar meu repentino desencanto para não perder a direção. Por um momento parecia que eu caminhava em linhas tortas, sem destino. A sensação de não saber para onde ir se confundia com a desesperança que toma conta das ruas, do futuro incerto por sermos mal representados em nossos projetos de vida, de sociedade, de humanidade, enfim.
        Se algum dia arte e a política andaram de mãos dadas, esse tempo já vai muito longe, porque hoje elas são dissonantes, antagônicas. A arte congrega os homens; a política desagrega. A arte acompanha a evolução dos tempos; a política distorce o tempos dos homens.
        Pobre homem moderno, que espera que a arte da política um dia seja a alavanca do progresso e da evolução humana. Infeliz do homem que se esquiva da arte para enaltecer a política dos homens sem arte.
       A arte e a política só se equivalem pelo caráter perene de suas ocorrências. Uma pela nobreza, a outra, pela miséria.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Tiro certo

     A providencial e rápida resposta da força policial para desmantelar e prender os facínoras que barbarizaram os jovens em Mesquita jamais vai aplacar a dor dos familiares das vítimas, e tampouco o estado de choque que se abateu mais uma vez sobre a população fluminense, mas representa o melhor que a sociedade espera das forças de segurança do estado do Rio de Janeiro para fechar o cerco sobre quem vem sistematicamente tirando o sossego dos cidadãos.
       Já passou da hora de o governo estadual estender a implantação da Unidades de Polícia Pacificadora nas demais localidades da região metropolitana do Rio, de modo que a atual política de segurança contemple as outras cidades do estado que também têm regiões conturbadas e carentes de policiamento.
      Nas comunidades cariocas, as UPPs de uma certa forma inibiram a ação de bandidos, apesar dos números tímidos que se tem verificado nessas áreas ocupadas, mas é evidente que sua eficácia pode ser sentida no momento em que o poder público ampliar o raio de ação dessa importante empreitada, porque o terror que toma conta da população afeta a todos, e qualquer reação imediata da polícia traz alento a todos também. Nesse sentido, é preciso que o braço armado do governo amplie sua área de atuação com a mesma intensidade com que o poder paralelo age.
      Mesmo que os outros municípios não tenham a influência política junto ao governador, sem sintonia política, ou recursos suficientes para pagar abono extra a policiais lotados em áreas conflagradas, como acontece na cidade do Rio de Janeiro, ainda assim o governo estadual deve se fazer presente permanentemente em qualquer localidade que haja foco de tensão, com a iminência de confronto que sempre coloca o cidadão comum nesse fogo cruzado.
         A população de Mesquita e de todo o estado do Rio vêm ao longo de todos esses anos torcendo para que o governo estadual dê sempre um tiro certo como este.
          
         

sábado, 18 de agosto de 2012

O futuro nos trilhos

       Há algumas implicações nessa corajosa medida da presidente Dilma Rousseff de conceder à iniciativa privada a gestão e ampliação da malha ferroviária ao longo do território brasileiro. 
       Nunca é demais lembrar que acumulam em toda a história política do país vários eventos de interrupção de projetos que também foram concebidos para alavancar a economia do Brasil e melhorar a qualidade de vida da população, mas que acabaram ficando no meio do caminho, por motivos que a própria história desconhece.
       Cortar o país de norte à sul com a linha férrea já não é um item da plataforma da presidente, e sim, uma urgência que remonta aos tempos em que o Brasil acenava com grandiosos projetos de desenvolvimento, o que, de uma certa maneira, tirou o país do atraso em que se encontrava, embora não tenhamos ainda alcançado um patamar satisfatório, considerando o tamanho do território brasileiro e as peculiaridades de cada região.
        Da última vez que se ensaiou um projeto dessa magnitude, Juscelino Kubitschek não conseguiu, com seu Plano de Metas, atingir o nível de uma nação com dimensão continental com problemas de igual tamanho, tanto que os efeitos daquela medida são tímidos hoje, ainda mais que nenhum outro governante deu prosseguimento a essa sanha desenvolvimentista, apenas contemplando regiões de acordo com o interesse político, como ocorre até hoje. 
        Hoje, louva-se a empreitada do governo federal, mas com a desconfiança que já calejou a população brasileira, pelo descompasso em implementar os principais projetos do país, mas é preciso garantir, de forma transparente, inclusive, que esse velho novo projeto seja levado a cabo em sua totalidade, assim como os recursos nela empregados, com mecanismo que possibilite o acesso às informações sobre o  seu andamento, para impedir eventuais reincidências de dolo com a coisa pública.
        O governo anterior até esboçou a retomada dos trilhos a costurar o mapa do Brasil, mas o pouco que foi realizado, cerca de 15% do total do projeto, não é o suficiente para trazer algum resultado prático, pela importância que a questão da infraestrutura representa para a economia do país.
        Que não pare por aí o primeiro e verdadeiro passo para estruturar o nosso país, sem as incongruências de eventos passados, como por exemplo, o Pró-Álcool, que poderia ter inaugurado nossa independência, antes mesmo da autossuficiência pelo petróleo; ou de empreitadas que ainda não saíram do papel, como a transposição das águas do Rio São Francisco, também relevante para o desenvolvimento, além da velha questão do sanamento básico que tem de ser inserido no pacote de infraestrutura proposto pela presidente.
        Passou da hora de eliminar essa preocupação da cabeça da opinião pública, toda vez que o governo acena com um grande projeto, mas que sempre definha por falta de fiscalização e vontade política de fazer o Brasil entrar nos trilhos definitivamente.
     
        

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ficou para 2016

      Ainda impera na cultura esportiva o velho estigma do vice-campeão como símbolo do fracasso, quando, na verdade, é louvável perder apenas para o melhor da competição, aquele que se esmerou do começo ao fim para chegar aonde chegou, com as glórias e o triunfo ainda construídos fora das quatro linhas.
      Se havia expectativa de uma equipe se sagrar campeã é porque houve uma preparação em tempo hábil, capaz de preparar o atleta a enfrentar qualquer intempérie, sendo ele praticante de modalidade individual ou coletiva, seja o adversário um competidor tradicional ou um emergente, que a essa altura do campeonato já se enquadrou numa nova tendência que se verifica, da prevalência do conjunto, sem essa de salvador da pátria.
      Ao ver o desempenho da seleção mexicana de futebol na final olímpica, ou a performance da equipe russa de vôlei masculino, não foi difícil perceber que na força desses grupos havia muito mais que a questão técnica envolvida. A concentração, a força e a persistência não são fundamentos como um bom passe, o chute ou a cortada certeira, mas elementos fundamentais, que se não estão na regra do jogo, pelo menos complementam todo um conjunto de valores que formam um verdadeiro campeão.
       Agora não adianta mais ficar discutindo porque a seleção brasileira só resolveu reagir quase no final do jogo; ou tentar achar explicação para o esmorecimento da equipe sob o comando de Bernardinho. Chega de medalhões que ficam o tempo todo se olhando na tela do estádio, e o outro que bate forte no braço depois de uma cortada, para mostrar que está em quadra porque tem sangue na veia, e não porque é filho do técnico, e acaba enchendo os brios do oponente e esvaziando sua própria hemoglobina.
      Independente de sermos os próximos anfitriões dos Jogos Olímpicos, urge a necessidade de um novo modelo de formação de um atleta ou equipe em toda a extensão da palavra, sem as inconveniências do estrelismo dentro das quatro linhas; sem a panelinha de dirigentes de clubes ou entidades esportivas com visões completamente dissonantes de um amplo projeto de potência olímpica, considerando que o Brasil disputa os Jogos em quase todas as modalidades participantes.
       A participação do poder público em eventos esportivos não pode ficar restrita apenas a patrocínio e gastos exorbitantes em obras de infraestrutura. É preciso estender o projeto olímpico para a área da educação pública, através de parceria com a iniciativa privada e as entidades esportivas. A escola pública pode perfeitamente formar verdadeiros cidadãos-atletas, dentro dos valores que um eficiente projeto educacional pode difundir, na base, para renovar a mentalidade de futuros competidores.
        Aliás, em tempos de eleição, não há nos discursos dos candidatos qualquer menção sobre o que pode ser feito para reverter esse quadro tímido de grandes conquistas no cenário olímpico; não se conhece nenhum projeto que possa recuperar o pouco tempo que falta, para, pelo menos ficarmos entre os 10 primeiros em 2016, com bem sugeriu o ministro dos esportes Aldo Rebelo.
       Agora, o Comitê Olímpico Brasileiro fica fazendo as contas na manjada equação de investimento/n° de medalhas, também projetando para os Jogos aqui no Rio um desempenho melhor do Brasil nas disputas, sem definir efetivamente algum critério lógico que traga bons resultados, de fato.
      Espera-se que Eduardo Paes não traga de volta apenas a experiência de construir buracos de Metrô com mais eficiência, como bem recomendou o prefeito de Londres Boris Johnson, naquele clima descontraído que destoa da seriedade da organização de um grande evento esportivo, cujo organograma vai muito mais além das maquiagens urbanas que a municipalidade costuma implementar para fazer bonito depois de acesa a pira olímpica.    

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mensalão

    Mesmo que os acusados do Mensalão sejam finalmente e exemplarmente condenados, os réus ainda encontrarão os recursos de que dispõe nas letras da lei vigente no país, mantendo a mesma incerteza de outros processos, cujos veredictos acabaram sempre por despontar a opinião pública.
    Apesar de os membros do Supremo Tribunal Federal terem ciência da responsabilidade diante do julgamento  do caso, os ministros daquela Corte já explanaram em algumas ocasiões que o Judiciário faz a sua parte dentro das prerrogativas de órgão julgador, inerente ao Poder Judiciário, e o resultado do desfecho que se aproxima, se não atender aos anseios da sociedade, vai adiar mais uma vez, para uma outra ocasião, a inauguração de uma nova era na política brasileira.
    Mesmo depois de outros escândalos que afrontaram a população, nada foi feito para erradicar a corrupção do meio político. E toda vez que alguns parlamentares de imagem ilibada, juntamente com outros membros da sociedade civil esboçaram uma reação para frear o ímpeto de agentes públicos nefastos, o velho corporativismo falou mais alto e interrompeu um processo que poderia trazer alento ao povo brasileiro.
      O próprio processo dos Fichas Limpas é um exemplo de como tudo ainda está indefinido no cenário político no Brasil. Ainda que outros eventos de práticas ilícitas tenham desmoralizado a classe política, o escândalo do Mensalão tomou toda essa dimensão por ser oriundo justamente do partido que sempre levantou a bandeira da moralidade pública, reivindicando as reformas de que o país precisava, e ainda precisa, para tornar a sociedade mais justa.
      Espera-se que o Supremo Tribunal Federal dê voz ao clamor popular, dando o primeiro passo para blindar o patrimônio público de eventuais detratores. Mesmo porque o Poder Judiciário, sozinho, não conseguiria uma questão que envolve os demais poderes constituídos. O Executivo mais cauteloso e atento às indicações políticas para o preenchimento de cargos sob seu comando, e o Legislativo mais responsável no fiel papel de representante do povo brasileiro, promovendo as mudanças necessárias, não só para punir severamente quem usurpa o dinheiro público, como também criar mecanismos de gestão pública com a devida transparência.
       Enfim, não adianta apenas trancafiar o sr. José Dirceu e seu séquito, fato, aliás, muito pouco provável, já que eles certamente se beneficiarão dos meandros que a lei oferece para se livrarem da prisão. É preciso garantir que os recursos destinados aos projetos relevantes ao país tenha sua destinação certa e segura.
      Há, na verdade, uma série de projetos de ordem social que ainda não estão em andamento, por conta dessa corrupção que impera e emperra o país. Imagine o quanto o poder público deixou de realizar com esse montante desviado ao longo de toda a história política do Brasil.
       Com a palavra, o Supremo Tribunal Federal.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A questão UPP

   Tudo indica que esse projeto das Unidades de Polícia Pacificadora vai demorar um pouco mais para trazer os resultados que a sociedade espera, principalmente os moradores das localidades contempladas por essa política de segurança implantada nas comunidades carentes.
    Na verdade, desde os primeiros instantes de fixação das forças de segurança nas principais áreas de conflito entre a polícia e tráfico de drogas, todas as ações do poder público nessas conturbadas regiões não deu à população a garantia de que todos ficariam livres desse perigo que sempre rondou o morro e o asfalto.
     Mesmo nas outras regiões onde há também esse aparato de segurança, o policiamento local é feito com a mesma tensão de outrora, nas vielas e becos íngremes e miseráveis.
     No mesmo instante em que a Polícia Militar e o Exército reforçaram as localidades antes ocupadas por bandidos impondo o terror nessas áreas, as prisões efetuadas nas incursões realizadas foram muito tímidas, e bandidos de alta periculosidade acabaram escapando, se refugiando em outras comunidades, até que a poeira abaixasse. 
    Agora que a primeira agente de polícia  foi morta em confronto com traficantes, mesmo nessas áreas reforçadas por forças policiais, reforça-se a ideia de que muita coisa precisa ser feita para que esse inovador modelo de segurança conquiste a confiança dos moradores e da população como um todo.
     Mais do que apurar a responsabilidade pela morte da soldado Fabiana Aparecida de Souza é importante que o aparelho policial disposto no Complexo do Alemão reverta esse quadro de incerteza que a atual política de segurança do estado sempre demonstrou e traga a tranquilidade que a população já almeja há muito tempo.
     No caso específico de comunidades carentes, uma providencial medida de segurança nessas localidades só será eficaz quando esta estiver inserida dentro de uma política social proposta pelas três esferas de governo, concomitantemente. Já não basta o lixo e o esgoto à céu aberto?
     Enquanto a imprensa estiver cobrindo esses eventos de guerra e paz momentânea, com coletes à prova de quase todos os calibres; enquanto a força policial for o único braço do estado presente nestas comunidades carentes de outras benesses do poder público, significa que as autoridades de segurança precisam se esmerar muito mais para que todos saiam desse campo minado.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dom Eugenio Sales

   O que diferenciou Eugenio Sales dos demais homens públicos do Brasil é que ele se destacou também fora de sua importante vida eclesiástica. Geralmente as pessoas célebres ou comuns se esmeram, perseveram e colhem os louros por aprimorar e atingir o nível de excelência naquilo que ele se propôs a fazer no início de sua carreira.
   Mas Eugenio Sales foi muito mais além do que se espera de um cidadão comprometido com o interesse público, voltado para a questão social, sem as incongruências que costumam marcar a trajetória de quem sempre se desvirtua no meio do caminho, pela influência nefasta do meio em que vive, o que acaba por manchar todo um projeto que poderia construir uma bela história.
  Se Eugenio Sales não mudou o quadro da realidade social do Brasil, pelo menos ele não fugiu da responsabilidade social, pertinente tanto ao cidadão comum como do agente público de reverter a realidade brasileira de um quadro de desigualdades, miséria e exclusão social das classes menos favorecidas, mesmo num momento difícil, em que a sociedade brasileira sofria os revezes de um estado de exceção.
    Nesses tempos de eleições, os feitos de Eugenio Sales poderiam, facilmente, espelhar, não só quem estreia na vida pública como fazer as velhas raposas da política brasileira a repensar esse velho conceito de vida pública cheia de vícios e desesperança.
   

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Eleições 2012

   Muita gente não percebeu, mas a campanha para as eleições municipais começaram e os candidatos já estão nas ruas atrás dos eleitores, naquela peleja que todos conhecem. Surpreendentemente, a imprensa deu pouca importância ao processo que se iniciou esta semana.
  Eu considero essas disputas municipais as mais importantes de todo o pleito nacional por causa das questões locais, do cotidiano das pessoas, de onde nascem e podem ser discutidas as questões comuns a um universo, onde todos sofrem os mesmos problemas, independente da região em que vivem, mesmo que determinadas localidades tenham mais prioridade junto ao poder público, a municipalidade, no caso.
  Hoje, passados os vários desmandos da administração pública, de vacilações, hesitações, não é difícil perceber que tudo isso se deu exatamente porque não houve empenho, nas gestões que se seguiram, em abranger mesmo as tímidas políticas públicas, de forma que os resultados contemplassem plenamente a população do município.
   E como esse feito não foi alcançado até hoje, o tamanho da dívida se confunde com o desafio que vários mandatários da administração municipal não conseguiram encarar, ou pelo menos não atingiram o objetivo da população como um todo.
   Em junho, tivemos o evento da Rio+20, que discutiu questões para o planeta e as soluções locais também. Pelo comportamento que vimos até agora dos candidatos para prefeito da cidade do Rio de Janeiro, a questão do desenvolvimento sustentável passa bem longe dos discursos proferidos pelos postulantes ao executivo municipal.
   Por enquanto, a grande coligação que o candidato da situação formou pode não ser a garantia de que ele vai adequar sua próxima gestão à realidade de cidade moderna, verdadeiramente, em que todos façam parte ou jus de qualquer decisão que for tomada em sua administração.
   Os outros candidatos desafiantes terão tempo e oportunidade de sobra para apresentar uma proposta condizente às necessidades locais, seja na área de transporte público, saúde, educação, segurança e habitação, cujas demandas atropelam as tímidas políticas públicas para os principais serviços oferecidos à população.
   Somos uma cidade atraente aos forasteiros que vêm curtir nossas belezas naturais, mas somos também anfitriões das mazelas que mapeiam o nosso país, bem longe dos grandes centros urbanos, fazendo da cidade do Rio de Janeiro um dos principais destinos de quem foge da miséria em sua origem, em busca da prosperidade a qualquer custo e sacrifício.
  Esse é o grande problema da nossa cidade, o inchaço e a desigualdade. Não adianta só aprimorar o sistema de transporte, quando, na verdade, um número cada vez maior de pessoas se deslocam todos os dias para os mesmos lugares, porque os grandes empreendimentos estão direcionados para o centro da cidade. Um exemplo é o projeto Porto Maravilha, sem a Perimetral, com a Rodoviária no mesmo lugar e o Hospital de Ortopedia formando um mesmo entrocamento diariamente.
  É preciso descentralizar a única zona de desenvolvimento da cidade, fazendo com que as grandes concentrações urbanas nas periferias, como Méier, Madureira, Penha, Campo Grande, Pavuna, Jacarepaguá atraiam parte do projeto de desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro, com uma política séria de trabalho e renda para a população local, através de parceria entre as três esferas de governo e a iniciativa privada.
   Vamos esperar que os discursos se enquadrem na realidade da cidade e na necessidade de todos.
    

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Corinthians

   O mais importante da conquista do Corinthians nesse ineditismo da Libertadores foi o resgate do conjunto nesse esporte, ao longo desses tempos, entregue ao estrelismo em todos os certames, local, regional e internacional. Eu confesso que achava o Tite meio que tímido, medroso, mas eis que toda aquela cautela  era  uma estratégia para se chegar aonde chegou, fruto justamente de uma disciplina implantada por ele, em que a participação de todos seria a tônica em toda a disputa.
  Geralmente, no final de toda a batalha há sempre um heroi, em que todos os envolvidos, dentro e fora das quatro linhas, atribui o feito, na verdade, conferido a toda a equipe. Em todas as rodadas da Copa Libertadores, quem decidiu a vitória, a classificação, o prosseguimento para a próxima fase, apenas cumpriu a sua parte de luta, de entrega, bem aos moldes de uma modalidade coletiva em sua origem e essência.
  Afinal de contas, a conquista invicta de uma disputa difícil como a Libertadores não se dá por obra e graça de um salvador da pátria, por isso o reconhecimento da união de todos como fator de vitória da equipe.
  Então, se teve alguém que se destacou ao longo da disputa, foi exatamente o líder, o técnico, que pôs em prática a disciplina tática da equipe; que engendrou a evolução que se viu em todas as rodadas; que soube mexer as peças certas na hora certa.
  Pelo histórico de conquistas que Tite obteve nas últimas passagens por outras equipes, não seria difícil que o técnico do Corinthians colhesse os louros agora na Libertadores, nessa apoteose que só quem tem competência pode chegar.
  
    
    

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Rio +20 IV

    Preservar. Preservar o quê? Como começa esse processo? Como se faz para preservar uma árvore, uma rua? Tudo parece muito fácil, quando o olhar é superficial, de estética, de maquiagem, em que tudo parece belo e resolvido.
   Tem gente que até hoje se deslumbra com a imagem de uma garça na beira de um rio ou de lagoa, sem saber que a ave é um indicador de poluição, portanto normal que ela esteja em local degradado, já que ela se alimenta de matéria orgânica.
    Se teve algo de positivo na Rio+20, foi a troca de informação, de ideias nos eventos paralelos. Acredito que isso pode ser um grande filão, visando o desenvolvimento sustentável. Não em campanhas de conscientização, apenas, mas a informação na forma de conhecimento que pode ser assimilado, repassado, difundido.
    Está mais do que na hora de as pessoas saberem o que se passa ao seu redor, de maneira ampla, esclarecedora, de como se dá todo esse processo que a natureza descortina aos olhos de tanta gente leiga. A publicidade dos debates e encontros entre técnicos e especialistas dificilmente chega às pessoas ou comunidades que devem efetivamente ser esclarecidas.
   As discussões e soluções encontradas, na maioria das vezes, ficam circulando entre o próprio corpo técnico. O poder público, que sempre é convidado a participar dos eventos dificilmente manda algum representante. Com isso, um universo considerável de pessoas fica sem saber como utilizar o solo adequadamente, como manejar seus resíduos sólidos, como se precaver de epidemias, enfim, os procedimentos que o cidadão comum deve tomar para tornar saudável sua própria vida e de sua comunidade, sua rua, seu bairro.
     Hoje, o Brasil paga um preço muito grande por não ter levado adiante projetos, cujos resultados poderiam ter colocado o nosso país num outro patamar, com relação ao desenvolvimento humano no cenário mundial. Deixamos de implantar a malha ferroviária para viabilizar o primeiro e segundo setor; não levamos a sério o Pró-Álcool, que certamente permitiria a nossa autossuficiência há muito mais tempo; o Plano de Metas de JK não incluiu naquele pacote investimentos maciços em educação. Só esses três expedientes foram suficientes para atravancar o progresso do Brasil.
   Passado todo esse tempo, já adotamos outro modelo de transporte comercial, e o petróleo nos deu a tão almejada independência no setor, e a educação, bom...a educação é uma dívida que precisa ser resgatada urgentemente. Porque, é inadmissível que tanta gente fique à margem do conhecimento durante todo esse tempo, sem que ninguém perceba que isso traz prejuízos sociais para o Brasil.
    Eu vejo a geologia e a arqueologia como duas grandes ciências que podem contribuir enormemente para difusão do conhecimento, visando a inclusão social e a sustentabilidade, inclusive.
   É preciso incluir na grade curricular, já no ensino básico e fundamental, os princípios da geologia, para que se tenha noção do que são as placas tectônicas, os movimentos de massa, as precipitações como eventos naturais e suas consequências no movimento dos mares e dos rios e sua influência no regime de chuva e do clima do planeta. É bem provável que isso desperte o interesse em alguém que queira se aprofundar sobre o assunto, como forma de orientar sua própria comunidade da importância da utilização adequada do solo urbano, por exemplo.
   Por parte da arqueologia, seria interessante que os alunos, desde os seus primórdios, já conhecessem todo o processo de preservação de tudo que originou a nossa história, para que se compreenda o verdadeiro conceito de sustentabilidade, em que as gerações futuras tenham a garantia de tudo que está disponível a todos, desde os recursos naturais até as grandes conquistas da humanidade.
  A educação também é um processo de desenvolvimento sustentável.
     
 
 
    

sábado, 23 de junho de 2012

Rio+20 III

  Mesmo que os representantes das delegações não demorassem tanto tempo para redigir o texto de propostas a ser apresentado aos chefes de Estados a credibilidade dos expedientes que se seguiriam ficaria arranhada, pelo simples fato de a questão de recursos contingenciados para os projetos ambientais ser o principal objeto de discórdia entre os participantes, ainda mais que essa discussão tem a crise mundial como pano de fundo. 
   Bem diferente das questões abordadas na Rio 92, pertinentes apenas ao espectro da ecologia, o tema "Desenvolvimento Sustentável" finalmente abriria um leque de opções para os debates, justamente por ampliar o cenário do meio-ambiente, agora numa dimensão que abrange todas as áreas de atuação da sociedade.
   Só que, mais uma vez, a opinião pública saiu frustada com a falta de coragem, para não dizer vontade política, para deliberar sobre as causas da humanidade de uma maneira mais justa e sustentável, na melhor extensão da palavra.
  Primeiramente, porque estavam interpretando sustentabilidade como uma coisa oportuna, restrita ao presente, sem nenhuma noção do que deve ser mantido para as gerações futuras que viverão nesse planeta cheio de incertezas, por conta da hesitação das cabeças pensantes. A economia de subsistência, por exemplo, é altamente sustentável, enquanto que um pátio cheio de carros é algo completamente dissonante à proposta que os signatários dessa conferência apregoam.
    Na verdade, a questão do desenvolvimento sustentável estava sendo discutida ainda dentro dos dogmas da Revolução Industrial, tanto que as propostas de ajuda a países pobres causaram mais discórdia, justamente porque a perspectiva de benefício ou lucro, como queiram, é praticamente zero nesse expediente de assistencialismo barato em escala global.
    O ponto alto da Rio+20 talvez tenha sido a troca de experiência, de conhecimento entre os grupos, as ONGs e os povos diversos. Aquele encontro dos prefeitos das maiores cidades do mundo foi uma experiência e tanto, mesmo que os compromissos alí assumidos não sejam levados à cabo, o que valeu pela iniciativa de se discutir um problema amplo dentro de um cenário local.
     Seria, realmente, muito difícil encontrar um modelo a ser seguido entre as nações, considerando que cada uma delas tem uma questão a ser resolvida dentro de suas particularidades políticas, econômicas, sociais e geográficas. Nesse sentido, fica mais fácil a troca de informações, num debate amplo, em que as grandes ideias vão sendo recicladas e passadas adiante, com o compromisso, sim, de um fórum permanente, com a participação, não só dos agentes públicos, mas também da comunidade científica mundial, que é quem verdadeiramente busca as soluções de resultados imediatos, fruto de observação, pesquisas e métodos comprovadamente eficazes. 
   Os problemas que nós, brasileiros, temos não dependem de nenhum modelo ou decisão de cúpula. Também não temos problemas de recursos, pois a própria carga tributária imposta aos contribuintes já permite que resolvamos nossas mazelas e deficiências. Além do mais, temos a praga da corrupção, que de uma certa forma interfere na viabilidade dos principais projetos do país.
    Já poderíamos ter resolvido o problema do inchaço das grandes cidades, a questão do semiárido com a reposição das águas do Rio São Francisco, o acesso à luz elétrica ( !% da população ainda não tem ), saneamento e coleta regular de lixo nas comunidades carentes, dentro da questão de saúde pública, não de estética, como querem alguns prefeitos, como indicam as placas depois da maquiagem feita.
    Enfim, desenvolvimento sustentável é repassar soluções e práticas, num  processo sem interrupção.

domingo, 10 de junho de 2012

Rio+20 II

    Se o poder público resolver, através de parceria entre as três esferas, solucionar o problema do inchaço das grandes cidades com a política que citei aqui de proporcionar trabalho e renda nas periferias e região metropolitana estará dando um passo importante na construção de um novo perfil para as metrópoles, de um cenário de qualidade de vida  comum a toda a população.
   A unidade da federação ou cidade que conseguir trazer os primeiros resultados promissores estará inaugurando uma nova era da administração pública voltada exclusivamente para a coletividade, o que pode servir de modelo nacional. Uma política, enfim, que remexa os números do índice de desenvolvimento humano no Brasil, é claro, numa primeira etapa de um longo caminho a ser percorrido até atingirmos a meta ideal que pode, finalmente, colocar o Brasil alguns patamares acima dessa miséria em que todos vivem, segundo os números de desconforto da população brasileira.
   É, porque, longe de acreditar que esse poder de consumo que as pessoas conseguiram para comprar geladeira, televisão, carro, e ficar um  tempão pagando seja uma conquista e tanto, quando na verdade é um expediente de se protelar por muito mais que 72 meses um problema que se arrasta há décadas.
   Eu até acho que as soluções locais podem efetivamente resolver um problema de dimensão continental, aquele trabalho de formiguinha, que acaba tomando um contorno muito maior do que se imagina, mas há muito mais coisas que precisam ser feitas dentro da nossa realidade brasileira, e é aí que entram as particularidades que cada país tem para equacionar o seu próprio problema, o seu dever de casa, enfim.
    No caso específico da superpopulação nos grandes centros urbanos, o êxodo rural até hoje define o mapa sociopolítico e econômico do Brasil, pela miséria espalhada pelo país inteiro, de promessas e promessas ao longo dessas décadas, com os agentes públicos sempre empurrando com a barriga as soluções definitivas.
    Na Região Nordeste, a questão do semi-árido está, até hoje, a espera de vontade política para amenizar os efeitos da seca e, consequentemente, a fome que fustiga quem não se aventura a se debandar para o sul. Bem antes de o Bolsa-Família ensaiar um conforto para as vítimas da seca, num passado bem distante existiu uma certa Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste(SUDENE), que não resolveu coisa alguma, certamente por influência nefasta de políticos locais e a conivência do governo federal, que certamente contingenciou toda a verba para o malfadado órgão.
 Isso, sem contar o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas(DNOCS), que envolvida em irregularidades, talvez não tenha tido tempo para trazer os resultados que o povo nordestino sempre esperou, faça sol ou faça chuva.
   Agora, se a sociedade não se mobilizar, o Projeto de Transposição das águas do Rio São Francisco não sai do papel e continuará perpetuando um velho problema, por força de interesses de grupos políticos que preferem a manutenção dessa mazela no mapa do Brasil, ainda de conceitos arcaicos, que emperram o país como um todo.
   É nesse sentido que o desenvolvimento do Brasil não depende de modelo estabelecido em cúpulas. Só a sociedade brasileira pode solucionar essa questão.
    

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Rio+20 I

  Esse viés do desenvolvimento da Conferência Rio+20 certamente vai ampliar o debate em torno das principais questões da humanidade, mas nada é mais urgente que a concentração urbana nas grandes cidades.
 Hoje, qualquer grande metrópole do planeta sofre os efeitos da falta de planejamento, o que acaba tornando praticamente inviável a maioria das grandes cidades do mundo, já que a demanda cada vez maior compromete os principais serviços oferecidos à população.
  Nesse sentido, a rede pública de saúde fica saturada; o sistema de ensino público, ineficiente; as políticas de segurança também não abrangem todos os lugares e todos os cidadãos; e o transporte...bem, esse nem se fala. Eu considero a questão do transporte coletivo o maior desafio do poder público, considerando que o sistema de transporte público afeta todas as pessoas economicamente ativas nos centros urbanos.
  Infelizmente, todas as políticas do setor de transporte, pelo menos aqui no Rio, não tem trazido os resultados e suprido as reais necessidades da população. Ao longo de todos esses tempos, estamos sempre na expectativa de uma melhora, de um grande projeto que possa efetivamente trazer o conforto das pessoas no seu deslocamento casa-trabalho-casa. 
  Quando lembramos da concepção da Transoeste, da Transcarioca, da extensão do Metrô até a Barra, e uma outra linha até São Gonçalo, logo imaginamos que isso pode finalmente desafogar o trajeto das pessoas para o trabalho e de volta para casa. Apenas lembrando que tínhamos essa mesma perspectiva quando do advento da Linha Vermelha e da Linha Amarela. Hoje, elas são verdadeiras via-crusis na vida das pessoas que se deslocam da Baixada Fluminense e da Zona Oeste para o centro da cidade.
  Tenho razões para acreditar que dificilmente a municipalidade vai resolver esse velho problema que é de âmbito estadual e federal, também.
   Primeiro, porque não vemos a inclusão de ciclovias nesses projetos de mobilidade urbana como forma de alternativa de transporte ao cidadão. As ciclovias que existem atendem ao caráter de entretenimento, na orla, para o sujeito pedalar e escutar a sua musiquinha, numa boa. Eu quero ver é instalar ciclovia na Avenida Brasil, para o sujeito ir da Penha até São Cristóvão, sem gastar combustível e passagem. Ciclovia na Avenida Automóvel Club, na Estrada Velha da Pavuna, na Intendente Magalhães, na Avenida Santa Cruz, na Avenida Cezário de Melo, na Avenida Dom Hélder Câmara, na Rua 24 de maio, na 28 de setembro, e em todas as outras vias cansadas de engarrafamento e das outras que serão inauguradas, que ficarão saturadas também, com o tempo.
  O Projeto Porto Maravilha é lindo, esteticamente, mas com os empreendimentos voltados para aquela região, que modelo de transporte público a prefeitura pretende implantar para absorver um contingente maior de pessoas que se deslocarão para lá todos os dias? Derrubando a Perimetral vai piorar ainda mais. 
   Na verdade, o que falta é uma política de trabalho e renda voltada para a periferia e região metropolitana do Rio de Janeiro. As prefeituras, os governos estadual e federal poderiam atrair grandes grupos econômicos a investirem na Zona Norte, Zona Oeste, Baixada Fluminense, São Gonçalo e Alcântara, através de políticas de incetivo fiscal, como forma de se criar oportunidade e bem-estar para uma parcela significativa da população do estado do Rio de Janeiro. Isso, automaticamente, iria desafogar os trens, ônibus, barcas, aliviando o trânsito nas principais vias de acesso ao centro do Rio.
   Se houver vontade política, o poder público pode fazer muito mais do que incentivar a compra de carro novo. 

domingo, 3 de junho de 2012

Rio+20

     Não há dúvidas de que essa conferência sobre o meio-ambiente que vai rolar em junho, aqui no Rio de Janeiro, já vem com as incertezas que cercaram as outras edições do encontro. Não que a gente não deva acreditar nas intensões dos grandes líderes mundiais e demais representantes, não esquecendo também os interesses que sempre são servidos nas mesas de negociações, o que faz de qualquer encontro dessa e de outra natureza um evento meramente burocrático, sem nenhuma solução efetiva para se projetar para o futuro.
     Eu acho até que essas indefinições e desencontros se dão pela maneira com que se olha o problema por uma ótica diferente da que deveria se encarada, considerando a origem das práticas no cotidiano das grandes nações, das cidades, enfim, das peculiaridades de cada região.
     Dificilmente haverá consenso sobre o melhor modelo a ser implementado e seguido para o meio-ambiente em nível global. Agora que a nomenclatura da chamada para essa próxima discussão também mudou de nome urge também a necessidade de uma outra visão, considerando as particularidades de cada região, de cada cidade, estado ou nação, que são distintos em seus aspectos geográficos, políticos e econômicos.
     Para os técnicos e especialistas enviados ao encontro, isso não chega a ser um obstáculo em si, pois não é de hoje que todo mundo monitora todo mundo, numa troca de informação incessante, o que poderia, pelo menos teoricamente, chegar ao tal do denominador comum, no momento em que cada representante  expuser o que tem feito, dentro das especificidades de sua região, considerando os recursos naturais disponíveis, as necessidades locais e as políticas públicas implementadas.
     Aquele negócio de cada um ficar puxando brasa para a sua própria sardinha não procede mais, pois, todos devem se empenhar nas discussões, assim como nos benefícios dispensados. Como está todo mundo discursando em torno do desenvolvimento sustentável, é bom que se lembre das lacunas de regiões, digo continente africano e demais localidades com baixo índice de desenvolvimento humano no mundo, que continuarão de fora das decisões acordadas por força de interesses de políticas ultrapassadas que não visam o bem comum.
     O grande desafio é a mudança de mentalidade em torno de um novo conceito de desenvolvimento, sem os resquícios da Revolução Industrial, que ao longo desses tempos promoveu a produção e o consumo desenfreados.
     Bom, o encontro está marcado. Resta saber o que as principais cabeças pensantes do planeta vão trazer em suas bagagens. Na verdade, não dá mais para discutir a questão do meio-ambiente com ênfase apenas na ecologia. Já há a consciência de que a fauna, a flora, os nichos ecológicos e os biomas precisam ser mantidos, assim como os recursos naturais que devem ser utilizados de foram coerente.
    Só falta agora o homem garantir o seu próprio bem-estar, dentro de um  mesmo pacote que preserve o futuro das outras gerações e estabeleça medidas que punam com rigor eventuais detratores da natureza de todos.
 
      
        

terça-feira, 24 de abril de 2012

O santo da paz


    Quase não dormi direito de tantos fogos aturdindo meus ouvidos e azucrinado o sono que eu tanto precisava, depois de um domingo cheio de outros festejos, feijoada no vizinho, futebol na tv, coisa de final de semana, enfim. Por um momento pensei que aquele foguetório em uníssono em todos os cantos da cidade só terminasse pela manhã, coincidindo com a minha alvorada sonolenta. Ainda bem que é feriado, e eu poderia dormir mais durante o dia, se não soltarem mais rojões na direção da minha janela.
     Pela manhã, já recuperado da zoada a cada minuto na madrugada, um mar de vermelho tomou conta das ruas, roupas, acessórios, o abadá da escola de coração com a estampa do santo, o rebolado, a ginga, a marra do sujeito de sapato branco, todo prosa e garboso, metido em seu blusão de linho, encomendado quase que como oferenda ao seu mais puro protetor, tudo dentro do ritual de fé, de devoção, de entrega pelo santo guerreiro, de tantas graças alcançadas.
     Quantos símbolos, quantos cânticos, dos atabaques às vigílias, tudo para consagrar e eternizar o santo de várias denominações, desse povo miscigenado de crenças, costumes, desgraças e esperanças. Há que se celebrar esse sincretismo, pelas manifestações religiosas, seja em dia de festa, misturando o devoto com o terço na mão e o outro com as guias a lhe penderem o pescoço, ou na rotina normal do indivíduo em seu grupo social heterogêneo.
     É a cidadania no seu mais puro grau de excelência, já que a liberdade de expressão religiosa também é expressamente garantida pela Constituição do meu país de Estado ainda laico.
     É melhor que seja assim, festivo, sem o fundamentalismo de outros segmentos, sem a violência dos discursos, sempre nessa cadência de exaltação sem furor, para excomungar o inimigo, sem as impertinências de uma guerra santa; para chegar à apoteose, sem passar por cima do outro; e viver o júbilo de um grande feito, sem verter lágrimas ou sangue do semelhante.
   
    
     

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Aldeia urbana

    Um achado importante na caminhada pelas ruas do Rio encontrou, não só uma construção em mal estado de conservação, como também uma história de luta, que passa ao largo dos barulhos ensurdecedores do rush urbano, no dia a dia da efervescência carioca. Na Avenida Radial Oeste, motoristas e passantes, que só miram os semáforos ao longo daquela via, apenas percebem o Maracanã, pela sua trajetória nessa pátria de chuteiras e contrassensos. Na tangência que a rua risca ou no alvoroço das torcidas em dias de jogos, um grito de alerta soa muito pouco enquanto o trem passa e o metrô desliza.
   No velho prédio branco, vizinho ao Estádio do Maracanã, ou do esqueleto dele, as marcas do abandono já duram o mesmo tempo da história que gira ao seu redor. É mais um entre as várias edificações na fila de espera por um projeto que não deixe que seu destino caia no ostracismo.
  Mas quem pensa que o descaso pela falta de conservação daquele prédio é o único problema a ser resolvido está redondamente enganado. Antes que se possa aprofundar sobre a viabilidade de um projeto de reforma da antiga residência da Princesa Leopoldina é necessário que se inclua num eventual projeto destinado à área uma ampla discussão a respeito de um velho problema que remonta de nossos antepassados: a questão indígena.
  Como, dificilmente, a reforma daquele prédio será incluída na urbanização do entorno do ainda maior estádio do mundo, por ocasião dos preparativos para a Copa do Mundo, é bem provável que esse descuido pela conservação de nossos registros históricos se confunda com a nossa capacidade de promover eventos esportivos.
   Do lado de fora do muro, pela perspectiva dos passantes, o abandono em questão se restringe ao aspecto físico, estrutural. Mas eis que dentro daqueles domínios a causa indígena está mais  viva do que nunca. Um grupo de aproximadamente 20 etnias ocupa aquele espaço  há 6 anos, reivindicando entre outra coisas, a criação da primeira universidade indígena do Brasil. 
   Se hoje o antigo prédio tem seu destino indefinido, num passado não muito distante, o local servia de sede do Serviço de Proteção ao Índio. Em 1910, foi residência do Marechal Rondon, o maior expoente da causa  indígena do país. O antropólogo Darcy Ribeiro também freqüentou o lugar, escrevendo parte de suas importantes obras, abordando a cultura dos mais antigos habitantes do Brasil, tanto que em 1975 o pesquisador fundou o Museu do Índio naquele local, que durou até 1978.
   Com o apoio dos estudantes de língua indígena da UFRJ, o grupo sobrevive no local graças às aulas de tupi-guarani ministradas ali, assim como as reuniões periódicas para narração de história e manifestação de danças. Com o objetivo de difundir sua cultura e angariar recursos eles também se apresentam em escolas públicas e particulares, onde arrecadam alimentos não-perecíveis. 
   E essa luta constante para sobrevivência das etnias ali representadas vai resistindo à efervescência urbana ao seu redor. Nesses seis anos de ocupação daquela área foram construídas algumas ocas no terreno. São, segundo eles, frentes de resistência para que as mais de 240 etnias espalhadas pelo Brasil possam usar o local para fazer reivindicações.
   Só que as ações daqueles ocupantes não se restringem à informalidade de sua rotina. No universo de todo aquele envolvimento existe um grande projeto a ser implementado, o que pode representar um avanço para a grande causa indígena, o resgate de uma dívida histórica junto aos nossos antepassados.
   Para o Pataxó Garápira, o líder do grupo naquela comunidade, o maior problema é a falta de um documento oficial do imóvel, o que inviabiliza qualquer tentativa de preservação daquele espaço, em que uma parte importante da história do Brasil se mantém viva, apesar dos tapumes como divisor de água entre o passado e o o futuro, ainda incerto. Algumas entidades e políticos saíram em defesa daquela causa, mas nada foi feito, até agora, para viabilizar esse importante projeto.
    Não se pode desprezar os projetos que alavancam a nossa cidade, cujo desenvolvimento permite que o Rio seja cada vez mais viável, seja no aspecto político, econômico e social. Seria, no entanto, salutar que esses vestígios de desenvolvimento conservassem também os elementos culturais de nosso povo, das nossas origens.
    
   










sexta-feira, 6 de abril de 2012

A paixão que ainda nos cerca

      Ainda tem muita gente falando que não se pode varrer a casa, cortar o cabelo, namorar, trabalhar, viver, enfim. Dos tempos em que os dogmas da igreja eram seguidos à risca até os dias de hoje, muita coisa mudou, por conta da liberdade que cada um foi conquistando, mesmo não conseguindo seu objetivo pessoal ou coletivo, sem deixar, obviamente, de comer o seu peixinho nesta sexta-feira da paixão, para não ficar devendo nada para os bispos e o Papa.
    Acontece que nesses tempos de lamúrias, lamentações, autoflagelo e piedade, os atabaques também soam, no mesmo instante em que os sinos dobram, celebrando o silêncio de quem quer ficar assim, refletindo sobre o futuro dos povos e a saúde de quem os cercam, para que fiquemos irmanados na mesma questão, na mesma miséria, nessa comiseração global, de comprometimento universal pelas causas da humanidade.
   Ainda bem que no meu país todo mundo lava os pés juntos, todo mundo se envolve para lavar as escadarias do sincretismo que vai prosseguindo, insistindo para que estejamos ungidos na mesma promessa e crença.
    Uma pena que o mundo não tenha seguido essa tendência de confraternização entre os povos, com muita nação peregrinando sua hegemonia, e outras tantas há muito tempo numa via-crucis para confirmar sua própria soberania, abalada pela interferência de outrem, nesse desequilíbrio sem fim.
    Agora que assistimos à barbárie lá no Egito, justamente o berço das grandes religiões, fica difícil imaginar o discurso que pode reverter esse quadro de perseguição e intolerância que impera nos dias de hoje, seja nas  relações pouco amistosas entre nações, até as picuinhas do cotidiano entre indivíduos, em seu meio social, num expediente que passa ao largo das mensagens que os grandes líderes das três religiões do ocidente propagavam, sem o fundamentalismo como pano de fundo que se verifica hoje.
   Nestes tempos de paixão ao redor da vida e da morte, torcemos para que a paz norteie as discussões e reflexões sobre o futuro que nos espera.    
       
      

domingo, 1 de abril de 2012

A Estética do caos

      Não faz muito tempo o único contraste  da arquitetura urbana era a diversidade de estilo num mesmo espaço, com o passado e o presente como extremos de um mesmo vetor, cada vez que a selva de pedra cria brotos nesse crescimento verticalmente galopante.
      Com a expansão horizontal  da região metropolitana do Rio de Janeiro, a estética que se pretende para a cidade maravilhosa pode não ter o efeito desejado, caso não se leve em conta a urgência desenvolvimentista  para toda a região do entorno do Rio de Janeiro.
      Aconteceu estra semana, em Londres e no Rio, dois encontros que trataram da questão urbana com ênfase socioambiental. Na Inglaterra, o documento da conferência naquele país, como apronto para a Rio+20, deu conta de que até 2050 as grandes cidades mundiais concentrarão um número populacional que já desafia especialistas a encontrarem um meio sustentável de se habitar esses centros espalhados pelo planeta. No Rio, alguns expoentes da arquitetura contemporânea promoveram uma série de palestras sobre os rumos do urbanismo no Brasil e no mundo.
      É claro que a arquitetura e todas as suas nuances e inovações contribuíram para o progresso urbano, principalmente numa metrópole como o Rio de Janeiro, cujo crescimento sem proporção necessita de elementos cada vez mais voltados para o futuro, sob pena de sermos vistos como uma cidade inviável e retrógrada. Lembrando que a cidade do Rio só tem ciclovia em caráter de lazer, para se ter uma ideia das deficiências de nossa cidade.
      O que não pode é descaracterizar a cidade com o pretexto de embelezá-la, com vistas a um suposto legado que acaba não beneficiando a população como um todo, e ainda deixando ônus para a administração seguinte, que fica exposta à opinião pública, como sempre, desapontada com a timidez dos projetos não realizados.
      Mas há outros fatores a serem considerados e dinamizados em paralelo à estética visual aos olhos do mundo. A efervescência da rotina diária do Rio de Janeiro revela, não só as nossas preocupações, necessidades e descompasso, como também a dimensão das mazelas ao nosso redor, que vão bem mais além daqueles bairros longínquos e limítrofes de outras urbes também carentes.
       Porque, quando o trem lotado, vindo de Japeri, cospe gente diariamente na Central do Brasil, significa que uma parte considerável da população do estado do Rio contribui com os números sociais e econômicos da nossa cidade, assim como o Metrô abarrotado de gente, vindo da Pavuna, leva e traz uma outra parte desse universo populacional que também vem ganhar o pão aqui no Rio e ajudam a confirmar a cidade do Rio de Janeiro como uma metrópole atraente no cenário mundial, pelo seu potencial de cidade viável e gente hospitaleira.
      Portanto, é imprescindível que qualquer projeto que seja direcionado ao Rio de Janeiro considere as cidades circunvizinhas, seja além da Ponte Rio-Niteroi, que abarca a população de Niteroi e Alcântara, e a outra parcela que depende da Linha Vermelha e Avenida Brasil para chegar ao batente.
      Estou falando isso porque vem sendo apresentado alguns projetos para tornar a cidade do Rio mais moderna no seu aspecto estético, sem considerar  seu conceito social, que envolve a sua dinâmica no dia-a-dia de uma grande metrópole.
        O Projeto do Porto Maravilha é viável, mas que alternativa o poder público apresentará à demolição do viaduto da Perimetral, com a Rodoviária no mesmo lugar e o Hospital de Ortopedia(INTO), quando este estiver funcionando com a sua capacidade máxima, já que mais pessoas se dirigirão para aquela região? Assim como aquele complexo de prédios sendo construído próximo à Praça Cruz Vermelha, sem nenhum sistema de transporte público adequado à região.
      Os governantes da cidade e do estado do Rio precisam apresentar ao mundo seu potencial de cidade aprazível e funcional, mas isso também depende de políticas que abarquem toda a população que dela faz parte. Para beneficiar o contingente da região metropolitana, como Niteroi, São Gonçalo e Baixada Fluminense, seria salutar que o poder público apresentassem medidas que concentrassem esse contingente em seu local de origem, como forma de desafogar o Rio e, ao mesmo tempo, tornar a vida dos cidadãos fluminenses mais saudável em seu cotidiano, seja em seu deslocamento para o trabalho ou no seu lazer.
      Estamos na expectativa de uma grande mudança, com uma amplitude ainda maior do que a que se apregoa por aí. Porque do jeito que as coisas andam, vamos apenas modernizar a estética do caos.
     
 

sábado, 28 de janeiro de 2012

Mea culpa

      No dia seguinte à tragédia anunciada nada se sobrepõe à misericórdia como emblema da dor e desespero no epicentro da calamidade pública. Alívio para uns, flagelo para outros tantos, a verdade é que estamos irmanados na mesma culpa, no mesmo fardo. Não é difícil acreditar que aquelas máquinas revolvendo a terra pode estar procurando inocentes e culpados em meio àquele mosaico de entulhos, poeira e contrassenso.
     Na Cidade Maravilhosa e exuberante, a nossa miséria é a indisciplina impregnada no tecido social; nossa riqueza, a solidariedade do próximo e do estranho. Somos capazes de chorar a dor dos outros, mas não temos a petulância de detonar o sujeito que burla a lei, a ousadia de se reverter esse expediente de resolver as paradas na calada da noite, pra não lombrar no dia seguinte.
    É por isso que o que não pode fica valendo também quase que para sempre, pois estamos prestes à perpetuar o jeitinho brasileiro como status quo oficial, tal qual a corrupção como sistema de governo.
     Tudo bem que a hora agora é de encontrar mortos e responsáveis, mas lá na frente, assim que a poeira baixar, é melhor que se revolva também esse estado tétrico e de inércia, para que o responsável, o culpado, o sujeito que efetivamente permitiu a constância desse quadro de horror, que nem a poeria consegue esconder, sofra os rigores que, pelo menos, a lei permite.
      Enquanto durar o jogo de empurra que certamente vai rolar, eu fico até achando que vou levar a culpa por tudo isso. Exatamente. Serei acusado por não ter denunciado que havia uma obra irregular, do mesmo jeito que não reclamo quando neguinho joga papel no chão, com medo de ele me bater.
       Poderei ser indiciado pela omissão, já que havia um órgão fiscalizador, que certamente iria até o local, verificar a observância dos critérios, e eu resolvi me calar, assim como me calo, mesmo sabendo que se eu recorresse ao órgão de defesa do consumidor, o supermercado  não aproveitaria  as promoções para vender carne fora do prazo de validade.
     Por fim, pode ser que eu seja condenado, já que eu continuo votando nessa gente que promete um novo cenário para minha cidade, que em cada pleito surge uma maquiagem diferente, sempre com a desculpa de que a Copa do Mundo e as Olimpíadas deixarão um legado para a população, como bem foi prometido com relação ao PAN 2007, e o transporte público e a segurança da cidade do Rio de Janeiro continuam a mesma coisa.
    Por sorte poderei me safar, pois essa justiça arcaica ainda deixa brechas para que eu continue, assim, de olhos fechados, fingindo que está tudo bem.