quarta-feira, 28 de outubro de 2020

DE QUEM É A CULPA?

  É muito pouco provável que alguém vá ser responsabilizado pelo incêndio no Hospital Geral de Bonsucesso. É só fazer um balanço da rotina do hospital nesses últimos anos ou décadas, até, para se avaliar o tamanho da tragédia que se abateu em mais uma unidade de saúde pública.
   É justamente essa questão da responsabilidade que vai precisar ser resolvida para impedir que essa agonia de sempre continue, que esse drama se perpetue.
    É claro que vai rolar aquele velho jogo de empurra que vai resvalar em gestões anteriores, porque ninguém vai querer levar culpa sozinho. Por acaso, aconteceu alguma coisa com aquela diretora do hospital que dava festas enquanto os pacientes da emergência  eram atendidos em contêineres? Por que não revisaram os geradores e toda a estrutura do complexo depois que a Defensoria Pública da União produziu um relatório alertando de risco iminente? De quem é a culpa pela falta de equipamentos de segurança constatado e alertado pelo Sindicato do Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência? Como uma unidade daquela dimensão funciona sem um plano de combate à incêndio atualizado?
   São questionamentos que remetem à impunidade das coisas no Brasil, ninguém é culpado de nada, não se pune ninguém por nada, apesar de haver instrumentos jurídicos  para isso. Se houver alguma punição para dar uma satisfação à opinião pública, vai cair sobre alguém que não era responsável, mas que de repente fez uma gambiarra e passou a ser o provável culpado por tudo. Aquela velha história da corda que a gente sabe onde arrebenta.
    Por sorte, a equipe de funcionários do HGB já estão acostumados a trabalhar no limite de sua capacidade e função e a tragédia não foi maior por força da dedicação de todos em mais um momento angustiante para todos.
   Infelizmente a situação só tende a piorar, ainda mais nesses tempos de pandemia em que o volume de atendimento nas unidades de saúde se sobrecarregou, o que vai gerar um inchaço, um esgotamento maior, fazendo com que esse evidente colapso evolua para um quadro pior, porque outras unidades de saúde, estadual e municipal, também apresentam os mesmos problemas estruturais, como bem mostra reportagem do jornal O DIA.
   De qualquer forma, há uma questão de responsabilidade que precisa ser equacionada antes que deem atenção básica de verdade à saúde pública no Brasil. É bom que haja um envolvimento maior por parte de toda a sociedade, os governos, o Congresso,  a esfera jurídica, mas sem essa politização que agora virou moda, principalmente na área de saúde.

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