terça-feira, 13 de outubro de 2020

FALTA AMOR AO RIO

    Quando chega a época de eleições parece que o amor floreia no coração dessa gente que fala ou faz qualquer coisa pra sentar na cadeira do prefeito. Eu fico imaginando o coração do cara pulsando em ritmo acelerado com a expectativa de governar a cidade, resolver essa penca de problemas que o Rio tem, descascar o abacaxi de cada lugar da cidade com o coração pulsando de emoção, nessa relação de amor e paixão por essa metrópole com maravilhas, mazelas, perigo, beleza, calor humano, tudo misturado, e o prefeito tirando tudo isso de letra, porque tudo é divino e maravilhoso quando é feito com amor.
   Deve ser realmente encantador cumprir uma agenda de governo sempre com o sorriso estampado no rosto, sem perder a ternura, mesmo que seus auxiliares venham à sua mesa toda semana com balanços e relatórios de tudo que precisa ser feito para o Rio de Janeiro ser  aquela cidade apaixonante pra se viver.
   Se tem alguém ou muita gente que pensa diferente, beleza, mas é esse cenário que eu imagino quando vejo um candidato à prefeito da cidade maravilhosa dizendo em todas essas inserções de  propaganda eleitoral que ama a cidade.
   É fácil compreender como é esse amor de alguém que tem raízes fincadas aqui. Não é surpresa alguma declarar esse amor pelo lugar onde tudo começou no caso dos nativos, assim como daqueles que escolheram o Rio como morada.
   Mas uma coisa é falar o que pensa, o que sente, até porque, quem tem boca fala o que quer, como dizem por aí. Agora, outra coisa é mostrar esse amor com ações práticas no dia a dia.
   Pra quem respira a nossa cidade em sua rotina e percorre todos cantos de um lado para o outro, à pé, de ônibus, trem, metrô ou bicicleta tem uma ideia dos cuidados com o Rio de Janeiro. 
   Se de um lado tem o sujeito que joga uma latinha de refrigerante no meio da rua, sem a menor cerimônia, do outro tem o poder público que oferece os principais serviços à população de forma precária. 
   Diante de todo esse cenário, não tem como disfarçar nossas mazelas, insistindo em divulgar a beleza da cidade nos velhos cartões-postais. Nesses tempos de redes sociais, é  muito fácil um forasteiro chegar aqui no Carnaval, no réveillon  e viralizar uma situação bizarra do Rio de Janeiro.
   Não adianta ficar zoando o paulista, o mineiro ou o amigo que mora na Baixada Fluminense e quando vai à praia deixa todo o lixo na areia quando vai embora. É triste ver o cara roubando fio da rede elétrica em plena luz do dia, o outro mijando no pé da árvore ou dando calote no BRT. Para o cidadão que  espera e exige o melhor de quem governa a cidade, o ideal é que ele faça a sua parte também.
   Pois é justamente essa postura que a gente espera do prefeito e legisladores da cidade do Rio de Janeiro. Muito mais do que amar o Rio é fazer da nossa cidade aconchegante e funcional para nós que vivemos aqui. É muito comum ver as ruas policiadas, mais limpas, metrô funcionando, trem e ônibus sem caô em dias de Carnaval, Réveillon ou eventos esportivos, e depois tudo volta a desandar quando os visitantes vão embora.
   Não adianta que amar o Rio seja um mote de campanha ou plataforma de governo. É preciso diferenciar a gestão das outras anteriores que sempre maquiaram a cidade pra fingir que tudo funciona, quando na verdade é tudo precário, à meia-sola.  Já não rola mais o Rio ter perfis diferentes em cada localidade, o Rio do rico e o Rio do pobre. É necessário seguir os protocolos ambientais nos principais projetos de desenvolvimento para o Rio de Janeiro para que sejamos uma cidade moderna de fato.
   A saúde, a educação, a segurança das pessoas têm de ser levadas à sério, sem essas parcerias público-privadas cheias de suspeição que só trazem prejuízos à população. 
   Por fim, dá pra fazer essa triagem na hora de votar. É só observar as condições da cidade, como ela já estava antes e como ela continua até hoje. Tá na hora de dar uma verdadeira prova de amor ao Rio.


Nenhum comentário:

Postar um comentário