quarta-feira, 28 de outubro de 2020

IDEIA DE JERICO

    O presidente Jair Bolsonaro fica entrando na pilha do ministro da economia, Paulo Guedes que, sempre que pode, faz uma pressão para tentar emplacar o Estado mínimo no Brasil sem qualquer discussão, sem critério algum que possa sustentar a viabilidade de um projeto com essa complexidade toda.
   Só isso explica esses arroubos do presidente, como agora, em criar esse decreto que autoriza o Ministério da Economia a abrir estudos que possibilitem a parceria público-privada no Sistema Único de Saúde.
   Pra começo de conversa, em tempos de pandemia seria uma afronta à inteligência da opinião pública em momentos de aflição e agonia pela Covid- 19, mas a verdade é que a complexidade do SUS, que engloba as três esferas de administração, implica discussões e estudos com autoridades e especialistas da área de saúde, não é só a área econômica que iria deliberar sobre isso.
   E a outra questão é justamente a que levanta suspeita em todos. Já que o Bolsonaro havia desmentido a privatização do SUS no decreto, a parceria com empresas privadas na gestão das Unidades Básicas de Saúde é uma versão mais ampliada do que já ocorre nos estados e municípios, em modelos de gestão da saúde pública, em algumas praças, com registros de escândalos e precariedade do serviço.
   No Rio de Janeiro, esse modelo de administração através de Organizações Sociais a gente já conhece como funcionava, regada a propina, favorecimento e vantagens que em nenhum momento trazem benefícios para os usuários do sistema. Não é difícil imaginar a complexidade desse modelo em nível nacional. Seria tão ou ainda mais complicado que a atual forma de gestão num país de dimensões continentais como o Brasil.
   Na fala do ministro Paulo Guedes para defender o decreto, ele sugere incentivar a participação da iniciativa privada para melhorar a qualidade do serviço. Ora, ministro, dá pra tornar excelente a saúde pública no país, desde que o governo utilize todo o recurso destinado ao setor; não diminua o orçamento da saúde como fez este ano; crie mecanismos para monitorar a gestão dos hospitais federais, pois, no Hospital Geral de Bonsucesso, por exemplo, a diretora dava festas, mesmo com a própria unidade respirando por aparelho.
   Pois bem, ainda bem que Jair Bolsonaro voltou atrás e  revogou o decreto 10.530 depois da repercussão negativa que a decisão isolada e descabida do presidente provocou.
   Nesse cenário de estado mínimo que o neoliberalismo propõe, cada país tem suas peculiaridades, suas características que levam em conta vários fatores. Se o Paulo Guedes acha que é fácil encolher o Estado sem sacrifícios, só com uma canetada, e ainda mexendo na saúde da população, pode desistir que a sociedade está atenta.
   Se o presidente acredita que pode decidir de forma unilateral sobre questões que envolvem a vida das pessoas, mesmo que não seja pilha do Paulo Guedes, pode revogar essa ideia de jerico.

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