quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

VAMOS COMEMORAR, SIM!


  Já no meio do ano tinha gente, inclusive eu, fazendo um balanço negativo de 2021, baseado na agitação do que foi esse ano com efeito a agonia da população em meio à continuação da pandemia, paralelo às outras crises, política e econômica balançando o coreto de norte à sul do país.
     Não faltou gente falando que não havia nada pra comemorar ao final de mais um período turbulento. Eu mesmo assinei embaixo quando começaram a ventilar os preparativos para o fim do ano e a tradicional queima de fogos. Depois de tudo que a gente passou, que sentido teria extravasar nossa euforia?
    Tanto no ano que termina quanto nesse que vai chegar, 2022, que elemento, que motivação teríamos para explodir de alegria junto com aquele espetáculo de luzes anunciando a virada do ano?
    Mas, faltava mesmo chegar bem perto do final do ano pra fazer outras considerações do que foi 2021 na vida de cada um que vai romper a fronteira de um outro ano. Se no plano coletivo há um conjunto de incertezas e vários projetos voltados para o Brasil todo que ficaram pra depois, individualmente ficou um orgulho pela resistência, pela capacidade que cada um demonstrou de suportar o peso que a gente carregou este ano.
    Junto e misturado ao fardo que todo mundo teve de carregar em família, trabalho e vida social, foi embrulhado também a tristeza por alguém que ficou no meio do caminho, o emprego que não veio, a escassez em casa, a saúde debilitada de alguém próximo, a penúria de outros também chegados, enfim, não teve quem não tivesse de contabilizar um revés qualquer nas redondezas.
    Portanto, eu mudei de ideia que a gente não poderia comemorar nada. Eu e muita gente reconsideramos o pessimismo de não querer saber de festejar; voltamos atrás no desejo de cada um ficar no seu canto lamentando um tempo de incerteza que ainda vai estar na folhinha do ano que vem. Repensamos esse negócio de coroar um grande esforço que fizemos com tristeza só porque muitas coisas não saíram do jeito que a gente queria.
    Por um instante qualquer a gente esquece os dramas, as angústias e lembra das sementes que a gente plantou também, pensando positivamente sem parar em tudo que iria acontecer lá na frente, e o tempo que cada um empregou para projetar coisas boas; o quanto nos concentramos para lançar energia positiva pras pessoas e para nossos propósitos.
     Isso certamente causa um efeito positivo ali adiante, que é justamente o ano que vai chegar, 2022, que pode até ser tão ou mais inquietante que este agora, mas todo mundo que sobreviveu vai estar calejado e claro, agradecendo, louvando a graça de ter chegado até aqui, porque todo mundo foi recompensado pela agonia, pela aflição, pela lágrima que cada um verteu.
    Não há estímulo maior que ter a oportunidade de prosseguir adiante e sempre nessa caminhada. Vamos que vamos.
    Feliz Ano Novo!

sábado, 6 de novembro de 2021

A MARCA DE MARÍLIA MENDONÇA


   Já dá pra fazer uma análise diferenciada do que representou a Marília Mendonça para a música que ela se propôs a cantar. Em outros tempos lamentava-se apenas a morte precoce de uma artista que ainda tinha muita lenha pra queimar.
    Acontece que Marília Mendonça resolveu fazer de sua arte um engajamento. Pois é... num gênero que era estritamente masculino, a moça, mais do que conquistar o seu espaço levantou também a sua bandeira, ou melhor, a bandeira da causa feminina, que já é empunhada em outros movimentos fora da música. Pela profusão de mulheres no meio sertanejo nos últimos tempos, ainda que outras tenham ensaiado a revolução no gênero, foi Marília Mendonça quem fez ecoar mais forte a voz que faltava.  
     Independente do estilo e gênero musical, a gente quer ver a música assim, engajada, politizadora, socializante, além de romântica também que ninguém é de ferro. E a música sertaneja com esse universo de seguidores, com toda essa demanda, todo esse capital que a Marília Mendonça ajudou a multiplicar acabou inaugurando uma nova era.
    É justamente esse formato que o vasto repertório de Marília Mendonça estava formando, arrastando multidões por onde se apresentava, mas que uma conjunção de fatores qualquer tratou de interromper precocemente. É triste demais pra ser verdade que um grito da magnitude de Marília Mendonça tenha se calado repentinamente, justo agora que a mensagem estava surtindo efeito, que o discurso no palco estava se espalhando nas mentes e almas e atingindo o âmago daquela gente, logo agora.
    Agora, é claro que todo o universo sertanejo vai ficar aqui torcendo para que as mulheres, ou os homens também, por que não, que já estão na estrada continuem empunhando essa bandeira, porque a grande massa que Marília Mendonça costumava arrastar é grandiosa demais pra não querer se sentir representada daqui pra frente, porque, certamente vai haver quem continue esse movimento, com aquela linguagem bem direta, coloquial, como era a marca de Marília Mendonça, tipo papo reto, falando na lata.
    Pelo pouco tempo que Marília Mendonça viveu, dificilmente ela passou por todo aquele turbilhão explanado em suas canções, mas certamente vivenciou os dramas e traumas inerentes ao universo feminino; certamente ela só reproduziu em suas composições essa realidade porque a viveu de perto, o suficiente para sair em defesa de seu público.
     Mais que aquele mulherão no palco, aquele vozeirão, Marília Mendonça virou um símbolo, uma referência de como uma causa tão grandiosa vai sempre precisar do ímpeto de alguém assim como a Marília Mendonça, que deixou por aqui, além da saudade e a dor habituais, deixou também um grande legado.

   

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

POR UM TÉCNICO ESTRANGEIRO NA SELEÇÃO BRASILEIRA

 
Foto: Gazeta Esportiva

     
Tem muito tempo que eu não falo sobre a seleção brasileira de futebol, mas ao longo desse período surgiram vários elementos que eu até precisava mesmo para endossar essa breve crítica.
    Independente do desempenho do time numa disputa, qualquer resultado que a seleção vem tendo mostra a inércia que o futebol brasileiro vem também mostrando para o mundo, porque é a seleção a referência, é a seleção que reúne, pelo menos em tese, os melhores, aqueles que se destacam e tal; é para a seleção brasileira que os olhos do mundo estão apontados.
    Há muito se fala sobre a evolução do futebol brasileiro em paralelo ao sucesso de vários jogadores que atravessam a fronteira do Brasil para brilhar em outras praças. O fato de o Brasil ser um celeiro de craques foi alimentando durante todo esse tempo o status do nosso futebol, a ponto de alimentar também o ego dos brasileiros, essa coisa de pátria de chuteira que fez a gente ficar no topo do ranking até geral aprender a jogar bola em todos os cantos do planeta.
     A primeira grande mudança no cenário do futebol mundial foi quando começaram a discutir e debater o futebol enquanto se difundia seus fundamentos em larga escala. É claro que vários personagens, autoridades, teóricos e demais formadores de opiniões aqui do Brasil acompanharam de perto as tendências que surgiam.
    Fica até chato suspeitar que houve algum erro de cálculo, falta de vontade ou uma interferência qualquer que tenha impedido o Brasil de acompanhar as transformações que rolaram, mas é certo que as cabeças pensantes do futebol brasileiro ficaram para trás na forma de conduzir, administrar e aprimorar nossas peladas.
    Não é culpa de nenhum jogador, pois a gente continua exportando o que temos de melhor. Mas o fato de sermos um celeiro de craques apenas fortalece o projeto alheio. Hoje, quando a gente vê o Tite comandando a seleção dá uma tristeza danada vê um desempenho tão pífio, mesmo quando ganha, até porque os adversários têm sido medíocres também. E pela performance dos outros treinadores brasileiros o Tite não está só nesse triste cenário que estamos prestes a mostrar na próxima Copa do Mundo.
    Eu não vejo um treinador brasileiro com uma revolução na cabeça, com uma inteligência a toda prova para fazer frente ao que já se pratica lá fora, tanto que nem contratam técnicos brasileiros no exterior. Os melhores times da Europa têm jogadores brasileiros em seu plantel, mas nenhum são treinados por brasileiros.  Aqui no Brasil mesmo treinadores estrangeiros já ocupam lugar em comissões técnicas. Se antes torciam o nariz para treinadores de fora, pelo menos na visão dos clubes isso mudou.
    Portanto, tá na hora de a CBF rever esse pragmatismo, essa visão tacanha e contratar o que há de melhor na praça, o que não é muito difícil, pois qualquer técnico desses aí top de linha largaria tudo para treinar nossos boleiros. Já andaram fazendo pesquisa um tempo atrás e a própria galera ventilou nomes, aprovando a ideia, eu apoio.
     Nesse ambiente que a gente habita, nessa atmosfera que a gente respira do futebol o Brasil está fadado a fazer figuração nas próximas disputas, digo isso com segurança, mas, claro, acreditando que pode haver uma reviravolta, mas com resultados a longo prazo, com planejamento que inclua, principalmente, mudança na filosofia de jogo, na gestão, na visão, que, com todo esse conservadorismo que ainda impera no futebol, mais precisamente na cabeça desses dirigentes de mente atrasada, vai empurrando o futebol brasileiro para o meio da tabela.
    Então é isso, eu sei que isso vai contrariar muita gente, isso é certo, e causar bastante polêmica, por remexer em nossa cultura futebolística, mas, a CBF tem prestígio e dinheiro para ter um técnico de ponta à frente da seleção brasileira.
     

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

NOVOS RUMOS AO AFEGANISTÃO

     

  É natural que a situação no Afeganistão cause todo esse rebuliço fora das fronteiras daquele país. Sob o ponto de vista humanitário esse assunto vai se estender bastante, e certamente todo mundo vai se envolver, no momento em que vidas humanas estão no centro da questão, em que o Talibã retoma o poder local e reacende o medo da população com a iminência de futura repressão pelo rigor com que a Sharia é defendida e posta em prática pelo grupo fundamentalista que agora comanda o Afeganistão.
    Se antes a presença das tropas americanas por lá é que determinava os rumos do país, a verdade é que independente de toda movimentação e posicionamento da comunidade internacional, agora, qualquer mudança que possa ocorrer dentro do território do Afeganistão vai partir única e exclusivamente de sua própria sociedade, em meio, infelizmente, à tensão que já se iniciou.
    Será necessário, sim, ajuda dos principais países, principalmente aos refugiados, mas o contingente que está lá, a população como um todo, terá de encarar talvez o mais árduo desafio de suas vidas, erguer o país, voltar à normalidade, sem qualquer interferência externa, que ao longo dessas duas décadas fez parte da realidade do Afeganistão com a presença dos EUA em seus domínios.
   Agora, é a soberania do Afeganistão que está em jogo, e ninguém vai poder fazer nada. É claro que a ONU e demais países vão se manifestar, principalmente pela defesa de direitos fundamentais que o código jurídico implantado pelo Talibã, o Sharia, restringe ao pé da letra. 
   Vale lembrar que durante esse período em que os EUA permaneceram em solo afegão, deu tempo de o governo de ocasião criar mecanismos e fortalecer instituições de modo a evitar eventual ruptura como parece ocorrer agora. A própria fuga do presidente Ashraf Ghani revela a fragilidade do governo para lidar com a situação.
    Ao governo americano  não cabia o interesse e o esforço de modernizar o estado de direito do Afeganistão. A política externa dos EUA sempre teve outro viés, todo mundo sabe, o que parece ter mudado completamente agora. Inclusive, foi o Donald Trump que fechou acordo para retirada das tropas. Joe Biden, também defensor da proposta, apenas cumpriu o trato, o que certamente vai modificar a política externa americana daqui para frente.
    Vai ter sempre uma nação se metendo na vida dos outros, mas sem tropas envolvidas. Há modos e tecnologias diferentes hoje em dia.
     De qualquer forma, é  triste saber que as pessoas no Afeganistão  poderão voltar  a ser reprimidas em seu cotidiano, a liberdade cerceada, sobretudo as mulheres, no momento em que há em todo o mundo uma bandeira em prol da causa feminina combatendo toda a sorte de violência e repressão. Mas, infelizmente, é uma questão a ser resolvida internamente, lá entre eles. Eventuais pressões por parte de organismos e nações serão importantes para ajudar a flexibilizar as leis islâmicas por parte do Talibã, quem sabe, ou não.
    Tirando o nosso Brasil como exemplo, a gente vem ao longo  desses anos e décadas fazendo alterações, adequando a legislação de acordo com a nossa realidade de país soberano. Aqui também as mulheres não votavam. Até hoje há discrepâncias de direitos e oportunidades, mas houve avanços, muita coisa mudou. Apesar de algumas dificuldades, nós temos nossas causas, nossas reivindicações, nossas demandas, nossas instituições, num cenário que nos permite modernizar nossas vidas sem interferência externa, estamos trabalhando para isso.
    Não será diferente o rumo que o Afeganistão deverá tomar para buscar segurança e liberdade para o seu povo.


quinta-feira, 29 de julho de 2021

POR MAIS MENTES SAUDÁVEIS

    
    Finalmente começaram a discutir um assunto que há muito tempo já faz parte da vida das pessoas em todas as suas áreas de atuação. Sim, em outras áreas também porque não é só no ambiente esportivo que a saúde mental está diretamente ligada ao desempenho em práticas de qualquer natureza.
     Na seara do esporte essa questão fica mais evidente e mencionada por causa da própria repercussão do evento em nível global, como é o caso das Olimpíadas, mas é necessário que esse assunto seja discutido em todos os aspectos e ambientes, pois, eu não lembro de alguma coisa que o  ser humano faz em que corpo e mente não estejam ligados. 
    Então, é melhor que se aprofunde essa discussão levando em consideração todas as atividades humanas. Não é difícil perceber, hoje em dia, a pressão que as pessoas sofrem em seu cotidiano por resultados imediatos. 
    Trabalho,  escola, família são ambientes em que há uma expectativa qualquer  que sempre ultrapassa os limites tolerados das coisas, seja em compromisso, em metas de estudos e resultados, enfim, as pessoas  estão constantemente correndo contra o tempo, nadando contra a maré, buscando resultados e performances, na maioria das vezes, sem qualquer perspectiva de resultados promissores.
   A decisão da Simone Biles de abandonar as disputas em Tóquio certamente vai reabrir debates a respeito, mas é bom que se dê uma dimensão maior, para que a questão  da saúde mental não fique restrita apenas a área do esporte, porque os próprios especialistas, quando chamados para fazer diagnósticos, propor medidas e soluções, ficam concentrados ali, naquele problema, às vezes numa narrativa que só funciona para aquele assunto, somente, quando se poderia ampliar o debate com base em toda agenda social da sociedade. 
   Seria o começo de uma discussão que iria atingir várias pessoas em seu cotidiano. Da mesma forma que a atleta americana chegou ao seu limite, um universo considerável de gente de todos os estratos sociais estão vivendo, trabalhando, respirando além de suas capacidades normais e não têm a mesma oportunidade que Simone Biles teve para se recolher e ensaiar um recomeço. 
   Independente da sorte e dificuldades que cada um terá para encontrar a melhor solução para seus próprios  males,  a verdade é que as pessoas estão doentes, infelizes, transitando entre a ilusão e a loucura desses tempos em que quase tudo tem de ser imediato, urgente, sem tempo para reflexão sobre a viabilidade de seus projetos, que acabam adiados ou até interrompidos.
     Na cultura do corpo, é a prevalência dos influenciadores na vida das pessoas, sempre foi assim, não é de hoje. As pessoas se deixam levar por metas que não são suas, por projetos dos outros, por sonhos alheios. É impressão minha ou o advento de novas tecnologias vão aprisionando cada vez mais as pessoas?
    De qualquer forma, há uma crise em curso no mundo que impede uma massa enorme de viver confortavelmente dentro de seu ideal de vida, mesmo um sujeito rico que não sabe usar sua grana, e mais ainda o indivíduo com fome, desempregado, sem perspectiva de vida.
    De repente os governos precisariam investir mais em psicólogos na rede pública, para ampliar o acesso, além, é claro, de inclusão na área de educação para que futuras gerações saibam conciliar suas atividades, de modo a viver plenamente, sem amarras, sem apego.

terça-feira, 27 de julho de 2021

UM VENCEDOR DE FATO


  A essa altura do campeonato geral já sabe e conhece um pouco mais da trajetória de Ítalo Ferreira, o cara da vez, o brasileiro que no momento  honra o nome do Brasil lá fora e representa todo esse universo de gente que começou do zero seus mais edificantes projetos de vida. Porque, ante a explosão de alegria do nosso surfista campeão olímpico, o que não falta é gente relembrando as agruras de um cenário adverso, de um tempo cruel, em que tudo era desfavorável a qualquer sonho.
    Na cabeça de brasileiros de norte a sul do país, a lembrança do cara que começou a surfar com a tampa da caixa de isopor trouxe à memória de quem hoje goza de prestígio e sucesso aqueles momentos de penúria. 
    Da mesma forma que o Ítalo Ferreira engatinhou nas marolas de Baía Formosa, em condições completamente adversas, quanta gente também não teve uma tampa de isopor pra chamar de sua, só que em forma de um sapato velho, de uma roupa velha, de um trem lotado, de uma vida escassa do mínimo necessário, de uma doença, uma perda ou qualquer outro obstáculo que interrompesse um velho sonho.
    Pra quem vê e se espanta como tudo começou há, sim, o reconhecimento de quem lutou pra chegar aonde chegou. Só que passou despercebido de muita gente o triunfo maior de quem chega ao topo; a glória maior de quem fez jus ao sucesso por ter encarado o mais sinistro desafio que é uma onda daquela que quebra a prancha e ainda assim o cara não desiste; enfim, uma dádiva a quem sempre acredita.
    Pois bem, ficou marcada em especial na imagem do Ítalo, ainda às voltas com o mar revolto, o agradecimento pela vitória, porque nada pode ser comemorado antes de direcionar o pensamento a quem de fato proporcionou toda aquela festa. E o Ítalo  fez isso logo de cara, ali, ainda aos frangalhos, mas de forma sublime, humilde e soberana ao mesmo tempo, como bem marca os verdadeiros campeões.
    A gente costuma dar moral aos esportistas com base apenas em suas técnicas e tal, mas é bacana quando o cara amplia esse campo, quando seus valores, de família,  de suas origens e, principalmente, de sua fé maior se somam às suas habilidades. E o Ítalo Ferreira já é um grande vencedor  nesse quesito. 
   É isso que vai servir de referência pra quem de repente pensa em desistir porque não tem um tênis, uma prancha, uma bola, uma coragem, uma fé.
   É isso que me fez fã do Ítalo Ferreira pelo conjunto da obra.
    

quarta-feira, 21 de julho de 2021

AMIGOS


     É fácil falar dos amigos quando a gente usa nosso valioso tempo para ilustrar com palavras todo o reconhecimento por tudo dispensado para nós por essas pessoas mais que ilustres em nossas vidas. 
   A própria Língua Portuguesa é rica o bastante para disponibilizar os mais diversos adjetivos, as mais belas construções gramaticais, de sintaxe, com formalidades ou de forma coloquial, enfim, o melhor mosaico de letras e palavras que possam fazer as melhores considerações às melhores criaturas de nosso convívio.
   Apenas um pouco de cautela para que cada adjetivo proposto, até uma vírgula no lugar exato reproduza o melhor sentido daquilo que realmente representa e significa um amigo de fato, porque, escrevendo para eles dá para construir um tratado sobre sua existência e a importância que dá gosto nesses dias de hoje exaltar.
    A gente fala de amigos, mas não tem nada a ver com curtidas, compartilhamentos, alinhamento ideológico, resenhas e coisas do gênero. É melhor que se esclareça que os amigos são aquela meia dúzia de gatos pingados que já se tornaram os protagonistas de nossa agenda por um motivo dos mais singelos, os mais sublimes.
    O amigo que a gente hoje dá moral pode ter, sim, uma ligação de sangue, porque o pai, a mãe, um irmão, tio ou primo também desempenham  essa função com selo de qualidade estampado no peito, o que faz de alguns mais amigos que parentes. 
   Mas nada tira a raça e o glamour daquela pessoinha que conhece até a cadência da sua respiração; aquele que  vai logo te ligando porque estranhou que seu bom dia no Whatsapp não teve ponto de exclamação hoje, o que houve? Esse amigo, de tão conectado, lá na frente vai aparecer na sua árvore genealógica, vai vendo.
    Definitivamente, a sensibilidade é o grande diferencial do verdadeiro amigo, porque poucos percebem que hoje você não tá legal; são poucos os que notam que você até cumpre sua rotina normalmente, mas carrega uma saudade, uma angústia, ou até uma raiva que a velha amiga de sempre, sempre ela, trata logo de dissipar com um sopro, tipo aquela caneca de chopp espumando pra relaxar; ou bater perna por aí, rindo das pessoas, já fiz muito isso; ou qualquer outra resenha que possa quebrar o protocolo de uma agenda rotineiramente exaustiva.
    E essa percepção de penúria do outro está restrita apenas aos amigos verdadeiros. É uma química independente do tempo de existência da amizade. É por isso que alguém que apareceu recentemente no seu círculo de amigos pode ser tão ou mais importante que aquele parceiro de longa data.
    E assim a gente vai criando vínculos importantes em nossa trajetória, paralelo ao ambiente de família, do trabalho. Eu mesmo tenho feito amizades nas redes sociais com pessoas que eu já percebi e aposto serem talentosas, além de seu próprio ofício, na arte de massagear o ego das pessoas em momentos cruciais. 
   Essas vão certamente ocupar o espaço das outras que se foram, tragadas pelas tragédias da vida; das outras que a gente sabe apenas que existem, mas que não mandam mais aquele sinal de fumaça. 
    É uma renovação natural que vai rolando. São outras pessoas que surgem pra também diminuírem o peso do nosso fardo, sem que ninguém saiba, melhor assim. 
   Se for pra alguém saber de alguma coisa, a gente procura demonstrar, apenas pra eles, o quanto eles, apenas eles, são importantes pra nós.
   

segunda-feira, 12 de julho de 2021

DE REPENTE, O MAR

      


    Hoje eu vi o mar pela primeira vez na vida, quem diria. E olha que eu já fui marinheiro, singrei alguns mares e já fiquei também várias vezes vislumbrando o horizonte nessas praias da vida, que a gente sempre frequenta em momentos de lazer.
   Mas, como é que pode um negócio desse a essa altura do campeonato de uma longa trajetória? Como se explica esse contrassenso? 
   É fácil compreender o espanto que essa constatação acima causa, mas o próprio movimento das águas em seus vários fluxos, de intervalos diferentes em cada ocorrência, parem pra reparar, é um fato novo, inédito, pelo simples fato de que há um efeito diferente toda vez que o movimento se repete e continua mais e mais vezes sem parar. 
   Se os fatores geológicos daquele fenômeno, movimento de marés, em conexão aos outros elementos da natureza, os ventos, o sol, ajudam  a atestar uma certa simetria, em que tudo parece certinho, perfeito e maravilhoso, pense na energia que toda essa movimentação gera em paralelo ao espetáculo deslumbrante produzido a todo instante.
   Não é coisa que se descobre ou sente olhando o mar de uma varanda, de uma janela, de uma foto ou binóculo. Esse panorama é muito superficial, limitado apenas  à estética das coisas, como várias outras maravilhas ao nosso redor que apenas ofuscam os olhos e pronto.
   É preciso um contato direto, tipo pele à pele com o mar, desde a mão alisando a água naqueles passeios luxuosos de barco, em que se permite esse prazer, que delícia, para quem pode, obviamente; ou os pés fincados na areia esperando a hora certa de entrar num curto  espaço daquela imensidão à frente.
   É quando começa a influência daquele fenômeno da natureza na vida de quem se projeta ali, uma troca incessante de matéria se instaura ali, num fluxo constante. Você pensa em todas aquelas coisas que você reivindica para si, e outras, das quais você quer se livrar. Olha ai a velha convergência de corpo e mente. Sim, a mente fixa e constrói o cenário de tudo que se pretende para sua vida chegando ao sabor da maré, que maravilha, e levando pra bem longe, bem além do horizonte, tudo aquilo que não presta mais.
    É claro que tem toda uma questão espiritual envolvida, porque, além da ligação com a natureza, há uma conexão com Deus, mas, sempre lembrando que a denominação religiosa fica à mercê de cada um. Se a natureza tem seu processo seletivo, as pessoas têm seu bom e velho livre arbítrio.
   E aí, gente, você fecha os olhos, eleva os pensamentos  e vê nitidamente no retorno das águas os trastes, bagulhadas  e quinquilharias que você  costumava conservar como bibelôs, agora tudo se afastando lentamente ao sabor do vento, a onda levando, vai com Deus. 
   Eu acredito que a própria natureza se renova quando cumpre esse papel de nos renovar também. É uma troca. Tanto que ela também se rebela quando a gente a maltrata, degrada e destrói.
   Portanto, é nesse sentido  de que há um fato novo a todo momento, tudo se transformando em tempos e situações diferentes, que o mar é diferente cada vez que o vemos e sentimos. Uma síntese de nossa vida, enfim, em que tudo pode ser renovador e revigorante, assim mesmo, de forma fortuita e inesperada.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

UMA MANCHA NA DIPLOMACIA

 

   Mesmo antes da CPI da Covid o diplomata Esnesto Araújo já tinha dado mostra de sua desastrosa atuação como titular da pasta das Relações Exteriores, num comportamento que passa bem longe do que sugere as funções do cargo.
   Vale lembrar que ele só conduziu essas negociações para compra de vacinas e insumos de outros países por sua qualificação na área financeira dentro de seu currículo de diplomata.
   Inclusive, Ernesto Araújo serviu na embaixada brasileira em Berlim no começo da carreira, tratando de assuntos econômicos. No período em ficou por lá, certamente adquiriu experiência para o futuro da carreira.
   Talvez tenha ficado tão focado na lida, que nem percebeu, em sua estada na Alemanha, que o Nazismo não é de esquerda, como andou explanando por aqui, rachando o bico da opinião pública internacional e passando vergonha do Brasil além de nossas fronteiras. Mas isso é outra história, deixa pra lá.
   Mas, ainda que seu depoimento na CPI não mude ao rumos da investigação ou traga alguma novidade para os trabalhos da comissão, sobre culpas e responsabilidades pelo atraso na vacinação da população, Ernesto Araújo vai ficar marcado como o sujeito que quebrou o protocolo da diplomacia brasileira, mudando completamente as prerrogativas do cargo.
   Dificilmente, analistas, palpiteiros e outros suspeitos e mentirosos  vão  esquecer do diplomata que em vez de mediar conflitos, simplesmente os criou. É a primeira vez que um diplomata bota mais lenha na fogueira, em vez de apagar o fogo.
   De repente, nem nas Guerras a representação diplomática dos países conflitantes adotou procedimentos tão beligerantes quanto esses ataques velados à China, que se ainda  não é o número um da globalização, já é o maior parceiro comercial do Brasil, um cenário que nem a sanha ideológica do Ernesto Araújo vai mudar, ainda mais que o Donald Trump, sua referência maior, em quem o brasileiro sustentou toda a sua tese e discurso, saiu completamente de cena.
    É lamentável que a diplomacia brasileira  carregue essa mancha na sua trajetória de relações internacionais, através de um personagem como foi o Ernesto Araújo, que não foi escolhido pelos critérios comumente usados para preencher cargos, tanto no Ministério das Relações Exteriores como nas representações diplomáticas, em que se exige o mínimo de habilidade, bom senso e inteligência para lidar com conflito.
   O Brasil sempre se destacou quando sua diplomacia foi acionada para mediar conflitos de toda ordem em que nosso país esteve envolvido. Há uma lista extensa de personalidades que representaram dignamente o Brasil, sem que nossa imagem ficasse arranhada.
   Para o Brasil, que teve o Barão do Rio Branco, por exemplo, como referência maior da diplomacia do país, é triste para a sociedade brasileira saber que já fomos também mal representados um dia.

                          Foto: Wikipédia  

segunda-feira, 10 de maio de 2021

O AVESSO DA VIDA

 

   Não deixa de ser interessante quando a mente cria percepções da realidade humana através de eventos aparentemente simples e corriqueiros.
   Dias desses  eu fiquei prestando atenção na centrífuga da máquina de lavar, imaginando as voltas que o mundo dá e  todos nós dentro, naquela viagem giratória constante. Era fácil perceber que a cada volta completada as roupas mudavam de posição, de formato, cada uma delas, entrelaçadas ali, modificando a todo instante a configuração de todo o conjunto.
   Numa dimensão bem distante de nossos olhos dá pra transportar esse movimento para a própria rotação da Terra e tudo que se passa em seu interior, bem aos moldes de como formulou James Lovelock em sua Teoria de Gaia, segundo a qual nosso planeta é um organismo só.
   Guardadas as devidas proporções é possível reproduzir e encenar na rotação da máquina o meio em que vivemos, tão importante nesses dias atuais, em que o individualismo parece prevalecer sobre o coletivo, e uma parcela significativa perdendo completamente a noção dessa premissa básica à vida de cada um e do conjunto.
   Certamente o entendimento que se faz sobre a função e a responsabilidade de todos vem dessa visão bem amplificada de tudo que se passa ao nosso redor e os efeitos de todas as práticas nesse  processo.
   Agora, tão importante quanto essa visão global de uma engrenagem única é a parte que cabe a cada um nesse mecanismo que não para, apenas se modifica.
   É quando a máquina, a de lavar, claro, interrompe a centrifugação e revela o estado de cada peça depois de várias voltas que o mundo deu, e eis que algumas roupas saem ao avesso, num cenário que é a própria matriz de nossas vidas.
  Pois é, nessas voltas que o mundo dá estamos sempre nos deparando com pessoas ao avesso também, além de nós mesmos, flagrados nessas condições, constantemente, por vício, delírio ou necessidade, dependendo de como cada um se quer para si ou para o mundo.
   Há aquelas que vivem ao avesso por pura miséria espiritual, sem nenhuma possibilidade de contribuir para sua própria evolução, para o mundo, então, nem pensar.
      Algumas outras são postas ao avesso por influência externa, hesitando entre o amor próprio e o mundo que as cerca, colocando seus próprios  valores em segundo plano, porque normalmente há um delírio em suas convicções pela falta de fidelidade a seus princípios, e isso pode ser nocivo para o seu crescimento.
  Outras, simplesmente, se põem ao avesso pra se auto avaliarem, reverem seus conceitos como forma de se moldarem por dentro, por acharem que o que tem de melhor pra oferecer ao mundo também precisa ser renovado com frequência.
   Enfim, nessas voltas que o mundo dá, estamos todos sacolejando a todo instante com vistas a grandes transformações que possam efetivamente repercutir, tanto no particular quanto no geral, cada um em seu tempo adequado de afirmação, tal qual as roupas, cada uma com um tempo certo pra secar.
 
          

sábado, 8 de maio de 2021

O VELHO PALIATIVO

 


  Não adianta, não tem jeito, qualquer assunto que deveria ganhar a dimensão de um grande debate acaba se politizando e, para ser mais específico, se polarizando dentro de um ambiente onde dificilmente brotam as soluções para o problema em questão.
   Não seria diferente nessa operação policial na Favela do Jacarezinho, que num primeiro olhar só ganhou toda essa repercussão por conta do número de mortos no confronto naquela comunidade.
   Agora, restringir a discussão apenas pela classificação que cada lado rotulou o caso só empobrece o debate com essas contendas de redes sociais, onde uma parte chamou de chacina, outra, de faxina, como se o desfecho da operação, dentro de resultados práticos dependesse apenas da forma como o assunto é tachado.
   É compreensível que haja essa divisão de cunho ideológico, mas há outros fatores, outros elementos que devem ser incluídos na discussão, permitindo um outro posicionamento a respeito do problema, de forma que o verdadeiro debate transcorra fora desse ambiente de polarização.
   No caso da velha questão da segurança pública, todo mundo já está careca de saber de vários eventos anteriores que sem um planejamento adequado, levando em conta os outros tais fatores e elementos dificilmente se terá resultados promissores, isso é certo, inclusive, o próprio governador Cláudio Castro, recentemente confirmado no cargo, não anunciou nenhuma medida para o setor, como costumam fazer os mandatários ao assumirem o poder.
   Mas, de qualquer forma, a população sempre vai comemorar a eliminação de indivíduos que atentem contra a paz da população, contra agentes de segurança, enfim, que tragam instabilidade para a sociedade, mas tudo dentro de medidas que tragam as respostas que a população quer.
   Na verdade, essas incursões policiais de forma esporádica em comunidades estão longe de trazer a paz para a população do Rio de Janeiro. Veja bem, foram mortas cerca de 28 pessoas supostamente ligadas a ações criminosas, mas, e aí? Acabou o problema lá no Jacarezinho? O tráfico de drogas local foi interrompido de vez? A polícia desbaratou de vez a quadrilha, desmontando seu esquema financeiro? A paz finalmente voltou à comunidade? A cúpula de segurança pública do estado tem planos para ocupar o Jacarezinho e inibir a retomada da bandidagem local?
   Bom...na atual conjuntura não tem como responder positivamente a esses questionamentos, está estampado para todos verem aí, dando mais uma vez a impressão de um fato isolado, bem distante de uma proposta que amenize os efeitos da violência que há tantos e tantos anos vem trazendo agonia e apreensão ao povo do Rio de Janeiro, já calejado de tantos esforços que já foram feitos para estabelecer a tranquilidade que todos nós merecemos.
   A última vez que aventaram a possibilidade de eliminar toda a sorte de delinquentes de nosso convívio, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), todo mundo sabe que fim deu, foi apenas um ensaio de coisa séria.
   Portanto, é melhor que a questão da segurança pública e tantos outros problemas que o Rio de Janeiro tem seja discutido e conduzido fora do espectro ideológico, e sim, de acordo com nossas próprias necessidades, que tanto no morro quanto no asfalto são as mesmas, uma realidade que nem esse mimimi todo consegue esconder.

                          Foto: Revista Exame 
 

sexta-feira, 30 de abril de 2021

CRECHE AMORA EM AÇÃO


 
  Nesses tempos de pandemia, em meio à toda a agonia pelos efeitos da Covid-19 e à expectativa pela imunização de toda a população, sobra espaço, tempo e vontade para ações que visem o bem-estar das pessoas, com ênfase no futuro da sociedade.
   E nada melhor que implementar através das crianças esse projeto de inserção dos valores que possam interferir positivamente na formação de cidadãos conscientes do papel de cada um na sociedade.
   Foi com esse cenário e perspectiva que a Creche Amora do Flamengo organizou nesta sexta-feira(30)  a “Mostra Saúde Para Todos” com trabalhos produzidos pelos próprios alunos da escola.
    A exposição reuniu  fotos, cartazes, pinturas e colagens, todos com uma mensagem inserida, revelando num primeiro olhar a consciência e a importância de hábitos saudáveis no cotidiano das crianças.
   Através das brincadeiras em sala de aula, que deram origem a todo o material da exposição, as crianças tiveram noção de cidadania, educação,  higiene e, principalmente, solidariedade, que pela interação demonstrada nas fotos expostas, já desperta uma nova mentalidade nos pequenos, como uma marca para as próximas gerações.
   A Assessora de Comunicação da instituição, Nina Amorim, ressalta a importância da exposição para o crescimento e evolução dos alunos da Amora. Para ela, é importante que as crianças tenham responsabilidade social e um olhar mais humano para as questões sociais.
   Nina destaca ainda a função social da Amora e o trabalho que ela já desenvolve ao longo de sua trajetória. “ Nós já  trabalhamos há muito tempo esse conceito de cidadania nas crianças aqui na Amora”, disse a assessora.
   E seguindo os alertas sobre a pandemia a exposição mostrou os cuidados repassados às crianças com a higienização e os protocolos para o combate à doença, além de cartazes e fotos em defesa da vacinação em massa, apoio à Ciência e ao Sistema Único de Saúde, numa demonstração de alinhamento total da Creche Amora aos procedimentos de imunização contra a Covid- 19.
   A Mostra ainda aproveitou a ocasião e arrecadou alimentos para doação, numa ação bem alinhada à proposta da escola para a formação de seus alunos. Para Nina Amorim, a Creche Amora vai sempre pensar a criança para o futuro, para que ela tenha noção de cidadania e um olhar para o próximo.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

A FÉ NO BARQUINHO

 

  Já escrevi em alguma ocasião que a fé é uma força estranha, uma manifestação íntima de como as pessoas projetam suas vidas, dando-lhes direção. Bom.. estranha não é, pois já se convencionou utilizar os instrumentos de fé para propósitos de qualquer natureza. Pode até ser estranha para muita gente a forma como a fé  se manifesta na mente voltada exclusivamente para as coisas positivas que cada um reivindica para si, em que tudo vai fluindo e de repente aquilo que mais se desejava se materializa à sua frente, como num passo de mágica.
   Deve ser estranha mesmo para muita gente essa conjunção de fatores ao sabor das maiores e melhores energias configurando justamente o cenário que você projetou para a sua vida no futuro, ou como urgência de um desafogo de ocasião. Para muitos deve ser mesmo  muito estranho que haja essa conexão direta e imediata por via espiritual e a construção de tudo que se possa acreditar como possível na vida.
   Só não é estranha para quem já se acostumou a atingir seus objetivos por intermédio da crença que cada um pratica. Só não é estranha para quem sente constantemente na pele e na alma a força que surge quando se eleva o pensamento para o plano espiritual em que tudo se desenrola favoravelmente.
   É nessa parte que a fé é íntima, pois fica restrito ao seu universo particular, ainda que você projete suas esperanças e certezas para o mundo e a humanidade em geral. Você se recolhe à sua própria importância de vida; se desliga do mundo ao seu redor, das pessoas, até da rotação da Terra. O coração só pulsa pela expectativa do melhor que vai acontecer, da grande graça que virá, da grande dádiva que você fez por merecer nesse momento sublime de recolhimento interior.
   Muita gente não vai entender como você resolveu suas crises, seus conflitos internos, suas dívidas e vícios porque não sabem que você se concentrou para isso. Quando todo mundo nem imaginava que seu barquinho saísse do cais, eis que ele já até voltou da tempestade. Foi justamente no momento de maior perrengue, o barco quase à deriva, que você se fortaleceu para esse retorno triunfal.
   Diante de grandiosos acontecimentos em sua vida, é natural que a sua fé cause esse estranhamento nas pessoas que estão completamente alheias à sua satisfação interior. É até melhor que ninguém saiba o que se passou durante a sua angústia; o melhor é que sua fé sirva de exemplo e estimule qualquer um  a receber uma grande graça também.
    E assim o advento de grandes projetos ou dos desejos mais intensos tem na força interior o seu nascedouro. Para uns funciona com a conexão direta com Deus, para quem a gente entrega todos as nossas necessidades, aspirações e sonhos que acalentamos. Para outros se desenha com a interferência de um grande anjo que atende nossos anseios e sopra pra bem longe tudo aquilo que nos aflige, e torna sem efeito todo o mal que lançam em nossa direção, atingindo nosso lar e as pessoas que amamos.
   Fica a cargo de cada um a liberdade de clamar por sua felicidade, sua paz, prosperidade ou outros elementos que preencham a vida, desde que esse processo não cause tragédia aos outros.
   Não acho que exista outro meio de alcançar uma grande graça. Prefiro acreditar que é por meio de um projeto de fé que nascem as maiores conquistas.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

OS ANJOS ESTÃO PARTINDO


  De todas as tragédias que sacodem a humanidade, já está provado que aquela que fustiga as crianças é a mais cruel.
   Não seria menos sofrível se estivéssemos hoje apenas capitulando as vezes em que todos os anjos perderam suas asas para sempre, mas é doloroso demais saber que ainda rola esses eventos em que uma criança se perde ao sabor da estupidez humana.
   Talvez até o velho argumento do destino reservado às pessoas se perca completamente quando quem parte é alguém que pode não ter merecido esse destino; quando quem se esvai nas nuvens poderia fazer a diferença entre nós.
   Agora, os sonhos do indefeso Henry Borel e de tantos outros anjos viraram uma grande lacuna que nunca será preenchida, nem se a lei daqui tivesse o martelo mais pesado do mundo. Se a mão pesada de Deus castigar quem operou essa crueldade ao menino, apenas o próprio anjo receberá o conforto no plano em que ele estiver agora ou para sempre. 
   Para nós que ficamos aqui embaixo, fatalmente veremos a repetição de velhos erros, porque isso já é recorrente na natureza humana, esse negócio de a vida não valer nada. Não há lei que faça reparações à altura do que choramos hoje, aquele pai aos frangalhos tentando juntar os caquinhos, sem a garantia de que ele vai conseguir prosseguir, ainda que sua dignidade e amor estejam intactos.
   Pelo andar da carruagem, estaremos fadados a morrer de angústia ou pelo ódio dos semelhantes, porque dificilmente a ganância, o poder, a inveja vão se desvencilhar do pouco de beleza que ainda nos resta, porque essa gente maldita vai sempre arranjar um jeito de parecer decente usando o velho discurso moralista. Essa gente vai corromper o mundo pra atingir seu objetivo, nem que ele tenha que sujar seu próprio  sangue e sacrificar sua cria pra fingir que é poderoso. 
   Já foi o tempo em que o perigo rondava as ruas, nossas sombras fugindo das bombas, aquele pavor em cada esquina, apenas isso, era só voltar pra casa, tranquilo. Mas eis que vem de berço o infortúnio dos anjos, que por uma conjunção de fatores ou desgraça, como queiram, nasceram do ventre de seu próprio inimigo, porque o poder, o capital estão desfigurando as famílias, quando muitos imaginavam que essa instituição, a mais nobre, por sinal, seria a única fortaleza de pé ao final dos tempos. 
    Quando a gente já sentia um tempo nebuloso pela pandemia e outros males dos novos tempos, eis que o mundo já vinha  definhando pela partida de nossos anjos.
    

quinta-feira, 1 de abril de 2021

A RESSURREIÇÃO

 

   De todos os simbolismos que cercam as religiões que nasceram no Egito, a paixão de Cristo é o que mais se aproxima da proposta de interação entre povos, nações e as pessoas em seu cotidiano. Tudo bem que houve uma mudança de rumo, em que inaugurou-se o fundamentalismo, esse velho expediente de impor falsas verdades supremas. Nesse quesito, tanto o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo estão no mesmo patamar.
   Se hoje a Bíblia, a Cabala e o Alcorão são decifrados dentro do espectro do poder, não era essa a proposta, mas é visível que com o tempo os cajados de todos eles tomaram formato de cetro até virarem mão de ferro, muito usada nessa  era contemporânea. Basta observar os eventos de guerras, intolerância e falta de ternura com seu semelhante para se confirmar essa leitura diferenciada dos códigos.
   Se eu não estiver enganado, Jesus Cristo criou essa metáfora de que todo mundo teria de carregar sua própria cruz e ao mesmo tempo olhar todos ao seu redor com um único amor, justamente para que fôssemos fortes até um dia, quem sabe, conseguir  evoluir como pessoa humana.
   Se Ele ressuscitou, de repente foi um sinal de que o Cristianismo faria mesmo esse feedback de tempo em tempo para ver se essa gente toma tendência  na vida, porque tá sinistro aqui na Terra essa relação entre os homens de boa e má vontade.
   De qualquer forma Ele vem pra dizer que ninguém entendeu sua mensagem. Vai pagar geral, mas de forma sutil, sem perder a ternura, claro. Pode até  mandar um “Glória a vós, Senhor” pra ficar bonito, mas a última palavra é Jesus Cristo quem dará.
    - Isso é só uma ideia que eu estou vos dando!

quarta-feira, 17 de março de 2021

GRATIDÃO

 

   Tem dia que as árvores nem balançam de tão sinistro que fica o dia. Não tem nem como chamar de calmaria, de sossego, esse estado em que nada se move.
   Na cultura dos pássaros deve ser mesmo  tenebroso uma árvore que não se move que eles nem pousam por ali, ou talvez eles até saibam que um silêncio é necessário por ali, daí irem cantar em outra freguesia.
   Mas o que era estranho, medonho e sem sentido acaba sendo revelador, pois é de um silêncio desse que a gente precisa. Na verdade, nada era tenebroso e triste, tudo era de propósito mesmo, aquela conjunção de fatores conspirando a seu favor.
   Num estado normal de cantoria dos passarinhos, da brisa que abraça as pessoas, esse corre-corre de gente respirando e sobrevivendo, passam mesmo despercebidos as tragédias e um monte de gente partindo pra nunca mais voltar.
   Por um instante a gente até esquece quanto tempo já dura esse negócio e até quando vai continuar esse martírio das pessoas perdendo o fôlego e sumindo do mapa. Por um instante a gente até esquece quantas pessoas nunca mais veremos, porque o cansaço desconfigura a memória. O cansaço de tanto sentir saudade de quem era a extensão de nós. Porque cansa, demanda energia ficar rebobinando a fita e enxergando cada vez mais distante alguém que continua sendo nossa referência e inspiração.
   Agora só há espaço na mente para prosseguir; só há espaço para lutar e insistir; e um cantinho bem apertadinho lá no fundo do hipotálamo  para agradecer a tudo isso. Porque não pode passar em branco a coragem que você ganhou, e o quanto a gente se fortalece mesmo sofrendo revezes a todo instante.
   O cara que perde a mãe, o pai, aquele abraço predileto, sai driblando tempestade e ainda mete um gol, esse cara somos nós que fomos escalados para contar histórias. Esse cara somos nós que vamos oferecer o que temos de melhor. Há um propósito para esses caras que somos nós, que vamos rever as pessoas que nos inspiram e os lugares que nos encantam, não demora muito.
   Daqui pra frente, tudo que envolve esses caras que somos nós é passível de gratidão, desde a grande conquista de continuar a caminhada, passando pelo privilégio de resistir às perdas e a expectativa de um novo horizonte.
   Gratidão sempre.
    
 

sábado, 13 de março de 2021

MISTURA

 

    Parece que houve uma mudança de rumo em nossos planos de se vacinar. Eu falo nossos porque a maioria quer se imunizar, tem até pesquisa comprovando. Dá até pra dizer que passamos de fase, houve uma evolução.
   Se antes mais parecia que ninguém tomaria vacina alguma por causa da implicância do Paulo Guedes em gastar dinheiro, aos poucos o Bolsonaro vai se dando conta de que vai ter de morrer na mão de alguém que venda vacina, não tem jeito. Já teve gente até tentando desenrolar com os chineses pra liberar a mercadoria sem ressentimentos e crise diplomática.
   O Rodrigo Maia não guardou mágoa pelo Baleia Rossi e ligou também pra ajudar; até o Lula, quem diria, também passou um zap pro chinês, lá, dando aquela moral. Afinal de contas, é o Brasil acima de tudo, né, gente.
   Agora a minha dúvida é saber qual delas eu vou tomar, se eu vou poder escolher lá na hora, enfim, ou se eles é que vão decidir qual a que combina com o perfil de cada um, tudo ali, rapidinho pra não atrapalhar a fila.
   O problema maior é a segunda dose que terá de ser a mesma da primeira, já foi tudo acertado, combinado direitinho,  segundo determinação das autoridades sanitárias. Daí que esse negócio de sair comprando tudo pode dar ruim depois. No final das contas vai ter, sim, mais de quatrocentos milhões de dose, mas vai ter de fazer igual ao jogo da velha, os pares certinhos, senão o cara quando voltar lá pra tomar a segunda dose não vai ter a mesma.
   Lembrei agora daquelas resenhas de churrasco, que você leva sua Brahma e no final tem de beber a Itaipava do malandro.  Às vezes, no dia seguinte, você nem lembra que a saideira tinha um gosto diferente.
   Pois é, com as vacinas também não tem como saber o efeito de eventual mistura, se vai alterar o genoma, virar jacaré ou embaçar a vista, sei lá... tá muito cedo e ninguém especulou sobre isso até agora.
   Então, o ideal é não misturar. Até porque, essa nova variante ai, já completamente adaptada ao meio, como bem sugere a seleção natural, já mostrou que veio pra ficar, ficar bagunçando o coreto. Quem é bebedor sabe disso.

quinta-feira, 11 de março de 2021

O STF SOBRA NO BRASIL

 

    Certamente ia dar pano pra manga a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin de anular as condenações do ex-presidente Lula nos processos referentes à Lava Jato.
   Nem conta como algo que se possa aproveitar as discussões acaloradas nas redes sociais, porque essas resenhas se restringem ao emocional, à paixão, ao fanatismo, elementos que põem mais combustível na velha polarização, sem no entanto acrescentar algo positivo, racional, melhor dizendo. Lembrando que por causa desse comportamento irascível tem gente presa e outras sendo investigadas, justamente por disparar verbos e adjetivos à imagem do STF, numa prática bem corriqueira em Facebook, Instagram e Whatsapp,  nas timelines e storys de gente teleguiada e sem noção.
  Mas isso é completamente irrelevante dentro das considerações  que as pessoas de bom senso fazem para  analisar os fatos da nossa realidade, da nossa história, enfim.
   Agora...falando com toda a seriedade que o assunto sugere, houve quem criticasse a demora do STF em chegar à conclusão sobre as tretas de Moro em conluio com integrantes do ministério público, em toda aquela saga para condenar o ex-presidente.
   Mas, o importante para a sociedade foi a disposição da Suprema Corte, ainda que em caráter monocrático, de interpelar a atuação de um integrante do próprio meio jurídico, no caso do agora ex-juiz Sérgio Moro, que mesmo de instância diferente, não desmantela o corporativismo, que dentro da cultura de qualquer  atividade costuma blindar seus pares de eventuais contratempos em suas funções. Se há registro de algum magistrado que tenha sofrido alguma represália ou punição por sua conduta no ofício, talvez demore um pouco mais até que apareça outro caso com a mesma repercussão das tramoias do Sérgio Moro pra prender o Lula de qualquer maneira, atropelando os trâmites  legais, como bem entendeu Edson Fachin em sua explanação e veredicto.
   Nesses tempos em que a democracia brasileira vive momentos extremos, com ataques de toda ordem, não deixa de ser emblemático que uma decisão dessa natureza, num momento mais que oportuno,  passe a ideia de fortalecimento das instituições, com efeito o próprio STF, que demonstra estar atento a qualquer tentativa de ruptura de qualquer coisa que faça parte da democracia, inclusive o estado de direito.
   O Brasil já viveu tempos sinistros, em que era impensável uma agenda institucional assim tão transparente, digna e comprometida com os ideais que foram firmados com muito esforço no processo de redemocratização do país.
   Ainda que passe despercebido de uma parcela extremamente retrógrada, ignorante e alienada, como se vê no comportamento nas redes sociais, é fundamental que o Supremo Tribunal Federal tenha essa iniciativa, esse compromisso com a democracia, ainda mais por ser o STF o guardião da constituição brasileira.
   A corrupção no Brasil é uma das muitas mazelas que precisamos erradicar, mas dentro do espírito democrático; conforme os mecanismos de segurança e justiça permitem; de acordo com as prerrogativas de cada agente envolvido; sem passar por cima de ninguém nem das leis.
   Se há homens frágeis e imorais para encarar esse grande desafio, temos instituições sérias e fortes como o Supremo Tribunal Federal para implementar esse grande projeto.
 

segunda-feira, 8 de março de 2021

TODO PODER ÀS MULHERES

 

    O único ambiente em que se pode verdadeiramente  discorrer, debater, analisar, implementar e botar em prática quaisquer procedimentos, decisões e atualizações pertinente ao universo das mulheres é o cenário político, não tem jeito.
   As constantes divulgações  de dados e informações dos indicadores sociais referentes às mulheres mostram e sugerem a urgência de políticas públicas que remexam todos esses números atuais  que revelam a discrepância de conquistas, direitos, oportunidades e necessidades das mulheres em todos os seus níveis de atuação na realidade brasileira, que pelo tempo que passou já era para estarem completamente atualizadas, dada a presença cada vez mais forte das mulheres na sociedade.
   A gente transporta tudo para o ambiente político para dimensionar o debate dentro do espectro do poder, que é onde de fato vão se desenhar novos rumos e reverter o quadro atual de danos às mulheres em todos o seus estratos sociais.  É no ambiente político que são traçados todos os projetos que embasarão a importância de todas as mulheres do Brasil.
    É no ambiente do poder que vai se fazer valer a questão da representatividade, o elemento mais importante para se buscar soluções de ordem social, econômica e cultural dentro da agenda feminina. Não tem como resolver questões de qualquer natureza, sem que haja uma representação fiel do universo das mulheres nas casas legislativas, principalmente. Quando se fala de todas essas aberrações que a gente vê  sendo divulgadas constantemente na mídia, a principal delas, a violência contra as mulheres, é no meio político, na seara do legislativo, mais precisamente, que surgirão os mecanismos que vão se adequar à atual realidade brasileira no que se refere à direitos, igualdades e penalizações, toda vez que houver um chamamento para equiparar as oportunidades ou reparar os danos causados às mulheres ao longo de todos esses tempos.
    Para isso, é preciso que mais mulheres componham os parlamentos municipais, estaduais e federal, de forma que se reproduza fielmente o universo das mulheres de todo o Brasil. Apenas com um número cada vez maior de mulheres deputadas, vereadoras, prefeitas, governadoras e presidenta é que será possível fazer alterações nos códigos em vigor, leis penais e trabalhistas, para começar a diminuir o impacto social que agressões às mulheres, por exemplo, geram na sociedade, sem que o atual mecanismo jurídico não puna com o rigor necessário, assim como a discrepância salarial entre gêneros nos quadros trabalhistas das empresas precisa ser equacionada dentro de uma agenda completamente inovadora nesse sentido.
    Todas as mudanças que permitiram uma presença cada vez maior das mulheres na sociedade brasileira seguiram o fluxo normal que também se verifica em outras nações,  inclusive, mas no Brasil sempre houve essa lacuna da representatividade que agora precisa ser preenchida com a urgência e celeridade que a questão sugere. Louve-se a luta de todas as mulheres que ao longo desses anos, dessas décadas, conquistaram seu espaço e deram voz a tantas outras que não tiveram como soltar o seu grito de liberdade e conquista.
   Aos poucos a gente vai vislumbrando esse novo horizonte, em que uma nova composição no cenário político vem trazendo mais reconhecimento e conquistas para as mulheres, apesar da resistência de uma sociedade ainda machista e preconceituosa, que ainda tenta emperrar esse processo.
   Agora, mais do que nunca, todo o poder às mulheres, para que haja de fato uma luz de modernidade na sociedade brasileira como um todo.
 

quinta-feira, 4 de março de 2021

O INDIVÍDUO COLETIVO

 

   Não há nada na vida que não haja retorno. Não há nada na natureza humana que não tenha uma compensação. Assim como uma sorte tem um momento de tensão, um sofrimento qualquer tem um conforto, um alívio.
    Só que nessa pandemia, pelo menos aqui no Brasil, há um efeito perverso em toda essa expectativa de prevenção, tratamento e cura da população. Isso acontece nesse ambiente em que a política interfere negativamente nesse processo de imunização da população, numa agenda que protesta contra o isolamento, em função da economia das cidades, do país, mas se arrasta no expediente de aquisição das vacinas.
   Ou seja, tirando esses indivíduos que insistem na aglomeração frenética, há um consenso de que a reboque do isolamento e suas consequências na renda dos brasileiros, que venham os benefícios que na verdade nem poderia ter sido interrompidos, e as vacinas que trarão a segurança para cada um tocar sua vida novamente e com efeito as finanças do país com um todo. É um cenário que revela uma das essência da natureza humana: a cota de sacrifício e a recompensa ao final de tudo.
   Mas pra não dizer que não há nada que possa amenizar a angústia de todos, resta a fé das pessoas, realimentando a todo instante a esperança de uma solução imediata; resta aquele abraço revigorante quando há a oportunidade de um encontro; uma mensagem sequer de alguém distante em forma de carinho; resta o aplauso para mais uma vida que renasce.
   São ações isoladas que fazem muita diferença na questão humanitária. Talvez seja a única coisa positiva de caráter individual, no momento em que o coletivo é que deveria nortear o melhor caminho para todos. É cada um fazendo a sua parte dentro de um propósito bem particular de vida, dentro de um projeto pessoal de fazer o bem e pronto.
   É um conforto maravilhoso para os olhos, para a mente, para o coração ver um sujeito qualquer surgindo do nada e oferecendo o que tem de melhor, como a professora, que movida pela saudade se embalou em um plástico gigante e foi de casa em casa abraçar seus pequenos. Ou do cara que parou aqui na esquina da minha rua com seu saxofone e soltou um louvor seguido de pregação, e foi efusivamente aplaudido pelas pessoas nas janelas. Ficou a sensação de que as pessoas precisavam daquele conforto, chegou em boa hora. Eu mesmo renovei naquele instante minha crença num mundo melhor. Se não for pela força do conjunto, a união de todos e tal, haverá sempre alguém munido de um cajado, de boa-fé, com sabedoria, luz e amor a serviço da humanidade.
   Por mais paradoxal que seja afirmar, essas aglomerações revelam a dificuldade de organização do homem em seu papel social, e os males do mundo vão se remediando, mais pela ação isolada do homem, o isolamento em todos os sentidos.
   O conforto do coletivo em caráter individual.

segunda-feira, 1 de março de 2021

A HORA DO RIO

 

   No aniversário da cidade do Rio de Janeiro a gente até faz alguma reverência pra não deixar passar em branco a importância desse lugar maravilhoso para todos aqueles que aqui vivem.
   A gente até faz uma menção qualquer, mas sob outra ótica, não mais com ênfase nessa estética dos cartões-postais, cujos clichê e retórica não condizem mais com a realidade do Rio de Janeiro.
   A minha rotina diária por aqui me permite avistar o relógio da Central do Brasil todos os dias, e já faz muito tempo que eu vejo sempre o mesmo horário marcado lá no alto daquela torre, os ponteiros parados no mesmo ponto todos os dias, como se não fosse mais relevante marcar o tempo na cidade; como se não fosse mais importante para todos saber o tempo das coisas ao nosso redor, o tempo de cada um, o tempo da própria cidade maravilhosa, apesar de toda a efervescência que revela justamente o tempo e as pessoas andando de um lado para o outro.
   Pois o Rio de Janeiro cresceu assim, cheio de contradições misturadas à sua atmosfera,  em que o simbolismo do tempo, mais precisamente o tempo do relógio da Central, é uma síntese da realidade da cidade hoje.
 Além daqueles ponteiros completamente imóveis, estáticos, parece que muita coisa parou no tempo no Rio de Janeiro. É como se nada andasse por aqui há muito tempo, apenas as pessoas, porque alguém tem de trabalhar nessa cidade, e o povo é o único elemento que se pode exaltar, pela luta e resistência a todos os problemas que sempre fizeram parte de nossa agenda.
   Ao longo desses 456 anos, se houve transformações ficaram no plano estético em sua grande maioria, pois o mais importante do conjunto que é o Rio de Janeiro, a vida das pessoas, o bem-estar, o conforto, a segurança e a satisfação de viver por aqui, tudo isso teve muito pouco investimento, muito pouca atenção por parte de quem se aventurou em fazer do Rio de Janeiro aconchegante para os próprios moradores, mas não atingiu o seu objetivo, porque nunca governaram com o mesmo espírito da população, nunca tiveram a raça, a coragem e, principalmente, a responsabilidade que cada carioca tem de cumprir o seu papel.
   Porque, se tem uma coisa que nunca parou de funcionar por aqui é o povo respirando, correndo atrás, suando a camisa e carregando o seu fardo em sua rotina diária, faça sol ou chuva.
  Apesar de toda a angústia, sofrimento e apreensão dos cariocas como um todo em seu dia a dia, há em cada um a expectativa de ver o relógio da Central voltar a funcionar novamente, aqueles ponteiros gigantes mudando de lugar a todo instante, inclusive, iluminados também à noite, revelando o brilho da nossa cidade; marcando o tempo exato da cidade, pra mostrar a todos que o Rio de Janeiro precisa voltar a funcionar de fato, dando moral aos moradores, não ao forasteiro, ao visitante que só vem em época de festa e pega tudo arrumadinho por uns dias.
    Se o melhor do Rio é o carioca, tudo que pode e deve melhorar por aqui será pensando na população, que não vê a hora de voltar a ter orgulho de viver na cidade maravilhosa.
  
    
     

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

POLÍTICO BOM É POLÍTICO DURO

  
   Aos poucos a corrupção no Brasil vai ganhando novos contornos, novos elementos, até, se adequando aos novos tempos, melhor dizendo, com o objetivo, claro, de eternizar essa velha prática.
   Se o modus operandis da atividade continua o mesmo, já que com o tempo foi se chegando a um modelo ideal de se usurpar a coisa pública com menos riscos possíveis, a forma como ela é tratada, conservada e protegida é que vem sofrendo alterações ao longo dos tempos. Com o advento de novas ferramentas, por que também não seguir novas tendências?
   Com a prisão do deputado Daniel Silveira acendeu um sinal de alerta entre os pares com a iminência de riscos à carreira dos parlamentares. Não que a decisão do Supremo Tribunal Federal de prender o sujeito tenha sido descabida, que os ministros da corte tenham excedido os limites que a lei estabelece. Muito pelo contrário, foi tudo legal, dentro dos conformes de como reza a própria constituição.
   E é justamente ai que mora o perigo, essa facilidade que a lei oferece de frear o ímpeto dessa gente sem vergonha; de deter a sanha de vossas excelências em suas práticas corriqueiras e isso de repente virar um grande filão, imagina, a mamata com seus dias contados com novos tempos, agora de perseguição aos corruptos de todo o Brasil.
   Pensando nisso, não foi difícil para os nobres deputados quase vararem a noite e articularem uma emenda à constituição para restringir a atuação do Ministério Público e da justiça contra os parlamentares que vierem eventualmente a mijar fora do penico daqui pra frente.
   A ideia é que o malandro preso fique sob a tutela do próprio Congresso, e os membros da Comissão de Constituição e Justiça da casa encarregados de decidir o destino do sujeito, que de repente poderá  ficar numa salinha reservada e confortável pra despachar, tocar os negócios, visita íntima, olha que bacana, bem aos moldes dos outros circuitos carcerários, mas como já foi destacado, gente, tudo dentro da lei, pra não ter reclamações posteriores e ao mesmo tempo sempre passar a ideia para a opinião pública de que a nossa democracia pode até tá bagunçada em algum aspecto, mas sempre prezando pela legalidade e o estado de direito.
   Portanto, se agora vai ser mais difícil ver os caras presos, resta agora à sociedade mudar também a forma de se indignar com os futuros escândalos. Não adianta mais ficar reivindicando prisão nas passeatas, nas redes sociais  que não vai rolar.
    A própria justiça em todas as suas instâncias, juntamente com os órgãos de investigações vai ter de mudar também todo esse entendimento e interpretações e outros procedimentos que antes visavam exclusivamente o velho e agora completamente obsoleto expediente de ver o sol nascer quadrado.
   O grande lance agora é priorizar o desmonte do poder econômico do cara, como já fazem com os outros bandidos, os das comunidades, naqueles derrames de armas, materiais e dinheiro, que deixam os caras totalmente desarticulados, num expediente que se estendido aos gabinetes pode também ter o mesmo efeito, vai vendo.
   Apesar de toda essa movimentação corporativista da Câmara dos Deputados para proteger seus pares, eles ainda vão precisar de seus advogados. Pois é. É justo o cara ainda usar o próprio dinheiro desviado pra pagar os honorários? Às vezes usam o dinheiro até pra comprar voto, olha só. Já não basta comprar carro, apartamento e fazenda no nome de parente?
   Da mesma forma que os parlamentares se anteciparam nessa blindagem explícita e imoral, dentro do que se permite interpretar, o judiciário também pode perfeitamente adotar novos procedimentos, deixar os caras sem grana, simplesmente. Por mim pode ficar por ai, livre, cumprindo expediente, se não quiser ou puder cassar o sujeito, mas sem usufruir do dinheiro da treta. Quero ver tirar essa onda duro, vagabundo, assim é mole, é como vai explanar muita gente nesse novo cenário e expectativa.
   Pode ser até que lá na frente a Câmara reaja a esta  essa nova investida contra a corrupção, ponderando que a classe política precisa ter dinheiro pra gastar e com isso movimentar  a economia do país, ora bolas. É um montante considerável para um país que precisa recuperar suas finanças, enfim...
   Mas não deixa de ser interessante essa prática como regra, cancelar as finanças, interditar o empoderamento dos bandidos, já que prender vai ficando cada vez mais difícil. De repente político bom é político duro.