sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Feliz Ano Velho

     É sempre assim nesta época do ano: uma parcela fica fazendo projeções para o ano seguinte e a outra, um balanço antes do apagar das luzes. Seja qual for a perspectiva de um ou de outro, o cenário nacional teve mais destaque do que qualquer acontecimento regional ao longo do país.
     Ficamos sabendo agora que o Brasil cresceu algumas posições, ultrapassando, inclusive, nações há muito tempo com economia estável, como a Inglaterra, veja só. Só que isso não é motivo para comemoração, considerando, não só os efeitos desse distúrbio global na economia brasileira, como também a grande dívida social dentro da nossa realidade de país, ainda em desenvolvimento.
     Num ano em que eclodiu crises em vários países, principalmente na Europa, é muito difícil falar em crescimento, num momento como esse, de dúvidas e incertezas. As nações que não sofreram os efeitos da crise, apenas sobreviveram porque as políticas locais incentivaram o consumo interno, o que de uma certa  forma movimentou alguns setores do parque industrial, gerando emprego e renda, como aconteceu aqui no Brasil, ajudado pelas políticas sociais, como o Bolsa-Família, sempre injetando um montante considerável de dinheiro na praça.
      O tal crescimento, tão alardeado aos quatro cantos, continua sendo a boa e velha engenharia financeira que as equipes econômicas acabam adotando em momentos críticos para amortizar e mascarar algumas políticas, que de repente pode até está respirando por aparelho, mas que se esvai por meio de arrocho e sacrifício à população.
      Tudo bem que felizmente não vivenciamos isso aqui no Brasil. Aos olhos de muita gente, parece até que essa crise mundial não vai trazer sérias consequências, que estamos, enfim, imunes a isso. Mas, para um país como o nosso, ainda construindo um futuro melhor para o seu povo, ter um bom conceito no cenário internacional, por estar suportando essas intempéries, ainda  não traz a satisfação e o bem-estar que a sociedade almeja.
     Seria interessante considerar que o crescimento de um país fosse o resultado de suas relações além fronteira e o compromisso com as coisas públicas, leia-se as necessidades básicas de saúde e educação, principalmente. Mas, quando vislumbramos nossos números sociais e as mazelas como consequência, chegamos a conclusão de que muita coisa precisa ser feita para que sejamos uma nação em crescimento efetivamente.
      Não adianta a essa hora do campeonato ficar enumerando nossos problemas, as tarefas e a lista de prioridade. Mas certos problemas saltam aos olhos, pela dimensão e urgência com que o poder público e a sociedade vão se debruçar, se queremos de fato construir uma sociedade mais justa.
      Esta semana o Conselho Nacional de Educação anunciou que há um déficit de 300 mil professores na rede pública de ensino em todo o país. Não custa lembrar que há décadas e gestões passadas a questão da educação não vem tendo a atenção devida, fazendo com que a crise do ensino no Brasil tome dimensão continental.
      Foi-se o tempo em que vários projetos de interesses públicos não andavam por falta de recursos. Hoje, apesar de alguns ajustes, nossa economia está bem fortalecida, suficiente para viabilizar o que for mais urgente para o Brasil. Não há dúvidas de que no próximo ano a presidenta Dilma Rousseff vai dar prosseguimento à sua proposta de governar o país, com vistas ao desenvolvimento. E a questão da educação não poderá ficar de fora desse grande projeto, sob pena de eternizarmos cada vez mais nossas próprias mazelas.
     Acredito firmemente que o passado de luta da nossa presidenta vai impulsioná-la a fazer o Brasil viver esses novos tempos.
      A começar, já, em 2012.

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       Um Feliz Ano Novo a todos aqueles que prestigiaram esse breve espaço ao longo do ano!!!!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Barcelona e os rumos do mundo

      Tem um monte de gente do mundo futebolístico, técnicos, jogadores, torcedores, matutando um modelo que se equipare a esse esquadrão que passou por cima do Santos. Certamente serão noite sem dormir e muitos debates de como se faz para chegar a um nível como esse do time do Barcelona. 
      Só que a dimensão que pode se dar do triunfo da equipe campeã do mundo é muito maior do que o exemplo a ser seguido nesse velho esporte bretão, dentro das quatro linhas.
      Até dirigentes que acham que entendem de futebol e que também não manjam de administração devem estar batendo a cabeça para encontrar um meio de conciliar esse sucesso todo com a mediocridade da cartolagem que assola o primeiro, o segundo e demais divisões do futebol brasileiro.
      Nunca pensei que o triunfo de um time de futebol fosse provocar tanta discussão acerca dos rumos que o futebol pode tomar daqui para frente, não pelas conquistas que o Barcelona teve ao longo dessas últimas disputas, na Espanha, no continente europeu, e agora, em âmbito mundial, em que se confirmou o que já se esperava de um time campeão dentro e fora das quatro linhas.
     Mais do que revolucionar as administrações de primeira, segunda e demais divisões do futebol por aí afora, a apoteose do Barcelona é uma síntese do que pode acontecer quando o coletivo se sobrepõe ao individual, porque o mundo não terá o destino sustentável e politicamente correto enquanto o individual, do cada-um-por-si, continuar sendo a tônica desse sistema global, de desregramento dos grupos sociais, das instituições, num ambiente em que, paradoxalmente, as redes sociais vão integrando mais e mais indivíduos.
      Está todo mundo discutindo novas táticas para se chegar à cara do gol, acreditando que um lampejo daquele craque pode decidir tudo. Nesse último campeonato brasileiro, os dois primeiros colocados, o Corinthians e o Vasco da Gama tiveram como características a força do seu conjunto, enquanto as outras equipes dependiam de um ou outro jogador do plantel.
      Infelizmente, o futebol não é o único ambiente em que se constata esse contrassenso de gol-contra, bola na trave, antes que o apito final interrompa um tempo de glória. Essa crise econômica que abala os dois extremos de um mesmo vetor nunca se resolverá, enquanto as cabeças pensantes não mirarem o aspecto coletivo. Não adianta as grandes nações se reunirem para uma grande causa e na hora H cada um defender seus interesses. Por isso que os encontros em Davos, Copenhagen, Kioto, Rio e outros fóruns não deram certo.
     É o pobre mundo do futebol de várzea e suas pátrias sem chuteiras.
   
     
     
      

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Paternalismo de resultado

     Antes dessa crise que vem rondando os quatro cantos do planeta já havia a preocupação de se proteger de eventuais contratempos que pudessem comprometer as políticas em andamento, mesmo que esse processo não abarcasse todos os estratos sociais. 
     Até os governos pelo mundo afora já adotavam aquela prática de farinha-pouca-meu-pirão-primeiro. Com a responsabilidade de seguir as metas propostas pelo orçamento disponível, o estado resolveu se encolher, já que alguns serviços poderiam ser dispensados pela iniciativa privada, mesmo que à meia-sola, como se verifica hoje.
     Quando a Dama de Ferro inaugurou a era de privatizações, a maioria dos governos descobriram um  grande filão para enxugarem as suas contas, sem interromper outros grandes projetos e mantendo o status quo oficial.
     Infelizmente, aqui no Brasil o conceito de Estado mínimo tem um outro significado, e o velho paternalismo que remonta os tempos do descobrimento ainda continua vivaz, fazendo os deuses do Liberalismo darem cambalhota  em suas sepulturas, pelas diabruras que os agentes públicos contemporâneos insistem em perpetuar.
      Se antes havia a preocupação em entregar à iniciativa privada parte dos serviços públicos, como transportes, energia e telecomunicações, hoje a decepção pela qualidade do que se oferece à população aumenta, à medida que o cidadão vai desembolsando muito mais por um serviço que ainda não atingiu o grau de excelência que o povo espera.
      Além da competência com que essas empresas atuam na gestão dos serviços públicos, a sociedade já questiona a participação do poder público na questão dos investimentos que vêm onerando os cofres públicos, sobremaneira, fazendo com que o cidadão comum pague duas vezes pelo mesmo serviço, como pode ser comprovado, por exemplo, quando o motorista é obrigado a pagar o IPVA e o pedágio, e ainda assim ele não recebe um serviço de qualidade, porque quando um ônibus pega fogo dentro de um túnel, numa via expressa, nem a concessionária que administra a via, nem a prefeitura tem um plano de emergência que evite o desconforto do motorista consumidor-contribuinte.
     Nas barcas da Praça XV, apesar de constantes eventos de avaria nas embarcações, a Agência Reguladora do setor autorizou aumento na tarifa, e pasmem, o governo ainda vai custear uma parte do acréscimo. Nos trens urbanos, a mesma aberração, com o governo do estado incumbido de comprar as composições.
      Eu não queria acreditar na incompetência da administração pública nos serviços dispensados à população. Prefiro considerar uma tendência que já se verificava, no século passado, de encolhimento do Estado, mas que permitiria investimentos mais consistentes em outras áreas estratégicas e prioritárias, como saúde, educação, segurança e emprego.
      Se pelo menos na nossa realidade, a onda de privatizações não trouxe os resultados que se esperava, há que se rever esse esdrúxulo modelo de administração dos serviços públicos, principalmente na área de transporte, em que o usuário é o mais prejudicado. Em qualquer área de atuação do governo, a parceria público-privado só será saudável quando o maior beneficiário for a população.
      O que não pode é esse paternalismo se alongar por todo esse tempo, sem atender às necessidades do cidadão que vota, paga imposto e ainda tolera as incongruências dos agentes públicos.
 
      
     
     

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Centro Brasileiro de Arqueologia

   Já está mais do que provado que não se pode evoluir sustentavelmente sem compreender os aspectos do passado, cujos elementos vão permitir que se prossiga adiante e sempre.
      Hoje, é fácil verificar o esforço que a comunidade científica vem fazendo para trazer à tona registros históricos, no espaço físico e documental, para o conhecimento público, de forma a viabilizar os empreendimentos, como construção de rodovias ou edificações, que porventura vierem a ocupar os espaços em que se encontrem os vestígios de outrora.
      Nesse transcurso de 50 anos do Centro Brasileiro de Arqueologia (CBA), o que essa entidade sempre buscou foi justamente os resultados que se verificam atualmente: trazer à luz da modernidade os conhecimentos necessários para o andamento sustentável dos projetos, em áreas urbanas ou rurais, onde estão depositados os materiais, sem desconsiderar a sua conservação.
      Esta semana, em comemoração a tão importante data, o CBA promoveu o II Encontro Latino Americano de Arqueologia ( II ELAA) com o objetivo de mostrar o quanto os arqueólogos vêm trabalhando para fazer chegar aos olhos da sociedade a riqueza arqueológica que pode resgatar toda a trajetória de nossos antepassados até os dias de hoje e elucidar todo o processo evolutivo das populações que habitaram nosso território, assim como as heranças deixadas para o período contemporâneo, em que as técnicas empregadas vêm sendo aprimoradas ao longo de dezenas de séculos. 
      Não foi difícil perceber que todo o trabalho do CBA ao longo desses anos vem trazendo os resultados no seio da comunidade científica, especificamente os especialistas em arqueologia, bacharéis, mestrandos e doutorandos, cujos trabalhos apresentados revelaram novos conceitos na forma de conservação dos materiais e manuseio do solo, tanto para permitir melhor aproveitamento nos trabalhos de campo, como também para adequá-lo às necessidades atuais, com ênfase na questão ambiental, e consequentemente, no espectro da sustentabilidade.
      A História Universal mostra que a sequência de fatos históricos da trajetória humana é uma adequação conforme seu meio e suas relações, o que pode ser comprovado pelas teorias postuladas em tempos remotos, diga-se Darwin, Karl Marx e outros que formularam ideias a partir de pré-conceitos.
     O CBA, dentro de suas prerrogativas de entidade científica, vai continuar seguindo o mesmo viés de tornar sempre coeso o passado e futuro, para que o homem consiga investigar sua trajetória, sem desconstruir a origem das coisas.
   
      
         

domingo, 20 de novembro de 2011

Consciência Negra

     Eu quero acreditar que houve mudanças no movimento negro no Brasil, que possam dar ao nosso país o rumo que deve ser tomado para que sejamos uma sociedade cada vez mais justa.
      Muito antes de o Almirante Negro se rebelar contra as chibatadas e Zumbi resistir bravamente em Palmares, os escravos já difundiam sua cultura nos canaviais, dançando a lida no campo para ludibriar o senhor, mas professando sua crença. No chiado do vento que balançava a cana caiana, a harmonia dos cantos que embalavam a labuta, enquanto a foice ceifava o vento e os pés descalços marcavam o massapê.
      Já vai muito o tempo em que começou essa trajetória de luta até os dias de hoje, quando muito pouco mudou. Depois que a Princesa Isabel deu aquela canetada, demorou um pouco mais para se discutir essa lacuna num país miscigenado.
      Hoje, infelizmente, ainda convivemos com o racismo impregnado nas relações sociais, nas picuinhas dos guetos, onde brancos e pretos se misturam na mesma miséria, mas batem de frente quando há um conflito em seu cotidiano; e na repartição, onde a hierarquia incolor ainda incomoda muita gente.
      Podemos comemorar alguns avanços que trazem alento a quem vê a sociedade com outros olhos, mas não o suficiente para diminuir as diferenças que se verificam nos números sociais, no que diz respeito às oportunidades dispensadas a cada estrato social.
      Como combate ao racismo demos um passo importante com a instituição da Lei Afonso Arinos, que busca reparações e punições para essa segregação que ainda insiste em se impregnar no tecido social. Ontem foi assinada a Declaração de Salvador, em que países de população negra, na África e América Latina se comprometeram a criar um fundo com o objetivo de construir mecanismos, não só para combater o racismo, com punições e reparações, como também programas de inclusão social como forma de trazer mais oportunidades na área de emprego, educação, cujos resultados podem remexer nos indicativos sociais, completamente desfavorável à comunidade afrodescendente.
      É muito bacana ver apresentadores de TV, artistas, esportistas e pessoas comuns, todos negros, ascendendo socialmente, mas é triste, por exemplo, ver a dilapidação de templos de Umbanda e Candomblé, no momento em que se discute a liberdade de expressão religiosa que os órgãos de imprensa não cansam de veicular.
      A própria instituição desse dia de hoje, para reflexão sobre a consciência de todos, mostra o quanto queremos erradicar de vez esse apartheid no nosso cotidiano.
       Axé!
        

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Rocinha

    Em meio a toda essa expectativa de retomada da Rocinha pelas forças de segurança apenas a tranquilidade estampada no semblante daquela gente pode ser comemorada. Pela dimensão daquela cidade com status de favela o desafio que o poder público vai encontrar é muito maior que a empreitada utilizada para prender o malfeitor daquela comunidade.
     Se formos considerar o histórico da Rocinha desde a sua gênese até os dias de hoje, esse projeto de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora em comunidades carentes deveria ter começado lá, onde a expansão local se confunde, não só com a geografia, como também com a expansão da cidade maravilhosa. 
      É claro que todas as comunidades representam o descaso de todas as esferas de governo com as classes menos favorecidas, e se hoje o governo está mobilizando forças e recursos para tirar aquela sofrida população das mãos do poder paralelo é porque desde um passado muito distante aquela região ficou esquecida, sem a atenção devida dos governantes que maquiaram a cidade ao longo desses anos, sem considerar que a integração entre as classes não poderia ser desdenhada pelo poder dominante.
    Mas a Rocinha é o que a gente pode considerar como a convergência entre o êxodo rural e a expansão urbana, numa época em que o Brasil estava deixando de ser rural, mas dependia da mão-de-obra vinda do semi-árido e cercanias para mostrar a cara para o mundo em seu novo conceito de país em desenvolvimento.
     O tal dever de casa não foi feito e a distância social e econômica que existe hoje apenas serve para dimensionar a miséria das vielas e a incompetência que vai mudando de mão, desde a época das urnas analógicas.
      No longo período de expansão urbana e especulação imobiliária foram os retirantes, fugidos da seca da Região Norte e Nordeste que fincaram terreno por aqui, em ocupações irregulares, contribuindo para dar forma de metrópole a uma cidade cheia de contrastes e contrassenso. E se do topo dos morros se vislumbra a imensidão da nossa selva de pedra, a Rocinha contribuiu para essa explosão demográfica, por ter se tornado o principal polo acolhedor da massa migrante para o Rio de Janeiro.
     Talvez seja essa a grande diferença entre a Rocinha e as outras comunidades espalhadas pela cidade. Porque os problemas sociais que se acentuaram ao longo de décadas são marca registrada de qualquer favela do Brasil, até.
     Com a retomada da paz nessas localidades pelas forças de segurança, o poder público finalmente dá os primeiros passos para fazer de nossa cidade maravilhosa em todos os sentidos e classes sociais.
     Mas é bom que se diga que o braço armado do estado não vai resolver sozinho aquele emaranhado de problemas espalhados por todos os cantos e becos. A tal parceria, tão alardeada pelo governador Sérgio Cabral, deve se materializar agora, com ações concretas que conduzam efetivamente a vida das pessoas, não só na questão da violência, mas também em outros indicativos, como saúde, educação, moradia, cultura e lazer.
    Só assim será possível fazer a integração social, abrangendo todos os estratos, com oportunidades para todos, de forma que os serviços públicos disponíveis se estendam à rincões e guetos. O momento é esse, de arregaçar as mangas e refletir sobre os rumos de uma cidade que se pretenda moderna e justa.
     Está mais do que na hora de a sociedade se conscientizar de que esses problemas do submundo são de todos, independente da posição em que ocupam na pirâmide social. Se deixam de recolher o lixo nas comunidades a cidade toda fica exposta à enfermidades; quando não se investe em educação nessas paisagens íngremes e assimétricas, a violência escorre pelas vielas e se espalha pelo asfalto.
     Não há oportunidade melhor para se corrigir os erros e vícios do passado. Então, aproveita que está todo mundo com a mão na massa e vamos reverter esse quadro. 
      
      

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Estado de alerta

     O que pode ser mais grave nesse cenário de calamidade no Rio de Janeiro? A sequência de eventos de barbaridade e medo à vista da população, ou a inércia do governador Sérgio Cabral em se pronunciar sobre os últimos acontecimentos, que se não ferem diretamente o cidadão comum, vítima contumaz da violência no Rio, atinge-o de qualquer forma, porque atenta sobre os seus mais fiéis representantes.
      Tanto no atentado à juíza Patrícia Acioli, amordaçada para sempre; ou no caso do deputado Marcelo Freixo, "convidado" a deixar o país; e agora com o episódio do cinegrafista Gelson Domingos, atingido numa incursão policial, os sonhos e aspirações da sociedade viram pesadelo, no momento em que os poderes constituídos e a imprensa não conseguem trazer à luz a verdade escancarada dos fatos.
     Tudo bem que os assassinos da magistrada já estão presos e serão julgados pela pressão da classe, assim como os algozes do repórter certamente não ficarão impunes, mas e a população, como fica? Que perspectiva o povo do Rio pode ter quando quem é encarregado de mostrar as nossas mazelas já não consegue levar a cabo o seu velho expediente de estampar dia após dia a realidade nua e crua das vacilações dos agentes públicos?
     Diante dessas incertezas, é muito difícil acreditar que quem vier a substituir a juíza e o deputado vão dar prosseguimento e trazer os resultados que a magistrada e o parlamentar pretendiam.
      Ainda que o governador venha à público tranquilizar a população e prometer mais empenho da cúpula de segurança, ainda assim haverá dúvidas e preocupações rondando a cabeça do cidadão, que se depara, a cada amanhecer, com um fato novo a aumentar sua desesperança.
      Essas evidências de presos em Nova Friburgo pagando propina para ter visita íntima; de escolas tendo que fechar por causa de disputa entre traficantes, em Senador Camará; e o bandido da Rocinha impondo toque de recolher naquela comunidade, além de policiais presos, protegendo aquele delinquente, revelam que ainda falta muito para o aparelho de segurança do estado chegar a um nível considerado padrão para a atual realidade da cidade do Rio de Janeiro.
      E quanto mais o governador se esquiva de uma satisfação pública fica mais evidente que não existe ideias claras para extirpar esses tumores já incrustados no tecido social.
      Tudo bem que Sérgio Cabral está envolvido na questão dos royalties do petróleo, conclamando a população a gritar contra essa usurpação aos cofres do estado, mas o chefe do executivo deve estar atento aos principais problemas da população, sem perder o foco. Afinal de contas, ele foi eleito para isso, e até quem não lhe deu voto de confiança nas eleições passadas, a essa altura do campeonato está na expectativa  que o governador logre êxito em sua empreitada, não só de trazer os benefícios para o nosso estado, como também o bem-estar que o povo almeja.
       De qualquer forma, estamos aqui no Rio, de janeiro a janeiro, numa luta constante, e apesar dos reveses, a imprensa jamais se omitirá e estará sempre presente nas trincheiras dessa guerra urbana.
       

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Arqueologia em foco

     A humanidade não se cansa de buscar respostas para sua longa e imprevisível caminhada. Mas em toda essa trajetória um paradoxo marca o desprendimento do homem quando ele remexe o ar que respira e a terra em que pisa. Na velha lida de revolver a terra, visando o progresso, eis que o indivíduo acaba desconstruindo parte de sua própria história.
     O Centro Brasileiro de Arqueologia(CBA), pelo envolvimento nas discussões a respeito da arqueologia, e a participação efetiva nos principais eventos ligados à pesquisa científica, se notabilizou por sua longa e incansável luta para trazer para a sociedade o reconhecimento da arqueologia como ciência imprescindível para os principais projetos do país.
   Nesse sentido, a arqueologia está mais visível aos olhos da sociedade que pode, perfeitamente, refletir sobre a importância do arqueólogo, cuja atribuição está intrinsecamente ligada aos elementos do passado e do futuro que nos espera, considerando a tão alardeada questão da sustentabilidade que deve nortear quaisquer discussões acerca do meio-ambiente e demais empreendimentos em prol do bem-estar da sociedade.
     O CBA completa agora cinquenta anos, neste dia 21 de novembro, numa trajetória de muita luta e várias frentes, acompanhando os principais projetos de infraestrutura e meio-ambiente, com soluções de preservação do patrimônio público e garantia de sustentabilidade em eventuais ações empreendedora que ponham em risco as heranças culturais e históricas, sejam eles, os sambaquis, alvo constante da expansão imobiliária no litoral do estado do Rio de Janeiro; os conjuntos arquitetônicos, frequentemente solapados pelas reformas urbanas nas grandes cidades; e outros patrimônios ambientais, sistematicamente degradados pelas ocupações irregulares do solo urbano.  
      Mas, toda a expectativa de celebração de tão sublime momento não fica restrita ao caráter festivo da data.  Na verdade, dentro desse cenário de comemoração, a comunidade científica vem a público externar sua preocupação quanto ao futuro da arqueologia no Brasil.
      No momento em que o CBA completa meio século de existência, todo o universo de pesquisadores, incluindo bacharéis em arqueologia e profissionais que tenham especialização, mestrado e doutorado nessa área, leva consigo e para a pesquisa de campo a esperança pelo reconhecimento do arqueólogo em nível nacional. Depois de instituir o Dia nacional de Arqueólogo, comemorado em 26 de julho, a entidade agora parte para a sua principal bandeira: a regulamentação da profissão de arqueólogo no país, onde a proposta vem sendo discutida desde 1974.
      Não é difícil imaginar o quanto essa indefinição toda vem causando prejuízos ao patrimônio histórico do Brasil. Em 2005, a deputada federal Laura Carneiro apresentou o Projeto de Lei nº 6145 para regulamentar a profissão de arqueólogo. Ainda hoje seu discurso continua atual, demonstrando que não só o passado, como também o futuro ficam comprometidos frente ao que, naquela época,  ela já classificava como descaso com o patrimônio arqueológico do Brasil. “O crescente desenvolvimento brasileiro, ocasionando a ocupação desordenada de áreas, gera o confronto entre a importância de serem abertas novas frentes ao progresso e a necessidade de preservação e resgate das manifestações culturais passadas”, acrescentou a deputada.
    Há quem acredite que esse momento difícil para a arqueologia no Brasil se dá devido ao pouco interesse e a desunião dos arqueólogos, divididos em entidades de pensamentos antagônicos. Ao longo desse anos, várias entidades foram criadas, como associações e sindicatos, para assegurar a integridade moral e profissional, mas que ficou no zero, devido à interferência de grupos feudais e corporativistas no território brasileiro. E esse desencontro entre entidades que não falam a mesma língua causa uma batalha ideológica que acaba emperrando o processo de reconhecimento do arqueólogo,  por conta de interesses corporativistas.
     Enquanto se arrasta o projeto de regulamentação da profissão do arqueólogo, a qualidade, eficácia e métodos empregados em projetos pelo país ficam comprometidos, em meio ao crescimento cada vez maior de profissionais com pouco conhecimento em arqueologia, envolvidos em projetos de engenharia, que passam por cima de questões éticas, por exemplo, para atingir uma meta empreendedora e ao mesmo tempo degradante e sem nenhuma preocupação com a sustentabilidade.
      Apesar desse cenário que se verifica hoje, a comunidade científica espera que a arqueologia chegue a um nível de amadurecimento em termos de legislação e procedimento.
    Pelo tempo e incerteza de tão intrincada questão fica parecendo que esse imbróglio ocorre por falta de representatividade dessa honrosa categoria. Mas o CBA vai prosseguir com a sua bandeira, reiterando o seu compromisso de esclarecer à sociedade a importância da arqueologia na realidade brasileira.
 
  

    


sábado, 22 de outubro de 2011

Reza forte

     Quando começou essa primavera sem sol, sem praia, tudo meio esporádico, borocochô, como dizia minha vó, pensei, tem algo bizarro no ar. Esses desdobramentos da semana vieram confirmar os prognósticos do mês passado, quando já se vislumbrava o inferno astral se instalando no Rio de Janeiro.
     Esse monte de dinheiro que o petróleo proporciona para o nosso estado, deixou de ser um direito adquirido para se transformar no objeto de cobiça de quem não está sentado em cima das bacias, mas pode reclamar o seu quinhão, considerando que a federação pode resolver distribuir como quiser, desde que ela fique em vantagem, porque, é aquela história, né, quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte.
     Agora o Sérgio Cabral e os senadores fluminenses vão ter que se desdobrar até saber o que a presidente Dilma Rousseff vai fazer com essa batata quente nas mãos, caso o Congresso resolva oficializar essa rapinagem nos cofres do estado do Rio de Janeiro. Se antes, quando a gente nadava nesses royalties, já faltava investimentos maciços em áreas importantes, imagine agora sem essa merreca no tesouro do estado.  
     Que mal maior pode padecer o povo do Estado do Rio se o governador não encontrar alguma saída para o problema? Caso haja algum tipo de negociação para reverter esse quadro, um prejuízo qualquer vai haver, como forma de compensação, e o povo certamente vai pagar a conta, com arrocho nos impostos, enxugamento da folha do funcionalismo, essa velha conhecida engenharia financeira que o governo adota para não sair mal na fita, mesmo atropelando a Lei de Responsabilidade Fiscal.
    E eu aqui pensando que a gente ia poder contar com essa grana para sempre, proporcionando a qualidade de vida que estamos esperando há tempos, sobrevivendo das deficiências dos serviços públicos, que hoje em dia afeta todas as classes sociais do território fluminense.
    Os próximos capítulos dessa novela prometem, e o Supremo Tribunal Federal pode ter que decidir o destino da população do Estado do Rio de Janeiro, a não ser que a presidente considere os votos daqui importantes para uma possível reeleição. De qualquer forma, o governador vai precisar de muita habilidade, não só para convencer os parlamentares que vão votar essa partilha, como também para dar uma destinação mais satisfatória para tão vultoso recurso, porque essa riqueza que o nosso estado sempre ostentou ao longo desses anos não trouxe muito desenvolvimento para o estado.
    Vamos torcer para que tudo dê certo, porque quando imaginávamos que nossa desgraça chegou ao limite, eis que a FIFA resolve estragar a nossa festa durante a Copa, resolvendo que a seleção só jogará no Maracanã se Neymar e cia levarem a parada para a final.
     Eu, sinceramente, não sei qual o próximo infortúnio a pairar sobre nós. Eu só sei que eu também trabalho como todo mundo, também corro atrás do prejuízo.
     Então, vê aí quem jogou pedra na cruz, porque eu é que não fui...!
 




segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Balançando o berço da história

     Eu costumo andar nos trens da Central e não é difícil perceber umas placas afixadas nos vagões, alertando sobre a proibição de manifestações religiosas no interior dos trens, amparada por decisão judicial.
     Muita gente se incomodava com aquele barulho ensurdecedor das pregações sempre acaloradas, de invocações estridentes e ferrenhas, de testemunhos intermináveis, que duravam quase o tempo do trajeto até Japeri. Era a palavra de Deus que acabava sempre embalando o sono de muita gente, que depois de um dia exaustivo aproveitava para cochilar até chegar ao seu destino. Apesar do balanço do trem e dos níveis de decibéis naquele vagão de atmosfera festiva, nada abalava a vida de quem viajava naquele trem que chacoalhava também o leite das crianças.
     E como no meio de toda aquela multidão na hora do rush há certamente uma diversidade de práticas e costumes, inclusive de crença religiosa, isso por si só já seria motivo de desavenças pelo choque de opinião. Mas, não. Nunca houve confronto algum, que configurasse uma guerra santa. E a proibição em questão só se deu por conta do ordenamento que reprimiu também o fumo no interior dos trens.
      Estou contando esta passagem no mesmo instante em que 24 cristãos coptas foram massacrados em uma manifestação que começou pacífica, e ainda persiste, no Egito.
    Aqui no Brasil, não somos um primor de povo, de imagem imaculada, de comportamento exemplar. Nossas práticas também deixam a desejar, no que diz respeito ao futuro de nossas gerações. Nosso conjunto de regras não chega a frear o ímpeto dos ordinários, e o mais miserável dos indivíduos também conhece os atalhos para a sobrevivência. Mas somos também misericordiosos, filantropos. Se acontece uma tragédia a gente logo se mobiliza para juntar cobertor, fralda, água, remédio e doar sangue.
        De qualquer forma, estamos sempre fazendo um esforço para que sejamos uma sociedade mais justa. Recentemente, aconteceu na Praia de Copacabana um evento pela intolerância religiosa, onde pessoas de várias correntes se juntaram para celebrar o que pode ser a chave para um mundo melhor. Não costuma se ver esse tipo de encontro em outro lugar do planeta.
      As divergências religiosas que eventualmente ocorrem ficam restritas às instituições, partidos políticos e veículos de comunicações que procuram ampliar o seu espaço. O poder central não interfere, pois somos um Estado laico e a Constituição  garante a liberdade de expressão a todos.
    Lamentavelmente, o que ocorre no Egito é que o governo cerceia a liberdade das pessoas, com perseguição, porque a questão religiosa está intrinsecamente atrelada ao poder. Isso é grave, considerando que o Egito é o berço dessas três religiões do ocidente, que tentam agora impor, cada uma, a sua verdade, que nunca será absoluta. Num passado bem distante, o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo estavam ungidos no mesmo ideal de consagração universal. Infelizmente, com o passar dos tempos essa irmandade foi se dissipando, com esse sinistro expediente de desconstruir sua própria história, matando e morrendo em nome de um ser supremo.
      Mesmo que não sejamos um exemplo para o mundo, um modelo a ser seguido, pelo menos fazemos a nossa parte. E não é de hoje. Quando várias outras culturas foram incorporadas à nossa, por força da imigração maciça, o sincretismo religioso surgiu como um processo natural, com o entendimento de que é possível dividir o mesmo espaço, apesar das diferenças.
      Parece que depois que Anwar Sadat morreu pala causa, em 1981, a intolerância se oficializou naquele país, se impregnou no tecido social, na raiz que poderia brotar uma árvore frondosa.
        Ainda dá tempo de balançar o berço da historia, para nascer uma nova era.
   
   
   
   
   
     
       

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Que Deus é esse?

      Afinal de contas, em que Deus querem transformar o Steve Jobs? Tudo bem que vivemos numa sociedade politeísta, Deus disso, Deus daquilo, mas o fato de o Steve ter trazido uma solução para uma tendência que já se verificava, de convergência de mídia, não faz dele um ser supremo. Há muito tempo que a tecnologia anda junto com a evolução humana, e até há bem pouco tempo atrás a invenção da roda era considerado o grande feito humano, pelos desdobramentos na vida de todos até hoje.
      Além do mais, todas as conquistas e descobertas apenas se encaixam dentro das necessidades das comunidades e civilizações, desde a época em que vários grupos distintos se digladiavam para sobreviverem em seu meio social e das forças da natureza, por isso começaram a trabalhar a pedra, lascada e polida. 
      Não se pode desprezar a inteligência e desenvoltura de Steve Jobs no seu conceito de interação humana pelo meio virtual, mas não temos ainda a certeza de que esse estreitamento entre os povos e grupos sociais vai fazer todo mundo evoluir, não no sentido de acumular bens de consumo, mas de protelar o fim da raça humana, trabalhando sua própria evolução, através do entendimento. 
    Enquanto se comemora a criação de um mecanismo que estreita os laços, isso também pode servir de discórdia, haja vista o que aconteceu durante as duas Grande Guerras, quando se promovia em cada edição do conflito as novidades da indústria armamentista, como forma de manter a paz(?) no mundo. Isso sem contar as grandes descobertas que nasceram de mentes imaculadamente puras e acabaram virando objeto de  discórdia. Certamente, Albert Einstein não queria causar todo esse reboliço quando deixou o legado da fissão nuclear para a humanidade, assim como Alfred Nobel, inventando a dinamite, que poderia ser usado em projetos de construção, não de destruição.
     Muita gente pode até achar que estou querendo detonar o Steve Jobs, não dando importância ao seu feito, não é isso. Só que ele já vinha trabalhando em cima de possibilidades que já existiam, pela disponibilidade de recursos que a própria ferramenta oferecia, que outros já tinham aprimorado. Com certeza o seu trabalho vai servir de objeto para melhorar o nível de excelência, mais pela demanda, pela necessidade.
     Dentro do universo da comunicação, em que a informação precisa fluir num canal cada vez mais estreito, não demora muito as novidades de Steve Jobs serão coisas do passado.
     Quando lembramos das dificuldades que outros gênios de outrora tiveram para implementar seus projetos, lembramos dos grandes escritores, que conseguiram eternizar suas obras, sem uma grande ferramenta para difundir. Os grandes cineastas, Charles Chaplin, que conseguiu fazer tudo aquilo, mesmo com os parcos recursos da época; Roberto Rossellini, que filmou " Roma cidade aberta" com restos de negativos de filmes recuperados nos escombros da Segunda Guerra.
      Pois, é! Estou convencido de que a mente humana ainda não atingiu o seu apogeu em um grande feito, o que inviabiliza esse endeusamento inútil.
      
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domingo, 9 de outubro de 2011

Máquina emperrada

     Não é de hoje que a economia mundial vem dando sinais de fraqueza. E a cada vez que aparece um foco de crise vai se desmanchando também a ideia de onda passageira que os teóricos e especialistas insistem em classificar.
    Nesse esforço que a comunidade europeia vem fazendo para levantar a moral e a economia da Grécia, o entendimento é que não foi feito o dever de casa naquele país. Mas o que pode parecer um caso isolado de uma nação soberana com suas finanças debilitadas, revela também indícios de um modelo que já não é interessante e eficiente sob o ponto de vista prático.
      Se nações poderosas, com suas economias altamente fortalecidas, já ligaram o sinal de alerta, imagine os países que dependem de capital externo para sobreviver.
      Agora que a Grécia desponta como a bola da vez, dentro de um Bloco Econômico instável desde a sua origem, em Maastricht, surgem questionamentos à respeito desse mecanismo de relação intermitente entre as nações, como paradigma do capitalismo. Os Estados Unidos, como baluarte da economia mundial, já começaram a balançar a sua roseira, num claro sinal de esgotamento dos recursos empregado nesse capitalismo cheio de vícios que ajudaram a emperrar cada vez nais o sistema.
      Ao longo desses anos de globalização, as principais potências mundiais foram criando mecanismos, não para facilitar a fluidez do capital no mundo, mas defender seus interesses, suas fronteiras, com protecionismo que até hoje surte efeito nos países em desenvolvimento, como o Brasil, Rússia, Índia e China, que só conseguiram se destacar no cenário internacional por causa de seus prósperos mercados consumidores, objetos de cobiça das grandes corporações.
      No entanto, apesar da imensa área de atuação em nível global, o capitalismo em nenhum momento atingiu o seu grau máximo, tanto no espaço físico, como no nível de excelência. Dentro do espectro geográfico do planeta, o continente africano está, até hoje, relegado ao ostracismo. O poder voraz do capitalismo não conseguiu fazer daquela região um mísero mercado consumidor. Quem mais lucra naquele continente é a indústria bélica, fomentando conflitos sem fim, recheando de sangue e pavor a miséria que brota da terra.
    Com o papel do Estado cada vez menor nas grandes nações, foi confiado aos maiores grupos econômicos vender também os serviços básicos, cuja qualidade já não traz o bem-estar que se almeja. A classe média sofre no bolso a mesma angústia de quem não tem acesso à uma escola de qualidade e um hospital que atenda com presteza.
      Agora, com esse clima de bancarrota rondando o primeiro-mundo, urge a necessidade de um amplo debate para se rever esse modelo completamente inviável para os dias de hoje. O dinheiro que circula no planeta só gera lucra, não trabalha em cima de valores humanos. Os grandes investimentos não têm contrapartida social e ambiental, leia-se indústria automobilística, que recebem incentivos de seus governos para emporcalharem as grandes cidades de gás carbônico, sem nenhum projeto de sustentabilidade.
     Antes de se discutir os rumos do capitalismo, é bom que se saiba que de todas as vezes em que os mais ricos se reuniram, não se chegou à consenso algum, porque cada um quer sempre puxar a brasa para a sua sardinha. Isso aconteceu nos fóruns mundial e social, em Davos, Kioto, Copenhagen, Rio e mais.
      A presidenta Dilma Rousseff disse na abertura da Assembleia Geral da ONU que essa crise não se dá por falta de recursos, mas por falta de clareza de ideia.
      Diante das incertezas de um futuro promissor para o planeta, o pito da presidente pode ajudar a endireitar essa máquina emperrada. 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Maracanazzo

     Cheguei a imaginar que a extinção da geral do Maracanã fosse a única alteração para  os preparativos para a Copa de 2014, mas eis que depois daquela conversa fiada sobre a questão da cobertura do estádio, que deveria ser alterada em função das exigências da FIFA, e com isso, precisaria de mais grana, a atmosfera que paira para muito mais além dos tapumes tem agora uma nova fragrância.
     Foi um custo para segurar a onda de uma geração desvairada, que bebe, dirige, torce, cospe, pisa, amassa e mata, às vezes, tudo isso ao mesmo tempo. Agora, os desvarios dessa tribo louca e estúpida ficam restritos aos berros  e gritos de guerra cuspidos dos bicos secos.
    Um trabalho árduo que os Senhores da lei e o Rei da Cocada Preta compactuaram para esmorecer o destempero das hordas multicoloridas.
     Da outra vez que teve Copa do Mundo por aqui, estávamos engatinhando na arte de ganhar alguma coisa, e o primeiro grande desafio naquele palco emergente ficou só no ensaio. Seria a primeira oportunidade para esbravejar "Yes, we can", pelo menos no mundo da bola.
   Tudo bem, subimos algumas vezes depois no pódium, mas os índios e caciques da pátria de chuteira inauguramos a subserviência que passava das quatro linhas, um estágio mais avançado do a-gente-joga-bola-mas-não-sabe-ganhar. Depois disso, todo mundo que vinha para cá ganhava no par-ou-ímpar e escolhia o time à dedo, tipo dedo no superávit primário, dedo na política cambial, dedo nas remessas de nossas reservas, enfim, só corneteiro...
    Agora que finalmente cortaram o barato da rapaziada que costumava beber na intensão do inimigo, os malandros da FIFA resolveram peitar a nossa hegemonia, intercedendo para que ingleses, alemães, escandinavos e outros pés de cana não sejam incomodados em seu tour etílico.
    Tudo indica que neguinho vai abrir as pernas, a não ser que Dilma Rousseff resolva inaugurar uma nova era. Como ela disse para os países ricos que a atual crise econômica se dá pela falta de clareza de ideia, tomara que seu discurso não seja auto-referente, sob pena de criarmos jurisprudência pela vacilação, jogando em seu próprio campo, casa cheia e o escambau.
    Essa flexibilização da Lei da Copa que a FIFA quer apitar, passando por cima do nosso estado de direito, seria a institucionalização da pantomina brasileira.
    Na outra Copa que ocorreu aqui, a única coisa que desmoronou a nossa soberania foi o gol do Gighia.
   
   
   
   
   
   
   
      

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rio de Janeiro

     Existe uma velha concepção de que os problemas enfrentados pela população fluminense são de difícil solução, pelas peculiaridades de cada região do estado, o que acaba configurando a complexidade que se verifica quando se implementam projetos na área de saúde, educação, segurança, habitação, transporte e meio-ambiente.
     Mas, pelos parcos resultados obtidos ao longo de décadas de crescimento econômico e populacional faz-se necessário um novo modelo na forma de conduzir os principais projetos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro como um todo. Até agora as políticas implementadas pelo governo de estado são meramente circunstanciais, sem nenhuma visão de futuro, ou de sustentabilidade, como queiram.
     De uns tempos para cá, convencionou-se achar que esses projetos em torno de eventos esportivos como Copa do Mundo e Olimpíadas vão deixar algum legado para a população, lembrando que o Pan 2007 não trouxe melhoria alguma, como apregoavam, na época, o então prefeito e o governador.
     Agora estamos novamente respirando essa perspectiva de mudança pós-Copa e Jogos Olímpicos, acreditando, passando mais um recibo em branco para o poder público, sem a garantia de retorno satisfatório, enquanto o governo de estado adota medida pouco agressiva, se formos considerar a urgência para o Rio e Região Metropolitana em outras áreas do cotidiano da população
     O governador Sérgio Cabral resolveu isentar de ICMS as empresas que produzirem equipamentos geradores de energia eólica e solar. Ora, são fontes de energia limpas, muito bem, mas que precisam de viabilidade técnica; a eólica, pela complexidade da geografia do território fluminense; e a solar, pela falta de estrutura para confecção das placas de silício e germânio, matérias-primas das placas que captam e armazenam a energia do sol.
    O transporte público talvez seja a grande deficiência atualmente, já que atormenta todas as classes sociais no seu deslocamento casa-trabalho-casa. Se ônibus, trens, barcas e metrô, todas juntas, atendem à demanda da população, tudo bem, mas não com o grau de excelência que o usuário merece. Tanto o cidadão que viaja da Zona-Norte, ao que se desloca da Zona-Oeste ou Baixada para o Centro e Zona-Sul, todos sentem na pele as agruras de um transporte público extremamente precário.
      Por isso, seria interessante e oportuno que Sérgio Cabral contemplasse também as empresas que se instalassem na Baixada Fluminense e Zona-Oeste, criando emprego para a população local, como forma de fixar os habitantes no seu local de origem. Com isso, diminuiria o número de carros nas ruas e ficaria muito mais fácil incentivar e promover o transporte público com trajetos mais curtos, desafogando a Avenida Brasil, a Via-Dutra, a Linha Amarela, a Linha Vermelha, só para citar as principais vias de acesso que são verdadeiras Via-Crusis nesse tormento diário do cidadão que também paga imposto quando compra a sua passsagem.
     Hoje, não só o governo estadual, como também a municipalidade, alardeia aos quatro cantos os seus canteiros de obra, se esquecendo de acrescentar naqueles projetos o bem-estar da população. Quando tudo fica pronto, descobre-se que o sofrimento estava escondido atrás dos tapumes. Nesse sentido, nada se desenvolve no Estado do Rio de Janeiro, e os problemas se perpetuam, de geração a geração, de uma gestão à outra.
     Existe um projeto de grande magnitude no Estado do Rio, que podemos dizer com toda segurança, representa o grande mote para o desenvolvimento do Rio de Janeiro. O Programa de Despoluição da Baía da Guanabara, concebido na década de 90, já consumiu até 2010, segundo o site da Cedae, mais de um bilhão de reais em investimentos. 
       Não há dúvidas de que a complexidade desse projeto também pode trazer muitos benefícios para o povo fluminense. Além da questão ambiental, como aporte para outros empreendimentos, a Baía da Guanabara sem impurezas, ou pelo menos num nível de poluição aceitável, poderia viabilizar mais uma alternativa de transporte, como meio hidroviário, beneficiando um contingente considerável de moradores da Ilha do Governador, São gonçalo, Alcântara e Baixada Fluminense.
      Aliás, estranha-se até hoje, porque o Rio de Janeiro não explora esse importante recurso natural como solução caseira e potencial turístico.
      Como se pode observar, não é difícil melhorar o bem-estar da população, o que falta é vontade política e responsabilidade.
     O recado está dado.     

      

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vida em questão

     Vida em questão. Na efervescência da rotina que cumprimos ao longo de nossa caminhada o mote que inicia essa breve explanação revela a preocupação com as perdas que sofremos por ocasião de algo que não deu certo nas coisas que planejamos. Mas se tem alguém em quem confiar; aquele que representa fielmente as nossas aspirações; em quem confiamos nossos mais nobres desejos, é natural que a indignação tome o espaço da esperança que acalentamos.
     Pela própria característica de misericordiosos que sempre fomos, desde a época da conquista do fogo, dos refugiados das grandes guerras, do êxodo rural, a vida nossa e a dos outros fica sempre em primeiro plano. Quando estamos por um fio pela imprevisibilidade que cerca a natureza humana a tragédia pode ter a dimensão muito menor que a causada pelas vacilações do homem público.
    Agora acompanhamos esses eventos nos hospitais públicos do Rio de Janeiro que ilustram muito bem até aonde vai a competência humana e a responsabilidade do homem público. Na vida atribulada que nossos governantes levam, a mediocridade e o respeito pela vida humana são dois extremos de mesmo vetor, quando a vida pública passa pelo crivo da sociedade. E exemplo é o que não falta.
     Semana passada, um idoso só conseguiu internação numa outra unidade porque um familiar recorreu à justiça para garantir a transferência. No Hospital de Saracuruna, outro idoso não resistiu à espera e morreu antes mesmo de ser atendido naquela unidade.
     Lembro muito bem que no primeiro dia de seu mandato, o governador Sérgio Cabral foi ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, e prometeu que seria implantado ali, naquela unidade, o melhor modelo de saúde pública em nosso estado.
     Não é de hoje que vemos essas aberrações que ultrapassam gerações e mandatos de governo. No caso específico do Estado do Rio de Janeiro, compreendemos que a dimensão do problema se confunde com a própria geografia do território fluminense, e o governador precisa da ajuda do governo federal para resolver a questão. E para nossa própria desgraça, existe um problema muito maior para ser resolvido.
    Muito tem se discutido sobre a questão da saúde publica no Brasil, com ênfase no esforço que o governo federal vem fazendo para angariar mais recursos para o setor, como forma de melhorar a qualidade dos serviços prestados, cujos efeitos podem ser verificados pela calamidade em que se encontra uma gama de unidades hospitalares espalhadas pelo país, seja da esfera municipal, estadual ou federal.
    Com o descarte definitivo da CPMF pelo Congresso, as atenções estarão voltadas para a Emenda 29, que estabelece um patamar mínimo de 10% das receitas para investimentos no setor, faltando apenas o Executivo definir a fonte de tais recursos. De qualquer forma, esta pode ser a última tentativa do governo federal de criar uma nova taxação para a combalida área de saúde no país, considerando até que num passado próximo essa CPMF fomentou a Saúde e o quadro de penúria não se reverteu.
    Para o empresário Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, vinculada à Presidência, enquanto houver deficiência de gestão como tem na área da Saúde, é preciso, não fazer aumento de impostos. Segundo ele, a carga tributária já tem um nível que não deveria permitir pensar em novos impostos.
    Agora que a sociedade começa a se mobilizar pela transparência com a coisa pública o advento de um novo tributo não seria bem-vindo. E a cada vez que surgem relatos de descaso com a vida humana e registros de irregularidades, como aconteceu recentemente em unidades federais do Rio, apontadas pela Controladoria Geral da União, mais a opinião pública questiona a forma como está sendo conduzida essa administração pública.
     A representatividade que se dá por atitudes também revela o desprezo pela vida quando uma questão de alta relevância não é tratada com a atenção devida.
     Vida em questão é a esperança de um próximo pleito, é a imagem da primeira impressão que fica; a certeza de ser bem representado em seus mais nobres anseios. Não são poucos os que sabem que uma vida dura muito mais que um simples mandato. 
 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sinal vermelho

      Eu fico imaginando o espanto das pessoas ao se depararem com a foto do Edmundo rindo, quase que de orelha a orelha, depois da decisão final da justiça, absolvendo-o de vez naquele processo... Bom, todo mundo sabe.
     Garanto que muita gente se sentiu ridicularizado com o que parecia um escárnio do Animal com a nossa paciência e tolerância, principalmente aqueles que choram até hoje o passamento de um ente querido, nessas tragédias que trafegam a torto e à direita.
    Ainda que o estado de indignação permita a racionalidade e o bom senso, fica difícil fazer a leitura e interpretação correta e sensata da expressão de bonomia que Edmundo passou ante a minha quase desesperança, no momento em que um universo de mortais se estarrecia tipo, pô, esse cara tá rindo de mim.  Calma, gente! Violência, já basta a que anda de quatro patas, ou melhor, de quatro rodas.
    Como não somos uma nação anômica Edmundo apenas se beneficiou das letras da lei que estão disponíveis a todos, ou quase todos, se lá... Para Edmundo, é melhor se refestelar desse estado de direito do que sucumbir por não poder usufruir dele.
    Obviamente que a insatisfação da opinião pública não recai sobre a pessoa do ex-jogador, mesmo porque ele não é o único famoso envolvido em acidentes de trânsito. Para o ex-presidente da Comissão de Trânsito de OAB, Armando de Souza, o objeto de indignação da sociedade é a lentidão da justiça no desfecho do caso. “Quando a justiça é morosa para decidir, acaba em impunidade”, lamentou Armando.
     O próprio Conselho Nacional de Justiça não se manifesta por questões éticas, mas é claro que há um desconforto quando um magistrado executa uma ação que causa indignação na sociedade, mesmo quando o aparelho jurídico tenha sido empregado de forma legal, sem arbitrariedade ou abuso.
     Assim, os instrumentos jurídicos disponíveis são legais, apesar do protesto da opinião pública. O procurador-geral da OAB-RJ, Ronaldo Cramer, lembra que os recursos são legítimos e o Supremo Tribunal Federal apenas fez o que determina a lei. As entidades que congregam a magistratura também só aparecem para a opinião pública quando um sinistro qualquer envolve um membro da classe, como aconteceu recentemente no atentado à juíza Patrícia Aciolli.
      O governo estadual, outro agente envolvido nesse cenário, apenas comemora a arrecadação estupenda pelas multas aplicadas nas operações de repressão aos motoristas. Criada há quase três anos, a Lei Seca freou o ímpeto de muitos motoristas, como sempre tem mostrado as estatísticas, mas não o suficiente para coibir e disciplinar os condutores sistematicamente flagrados sem condições de dirigir, pois a referida lei apenas multa e denuncia o motorista infrator à Justiça comum, onde o réu encontra as brechas que vão permitir que ele continue barbeirando tranquilamente pelas ruas da cidade, causando dor e desespero em sua própria família ou na de outrem.
       A hora é de mobilização, e até que se vislumbre o trânsito consciente, motoristas e pedestres ainda terão que percorrer um longo caminho, como vem fazendo a Associação de Parentes e Amigos e Vítimas de Trânsito, com combate de esclarecimento e conscientização durante das blitizen do Detran.
      Mas isso só não basta. É preciso despertar nas gerações futuras a responsabilidade ao volante de seus possantes. Isso pode ser feito através de seminários e mostras nas salas de aulas, já no ensino básico, para que tenhamos, num futuro bem próximo, gerações de condutores conscientes, sem o deslumbramento que se vê hoje, alimentado pela febre consumista, sem nenhuma contrapartida social e ambiental.
      É muito difícil especular ou, até mesmo, tripudiar sobre a dor das pessoas, mas no meio dessa gente que chora a perda em família muitos presenteiam seus filhos com carrões novos só porque o queridinho passou no vestibular, esquecendo de prepará-lo também para ser um motorista em toda a extensão da palavra.
      Se não se pode salvar essa geração que não sabe fazer a curva no seu traçado, preparemos o pessoal do segundo pelotão. 
    

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O samba não tem fronteira

      Li uma reportagem sobre uma tese de doutorado que o músico Felipe Trotta fez sobre o samba e suas vertentes, fazendo a separação entre o Samba de raiz e o Pagode nos anos 90, cujo trabalho acabou reacendendo uma velha polêmica quanto à forma e o conteúdo que cada um utiliza em suas produções.
      Não é de hoje que as manifestações culturais sofrem as influências de outras vertentes do mesmo segmento, acrescentando ou suprimindo elementos próprios de uma época ou lugar.
      A própria Semana de Arte Moderna, em 1922, já admitia essa mistura de coisas como parte do processo que impera hoje em dia, apregoando apenas que se utilizassem os elementos da cultura brasileira, sem a interferência de movimentos vindos de fora do país.
      Depois que Villa-Lobos botou o “Trem Caipira” para rodar pelo Brasil uma gama de artistas consagrados se valeram desse expediente para exaltar a beleza brasileira. Se o eterno maestro conseguiu promover a mistura do popular com o erudito, não foi difícil fazer esse entrelaçamento, que aos olhos de muita gente pode significar a descaracterização da história.
      E no samba não foi diferente, mais ainda pela influência de elementos religiosos presentes em suas manifestações, dada a sua origem histórica, daí a variedade de cadências e compassos. Talvez esteja aí o divisor de águas da rica e linda história do samba. Além do Samba de raiz e do Pagode, também o Samba-canção, o Samba de breque e o Samba-enredo alternam componentes de exaltação dos amores e dos protestos, como cultura romântica, socializante ou politizadora que deve nortear qualquer forma de manifestação cultural.
      O samba como segmento aglutinador de massa precisa ter essa premissa básica sempre, independentemente da forma e conteúdo com que vai se manifestar e difundir a mensagem nela inserida.
      A legitimidade do samba não pode ficar restrita a um único ritmo, justamente para não se criar fronteiras nesse enfrentamento inútil.
   

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Caminho sem volta

    Tá sinistro, irmão, tá sinistro!” Foi o que disparou o sujeito ao lado da banca de jornal, depois de ler as manchetes que não têm trazido boas novas. Antes de desaparecer para sua jornada, deu para ouvir a declaração de que em sua comunidade a UPP local fracassou.
     Não deu para descobrir o nome da infeliz localidade, mas pelos últimos registros de desvios de conduta em comunidades ditas pacificadas é triste constatar que além da ineficiência da atual política de segurança é preciso ainda combater a corrupção infiltrada nesse malfadado modelo de combate à criminalidade.
     Eu, ingenuamente, achava que os integrantes dessa tropa nas favelas fossem escolhidos a dedo, pelo bom conceito de que gozam na corporação, mas eis que essa praga da corrupção é presença marcante até onde eu esperava o eldorado.
     E Infelizmente esse vírus na administração pública se ramificou, tornando ainda mais complexo esse processo lento e indefinido.
     Parece que agora a população também abraçou, mesmo que timidamente, esse movimento que pode trazer mudanças profundas na vida de todos. Quando as principais entidades da sociedade civil começaram a dar forma a esse grito de alerta, ainda assim havia a indefinição quanto ao futuro do movimento. Porque por mais que aqueles noves senadores iniciassem o processo em apoio à presidente Dilma Rousseff, e a OAB se juntasse ao Tribunal Superior Eleitoral para traçar medidas de combate às armadilhas do processo eleitoral, como, por exemplo, a instituição da Lei da Ficha Limpa, seria preciso uma mudança profunda na legislação para que haja punição exemplar como forma de erradicação desse tumor maligno na vida social e política do brasileiro, o que implica uma discussão em nível nacional, dentro dos meandros das instituições nacionais.
     Pelo movimento que a população promove nas redes sociais e ensaia nas ruas das cidades, esse pode ser o elemento definidor para o rumo que a sociedade brasileira precisa tomar.
     Mas é importante destacar nesse novo ciclo da vida nacional que para essas duas correntes há uma complexidade que bate de frente com todo o vigor e entusiasmo pela luta que será travada. Tanto na seara das instituições, quanto no campo pessoal de cada indivíduo o interesse público vai automaticamente ficar no fogo cruzado entre o discurso e a prática.
     De um lado o fisiologismo, o corporativismo que podem emperrar qualquer discussão sobre eventuais sanções e punições por desvios de conduta porque um aliado em potencial poderá sofrer um prejuízo pelas medidas que forem institucionalizadas pelo bem do Brasil.  
     De outro, a rotina de prática comum do cidadão, que no seu dia-a-dia corrompe e se corrompe. Dentro desse universo de gente que se indigna com as arbitrariedades de agentes públicos, sejam em ações desastradas em comunidades carentes, seja em conluio com o poder paralelo, há uma parcela significativa que também oferece propina ao guarda para estacionar o possante irregularmente; desenrola o problema do pneu careca nos postos de vistoria; adultera a placa do carro para burlar o “pardal”, e várias outras situações que habitam o campo individual, bem distante do espectro da coletividade.
    Certamente será um caminho tortuoso e extenuante até que a corrupção deixe de ser um sistema de governo e se torne uma página virada na vida brasileira.
    A questão da sustentabilidade, que remete à preocupação com as gerações futuras, deve ser incluída em quaisquer debates e discussões que visem criar um instrumento que possa disciplinar, não só o cidadão de comportamento venal, como também o poder publico na sua nefasta tarefa de usar o dinheiro publico.   
    

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A saúde do Brasil

     Alguns integrantes do governo federal estão ventilando a ideia de reeditar a CPMF, a tal contribuição que não sabemos se um dia vai ser permanente ou provisória, como forma de angariar mais recursos para a saúde pública.
    Não é preciso ir muito longe ou quantificar o que foi arrecadado da última vez para saber que a contribuição não atingiu o objetivo que se esperava, mesmo porque os números do déficit na área de saúde não se alteraram positiva e satisfatoriamente, tanto que o governo agora ensaia repetir a dose, não pelo sucesso da última investida, mas pela necessidade de investimento  no setor, como bem frisou a presidente Dilma Rousseff recentemente.
     Por mais que a parcela do orçamento destinado à saúde  esteja sendo usado de forma transparente e sensata não é o suficiente para trazer os resultados que a população espera. Pelo tamanho das filas nos hospitais, falta de remédio e equipamentos e até de médicos em muitas unidades pelo Brasil afora, é preciso uma ampla discussão para se avaliar a forma como está sendo conduzido e gerido todo o montante confiado ao setor ao longo desses anos e décadas de um quadro lastimável da saúde pública no país.
     Mesmo que os técnicos do governo resolvam reeditar a CPMF, é preciso corrigir vícios, sejam eles de desvio de verbas, muito comum hoje em dia na administração pública, ou de um simples, mas grave problema de gestão, o que de uma certa forma configura um complicador nas pretensões do governo de melhorar a saúde da população brasileira.
    Se por um acaso o governo decidir seguir o conselho do ministro da saúde Alexandre Padilha de aumentar os impostos dos cigarros e bebidas alcoólicas para fomentar o setor, ainda assim a população não terá a garantia de resultados promissores. A tributação em questão é mais uma taxação a onerar as finanças do contribuinte, que no final das contas fica frustado com o desempenho da administração pública na condução nos serviços básicos que a população deveria receber em troca do imposto pago.
    Entretanto, que isso não seja o único recurso do governo para resolver velhas questões. Que essa velha tática de sobretaxa não se torne o único mecanismo para resgatar a  grande dívida social com a população brasileira. Por mais que o governo acerte em sua política de investimento público existirá sempre o problema de má gestão do dinheiro público em outras esferas governamentais para onde os recursos são destinados, além da grande praga do cenário político, a corrupção a interromper o processo de desenvolvimento social, pela forma voraz com que opera nas engrenagens da máquina pública.
     Segundo pesquisa encomendada pela Fundação Getúlio Vargas e divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, a corrupção solapou do governo federal R$ 40 bilhões entre 2002 e 2008, fora o que supostamente pode ter sido desviado de administrações municipais e estaduais.
     É, na verdade um problema que a sociedade precisa resolver para que o Brasil possa retomar o seu rumo, como alternativa a essas medidas paliativas e maléficas ao país. Não existe falta de investimento nos serviços públicos. O que existe é despreparo e irresponsabilidade social com as riquezas do país e falta de respeito com as vidas humanas.
     
       

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A voz e a vez do povo

     A sociedade já compreendeu perfeitamente que esse grande desafio de estirpar a corrupção do seu meio social e político é mais árdua do que se imagina, pela dimensão que ela tomou, e mais complexa do que se permite, pelo entrelaçamento de forças envolvidas na costura desse sistema.
    A presidente Dilma Rousseff quando fez aquela faxina nos ministérios dos Transportes, do Turismo e da Agricultura ressaltou que a prioridade do seu governo é a diminuição da miséria no país, expediente que mais diz respeito às atribuições do Executivo, enquanto que o combate à corrupção depende exclusivamente de um amplo debate, com a participação da sociedade civil e, principalmente dos outros poderes constituídos.
     A Ordem dos Advogados do Brasil já se juntou ao Tribunal Superior Eleitoral para que este interceda junto ao Judiciário para apressar a Lei da Ficha Limpa, visando as próximas eleições, em 2012, entendendo a OAB que a sociedade pode dar a resposta nos pleitos que virão, ainda mais agora que o Congresso resolveu dar marcha à ré, absolvendo de cassação a deputada federal Jaqueline Roriz, cujo precedente poria em risco a vida política de muitas excelências, já no ano que vem, caso a lei em questão já valha para a próxima disputa.
     Longe de ensaiar qualquer reforma que promova as mudanças que todos esperam o Congresso Nacional e Poder Executivo devem continuar por muito tempo ainda presos ao fisiologismo, como nó de marinheiro, que ninguém desata. E essa pizza que saiu fresquinha, agora, revela o quanto isso pode durar.
     Nesse sentido, acredito que os movimentos que já espocam por aí vão, daqui para frente, mirar no poder de fogo do eleitor. Como a própria Lei de Ficha Limpa está em discussão quanto à sua constitucionalidade, pode ser que a decisão do Supremo Tribunal Federal, onde a questão se arrasta, venha também recheada de orégano, muzzarela, quatro queijos...
     Fiquemos atentos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O bonde sem freio


    Vai dar muito que falar esse acidente com o bonde de Santa Tereza, muito mais pelas falhas de manutenção do que as vítimas fatais e os feridos como resultado do sinistro. Mesmo nessa hora em que começa todo mundo a deitar falação, jogo de empurra e outros palavreados é bom que se saiba que a culpa é de todos. Eu também me sinto culpado por ter presenciado o encosto do banco do bonde sem parafusos e não ter reclamado ao motorneiro ou ao Sr. Sérgio Cabral, quando fiz aquele passeio, dias desses.
      A angústia por que passa os turistas no seu rolé pelo Largo da Neves e adjacências se soma ao martírio dos moradores de Santa Tereza em sua rotina normal, cotidiana, porque afora a natureza paisagística e aprazível, o local acumula os mesmos problemas dos outros bairros da cidade, também infestados de lixo pelas esquinas, falta de segurança, favelização, e como não poderia deixar de ser, transporte público deficiente.
     Se não tem parafuso na tampa da caixa de óleo do eixo do bonde, também sobram pneus carecas nos ônibus urbanos; vagões de Metrô, vez ou outra, sem extintores de incêndio; barcas à deriva na Baía de Guanabara, num retrato de abandono e descaso do poder público com a integridade de moradores e visitantes da nossa ainda maravilhosa cidade.
     Mas se falta explicação dos governantes para tamanha inércia, não se vislumbra qualquer iniciativa da população para mudar esse quadro. E se alguém levantar a voz para qualquer barbaridade ao nosso redor a grita não passa de fato isolado, que não chega a ecoar nos ouvidos das autoridades.
      Já existem vários canais de comunicação para que o cidadão possa externar sua indignação e ver resultados. Na Câmara dos Vereadores é bem provável que a Comissão de Transportes Público da Casa dê alguma explicação acerca das políticas envolvendo o setor, antes mesmo que o eleitor resolva esperar o dia das eleições para fazer mudanças nos assentos do Palácio Guanabara e da Cidade Nova.
     Independentemente das curvas que o bonde faz, a população carioca precisa tomar outro rumo no destino que damos em nosso voto.    
  

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Vox Populi

     Tem muita gente achando que a presidente Dilma Rousseff resolveu fazer essa faxina nos ministérios envolvidos em irregularidades por conta das críticas que vem recebendo de todos os lados. Ela já tinha esse objetivo, essa intenção, desde a época em que não era ninguém, apenas incomodava o establishment, o status quo oficial.
      Outros presidentes também povoaram a cabeça com ideais vindos do berço, e quando assumiram acabaram se perdendo no cipoal ideológico, como contrapartida pelo poder alcançado, porque a própria busca pelo poder implica descaminhos que sinalizam o terreno pantanoso nas curvas que virão.
       Nada impede, porém, que o mandatário opere as mudanças pelo bem da coletividade, sem atropelar a legislação vigente e o estado de direito, como princípios fundamentais em eventuais reformas de qualquer natureza, mantendo intactas as garantias individuais e coletivas.
        É dentro desse cenário que Dilma Rousseff, por assim dizer, resolveu chutar o pau da barraca, e instituir a tal faxina que já começou no Ministério dos  Transportes, da Agricultura e do Turismo, e que pelo jeito vai se estender para as outras áreas onde houver indícios de falcatrua.
      Não há dúvida de que é um passo importante na longa caminhada que ela vai precisar percorrer para dar um basta na corrupção entranhada nos organismos  públicos. Mas, infelizmente, o Executivo sozinho não conseguirá reverter esse quadro. Ciente disso, a presidente começou a executar a parte que lhe compete, enxugando dos órgãos de sua administração as indicações mal intencionadas com a coisa pública.  
       Num regime democrático, a responsabilidade pelas mudanças é de todos, não só da presidente, mas, principalmente dos outros poderes constituídos que devem também tomar iniciativa pelo processo que a sociedade pleiteia para o futuro do país. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) lançou esta semana a Frente Suprapartidária contra a Corrupção e Impunidade, de apoio à presidente Dilma Rousseff. A timidez do movimento em seu lançamento, com nove senadores apenas, revela, de imediato, que muita gente naquela Casa ainda está presa às amarras do fisiologismo. Mas, pelo discurso dos parlamentares que se alinharam ao movimento, quem quiser abraçar a causa vai ter de cortar a própria carne para o bem da nação, como bem lembrou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), não livrando seu próprio partido da limpeza que a presidente pretende fazer.
       Só que todo esse mutirão que o Executivo e parte do Congresso estão ensaiando não é garantia de erradicação da corrupção. Enquanto as leis vigentes no Brasil oferecerem brechas que impedem punição maior daqueles que surrupiam o país, todo o esforço da presidente fica no meio do caminho. Até que se façam as reformas políticas e do Código Penal, todas as práticas ilícitas na administração pública continuarão ao sabor da impunidade que a nossa arcaica legislação oferece como brinde aos malfeitores.
      Por incrível que pareça, antes que se ouça o clamor público, engrossando o coro de Dilma Rousseff, grande parte da comunidade política já começa a desenhar o revés político da presidente pela sua audácia de ensaiar um rumo certo para o Brasil. Para quem apenas quebrou as regras de bastidores da política, sem infringir uma letra sequer da lei, louve-se o compromisso pela democracia que foi conquistada com muita luta, da qual, aliás, Dilma foi protagonista.
       Apesar da divulgação de mais um episódio importante na vida de todos os brasileiros, é triste ver a alienação de grande parte da população, no momento em que o destino do Brasil depende de todos. Da mesma forma que os parlamentares de diferentes matizes podem empunhar essa nova bandeira, os eleitores que não contribuíram para levar Dilma Rousseff ao Planalto também têm a responsabilidade social e moral de lutar pelo futuro do nosso Brasil.
        Quanto à presidente, parece que ela vai pagar  um preço bem alto por chutar o balde, assim em nível nacional, e até estranha-se que ela ainda não tenha se dirigido à população, em cadeia nacional, para mostrar a sua postura. Mas a população brasileira pode perfeitamente referendar o seu compromisso por um país mais justo. Segundo o Coordenador do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo José Álvaro Moisés, a opinião pública é a variável mais importante na qual a presidente pode se apoiar.
     
   
      

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Luz vermelha

     O governo do Estado do Rio de Janeiro vem veiculando na mídia uma propaganda institucional tentando passar para a opinião pública um clima de bonança e bem-estar no seio da população fluminense. Para azar do governador e desgraça do povo o momento é completamente inoportuno, considerando os últimos acontecimentos.
     Se já estava difícil engolir as incongruências de uma política de segurança extremamente ineficaz, agora que o próprio poder público se torna vítima do mesmo mal que aflige o cidadão comum a necessidade e a pressa por uma solução imediata já estrapolaram o seu tempo de espera.
     Está todo mundo estarrecido com o que se considera uma afronta ao estado de direito esse atentado à juíza de São Gonçalo Patrícia Acioli. Antes que se esclareça as circunstâncias e os autores de mais um crime brutal é bom que se lembre que desta vez a ordem instituicional e o poder constituído é que fizeram as vezes do cidadão no velho expediente de vítima contumaz da violência vinda de todos os calibres e matizes no estado do Rio de Janeiro.
     O governador Sérgio Cabral, o secretário de segurança pública José Mariano Beltrame ou outra autoridade certamente se apressarão em argumentar que a atual política de segurança vem incomodando porque está atingindo o seu objetivo. Ora, mesmo que o trabalho de combate ao crime organizado não seja constante e firme, haverá sempre a reação sem hora marcada de quem se sente ameaçado. O que não pode é o poder paralelo fincar terreno no território do estado do Rio pela timidez que as medidas do governo demonstram nas ações de proteção à população.
     Independente do desfecho do caso da juíza e dos desdobramentos nas investigações do crime é importante lembrar que a sociedade já sofre há muito tempo toda sorte de violência, tanto vinda de delinquentes à solta nas ruas, quanto de tropeços de agentes públicos em ações desastradas.
     A morte de Patrícia Acioli apenas acendeu a luz vermelha para a velha questão da segurança pública. Se alguma nova medida for implementada em função do ataque à magistrada esta deve atender a todos os cidadãos, incluindo as autoridades no exercício de sua funções. É hora de os órgãos e entidades que congregam toda a magistratura do estado cobrar do governo ações mais enérgicas, como forma de proteger a população como um  todo.
     Não dá para ficar fazendo propaganda de imagem arranhada.

domingo, 7 de agosto de 2011

A bem da disciplina

      Não há dúvidas de que a Polícia Militar, dentro de suas prerrogativas de instituição séria e comprometida com a população fluminense, não se abstenha de cumprir rigorosamente as funções que lhe cabe no que diz respeito ao seu regimento disciplinar, quando algum membro de suas fileiras infrinja as regras da corporação.
      Também já faz tempo que muitos policiais acabam envergonhando toda a tropa, praticando atos que destoam do conjunto. E antes que a sociedade faça o seu julgamento, a cúpula da Polícia Militar tira de atividade quem não merece envergar o uniforme da instituição.
      Na verdade, para cada episódio de má conduta de um ou mais policiais há um desdobramento diferente, de acordo com o crime praticado, como se vê nas variantes de punição que se verifica nesses últimos tempos de vacilações da Polícia Militar.
      Como a sociedade vem sistematicamente sofrendo com as ações de bandidos e policiais em sua sofrida rotina de vida, é natural que a população faça seu julgamento, sempre pendendo para a execução sumária, no caso de prisão máxima para o fora-da-lei, e  exclusão do serviço ativo do agente público.   
    Não se pode negar que a população vai dormir sossegada quando um meliante vestido ou não de azul vai para a cadeia ou é excluído da corporação pelo dano causado à sociedade. No caso específico de expulsão do policial, num primeiro olhar parece que a população está se livrando de um mal, que seus anseios estão sendo finalmente atendidos. Para a própria instituição, um alívio em seu ambiente interno, além da resposta à sociedade pelo desdobramento satisfatório.
    Mas para a sociedade como um todo a expulsão do agente público do serviço ativo pode não ser a medida adequada e eficaz no combate à violência. A retirada do policial dos quadros da corporação só ocorre a bem da disciplina da instituição, apenas. Para a população, não há garantias de que esse desfecho trará a segurança que se espera dos órgãos imbuídos de tal tarefa. O que fará um policial militar depois de excluído do serviço público? A qualificação que ele adquiriu na PM vai servir para sua nova vida no meio civil? Se ele não tiver outra formação, acadêmica ou técnica, como ele vai fazer para se inserir no mercado de trabalho? 
     Quando vemos a proliferação de grupos paramilitares se insurgindo em comunidades carentes, dá para se ter uma ideia do destino de muitos ex-agentes públicos, considerando o perfil dos membros do nefasto grupo. Ao mesmo tempo em que o governo do estado vem fazendo essa limpeza nos quadros da PM também executa ações de combate às milícias no território fluminense, o que pode parecer um mero expediente de enxugar gelo, já que o mesmo elemento que arranhava a imagem da corporação agora perturba a paz e o sono do cidadão comum. E como esse mau elemento continua atentando contra a segurança da população, o governo do estado é obrigado a repetir a ação contra o mesmo indivíduo.
      A sociedade em todos os seus estratos sociais apenas trata de se defender do perigo que vem de todos os lados e esquecem que um policial também é um chefe de família, cujos membros dependem do seu provedor sob o ponto de vista econômico, social e moral. Portanto, que destino terá uma família, cujo provedor perdeu a garantia de sustento de sua prole? E o filho do policial meliante, em quem ele vai se espelhar até tomar forma de cidadão correto em toda sua plenitude? Dependendo do novo caminho que o ex-policial tomar a formação social e moral de sua família pode estar comprometida pela falta de orientação por parte de alguém lúcido em seu meio social ou do Estado, que de uma certa maneira é tutor do cidadão.
     Não vejo a expulsão de policiais civis ou militares de suas fileiras como medida eficaz para endireitar problemas de desvio de conduta de algum integrante dessa instituição respeitada que é a Polícia Militar. O caminho é a punição exemplar e mais rigorosa, como forma de inibir reincidências na tropa. Assim como acontece no Código Penal, o Regimento Disciplinar da Polícia Militar também oferece atalhos que redundam em penas brandas para agentes que são julgados, por exemplo, por prevaricação, ou seja, deixar de cumprir as obrigações de ofício, prometidas no ato de juramento, no período de formação. 
       E isso vale para policiais em ações desastradas, como no episódio no menino Juan; ou quando se omitem, no caso do ataque sofrido pelo coordenador do AfroReggae Evandro João da Silva. 
    Toda vez que as autoridades resolvem tentar mais uma vez encontrar um meio de resolver a questão da segurança tudo é ventilado nas mesas de debates: tecnologia empregada, parceria com outras esferas de governo e eventuais montantes de recursos destinados aos órgãos competentes.
     Nada disso tem resolvido o problema ao longo desses tropeços aos quais temos assistidos ultimamente. 
       No dia em que um agente público for punido exemplarmente, com pena rígida e longa, o meliante não terá tempo de se aventurar em ações paralelas; e a esposa ou outro dependente do militar recluso vai continuar usando o seu soldo para manter os custos da família, incluindo a educação dos filhos que não poderão seguir exemplo tão nefasto.