domingo, 30 de dezembro de 2018

Felizes novos tempos!

  
   Ninguém poderá dizer que 2018 não foi um ano eletrizante, efervescente. Numa projeção para ao futuro, digamos seguramente que que esse ano jamais será esquecido.
   Dificilmente alguém não se envolveu com cada acontecimento no período. Essa conexão em nível global arrasta as pessoas de tal forma que ninguém ficou de fora dessa grande confusão que se formou em todos os eventos que rolaram este ano.
  Tudo que redundou em discussão, debate, atingiu níveis de stress e adrenalina bem acima do tolerável. O bagulho foi tão doido, com dizem por ai, que relacionando alguns fatos ocorridos há quem diga que o momento mais suave foi aquele arranca-rabo lá do aniversário do supermercado, onde neguinho disputou carrinho na porrada. Isso num ano com Carnaval na era Crivella e fiasco da seleção na Copa.
    Mas o grande destaque, claro, foram as eleições presidenciais que acirraram os ânimos de geral através das redes sociais e se estendendo pra onde tivesse gente respirando, com o mundo virtual e real se entrelaçando e redesenhando um novo mapa. Se pegou mal as vias de fato, ponto positivo para o engajamento em questão pertinente à vida das pessoas e o futuro do nosso Brasil.
   Mas, como sempre acontece, fica lições para o futuro e outras coisas por fazer. Pode ser que 2018 seja também o ano que não terminou, tipo aquele do Zuenir Ventura, porque, pelo amor de Deus...ô anozinho atribulado, esse! Ainda vão falar muito de 2018. Lá na frente vão lembrar daquele ano em que as relações humanas quase se esgotaram por força das diferenças nas ideias, nos pensamentos e nos atos.
    De qualquer forma, cada um que chegou até aqui, comemorando ou contabilizando os lucros e prejuízos, vai naturalmente enaltecer seu próprio poder de superação, como bem lembrou um amigo, destacando que o brasileiro sabe tirar onda duro também.
    Para o próximo ano, dificilmente viveremos num eldorado. Será outro ano de muito trabalho, ou seja, todo mundo fazendo o que sempre teve de fazer o tempo todo, ralar, resistir e perseverar, enquanto vamos experimentando de tempo em tempo novos representantes para as nossas coisas públicas, sem faltar, claro aquela pitada de decepção que acomete a todos nós brasileiros.
   A expectativa para o próximo período é a mesma de sempre. A gente até profetiza tempos maravilhosos no plano coletivo, mas a garantia mesmo de resultados promissores fica por conta de nossas conquistas pessoais, das coisas boas que a gente retoma, dos vícios do qual a gente se livra, dos novos conceitos que nos engrandece como pessoa humana, as novas amizades e outras novidades que nos reacendem, cada um com suas expectativas. Eu, particularmente, estou ansioso com a chegada do meu neto Antonio, que maravilha...!
   Se é uma incógnita o novo ano, desejamos um para outro a mesma força de sempre para superar os obstáculos, porque certamente ano que vem vai ter pedra no sapato de uma grande maioria. Mas que sobre espaço mais pra risos que tristeza em todos ao nosso redor. Ah...já ia esquecendo...tudo isso, sempre com ênfase no amor.
   Feliz novos tempos a todos!   

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A Lagoa é reluzente

  
 Houve um tempo em que a Lagoa Rodrigo de Freitas tinha um charme bem diferente de todo esse brilho que essa árvore desperta nessa época do ano.
    A Lagoa como um recanto original do Rio nunca precisou de outros elementos  para complementar a sua beleza projetada em seu próprio espelho d'água, porque, seja de dia ou à noite, há algo majestoso naquele manto que nem mesmo os passantes, muitos deles não percebem.
   Sou da época do Tivoly Park, que era um atrativo à parte, mas que não acrescentava nada à beleza da Lagoa. Nem mesmo o odor fétido dos peixes mortos naquele tempo não tirava o frescor da bela paisagem, pois a Lagoa já exalava sua própria fragrância e não era um fedor qualquer daqueles sazonais que iriam tirar-lhes a essência.
   Eu falo e refaço essa cena porque eu já vivi a atmosfera dali em tempos de outrora, quando eu  frequentava a rua Fonte da Saudade e sempre tirava um tempinho para ficar sentado na beira da Lagoa contemplando todo aquele cenário maravilhoso com o Morro Dois Irmãos ao fundo.
   Hoje, dificilmente essa árvore de brilho artificial torna a Lagoa mais feia ou bonita. Por mais reluzente que ela(a árvore) seja, dificilmente ela inspire os corações de quem já conhece não é de hoje a geografia da Lagoa, incluindo suas curvas, as gaivotas que nela sobrevoam, o rush dos carros, ciclistas e corredores.
    Se há um sopro de inspiração naquele pisca-pisca gigante, só se for para os forasteiros, aqueles que conhecem a Lagoa apenas pelo cartão-postal, porque para nós que já vimos a Lagoa tipo que nua em pelos, toda vez que passamos pela Curva do Calombo ou contornado pela Borges de Medeiros rola um misto de nostalgia e satisfação.
   Que a Lagoa Rodrigo de Freitas possa cada vez mais atrair e instigar olhares românticos, de preferência sem esses acessórios de ocasião, pois a nossa eterna e reluzente Lagoa não precisa de enfeites, ela tem brilho próprio.
 

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Rio com o pé na lama



  A prisão de Luiz Fernando Pezão é o último estágio de degradação do Estado do Rio de Janeiro. Não há mais nada que possa acontecer que configure um momento pior do que ver o próprio governador em pleno exercício do mandato preso por corrupção.
  Hoje, fazendo um balanço de todos os momentos de aflição da população fluminense como um todo, é fácil constatar que a precariedade dos principais serviços públicos oferecidos, a angústia de grande parte do funcionalismo do estado, a economia decadente e a falta de perspectiva de crescimento do estado é fruto única e exclusivamente do desvio desenfreado de dinheiro público, tanto na administração de Pezão quanto de seu antecessor Sérgio Cabral, já preso como artífice de toda essa engrenagem que pôs o estado do Rio nesse caos visível a todos.
   Quando vemos a máquina do estado praticamente parada por conta da roubalheira, é triste olhar no horizonte e não vislumbrar nenhuma perspectiva otimista, ainda mais sabendo que outros personagens da administração estadual estão envolvidos nessa sujeirada toda, deputados estaduais, alguns presos, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, além de um membro do Judiciário, um ex-procurador do estado.
   Apesar da desolação de ver o estado do Rio nessa penúria, é animador saber que a justiça vem dando a resposta que a sociedade espera, e a prisão do governador em pleno exercício, não só marca o ineditismo desse procedimento jurídico no combate à corrupção como também acende a esperança de que a corrupção que vem surrupiando dinheiro público há várias gestões pode ser combatida dentro dos preceitos legais em vigor, antes mesmo de qualquer reforma que torne cada vez mais excelente esse processo.
   Ao próximo governador, Wilson Witzel, cabe justamente essa missão, a responsabilidade de acenar com propostas no sentido de, se não erradicar de vez a corrupção, pelo mensos diminuir os efeitos dessa praga que desestabiliza completamente a agenda do estado em seu compromisso com a população fluminense.
  Até porque o governador eleito vai sentir na pele os efeitos dessa administração corrupta que marcou a passagem de Luiz Fernando Pezão à frente do governo estadual. Wilson Witzel vai precisar de uma verdadeira força-tarefa para colocar o estado do Rio de Janeiro no lugar onde sempre esteve em tempos anteriores.
   Diante de tantos problemas com os quais o futuro governador vai se deparar não tem como priorizar o mais urgente. Witzel vai ter de simplesmente conciliar todas as frentes em sua agenda.
   Seja na Segurança Pública, na Saúde, na Educação e em outras áreas que de uma certa forma foram afetadas pela falta de recursos comprovadamente desviados na administração de Pezão, a verdade é que o futuro governador terá o desafio de reconstruir uma agenda positiva para o estado do Rio de Janeiro com a transparência que faltou às gestões anteriores.
   Quanto ao Luiz Fernando Pezão, que ele pague pelos erros cometidos. Que ele sofra os rigores da lei. A sociedade até sabe que isso não vai trazer de volta as vidas que se foram pela corrupção que interrompeu investimentos em segurança e saúde, por exemplo, mas a justiça tem mecanismos suficientes frear o ímpeto desses ladrões do patrimônio público. Que a punição imposta a ele seja proporcional ao estrago causado no estado do Rio de Janeiro nesses últimos tempos.
    Nada mais justo para quem afundou o estado do Rio de Janeiro nesse lamaçal.  
   
      
   
                                                                                                                                     Foto: Rápido no ar

domingo, 18 de novembro de 2018

Saúde acima de tudo

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 Depois do resultado das eleições o normal é uma certa tranquilidade, ainda mais com toda aquela efervescência de rivalidades e discussões ao longo da campanha. Mas eis que durante a fase de transição iniciada, quando tudo começa a entrar nos eixos, um novo governo ganhando formato, justamente o presidente eleito, Jair Bolsonaro, aviva o fogaréu que já estava quase brando.
   Se a escolha dos integrantes do novo governo provocou as costumeiras discussões e especulações sobre um ou outro, a explanação de Bolsonaro sobre o fim do Programa Mais Médicos com a consequente saída dos médicos cubanos, além de realimentar o velho racha ideológico que norteou a disputa, ainda revelou o despreparo do presidente eleito com questão de alta relevância que é a saúde pública no Brasil.
   Já é praxe no Brasil que o novo governo não prossiga com alguns projetos da gestão anterior, e o período de transição acaba por mostrar as mudanças que virão, e as decisões tomadas são sempre calcadas em ideias e projetos prontos, pelo menos é assim que a sociedade espera que aconteça, mas o futuro presidente resolveu quebrar o protocolo ao disparar contra o programa que é uma das marcas do governo petista, que de uma forma ou outra atingiu o objetivo que se pretendia de fazer chegar ás regiões mais necessitadas atendimento de saúde básica à população.
  Mas parece que as consequências e efeitos na vida das pessoas com essa decisão ficaram em segundo plano no momento em que Jair Bolsonaro deu conotação ideológica, além do momento completamente inoportuno, provocando reações imediatas e as considerações sobre tão tresloucada decisão.
  Para começo de conversa, nem o titular da pasta da Saúde foi escolhido. Era ele quem deveria anunciar o fim do programa, já com um plano pré-estabelecido dentro de todos os critérios técnicos que cercam a questão, mas só depois com todos já empossados. 
   Com relação ao programa que será interrompido, segundo o presidente eleito, é totalmente irrelevante discorrer sobre a forma como Cuba conduz esse projeto dentro de seus domínios. A soberania daquele país permite a qualquer nação reconhecer a seriedade com que é tratada a questão da saúde na Ilha, bem diferente daqui, obviamente.
   Não interessa para nós brasileiros saber o destino que o governo cubano dá aos recursos pagos pelo Brasil. O importante é o resultado do projeto na área da saúde aqui no território brasileiro. E isso foi ignorado, tanto nessa discussão inútil nas redes sociais quanto por parte da imprensa em seu cotidiano.
   Agora, é esperar o futuro governo preencher mais que imediatamente as lacunas que certamente ficarão com a interrupção do Programa Mais Médico. O mínimo que Jair Bolsonaro já pode fazer é adiantar o nome do titular da pasta da Saúde para traçar novas diretrizes para o setor, principalmente nas áreas que serão afetadas pelo fim do programa. Porque, com essa debandada dos cubanos, até que as vagas sejam preenchidas muita gente pode ficar sem atendimento, o que é inadmissível para uma causa das mais importantes.
   Se o futuro presidente tratar a questão da saúde sem o viés ideológico com que poderá tratar outros assuntos certamente vai ver que a saúde dos brasileiros está acima tudo.
    

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Nossa paisagem interior

A imagem pode conter: árvore, céu, grama, planta, atividades ao ar livre e natureza
   Eu fiquei ali observando a fronteira entre dois mundos diferentes, mas tudo num espaço só, onde o contraste entre cores e vidas passa despercebido de muita gente nessa correria em que vivemos.
   Foi nesse instante em que os passarinhos murmuravam sua sinfonia que eu estiquei os olhos para o outro lado da grade, lá no fundo, onde tudo é barulhento e tão frenético que nem os ponteiros daquele velho relógio dão conta das horas que parecem voar mais rápido que as pessoas.
   Enquanto especulava sobre o desafio da convivência pacífica entre o passado e o futuro, a própria paisagem revelava a importância de tudo que encontramos por aqui e a responsabilidade de passarmos adiante o mesmo encantamento aos olhos que ainda vão nascer.
   Mas esse deslumbramento mudou de cenário rapidamente quando prossegui o passeio com meu filho, pois, logo lembrei que nosso mundo interior também é assim, com a mesma perspectiva, se confrontarmos com o universo que nos cerca, esse das pessoas ao nosso redor.
   Porque está na cara que nós também temos nossa natureza particular com aquele espaço enorme e verdejante. Alguém duvida que também temos atmosfera e oxigênio em nosso íntimo?
 Nossas bactérias são como aqueles passarinhos, cotias, marrecos, cisnes, gatos e pavões se movimentando de um lado para o outro numa convivência harmoniosa.
   É claro que nem tudo dentro de nós é verdinho assim. Vivemos de tormentas também. Temos nossos próprios tempos nebulosos, porque fazemos tempestade, nem que seja num copo d'água que ninguém é de ferro. Temos vento quando gritamos para o mundo e chuva toda vez que o choro é inevitável e desaba. Basta que as dores e injustiças do mundo alterem o humor e a respiração.
   Se os olhos são o espelho da alma, também são a janela para o mundo.  Se hoje eu retribuo ao meu pimpolho a satisfação que minha mãe me proporcionou é porque eu assimilei um pouco do que podemos oferecer.
  Se nossos mais nobres valores e sentimentos nos permitem pintar um belo cenário em nossas vidas, que sejamos sempre capazes de torná-las cada vez mais verdejantes.
     
   
    

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Oposição é fundamental

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   No dia seguinte ao resultado da eleição o clima tenso que norteou toda a campanha continuou, desta vez em clima de revanche. Tão logo se confirmou a vitória de Jair Bolsonaro para a presidência da república, eleitores do candidato adversário Fernando Haddad manifestaram prontamente sua condição de opositores ao vencedor do pleito.
   É normal que essas rusgas prossigam por um bom tempo, mudando de cenário quando começar o próximo ano, já´com o novo presidente empossado e ocupando sua antes disputada cadeira.
   Mas, chamou a atenção, principalmente nas redes sociais, a reação dos seguidores do presidente eleito às manifestações do grupo rival ao anunciar a tal resistência ao governo da situação, como se isso não pudesse acontecer, agora com o resultado das urnas sacramentado.
    Ora, oposição é mais que normal, isso sempre existiu. E dentro de um processo democrático isso é fundamental para o fortalecimento do regime. E nesses tempos de alternância de poder, essa inversão de papéis não é nenhuma novidade.
    Se pareceu para os jovens eleitores, estreante na disputa, algo sem propósito essa coisa de protestar contra quem triunfou com todos os méritos, essa perspectiva logo de desfez, pois foi possível ver a grita de um público mais experiente em eleições se esperneando com a tal resistência instaurada.
   Nunca é demais lembrar que Jair Bolsonaro era o candidato da maioria, tanto que venceu, agora ele é o presidente de todos os brasileiros, o que em linhas gerais sugere uma expectativa positva nas ações do novo mandatário do país.
   Mas é claro que isso não desfaz, nem tampouco ameniza a pressão que o presidente vai sofrer para por em prática suas promessas de campanha. Além do público com a força das redes sociais, há a oposição oficial no Congresso Nacional, onde certamente se travarão infindáveis batalhas.
  Portanto, da mesma forma que Jair Bolsonaro tem em mente a oposição que lhe espera para o próximo mandato, para o público em geral é importante também essa consciência de que a oposição tem lugar cativo no cenário político. 
   É essa atmosfera de oposição constante que permite a vigilância sobre tudo que diz respeito à coisa pública; é essa essência do contra que revela o envolvimento da sociedade, ainda que partida, nos rumos do país. Não é demais dizer que a oposição contribui para enriquecer qualquer debate que vise o interesse público. 
   Então, não será difícil para o presidente eleito lidar com a oposição, já que ele mesmo se valeu dessa condição tempos atrás. Para o público em geral segue a máxima do reconhecimento que revela o amadurecimento e tolerância de um lado, e a oposição saudável do outro.
   
      

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

A democracia em rede

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  Ainda que em clima tenso e a opinião pública com os nervos à flor da pele, é uma democracia de fato. Ao mesmo tempo em que essa diversidade de pensamento entre eleitores e candidatos acirra os ânimos durante a disputa, a efervescência de uma campanha eleitoral é fruto da liberdade que todos conquistamos para promover mudanças e renovações para a sociedade.
  Não foi diferente de eleições anteriores o clima de batalha campal que se instalou ao longo da campanha, mas destaca-se nessa disputa especificamente o ambiente das redes sociais. 
  Tudo bem que toda aquela discussão, xingamentos, agressões, acusações mútuas e fake news em larga escala, em nenhum momento contribuem para que a disputa seja saudável, mas olhando pelo lado positivo há um envolvimento maior, principalmente dos jovens, o que demonstra a maturidade de uma geração agora mais antenada com as coisas da política.
   O próprio resultado das eleições já revela uma configuração diferente com o surgimento de caras novas no cenário político, tomando assento de algumas velhas figuras.
  Não deixa de ser animador essa nova consciência que surge no horizonte, ainda mais entre os jovens, de quem sempre se esperou a iniciativa de tomar partido dos rumos da cidade, do estado e do país, num futuro do qual eles mesmos farão parte.
   Diante desse cenário, não há dúvida de que o eleitorado, principalmente esses que agora tomaram gosto pela política ganharam um protagonismo maior, mais até que os personagens escolhidos por eles. Se os políticos é que se achavam os mais importantes, perderam o posto. Pode-se dizer, seguramente, que essa nova tendência de mobilização vai remexer os critérios de quem se propor a disputar as eleições daqui para frente, além da própria legislação eleitoral que poderá sofrer alterações em função desse novo quadro.
  De qualquer forma, fica como saldo positivo nessa eleição esse envolvimento maior, essa nova conexão em rede da massa votante em todo o país, o que aumenta ainda mais a responsabilidade de eventuais postulantes a cargo público, porque, se houver uma vigilância na mesma proporção depois de empossados os eleitos, independente de quem sair vitorioso. 
  Se isso vai desencadear uma nova forma de fazer política mais para frente, só o futuro nos dirá. Deixemos de lado por um instante o viés ideológico da disputa para exaltar a figura dos principais atores desse grande palco que é a democracia. 
   Só lembrando que em meio à desdobramentos de pleitos anteriores, já se cantava essa pedra há muito tempo, essa participação mais efetiva da população em seu próprio rumo para o futuro.
    Mais do que a própria política em si, a democracia brasileira precisava dessa nova roupagem, dessa maturidade em rede.

                                                                                                                             Foto: Folha Política
     
    
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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A democracia ainda é melhor

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   Não é porque a democracia está esculhambada que não devemos mais preservá-la. De todos os momentos de revisão e reflexão sobre a nossa trajetória, o pior é quando optamos por andar pela contra mão de nossa própria história.
   Nessa grita para mudança de regime por parte de  uma parcela da população falta um pouco mais de análise sobre o esforço que todos fizemos para que chegássemos aonde estamos. Digo todos porque a sociedade não se dividiu quando reivindicamos a redemocratização do país. Se havia alguém contra todo aquele estardalhaço era mais interesse individual. ou no máximo corporativo, que coletivo.
   Se hoje há várias tribos sequiosas de poder, a própria democracia instaurada permitiu essa oportunidade, essa liberdade a quem quer que fosse, trazendo à nova cena política novos personagens e também velhas raposas que, juntos, redigiram uma nova constituição.
   Mas, apesar de a nova Carta recuperar as garantias individuais e coletivas que a ditadura militar havia interrompido, não houve muita preocupação em resguardar o patrimônio público tanto no plano institucional como no campo jurídico. A legalização da imunidade parlamentar é uma prova do que consideramos hoje uma grande aberração.
   A indignação que hoje pesa sobre o Partido dos Trabalhadores nesses registros de malfeitos dos integrantes da sigla faz sentido pela bandeira da moralidade pública que o PT levantava quando era oposição, e depois se curvou às incongruências do status quo, mas não se pode, nem tirar-lhe o peso da culpa nem atribuir ao partido o pioneirismo da corrupção no Brasil.
   Das velhas figuras que sempre dão cria na política até os dias de hoje, a sombra e a herança daquele regime opressor e excludente que tenta se eternizar no tecido social, enquanto a liberdade conquistada vai dando confiança aos filhos da velha política.  
    Já passou da hora de as eleições renovarem apenas nossas expectativas de tempo em tempo. É a democracia que escolhemos que nos permite a liberdade de escolher quem pode nos representar de fato; é através da democracia que podemos trocar as peças de nosso tabuleiro.
   É compreensível esse sentimento de revolta que passa ao largo da razão, mas não é voltando no tempo que se recomeça tudo novamente. Há registros do quanto foi doloroso aqueles anos de chumbo, quando tudo era precário e limitado e não se podia levantar a voz contra os protagonistas daqueles tempos nebulosos.
    O saudosismo não pode estar atrelado ao retrocesso. Ao contrário do que pensam uma parcela significativa, é melhor que tenhamos sempre essa liberdade de escolha.
     
  
   
     

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A polarização da mediocridade

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  Não é de hoje que a velha polarização entre forças opostas ilustra o cenário político brasileiro. A diferença é o viés ideológico de hoje, bem diferente daqueles tempos de outrora, quando a política do Café com Leite inaugurou esse expediente de cada um governar um pouco.
   Mas, agora já não basta analisar essa disputa sob a ótica do juízo de valor, em que discussões incansáveis e inúteis dividem a sociedade tentando sobrepor uma verdade à outra. 
    No caso dessa contenda entre a esquerda e a direita é inútil nesse momento especular quem é mais importante para o Brasil, e sim, analisar a performance de cada um quando tiveram o poder nas mãos, pois, desde a época em que paulistas e mineiros se alternavam no poder, também não é diferente que as correntes opostas de hoje tenham que rever seus conceitos, porque num breve balanço é possível concluir que há em ambos os lados mais momentos de timidez e inoperância que instantes de consagração.
   A direita, tanto a conservadora quanto a liberal, sempre figuraram por mais tempo na administração do país. Desde a época em que o Brasil se tornou independente, passando pela Velha República e as fases conturbadas do cenário politico brasileiro, o país criou seu mapa geopolítico, se industrializou e fortaleceu suas instituições, criando condições para que atingíssemos patamares importantes que outras grandes nações já detinham.
   Mas questões fundamentais que envolvem a riqueza do país, meio-ambiente, legislação e reformas em geral são pontos que ainda deixam a desejar, considerando os benefícios à população.
   De qualquer forma, houve mudanças profundas e o Brasil ganhou dimensões continentais, mas sem que isso elevasse nosso país a níveis de uma nação de primeiro mundo, e tampouco diminuísse os números de nossos mais preocupantes indicadores. Por isso, ainda estamos nessa expectativa de grandes transformações.
   Com relação à esquerda, enquanto almejava o poder, para a sociedade ou parte dela, uma alternativa às lacunas deixadas por administrações conservadoras, ligadas à elite do país, permitindo desigualdades pelo Brasil afora. Finalmente no poder, houve conquistas importantes, principalmente na área social.
   Mas vale destacar as alianças que a esquerda precisou costurar para comandar a nação e implementar seus principais projetos. Na verdade o mesmo modelo de administração baseado em acordos, parcerias e negociações políticas que a direita já adotara como paradigma, revelando os velhos vícios de sempre.
    Hoje, a corrupção deixa à mostra as vísceras do poder, tornando completamente inútil essa polarização entre forças opostas, mas irmanadas na mesma expropriação da coisa pública, igualando ambas as correntes no mesmo perfil vacilante.   
     Agora, mais do que nunca, não há´garantia de que essa disputa será saudável como sugere a própria democracia brasileira, enquanto a direita e a esquerda não reverem seus conceitos.
    Se parece utópico em meio a um período conturbado do cenário politico, enquanto a possibilidade de união em prol de um só país continuar relegado ao segundo plano, dificilmente reverteremos esse quadro caótico.
    Enquanto houver essa polarização nivelada por baixo, tanto à direita quanto à esquerda o Brasil estará sempre fadado à mediocridade.
     

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

O velho tempo da política

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   Já saiu da boca de muita gente que a política se renova a todo instante, mas quando se ouve também que tudo ou quase tudo que gira em torno da política continua no mesmo há controvérsia nessa máxima inicial.
  É mais seguro dizer que a política só se renovará quando quando seus elementos principais estiverem de acordo com a realidade atual. Não adianta olhar a forma como a sociedade se organiza politicamente e enxergar vestígios do passado; identificar como sendo de outrora essa fórmula de agora, que se for de agrado de uma parcela, ainda assim não se poderá enquadrá-la como moderna e eficaz até que ela seja o mais abrangente possível. 
   Talvez esteja nesse período de sufrágio universal a oportunidade  de reflexão sobre os caminhos que já percorremos como sociedade organizada sem longos passos e grandes conquistas.
   Os próprios discursos revelam o estágio em que se encontra a sociedade brasileira. As promessas e otimismos exacerbados são sinais de expectativa constante, a prova cabal de que ainda não somos o que queremos ser.
   É na hora de fazermos essa troca de tempo em tempo que vemos mais claramente que tudo que se reivindica agora já era para ter sido realizado. Os principais serviços públicos ainda são precários porque não se criou um modelo ideal de saúde, educação e segurança. Era para estarmos discutindo como aprimorar a excelência de nossas conquistas e realizações.
   Por tantas vezes que nos convocamos para trocar as peças de nosso tabuleiro, o Brasil já seria uma nação próspera. Nossa economia, nosso PIB poderia inspirar outras administrações além fronteira.
   Com relação aos principais personagens desse cenário ainda cheio de incertezas, convencionou-se criar a polarização entre o anjo e o demônio em busca do poder. São figuras que invertem seus papéis sistematicamente, demonstrando que caiu em desgraça esse velho expediente de alternância de poder.
   O próprio tempo mostrou que esse negócio de  cada um governar um pouquinho em nenhum momento sugere renovação. Muito pelo contrário, parece que o relógio para enquanto as velhas raposas se divertem no poder, ou com o poder para ser mais atual.
   O desafio agora não é recuperar o tempo perdido, porque até isso dá errado na política quando aventam essa possibilidade. O grande lance é ir encurtando a distância entre o tempo da política e o tempo dos homens. A renovação da política está condicionada a essa aproximação. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Um novo cenário

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   Mesmo antes do resultado final das eleições, é possível perceber as transformações que o eleitorado operou para o próximo ano.
   É bem verdade que é cedo para assegurar que haverá mudanças de fato, mas pela configuração que está se desenhando, por exemplo, nas cadeiras de parlamentares no âmbito estadual e federal, pelo menos por parte do eleitor o manifesto desejo de mudança é explícito.
   Não deixa de ser animador ver aquelas velhas raposas da política saindo de cena. São figuras que tiveram a oportunidade de mudar retrospectos amplamente desfavoráveis à população e acabaram se comportando com um misto de timidez, passividade e irresponsabilidade com a coisa pública e foram com o tempo perdendo a confiança do publico em geral.
   Agora, cabe a esses novos personagens do cenário político, justamente com aqueles que ganharam uma nova chance, retribuir a confiança neles depositada. Embora ciente das dificuldades que poderão encontrar para exercer com responsabilidade suas funções, a sociedade certamente estará atenta a qualquer comportamento que destoe do perfil do homem público de boa-fé.
   Com relação ao novo presidente e os governadores, todos sabemos das dificuldades financeiras que eles encontrarão pela frente para implementar novos projetos e retomar aqueles que foram interrompidos por uma razão qualquer nesses tempos de crise financeira que ronda as três esferas de governo.
   Pelo lado dos parlamentares escolhidos para legislarem com vistas ao interesse público, cabe lhes seguir à risca as prerrogativas do cargo de cada um, nas câmaras estaduais e no Congresso Nacional.
   Nunca é demais lembrar que toda essa movimentação operada pelos eleitores foi movida pela indignação  da sociedade com os registros de corrupção que ilustram o cenário político nesses últimos tempos, além da precariedade dos principais serviços públicos oferecidos à população, como sáude, educação e segurança, cujos números vêm sistematicamente afligindo os brasileiros.
   Portanto, não resta outra alternativa ao novo presidente, governadores e legisladores eleitos senão criar mecanismos para reverter esse quadro caótico na administração pública e colocar em prática as reivindicações da população. Se não for desse jeito, de nada terá adiantado o barulho produzido até aqui.
   E independente da corrente politica que se sobressair ao final do segundo turno, os projetos com suas urgências e necessidades são comuns a todos, e a sociedade sempre rachada e dividida  tem também a responsabilidade de formar uma mesma massa num só Brasil nesse novo cenário. 

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Eleição não é festa



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 Toda eleição é assim. Um clima festivo toma conta da população às vésperas da votação. As discussões, as brigas, a efervescência das redes sociais, tudo faz parte dos preparativos para aquela velha peregrinação de todo mundo rumo às urnas, e mais uma vez um esforço para que tudo que tiver de renovar aconteça.
   Só que diferente dos outros eventos do nosso calendário, as eleições não têm o caráter festivo, de entretenimento, enfim. Não é uma consagração  com cenário de fogos, bebedeira, comemorações, dança e alegria exacerbada. A forma como tudo acontece até parece festa, mas há um ar de seriedade em toda essa atmosfera no momento em que a população é conclamada a traçar seu próprio destino.
   As diferenças de opiniões que dão o tom aos debates são o combustível para as infindáveis rusgas em qualquer ambiente em que haja manifestações de toda ordem ideológica. É nesse momento que o ambiente de bandeiras flamulando, a alegria incontida e a idolatria incontrolável ganha o aspecto sério de chamamento coletivo, em que o destino de um povo, das cidades e do país está em jogo.
    Se em outros tempos o cenário político foi palco de festa, o processo de redemocratização do país permitiu um clima de festa e consagração pela guinada que o Brasil deu ao sair de um ambiente de opressão para um horizonte totalmente favorável ao desenvolvimento do Brasil com ênfase na liberdade dos cidadãos.
    Mas em tempo normal do processo eleitoral a palavra de ordem é consciência, e todo aquele ar de festa fica para depois, quando o resultado final revelará os personagens e a forma como nossas vidas serão conduzidas no espectro político.
   Portanto, deixemos de lado esse clima festivo porque o momento exige seriedade pelas incertezas do cenário político, o que interfere automaticamente na vida de todos os brasileiros.
       

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Tempo perdido


   Se tem uma coisa que é quase impossível mensurar é o tempo em que nada acontece; aquele período em que tudo é inviável; aquele espaço de instantes em que nada condiz com as voltas que o ponteiro dá.   Para ser mais preciso quanto às incertezas do homem, voltemos ao tempo em que a areia escorria pelo funil da ampulheta, numa mostra do quanto já dura essas vacilações.
   Se outros eventos nos permite essa transposição, não é diferente em período eleitoral entrar nessa máquina do tempo e constatar as lacunas que ficam para trás na trajetória do homem público. É impressionante como o sujeito que é escolhido para representar perde a chance de um grande efeito perante a sociedade.
   Hoje é muito comum essas pessoas saírem da vida pública pela porta dos fundos, em vez de figurar na galeria das grandes personalidades. 
   Há uma gama de personagens que se perdem em seus próprios projetos de vida como quem tropeça em suas pernas, transformando seus ideais num verdadeiro cipoal.
  Se o fracasso do homem comum fica restrito a seu mundo particular, sua dores e revezes não fustigam ninguém além de si mesmo. Para o homem público suas limitações no trato com a coisa publica surtem efeito em outra dimensão porque habita o campo do interesse coletivo.
    Andando pelas ruas do Rio de Janeiro é fácil perceber que as promessas que foram feitas em prol de nossa cidade ficaram presas no discurso. O Rio que sempre teve o status de uma grande metrópole vai perdendo essa característica à medida vemos cada vez mais precários os principais serviços públicos.
   Nessa campanha, especificamente, vemos as figuras que tiveram a oportunidade de realizar grandes feitos na cidade maravilhosa em ocasiões anteriores, e agora surgem com as mesmas propostas em outras funções, passando despercebido para muita gente que eles podem frustar a população novamente, por, simplesmente, prometerem algo completamente fora da alçada do cargo que reivindicam ocupar.
   E com isso mais uma eleição com a expectativa de sempre, mas sem a garantia das mudanças necessárias, porque a ação do homem público é tímida por força de interesses e falta de coragem.
   Ao cidadão cabe sua cota de responsabilidade por insistir nesse modelo de administração que fica restrito à superficialidades, em que, não só a cidade como o estado e o país vão sendo maquiados apenas.
   Para não imperar mais essa sensação de tempo perdido, seria ideal que ficasse para a posteridade a marca dos grandes homens públicos estampada na transformação da cidade, em vez dessa eterna expectativa de dias melhores.
  

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A culpa é dos santinhos

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   Eu estava dia desses revirando coisas antigas guardadas e encontrei o título de eleitor de minha mãe. Automaticamente me reportei àquele tempo em que as ruas ficavam cheias daqueles papeizinhos de candidatos, os famosos santinhos, que certamente contribuíram muito mais para entupir bueiros do que convencer o eleitorado. 
  Pode ser, inclusive, que as ruas da cidade fiquem alagadas em boa parte por causa desses malditos panfletos. Mas isso é assunto para depois, até porque não está na pauta dos candidatos de agora.
  Voltei lá atrás, indo votar com a d. Zélia, naquela confusão nas ruas, e mamãe escrevendo o nome dos candidatos na cédula. Nossa... lá se vai tempo! E aquela mesma expectativa que se vê hoje, de discussões acaloradas e inúteis.
  Daquele tempo, de quatro ou cinco décadas atrás, até os dias de hoje, todas as mudanças no processo eleitoral não traduziram efetivamente um cenário adequado à realidade desses novos tempos.
  Ao longo dessas décadas, quem se propôs governar nossa cidade, o estado ou o país não operou as transformações necessárias. Houve mudança de regime, de tecnologia e tudo mais, mas sem, contudo, reverter o quadro geral em todas as esferas de governo.
   Assistindo agora a esses bate-bocas sem fim nas redes sociais, o eleitor mais antigo vai lembrar que essas brigas e discussões já existiam nos bares, nas praças, nos transportes, enfim, em qualquer lugar onde havia aglomeração de pessoas, como é hoje o ambiente virtual, mas que reproduz fielmente tudo aquilo que acontecia em período eleitoral naquela época.
  Não é verdade que aquele período foi melhor como afirmam muitos. Foi apenas diferente. A expectativa de dias melhores que marca os discursos e promessas em todos os pleitos é a prova de que tudo continua a mesma coisa, pois, todo mundo bate nessa tecla para atrair seus seguidores, usando a linguagem bem adequada aos tempos atuais de como se define os eleitores.
   Quem ainda vota hoje com a mesma esperança e euforia dos tempos de mamãe também nutre a frustração de outrora, e minha certamente estaria nesse rol.
  A continuar esse estado de coisa em todos os pleitos só nos resta reivindicar o fim dos santinhos. São eles os maiores culpados por comprometerem nosso futuro, entupindo nossos bueiros.
   

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Vida longa aos contadores de história

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  De tanto a gente ver sumindo do mapa nossos registros antigos, não demora muito e vamos reivindicar aos céus vida eterna aos contadores de história, aqueles personagens que vão sempre espalhar por aí que um dia já tivemos um cérebro bem menor que hoje, mas que não adiantou nada essa mudança.
   Até os fofoqueiros, tão execrados pela vizinhança, ganharão status de celebridade e nesses tempos de redes sociais terão mais seguidores que políticos em propaganda eleitoral.
   Pela velocidade com que nossos vestígios vêm sendo deletados, não há garantias de que esse acervo ficará guardado por muito tempo. Assim, pode ser que não consigamos mais provar que já saímos da caverna faz tempo, o que pode, de repente, fazer surgir questionamentos sobre nossa própria existência.
   De qualquer forma, independente de os contadores de história ganharem ou não o reino dos céus, essa era contemporânea já pode ser considerada o período em que os tempos se confundem. Muito menos pela relatividade que o velho Einstein teorizou, mas sobretudo pela mudança de rumo que o homem dito moderno operou em sua própria história, desconstruindo o passado, o que, automaticamente, compromete o futuro.
    Não é de hoje que rola esse expediente de apagar os vestígios de quando tudo e as coisas engatinhavam. De tempo em tempo o que muda é a forma como a gênese das coisas vão de esvaindo como fumaça.
   Se hoje é um feito inédito queimar museus, em outros tempos a Inquisição e outros regimes totalitários já queimavam livros. O objetivo é o mesmo: frear a difusão do conhecimento.
    Aqui no Brasil, esse descaso com a cultura e seus elementos de maior valor não deixa de ser exclusão do saber da vida social. Não interessa que se saiba de onde viemos. Só importa traçar os rumos da humanidade e a dimensão de seu buraco, até que caibam todos dentro.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Inimigos do estado

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   Houve um tempo em que a questão da segurança se tornava mais complexa pelos números cada vez mais alarmantes da violência em todos os seus quadrantes. A cada política de segurança que se instalava uma expectativa ainda maior por resultados imediatos.
   Hoje, o alcance e dimensão tomados pela causa desnudaram outros elementos e revelaram outros fatores a serem considerados nessa velha tentativa de trazer sossego para a população fluminense.
   Nesses tempos em que a corrupção norteia o cotidiano do serviço público em todas as esferas de governo, não é diferente esse cenário na área de segurança, onde certamente o desvio de conduta de agentes públicos vai interferir diretamente em qualquer proposta de segurança pública, independente do âmbito em que se realiza.
   É bom que se lembre que os agentes de segurança dentro de sua prerrogativa de guardiães da população merecem todo o reconhecimento da sociedade pelo trabalho de combate à criminalidade, inclusive com a proteção de uma legislação rigorosa a quem atentar contra sua integridade em seu campo de atuação, pois, é triste ver essa estatística de policiais mortos cotidianamente.   
    Só que hoje, diante de registros de má conduta de agentes de segurança, é preciso repensar outros modelos de penalizações a esses desvios como forma de trazer à população a credibilidade do aparelho de segurança, porque não é menos chocante aos olhos de todos o alinhamento de alguns desses agentes à criminosos que o poder publico tem de combater permanentemente, e não haver punição exemplar ao mau servidor público.
  Portanto, parece ser um ponto importante a ser visto com outros olhos essa questão sobre o envolvimento de policiais com a criminalidade, não só pela preocupação da população como também nos prejuízos ao estado, no momento em que agentes excluídos da corporação se integram às milícias, onde já se encontram agentes reformados, ainda recebendo proventos do governo. Um absurdo. Há que se rever esse modelo de penalização.
    Se existe a possibilidade de inserção desses agentes à criminalidade, é melhor que eles, em vez de expulsos, fiquem reclusos por um tempo que os impeçam de se associarem às forças do mal. A sociedade deve exigir que o regimento disciplinar da corporação se adeque à atual realidade.
   Porque, inimigos o estado já tem demais para combater, e a população, prejuízos à mesma proporção para contabilizar.
 
 
   
     

domingo, 5 de agosto de 2018

Tempos de medo

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  Que a violência já faz parte do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, até quem não vive por aqui já sabe. Pelo tempo que passou de tantas medidas paliativas, qualquer plano que se traçar daqui pra frente, por mais que ele apresente a seriedade que a questão exige, já nasce sem a garantia dos resultados que a população espera.
  A própria intervenção militar que no momento faz as vezes no combate à violência na cidade é tímida em seu organograma se compararmos a dimensão do problema, ainda mais que essa medida nasceu em caráter de emergência, sem nenhum planejamento, na verdade, nos mesmos moldes de outros pacotes que igualmente frustaram a população do Rio de Janeiro.
   Não tem como tratar essa questão como se os eventos de violência de hoje ainda ocorressem com a mesma dinâmica de tempos atrás. A violência hoje fecha escolas, unidades de saúde e vias públicas, pondo em risco cada vez os moradores no dia a dia da cidade.
  Não pode esses ensaios de política de segurança investirem apenas na infraestrutura do aparelho policial, como aquisição de viaturas e policiamento reforçado em regiões específicas, no momento em que há urgência em sua totalidade territorial, além de outros pontos que precisam ser observados com a mesma atenção.
   Até porque a violência foi ganhando novos contornos e outros ambientes. Além dos inimigos de sempre, os marginais conhecidos de todos, a corrupção do agente público, aquele de quem se esperava a ética, o compromisso e o combate sem trégua aos criminosos, acaba por interromper e minar qualquer possibilidade de resultados imediatos e promissores.
  De tão complexa que se tornou a questão da violência, não basta que a causa fique restrita ao âmbito estadual, onde só os governadores ficam responsáveis pela gestão da política de segurança pública. A violência é uma causa que afeta cidadãos de norte à sul do país, principalmente nos grandes centros urbanos. Portanto, como já foi ventilado diversas vezes, é necessário um modelo nacional de segurança pública com ênfase nas especificidades e geografia de cada região, além, é claro, de reformas profundas nos códigos e legislações vigentes para que surta efeito positivo, mesmo que a longo prazo.
    Esse quadro é o que mais se aproxima de algo eficaz para o combate à violência. Fora disso, o que vier é paliativo nesses tempos de medo.
 
 
 
    

sexta-feira, 4 de maio de 2018

As cinzas do descaso

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   Já foi o tempo em que os velhos "paus de arara" intensificavam o movimento migratório para os grandes centros urbanos do país. Se hoje o êxodo rural já não tem o mesmo fluxo de outrora, ainda que em outros meios de locomoção mais modernos, os efeitos dessa concentração nas grandes metrópoles são cada vez mais visíveis.
   A tragédia que marca a vida das pessoas que vivem de ocupações irregulares vai muito mais além da queda do edifício que desabou em São Paulo. Por entre as cinzas e os destroços revela-se uma mazela que se arrasta faz tempo: o inchaço das grandes cidades.
   Por ser o destino final da maioria daqueles que fugiram da seca nas regiões norte e nordeste do Brasil há décadas passadas, São Paulo hoje registra os piores indicativos para o déficit habitacional que acomete outras cidades que também se tornaram o destino dessa massa de retirantes.
   Como bem declarou o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, após o incêndio e queda do edifício do Largo do Paissandú, se existem mesmo cerca de 70 prédios públicos invadidos e habitados irregularmente na capital paulista, o desafio para solucionar o problema certamente é maior do que se imagina.
   No caso específico do prédio que caiu, muitos moradores daquela unidade já tinham sido deslocados de outra comunidade também destruída por incêndio, o que demonstra a falta de interesse do poder público para solucionar o problema.
   Se antes não havia nenhum programa que abarcasse essa massa que veio para ficar, as administrações que vieram depois também não criaram nenhum mecanismo que adequasse a prestação dos principais serviços públicos à nova demanda que só aumentava cada vez mais. Por isso que além de escola e hospital, não há casa para todo mundo nessa metrópole chamada São Paulo.
   E aquele velho jogo de empurra só piora a situação, pois, além dos governos estadual e municipal, a esfera federal também tem sua cota de culpa e responsabilidade.
   Na época em que se intensificava o fluxo de migrantes provenientes de regiões afetadas pela seca, as administrações da cidades de origem não tinham condições  de assentar seu próprio povo, e o governo federal, ciente da urgência de um grande projeto para fixar o homem do campo em seus domínios, não teve força e vontade política para implementar, por exemplo, a obra de transposição da águas do Rio São Francisco, que até hoje se arrasta por força do choque de interesses políticos nas localidades contempladas pelo empreendimento.
   Por conta disso, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais do país tiveram crescimento demográfico desproporcional à oferta de serviços públicos à população.
   Dentro do espectro das ocupações irregulares, apenas a questão do déficit habitacional se destaca, mas é claro que a reboque disso a precariedade dos demais serviços vem à luz dessa realidade.
   As comunidades carentes de todos os centros urbanos do país ilustram perfeitamente esse cenário, onde a exclusão e o descaso norteiam a vida das pessoas dessas localidades, que só diferem de imóveis habitados irregularmente pela dimensão maior, pela geografia, mas com a mesma distância do poder público, demonstrando que o déficit habitacional nos maiores centros urbanos do Brasil é muito maior do que se parece. 

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Cinema Novo

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   Se por um acaso Nelson Pereira dos Santos não tiver deixado seguidores nesse nobre ofício de fazer cinema, certamente a sétima arte no Brasil ficará mais pobre do que já está.
    No velório do cineasta estiveram presentes outras referências do cinema brasileiro que conviveram e aprenderam com Nelson Pereira dos Santos como fazer cinema com mais engajamento, mais comprometimento que qualquer manifestação cultural deve ter.
   O Cinema Novo nasceu da Semana de Arte Moderna de 1922, o mais importante movimento cultural brasileiro, que pregava o desapego total e irrestrito à cultura europeia, reivindicando, a partir de então, a introdução de elementos da nossa cultura em produções de qualquer vertente artística no país.
   E Nelson Pereira dos Santos entendeu bem o recado dos líderes do manifesto de 22, dando ao cinema brasileiro a mesma estética que embasou as artes plásticas, a música e a literatura no Brasil.
   Seguindo a linha de que a arte traz em si uma mensagem, Nelson Pereira dos Santos implementou o projeto de politização do cinema com produções de conteúdo crítico. Abordando temas importantes da realidade brasileira, retratou com realismo questões sociais, religiosidade, cultura de massa e indígena.
   É nesse sentido que Nelson Pereira dos Santos deixou como herança a proposta de denúncia de questões inerentes ao Brasil e a seu povo, o protesto de causas sociais importantes, como ficou explícito em seu "Vidas Secas", o que, não só confirmou a identidade brasileira estampada nas películas como também projetou o cinema brasileiro no cenário internacional.
   Seu primeiro trabalho, Rio 40 graus, de 1955, foi considerado o marco inicial do Cinema Novo. Depois disso, todos os filmes do cineasta se destacaram para os críticos, em especial, além de "Vidas Secas", "O amuleto de Ogum" e "Memórias do Cárcere".
   Assim o cineasta contribuiu enormemente para que tivéssemos essa excelência aos olhos de outras praças de importantes produções cinematográficas.
  Espera-se agora que surjam outras gerações com o mesmo engajamento de Nelson Pereira dos Santos. Não faltam materiais e trabalhos como referência à futuras produções com a estampa do cineasta.
  São obras que certamente servirão de referência a quem pretenda dar continuidade ao grande projeto de Nelson Pereira dos Santos de fazer do cinema brasileiro o que a arte como um todo deve ser: comprometida com as coisa do Brasil e sua gente.
  O Cinema Nacional precisa reviver esse boom, resgatar essa estética, voltar a reproduzir a essência da realidade brasileira. Há que surgir alguém que incorpore no circuito o espírito de Nelson Pereira dos Santos.  

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Nada de comemoração


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  Não há nada a comemorar. A condenação e a consequente prisão do ex-presidente Lula, ao contrário do que muitos pensam, não abre novos horizontes para a política brasileira. Muito pelo contrário, evidencia até com mais clareza o retrocesso de todo esse estado de coisa.
  Esses recursos, esses caminhos cheios de atalhos que a justiça percorre, apesar de legítimo, demonstra também o quanto o Judiciário ainda precisa se reformular de modo que suas decisões e veredictos se adequem à realidade atual.
   Assim como os outros poderes constituídos, o Judiciário brasileiro também está longe de contribuir para a excelência da vida brasileira, sendo que até agora ninguém moveu uma palha sequer para reverter esse quadro de corrupção que assola o país.
  Toda essa movimentação e a expectativa sobre o julgamento do habeas corpus ao Lula envolveu a sociedade tal qual uma final de campeonato, em que o antagonismo entre a população dividida, infelizmente, produziu tantas discussões quanto o embate de ideias e argumentos entre os ministros do STF.
  Com certeza, muita coisa ainda vai acontecer nesse tabuleiro em forma de labirinto, onde tudo ainda é incerto, haja vista essa indefinição quanto à prisão antes ou depois de condenação em última instância.
   Apesar de os holofotes da mídia e da opinião pública estarem apontados para o Judiciário nesses últimos tempos, é bom lembrar que as outras partes também são importantes quanto a tudo que se passa na Suprema Corte.
   Não deixa de ser positivo o envolvimento da população, ainda que não esteja unificada em torno de um só ideal, em prol de um Brasil comum a todos. Com as eleições se aproximando, é hora de a população fazer a sua parte, talvez a parte mais importante, pois, a é vida brasileira que está em jogo, e o eleitor tem de estar atento e vigilante, e não permitir que políticos envolvidos em malfeitos continuem sob o manto do foro privilegiado, impedindo que a justiça os prenda como deseja a sociedade.
   Tão importante quanto à corrida presidencial, a composição do próximo período legislativo, com outras peças, evidentemente, tem de estar em sintonia com o desejo de mudança que os brasileiros almejam. É essa renovação do Congresso que o eleitor está encarregado de fazer para o próximo período, quando os parlamentares escolhidos terão a missão de resolver pontos importantes como a questão do financiamento de campanha e do fim do foro privilegiado, que até foram trabalhados nesse Congresso atual, mas de forma tímida e ainda com brechas que deixam margem à suspeição em ambos os casos.
   Quanto ao Judiciário, cabe às partes  e cortes envolvidas julgar com inspiração, pendendo sempre para os anseios da sociedade como um todo. Se foge à prerrogativa da justiça seguir o clamor popular, também não lhe cabe se render à pressões de quem quer que seja, além da observância ao tratamento igualitário a todos aqueles que estão sujeitos aos rigores da lei.
   Portanto, não é hora de comemorar, e sim, de união, pois, os rumos que o Brasil seguir será o mesmo caminho que todos terão de percorrer.
   

segunda-feira, 26 de março de 2018

Fogo de palha

  
   Já deu tempo de essa intervenção na segurança do Rio mostrar a que veio, entendendo, claro, que resultados concretos mesmo só num prazo um pouco maior.
   Se o presidente Michel Temer tem mesmo interesse eleitoreiro na empreitada, ou pelo menos sair do Palácio do Planalto pela porta da frente, essa demora em traçar diretrizes para as tropas já à postos só deixa a população ainda mais aflita do que já estava.
   Mesmo que esse projeto de emergência para a segurança tivesse sido planejado a complexidade de toda essa operação já seria evidente. Agora que o general Braga Netto constatou as dificuldades do plano, é a vez de a população questionar alguns procedimentos já adotados, que ainda não causaram o impacto que se esperava.
   Aquela incursão preliminar no Presídio Milton Dias Moreira, em Japeri, com a apreensão de telefones celulares não convenceu a opinião pública de um grande feito. Por que não começar logo pelo Complexo de Gericinó, onde é sabido que presos de alta periculosidade comandam de dentro das unidades práticas ilícitas nas comunidades cariocas? Cadê os tais bloqueadores de celulares?
    Não que a comunidade da Vila Kennedy não tenha as mesma mazelas de outras localidades, mas por que não iniciar essas incursões onde o bicho está pegado de verdade, como Rocinha, Jacarezinho, Complexo do Alemão e da Maré, com baixas frequentes a moradores e policiais em confronto com bandidos?
    Se for para causar impacto e buscar resultados que tragam alento à população, que comece logo onde a chapa esquenta diariamente.
    A bem da verdade, é bom que se reconheça que esse tempo previsto para a intervenção no Rio é muito curto, o que praticamente elimina a possibilidade de sucesso da operação. Ainda que houvesse planejamento para a intervenção, os resultados viriam em longo prazo, considerando a dimensão dos problemas de segurança no Rio de Janeiro, que vão muito mais além das questões técnicas e operacionais.
   Há acertos a serem feitos na área financeira, nesse velho e espinhoso expediente de transferência de recursos entre esferas de governo, o que remete, automaticamente, à transparência de todos os órgãos envolvidos, além, é claro, da vigilância da sociedade a todas essas ações. Isso sem contar que com as mudanças que poderão ocorrer na próxima eleição, não há garantias de que as próximas gestões, estadual e federal, vão dar prosseguimento à intervenção.
    Portanto, são vários os fatores que esfriam qualquer otimismo com relação à intervenção que rola no Rio. O próprio comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas revelou sua preocupação pela incerteza de que os objetivos serão alcançados, acrescentando, porém, a determinação de deixar como legado mudanças nas estruturas da segurança pública do Rio de Janeiro.
    Só que, diante de tanta incerteza e de experiências anteriores da presença de tropas federais nas ruas da cidade, dificilmente essa intervenção militar terá resultados promissores, fazendo dessa operação, tal qual as outras anteriores, o mesmo fogo de palha de sempre.