quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

UM NOVO TEMPO

    Não tem como se desvencilhar do calendário, embora todos os argumentos reforcem a ideia de um mesmo ciclo, de um mesmo tempo no próximo ano, porque, claro, vai ficar muita coisa por fazer em 2021.
   Independente de não ter dado tempo ou de ter sido adiado de propósito, são coisas que não cabem dentro de uma agenda específica, tipo aquele projeto que dependia de outros fatores, mas que como vários outros, ou a maioria, melhor dizendo, que teve a pandemia como obstáculo maior.
   Como já teve vários anos anteriores que não acabaram seguindo o calendário por forças de fatores que remexeram a coletividade e a vida de cada um separadamente, a pandemia com certeza também deu uma balançada nesse tempo que a gente vive.
  Mesmo com a sensação de que os ponteiros se moveram num compasso diferente, os meses se passaram com os mesmos dias de sempre; os dias com os mesmos minutos e por aí vai, enfim, fomos tirando as folhas do calendário no mesmo prazo estabelecido.
   A diferença é que agora a gente encontrou um tempo valioso que estava oculto dentro daquela agenda que parecia atribulada, daquele outro tempo que a gente obedecia em consonância com o relógio biológico e outras instâncias que determinavam o que fazer, como e quando.
   É mais do que um simples conforto ter realizado tarefa em meio à angústia da doença. É gratificante saber que temos a capacidade de conciliar aquele projeto deixado em segundo plano com a apreensão e sofrimento causados pela perda de alguém próximo e finalmente ter aquela sensação de dever cumprido. É um marco de superação conseguir ser útil em alguma coisa ou para alguém, mesmo com a pior das expectativas sobre o futuro das pessoas, do país, da humanidade. Foi gratificante se manter íntegro, irredutível em seus valores, em sua moral, apesar de uma dor pela perda de alguém ou a falta de perspectiva de futuro. Que maravilhoso se descobrir aos extremos e aprender a usar o tempo de acordo com suas próprias conveniências, aspirações, necessidades e sonhos, com pouca ou nenhuma interferência externa.
   Foi justamente esse cenário que se desenhou nesse ano pandêmico. Todo mundo se ocupando de novas artes e em novas frentes e com isso vários projetos saíram do papel e ganharam forma. Quantas pessoas finalmente publicaram seus livros, pintaram seus quadros, plantaram árvores, aprenderam a cozinhar, falar outro idioma?
   No plano coletivo também novos horizontes se descortinaram na aglomeração necessária, em família, não teve jeito, mas certamente conceitos foram revistos no âmbito coletivo, a importância da família, a relação com os filhos e o papel que cada um vai desempenhando com mais responsabilidade e mais humanidade em outros grupos sociais. A própria tecnologia permitiu essa nova concepção de coletividade ao agrupar pessoas distantes.
   Agora, dificilmente o tempo das coisas e das pessoas será o mesmo, em que havia leniência, indisciplina, desleixo e hesitação. De repente assentou na mente humana a necessidade de sermos mais úteis, mais funcionais com nós mesmos, o que certamente implicará um outro olhar sobre o outro, sobre o próximo.
   Talvez até fosse necessário para bem da coletividade esse aprendizado de cada um em momentos de dor, de angústia. Foi preciso essas novas marcas de feridas estampadas na pele e na alma para que o mundo tomasse outro rumo.
   Pode ser que haja as piores consequências se  cada um daqui pra frente não tornar sua vida mais plena. É bem capaz de cair no ostracismo aquele que não quiser contribuir para o meio em que vive. Certamente vai haver uma compensação para quem, não só resistiu como também acrescentou algo mais em seus projetos de vida.
   A vitória de cada um vai depender dessa vibe nos próximos anos, nos próximos tempos. O mundo vai precisar dessa nova agenda.
  
  

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

TEIMOSIA NÃO ROLA

    Às vezes é bom relembrar aquelas teimosias do passado, quando mamãe ficava o tempo todo me mandando fazer uma coisa que eu teria de fazer para a vida inteira. E ela reiterava justamente essa questão da responsabilidade, o compromisso com nossa própria agenda.
   Com o tempo parece que mamãe já tinha até uma fala pronta, um modelo padrão de como recomendar as coisas num tom normal ou exigir e até impor mesmo com toda a autoridade que o momento às vezes exigia, devido o grau de teimosia muito além dos níveis toleráveis ali naquele momento. Para ela, não rolava ficar toda hora lembrando de coisas que teríamos de fazer para toda vida.
   É claro que hoje a gente sempre teima com alguma coisa ainda, até porque a gente acaba aprendendo a ser ranzinza também de vez em quando, ninguém está livre disso, mas no geral, em condições normais de temperatura e pressão há sempre um grande projeto de vida, um sonho a ser realizado, uma tarefa para cumprir, enfim, não se para de insistir em algo importante. A gente costuma chamar isso de perseverança. Para uns, é só se concentrar que dá certo; para outros, organização e planejamento, enquanto que para outra parte aquela velha fé de sempre pra tudo sair do jeito que imaginamos e desejamos.
   E assim a gente foi crescendo e se ligando nos papéis, nas funções que a vida vai nos impondo num curso normal e de acordo com aquilo que cada um se propôs a fazer pra sempre ou num prazo preestabelecido, numa missão qualquer, sem precisar mandar, obviamente, porque já tá todo crescido e formado.
   Esta semana o Supremo Tribunal Federal, mais precisamente o ministro Ricardo Lewandowski, determinou que o ministro da Saúde especifique  dentro do Plano de Imunização apresentado à corte o calendário de vacinação, o início e o fim dos expedientes da imunização em massa. Isso depois de um ano conturbado com todos aqueles números da pandemia aumentando e assustando os brasileiros do Oiapoque ao Chuí. A tal curva crescendo cada vez mais e o presidente tentando remexer nos quadros da Polícia Federal, passando a mão na cabeça do filhinho corrupto, trocando de ministro da Saúde sem parar e aquele blábláblá cotidiano em seu cercadinho.
   Em meio às falas dos especialistas alertando sobre os perigos das aglomerações e a necessidade do confinamento eles também lembravam que o país já tem um programa de vacinação já implantado, todo mundo lembra das campanhas contra outras doenças. Bastava ao governo encaixar um plano para a Covid-19 nesse Programa e pronto.
   Pois bem, em vez disso, o presidente Jair Bolsonaro resolveu politizar a questão da vacina, fazendo birra e minimizando a doença e seus efeitos, além de abrir guerra contra governadores que não fecham com ele na mesma questão, tudo dentro de um cenário de total desprezo pelas ciências, como ficou provado também nos eventos de queimadas na Amazônia e no Pantanal, em que ficava todo mundo chamando a atenção dessa gente malcriada.
 Tudo bem que a pandemia pegou todo mundo desprevenido, mas o Brasil tem órgãos de pesquisas e especialistas de sobra com talento e conhecimento reconhecidos para lidar com situação de emergência, não precisava a sociedade passar por esse desconforto, quando na verdade era para estar tudo resolvido, só esperando a vacina chegar, embora eu ache até que com toda essa estrutura o Brasil já deveria estar fabricando nossa própria vacina, sem parceria alguma, com total independência. As seringas, então, qualquer fábrica de brinquedo dessas por ai faria, sem precisar encomendar lá de fora. Mas isso é uma outra história de teimosia em que o Brasil ainda fica muito subserviente. Já que é pra bater o pé e fazer pirraça, que seja em prol de nossa própria soberania.
   De qualquer forma ficamos aqui na expectativa de uma imunização em massa, com todos os critérios de prioridades, não de privilégios, por favor, porque aí, de repente, o STF não vai poder interferir. Imagine o Lewandowski tendo que mandar toda hora. Tudo eu tenho que mandar, já explanava mamãe. Mas, calma que o ministro do Supremo com o chinelo na mão na porta do Alvorada já é demais, era só o que faltava.
  
  
  

sábado, 5 de dezembro de 2020

UM BOM CHÁ PRA CURAR ESSA COVID

   Essa expectativa pela vacina que vai chegar, qual delas vai ser aprovada primeiro e o dia em que finalmente a  população será imunizada pra valer já está quase que passando do prazo, porque há uma urgência em nível mundial pelo imunizante.
   É claro que não dá pra atropelar os prazos científicos, as etapas de todo o processo de fabricação, enfim, é compreensível que se deva observar todos os critérios para que a vacina seja realmente eficaz.
   Os números ainda gritantes da doença implicam uma corrida bem acelerada, não essa corrida que tá rolando aí pra ver qual a vacina melhor, eu me refiro a uma corrida lá nos trâmites dos laboratórios, das autoridades, porque não tá dando para pra esperar por muito tempo, as pessoas não conseguem segurar o facho, como se dizia antigamente, as pessoas lidando com uma questão séria de um forma bem natural, simples.
    Seria bom que tudo fosse assim tão simples como se convencionou tratar a pandemia. Seria bem bacana que tudo fosse mais fácil de ser resolvido, uma solução imediata para um grande mal que aflige o mundo nesse momento.
    Eu, particularmente, preferiria um bom chá pra curar essa Covid. Sei lá, deve ter algum mato, a casca de uma fruta, uma semente qualquer, uma raiz enterrada por ai, que fazendo aquelas garrafadas que essa gente do interior costuma fazer, de repente pode trazer a cura para a doença do momento. Antigamente tinha sempre alguém que aparecia com um xarope vindo direto do matagal que era mais eficaz que o expectorante da farmácia. Não  tinha uma coceira, uma fisgada, um desconforto que não pudesse ser resolvido com uma receita caseira. A emergência nesses lugares longe dos centros urbanos, lá nos confins do meio do mato são aquelas velhas que conhecem tudo de cada semente que brota da terra.
   Até hoje muita gente ainda recorre aos famosos chás poderosos e milagrosos como herança do passado que a vó de alguém deixou escrito no caderno, pra justamente ser repassado para as próximas gerações esse fantástico conhecimento, uma espécie de sustentabilidade, vai vendo.
   Um conhecimento que é muito, mas muito pouco difundido por razões óbvias, né. Porque, certamente alguém por ai, mais precisamente no interior, já andou remexendo umas folhas, uns talos de planta e já está até vendo a Covid com os dias contados. Pois é.
    Mas isso não é coisa que sai na mídia tradicional, porque a indústria farmacêutica já veicula seus produtos nesses meios. Eles até admitem a eficácia da fitoterapia, mas não fazem muito alarde. A ideia é vender essa profusão de remédios nas farmácias, muitos não devem nem ter eficácia comprovada, porque eles mesmos orientam pra procurar o médico se persistirem os sintomas. Tomara que não venha essa recomendação na bula e na propaganda das vacinas da Covid- 19.
    De qualquer forma, se alguém souber de alguma fórmula milagrosa vinda do mato, que divulgue ai nas redes sociais, que ficou mais fácil agora espalhar as coisas úteis, vai ter sempre gente compartilhando, claro que à revelia dos grandes laboratórios e já  torcendo pra essas Pfizer da vida não mandarem tirar de circulação algum totem cheio de visualizações. Se os caras se sentirem ameaçados em suas cifras eles vão às últimas instâncias, vai vendo o STF enquadrando o capiau que formulou o chá, mas como não tem certificação da Anvisa, foi indiciado por prática ilegal da profissão ou curandeirismo.
   Que venham logo as vacinas pra dar tempo de todo mundo voltar a ser feliz.
  

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

LADRÃO DE OXIGÊNIO

 

   Eu sempre impliquei com gente que tem nariz grande. Na minha época de infância, quando a gente podia zoar à vontade, sem esse mimimi de agora, de as pessoas ficarem magoadinhas, querendo processar geral, naquele tempo era comum falar que os narigudos roubavam o oxigênio ali das redondezas e tal, o cara chegava e todo mundo já pedia o distanciamento do sujeito, imagine o perigo que todos corriam.
   Lembrei disso agora vendo o desempenho do time do Flamengo nesses últimos jogos sob o comando do Rogério Ceni, que, gente, dispensa apresentação pela silhueta fora dos padrões, digamos assim, coisa que eu nem acredito que passe despercebido de tanta gente assim, porque chama a atenção, sim, esse detalhe.
   Tudo bem que o rubro-negro carioca tem um time eletrizante, fora de série, difícil de ser batido, jogando o fino da bola dentro das quatro linhas, e jogando essa bola redondinha nem precisaria de técnico na beira de campo, pois a rapaziada sabe o que fazer com a bola no pé. A torcida até levanta a plaquinha adiantando o desfecho das diabruras dos caras em campo.
   Mas, infelizmente, pelo menos para o Flamengo, tem de ter aquele cara apontando as jogadas e tal, e é justamente isso que pode tá interferindo no desempenho do time ultimamente, pois, seguindo as tendências que já se verificavam nos tempos de pilha da molecada, será que o Ceni tá roubando o oxigênio da galera? Será a presença dele na beira do gramado o motivo desse desempenho bem diferente de quando Jesus respirava o mesmo ar do time, mas sem tirar o gás da equipe? Já não basta o adversário cafungando no cangote dos caras e o treinador ainda contribuindo pra tirar o fôlego da equipe?
   Pode ser cedo pra tirar conclusões sobre o rendimento do time em campo, mas se continuar assim, o Flamengo repetindo essas pantomimas, vai dar pra fazer tranquilamente a ligação entre uma coisa e outra, ou seja, o Rogério Ceni tá roubando o oxigênio da equipe, trazendo prejuízos ao time e comprometendo o futuro do grupo nos jogos restantes .
   Nesses tempos de distanciamento, isso serve de alerta para quem convive com alguém de venta grande ou pode eventualmente se deparar com algum deles pelas ruas, no trabalho, enfim, quem tá ralando em casa (home office é o caramba!) tá de boa, mas quem tá na pista o cuidado é redobrado.
 De qualquer forma, fiquemos atentos a essa gente que pode tá diminuindo seu oxigênio de forma compulsória em detrimento de uma massa muito maior que um grupo de onze pessoas reunidas jogando uma pelada. Já bastam as queimadas que diminuem a absorção de oxigênio em nível nacional.
   Não é só pelo Flamengo, mas pelo Brasil como um todo, pelo mundo até, se a gente dimensionar essa iminência de tragédia ao nosso redor de forma globalizada, Deus nos livre disso. Agora, se não for o Rogério Ceni, pode ser outro, afinal de contas, é uma turma bem grande e dispersa, toda hora se vê um por ai, na rua, no metrô,  na televisão...ops! Na televisão...gente, lembrei agora do Luciano Huck, tão ventilando a ideia de o cara ser presidente, o perigo é maior do que se imagina. Vai vendo.
  

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O VOTO NULO TAMBÉM DIGNIFICA

  É duro fazer um balanço negativo dessas eleições aqui no Rio de Janeiro, mas depois de tudo que aconteceu ao longo da campanha e sobretudo com a composição do segundo turno que vai definir o próximo prefeito da cidade não há como traçar um panorama mais otimista.
   Eu digo com muita segurança e propriedade que Eduardo Paes e Marcelo Crivella são os piores candidatos que concorreram nesse pleito, considerando suas experiências e o próprio material que cada um trouxe para a disputa.
   Nunca é demais lembrar que essa eleição foi a primeira dos últimos tempos que não se destacou uma figura novata ou emergente como costumava rolar nas disputas anteriores. Não por falta de alternativas, muito pelo contrário, mas por conveniências do atual momento político.
   Se em campanhas anteriores havia sempre um personagem novo, independente do viés ideológico, esse ano prevaleceu o conservadorismo, o medo de um estreante, a dúvida sobre quem surgia diferente no horizonte, a desconfiança por algo diferente. Enfim, nem a direita nem a esquerda conseguiu emplacar uma novidade que pudesse gerar uma expectativa animadora para o Rio de Janeiro.
   Agora, fica a população  e a cidade igualmente maravilhosa à mercê de dois velhos conhecidos do povo carioca, duas figuras que em nenhum momento mostraram que podem trazer as transformações que o Rio precisa: Marcelo Crivella que nesse mandato não pôs em prática o que prometia fazer e cuidar das pessoas; e Eduardo Paes, que dispensa apresentação diante do cenário bem diferente do tal legado que ele lembrava pra todos que deixaria para a população.
   São os únicos da disputa que poderiam provar para os cariocas os benefícios e vantagens de suas gestões, ao passo que os outros ainda teriam de convencer o eleitorado de seus projetos para a cidade.
   Mas, esqueçamos de tudo novo que não veio e nos contentamos com a pior expectativa para o futuro da nossa cidade nas gestões de quem que seja e se eleja. Não tem como projetar para a próxima administração que as necessidades e urgências do Rio de Janeiro serão atendidas e resolvidas. Crivella e Paes passaram toda a campanha se digladiando com acusações e mentiras de ambos os lados, sem nenhuma responsabilidade, sem nenhuma noção do que deveriam fazer de fato para o povo.
   A cidade do Rio de Janeiro não merece ficar sem esperança mais uma vez. É muito triste para o povo carioca saber que o próximo prefeito não vai descortinar um novo horizonte para todos nós. Não há garantias de que um ou outro vá inaugurar uma nova era para a cidade maravilhosa, porque eles, Crivella e Paes, não têm capacidade para transformar o Rio de Janeiro numa metrópole de fato. Na oportunidade que tiveram não tornaram o Rio mais funcional, não fizeram o Rio mais aconchegante para quem aqui vive, apenas enganaram a população com promessas, jogo de palavras e sorrisos de malandro.
   É bom que se lembre que Marcelo Crivella e Eduardo Paes respondem a processos, justamente por ingerência e vícios em suas gestões, o que automaticamente afastaria ambos da disputa, mas parte do eleitorado, também preso a velhos conceitos, optaram por fazê-los os guardiões da nossa cidade, ainda que com seus currículos pobres e pífios, deprimentes e depravados com a coisa pública, enganadores e fantasiosos para a realidade carioca.
   Nenhum princípio político e ideológico que prima pelo bom senso se encaixa nessa agenda que nesses últimos tempos vem atentando contra o povo carioca em seu cotidiano de sofrimentos de toda ordem, de dia, de noite, nas praças, nas  ruas, à pé ou de cavalo. Nenhum ideal de renovação e modernidade vai embasar essa fraude intelectual. Nenhum conceito que vise o bem estar de um povo pode se enquadrar nessa realidade que tanto Eduardo Paes quanto Marcelo Crivella tentam a todo custo empurrar para as pessoas. Nada que ambos fizeram até agora esboçou algum conforto para nós que sofremos todos os dias. Nunca houve um novo horizonte nesses projetos que eles ensaiam sistematicamente.
   O voto nulo é uma realidade, é uma alternativa que consta na urna, é uma possibilidade para tirar a moral dessa gente. É uma oportunidade de reivindicação, de protesto, de observar que não é viável essa situação. Há que se ver no voto nulo o privilégio da reflexão por parte por parte de quem engana e de quem é ludibriado. O voto nulo expressa uma condição para a sobrevivência de um povo e de uma cidade, e revela uma outra realidade para a cidade do Rio de Janeiro no próximo chamamento.
   Enfim, o voto nulo também dignifica.
  

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

O RACISMO AINDA REPRESENTA

   Eu fico bem à vontade pra falar de preconceito porque transito entre os dois lados da história, vivo cruzando a fronteira que separa esses dois mundos.
   É  até estranho falar que são dois mundos, mas como a sociedade vai criando divisões e fronteiras que não estão no mapa oficial, a gente define assim esse ambiente em que vivemos.
   Por força da minha origem e agora da minha vida social, profissional e dessas andanças por ai, estou sempre ao lado de quem sente o peso da ignorância ou batendo de frente com a outra parte que insiste nesse modo de operar o sistema.
   Eu já vi de tudo nessa vida, já escutei cada coisa que até hoje me impressiono. A minha infância era de gente diversificada, só depois de um tempão é que eu percebi que tinha gente que não gostava de preto, mas a minha convivência e as coisas que mamãe falava me fizeram tolerante com as pessoas.
   Hoje, a divisão continua, mas a impertinência dos abolicionistas de outrora fez escola, e há sempre uma voz ativa, um personagem ou uma política pública e legislações exclusivas que abafam um pouco essa estupidez latente e ainda persistente.
   Mesmo que ainda não tenha surtido o efeito desejado, muitos barulhos que fizeram no passado ecoam nos dias de hoje, e faz de uma certa forma a diferença.
   Eu fico imaginando como seria hoje a África do Sul se não fosse a figura do Nelson Mandela e sua luta que custou sua prisão e muita morte naquele país. Como estaria hoje as relações entre pessoas de tribos diferentes e  a organização política lá, de repente, de exclusão e separatismo até hoje?
   Nos Estados Unidos, a saga de Martin Luther King certamente influenciou a comunidade negra americana a brigar por liberdade, direitos  e cidadania. Se hoje há protestos nas ruas toda vez que a polícia esmaga um negro, a atitude em ambos os lados seria diferente, pra pior, uma repressão ainda maior e uma massa mais amedrontada e sem fôlego para reagir à opressão, mas graças ao discurso do passado, veja como esses protestos antirracistas que estão rolando por lá estão até interferindo nas eleições americanas.
   Aqui no Brasil não é diferente que o poder público é excludente, repressor e omisso no trato com a comunidade negra. Basta observar os indicadores sociais e os dados de ações policiais em que os negros são as maiores vítimas.
   Nos três ambientes mencionados destaca-se a atuação do estado, cada um com sua particularidade dentro de seu sistema e regime, mas claro que o convívio entre as pessoas, o lado social, cultural das relações humanas também ilustram esse cenário em que o racismo e o preconceito operam no dia a dia. E é justamente no tecido social que a gente mede a intensidade do ódio e o intolerância.
   A Lei Afonso Arinos criada na década de 50 foi o início de um longo processo para frear o racismo no Brasil. De lá pra cá, não houve mudança alguma, ninguém foi punido e os registros de discriminação continuaram. Só depois da Constituição de 1988, com a redemocratização do país, surgiram personagem que levantaram a bandeira da intolerância. Finalmente a Lei 7716/89 começou a incomodar a parcela preconceituosa da sociedade por sugerir e determinar punições à eventuais agressões físicas e verbais.
   Atualmente, o senador Randolfe Rodrigues acena com um Projeto de Lei que altera o Código Penal para aumentar a punição em casos de ataques racistas com o objetivo de desestimular esse comportamento e, claro, proteger as vítimas.
   É um alento para a sociedade ver a legislação em consonância com as reivindicações e tendência por um ambiente livre de preconceito e discriminação. A ideia é minar qualquer tentativa de perpetuar o racismo.
   A gente entende que é difícil erradicar esse mal, pois há vários fatores que é preciso considerar, mas não se pode esmorecer, ainda mais agora, quando há todo um discurso de ódio renovado no ar, e muita gente se sente representada novamente. Veja como o Donald Trump renova o seu discurso de intolerância e acaba provocando mais agressões, como têm  ocorrido nos EUA, assim como o presidente Jair Bolsonaro, que durante a campanha eleitoral, lá  atrás, andou soltando umas falas completamente preconceituosas, o que acaba, de certo modo, estimulando mais ódio, e fazendo com que aquelas pessoas que estavam mais contidas se sentissem representadas, no momento em que há cada vez mais vozes ativas e atuantes contra todo esse apartheid que não para de fazer barulho.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

IDEIA DE JERICO

    O presidente Jair Bolsonaro fica entrando na pilha do ministro da economia, Paulo Guedes que, sempre que pode, faz uma pressão para tentar emplacar o Estado mínimo no Brasil sem qualquer discussão, sem critério algum que possa sustentar a viabilidade de um projeto com essa complexidade toda.
   Só isso explica esses arroubos do presidente, como agora, em criar esse decreto que autoriza o Ministério da Economia a abrir estudos que possibilitem a parceria público-privada no Sistema Único de Saúde.
   Pra começo de conversa, em tempos de pandemia seria uma afronta à inteligência da opinião pública em momentos de aflição e agonia pela Covid- 19, mas a verdade é que a complexidade do SUS, que engloba as três esferas de administração, implica discussões e estudos com autoridades e especialistas da área de saúde, não é só a área econômica que iria deliberar sobre isso.
   E a outra questão é justamente a que levanta suspeita em todos. Já que o Bolsonaro havia desmentido a privatização do SUS no decreto, a parceria com empresas privadas na gestão das Unidades Básicas de Saúde é uma versão mais ampliada do que já ocorre nos estados e municípios, em modelos de gestão da saúde pública, em algumas praças, com registros de escândalos e precariedade do serviço.
   No Rio de Janeiro, esse modelo de administração através de Organizações Sociais a gente já conhece como funcionava, regada a propina, favorecimento e vantagens que em nenhum momento trazem benefícios para os usuários do sistema. Não é difícil imaginar a complexidade desse modelo em nível nacional. Seria tão ou ainda mais complicado que a atual forma de gestão num país de dimensões continentais como o Brasil.
   Na fala do ministro Paulo Guedes para defender o decreto, ele sugere incentivar a participação da iniciativa privada para melhorar a qualidade do serviço. Ora, ministro, dá pra tornar excelente a saúde pública no país, desde que o governo utilize todo o recurso destinado ao setor; não diminua o orçamento da saúde como fez este ano; crie mecanismos para monitorar a gestão dos hospitais federais, pois, no Hospital Geral de Bonsucesso, por exemplo, a diretora dava festas, mesmo com a própria unidade respirando por aparelho.
   Pois bem, ainda bem que Jair Bolsonaro voltou atrás e  revogou o decreto 10.530 depois da repercussão negativa que a decisão isolada e descabida do presidente provocou.
   Nesse cenário de estado mínimo que o neoliberalismo propõe, cada país tem suas peculiaridades, suas características que levam em conta vários fatores. Se o Paulo Guedes acha que é fácil encolher o Estado sem sacrifícios, só com uma canetada, e ainda mexendo na saúde da população, pode desistir que a sociedade está atenta.
   Se o presidente acredita que pode decidir de forma unilateral sobre questões que envolvem a vida das pessoas, mesmo que não seja pilha do Paulo Guedes, pode revogar essa ideia de jerico.

DE QUEM É A CULPA?

  É muito pouco provável que alguém vá ser responsabilizado pelo incêndio no Hospital Geral de Bonsucesso. É só fazer um balanço da rotina do hospital nesses últimos anos ou décadas, até, para se avaliar o tamanho da tragédia que se abateu em mais uma unidade de saúde pública.
   É justamente essa questão da responsabilidade que vai precisar ser resolvida para impedir que essa agonia de sempre continue, que esse drama se perpetue.
    É claro que vai rolar aquele velho jogo de empurra que vai resvalar em gestões anteriores, porque ninguém vai querer levar culpa sozinho. Por acaso, aconteceu alguma coisa com aquela diretora do hospital que dava festas enquanto os pacientes da emergência  eram atendidos em contêineres? Por que não revisaram os geradores e toda a estrutura do complexo depois que a Defensoria Pública da União produziu um relatório alertando de risco iminente? De quem é a culpa pela falta de equipamentos de segurança constatado e alertado pelo Sindicato do Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência? Como uma unidade daquela dimensão funciona sem um plano de combate à incêndio atualizado?
   São questionamentos que remetem à impunidade das coisas no Brasil, ninguém é culpado de nada, não se pune ninguém por nada, apesar de haver instrumentos jurídicos  para isso. Se houver alguma punição para dar uma satisfação à opinião pública, vai cair sobre alguém que não era responsável, mas que de repente fez uma gambiarra e passou a ser o provável culpado por tudo. Aquela velha história da corda que a gente sabe onde arrebenta.
    Por sorte, a equipe de funcionários do HGB já estão acostumados a trabalhar no limite de sua capacidade e função e a tragédia não foi maior por força da dedicação de todos em mais um momento angustiante para todos.
   Infelizmente a situação só tende a piorar, ainda mais nesses tempos de pandemia em que o volume de atendimento nas unidades de saúde se sobrecarregou, o que vai gerar um inchaço, um esgotamento maior, fazendo com que esse evidente colapso evolua para um quadro pior, porque outras unidades de saúde, estadual e municipal, também apresentam os mesmos problemas estruturais, como bem mostra reportagem do jornal O DIA.
   De qualquer forma, há uma questão de responsabilidade que precisa ser equacionada antes que deem atenção básica de verdade à saúde pública no Brasil. É bom que haja um envolvimento maior por parte de toda a sociedade, os governos, o Congresso,  a esfera jurídica, mas sem essa politização que agora virou moda, principalmente na área de saúde.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

POR UM RIO RENOVADO

  Não faz muito tempo que a prefeitura manteve parceria com os governos estadual e federal num cenário que trouxe muito ânimo para a população pela possibilidade de grandes projetos para o desenvolvimento da cidade serem implementados. Tudo que poderia faltar em outras praças  sobrava aqui. Havia recursos sem aquelas burocracias, sem aqueles entraves, porque as esferas de governo eram fechamento puro.
   Era só botar em prática o que sempre se desenhou para o Rio, uma grande transformação para deixar a cidade no nível de uma grande metrópole de fato, com os principais serviços públicos funcionando plenamente, de modo, claro, a diminuir o sofrimento da população em seu cotidiano e trazer bem-estar para a todos.
   E essa expectativa de um novo horizonte para o Rio parecia certa quando ensaiaram com UPA, UPP, Clínicas de Família, BRT, VLT, e o projeto que nascia como a cereja do bolo de toda essa roupagem que o Rio de Janeiro estava inaugurando: o Porto Maravilha. Nem é preciso muito esforço para ver a precariedade disso tudo agora.
   O que parecia ser a menina dos olhos da prefeitura e motivo de orgulho para os cariocas se transformou num cenário de terra arrasada. Quem anda por ali até vê que houve um ensaio de intervenção urbana, mas o conjunto, aquilo que agrega todos os elementos do projeto, está tudo indefinido, vazio, e o pior, sem garantia de que a área será realmente revitalizada, porque não era só um simples projeto de intervenção urbana, é uma grande obra que englobaria na região emprego, moradia, cultura, lazer e mobilidade urbana.
   Mas como todo projeto de parceria público-privada levanta as suspeitas de sempre, o Porto Maravilha como uma operação urbana de consórcio, operado por empresas envolvidas em corrupção, ficou também a desejar uma nova paisagem para o Rio, além da decepção por parte de quem prometeu renovar e modernizar a nossa cidade maravilhosa.
   Hoje, a prefeitura tenta, por via judicial, fazer a Caixa Econômica Federal retomar a manutenção da região por força de contrato firmado no tempo em que foi concebido o Porto Maravilha, cujo fundo imobiliário a instituição federal é gestora.
   Pelo cronograma do projeto inicial, as obras de revitalização do Porto Maravilha terminaria em 2022, mas como os tais Certificados do Potencial Adicional de Construção encalharam por força da crise que se abateu em 2016, mesmo com toda a liberdade de poder construir edificações acima do gabarito da região, não houve quem se interessasse em investir no local.
   Com a proximidade das eleições, outra expectativa de um personagem diferente na administração municipal que possa refazer essa ponte com a CEF e dentro de um cenário de transparência e credibilidade e fazer do Porto Maravilha a porta de entrada para demais investimentos para o Rio de Janeiro e renovar o orgulho do carioca.
  

sábado, 24 de outubro de 2020

O GOL DE SANTOS DUMONT

   É muito importante destacar o nome do Pelé nesse tempo de sua primavera em que completa oitenta anos,  pela bravura e competência com que representou o Brasil nas vezes em que esteve em campo. Para quem não gosta ou não se liga em futebol os números de Pelé podem até ser irrelevantes, mas há o reconhecimento do quanto ele elevou o nome do Brasil.
   Mas essa data especial no mundo do futebol também coincide com o gol de placa de outro brasileiro ilustre: Santos Dumont. Se a gente voltar lá atrás e ver como era o Brasil e trazer para esses tempos modernos de hoje, com todas essas tecnologias norteando a vida das pessoas, a saga de Santos Dumont é muito representativa para os avanços da aviação no mundo. Em nenhum momento o seu pioneirismo pode ser desprezado, quanto mais se distancia daquele sublime sobrevoo em seu 14bis, em Paris, naquele 23 de outubro de 1906,  até os dias atuais, em que a aviação também vem acompanhando todas essas revoluções tecnológicas.  
   Há, até hoje, aquela velha polêmica em torno da paternidade da aviação entre o nosso Santos Dumont e os irmãos Wright, mas amplamente favorável ao brasileiro que conseguiu levantar o 14bis com autonomia, ou seja, com propulsão do próprio equipamento, ao contrário dos americanos que lançaram mão de outros meios para alçar seu aparelho. Se ficou alguma dúvida na época, os próprios fatos definem Alberto Santos Dumont como o pai da aviação.
   O povo brasileiro não pode, jamais, deixar cair no esquecimento os feitos de Santos Dumont, cuja proeza de inaugurar uma nova era para o mundo é também um golaço para entrar na galeria dos grandes feitos da humanidade.
   

domingo, 18 de outubro de 2020

OS ÍDOLOS TAMBÉM VACILAM

    Quanto mais se avolumam esses escândalos envolvendo figuras públicas mais complexa vai ficando a definição do que é de fato um ídolo. Eu falo isso seguro de que todo mundo tem um pra se chamar de meu, aquele em que você se espelha no talento, no discurso, na beleza, na roupa que veste, na música que canta ou no bolão que ele bate nas quatro linhas.
   Antigamente, era mais difícil saber o que essas pessoas que são referência de alguém, de milhares ou de milhões de seguidores faziam em suas vidas pessoais. Agora, eles mesmos fazem questão de exibir o aconchego de seus lares, a família, o amor pelos animais, as viagens, as resenhas, enfim, tudo que se pode copiar de fato, claro, se sua vida social e financeira permitir.
   Mas apesar de toda essa vida bacana escancarada, ainda assim fica aquela pulga atrás da orelha sobre o caráter, a personalidade dessa gente bronzeada, porque o que não falta hoje é aquela pessoinha pública decepcionar seus adoradores, seus fãs ou seguidores, o que seja, com aquele pequeno desvio de rumo que mancha e  muito a reputação do cara. Quando a figura fica só na ostentação, tudo bem, o problema é quando ele revela a sua personalidade.
   Só pra ficar em fatos recentes, imagine a decepção que figuras como o Robinho, a Flor de Liz e o senador Chico Rodrigues causaram nas pessoas que os tinham como referência. Apesar de essas pessoas que agora caíram em desgraça com a opinião pública continuarem em alta em outro ambiente ou em outro grupo social por um motivo qualquer, vai surgir alguém saindo em defesa dele, “Ah, não importa o que ele fez,  ele tá sempre socorrendo a gente aqui”, de qualquer forma, ficou exposto ali as vísceras de quem parecia ser uma unanimidade.
  Por isso eu acredito que esse conceito de personalidades vai sofrendo alterações.  Agora, com o advento das redes sociais essas celebridades, as que ainda não vacilaram por ai, obviamente, continuam com sua audiência e os milhares de likes, mas terão de ser mais vigilantes com sua imagem, suas atitudes, seus gestos, assim como o comportamento fora dos holofotes, porque, até isso vem à tona também, de repente, assim do nada, e ai, todo aquele prestígio conquistado a duras penas desmorona de vez. 
   A pessoa que sai do ostracismo e passa a ser conhecida tem de ter essa noção do que é ser uma figura pública. Ela passa a ser referência de muita gente, e hoje, com os passos cada vez mais vigiados em grande rede, fica exposta além da estética, da superficialidade, a conduta que acaba tendo um peso maior, pois, nesse critério de construção de imagem a parte de fora e a de dentro são colocados na balança. 
   Portanto, a primeira impressão é a que fica, mas só pra quem ainda não deu mole por aí.

sábado, 17 de outubro de 2020

BANALIZANDO A MALANDRAGEM

    Vivemos um tempo em que certas coisas absurdas tomam formato de algo natural, normal. Eu digo que vivemos porque pode ser passageiro também. Pode ser que lá na frente haja uma mudança de rumo e tudo que agora parece normal volte a ser bizarro novamente. Claro, quando a sociedade em sua grande maioria entender que todo processo deve ser interpretado da forma como ele é em sua origem, ou seja, não se pode inverter os valores ou a ordem das coisas como se isso fosse, sei lá... permitido por lei.
   Em mais um episódio de bizarrice que já ilustra o cenário político faz tempo o senador Chico Rodrigues(DEM-RR) é flagrado com dinheiro público que seria destinado ao povo de seu estado, Roraima, para o combate ao Covid-19. O que deveria chamar mais a atenção é o ato em si, o roubo, a sacanagem com o dinheiro, não a forma como ele se manifesta. Não interessa se a grana estava na cueca do sujeito. Seria um dinheiro sujo de qualquer maneira se estivesse em gaveta, mala ou baú.
   O que não pode é uma ação dessa natureza, tipificado como crime perante a lei em vigor no país, se banalizar assim, naturalmente, e não haver nenhuma expectativa de penalidade como efeito da vigilância do povo com a coisa pública. 
   Que se deixe de lado esse corporativismo que estimula as práticas ilícitas. Já era para todo o Senado estar mobilizado para cassar o mandato do senador Chico Rodrigues, independente de partido, corrente ideológica. É a honra do Senado que está em jogo. Esse sujeito certamente ocupa a cadeira que alguém usou no passado para dignificar o Senado Federal e o estado representado ali. 
   Mesmo que o senador Chico Rodrigues não se envergonhe de decepcionar o seu eleitorado em Roraima, o Conselho de Ética da casa não pode hesitar em cassar o mandato do parlamentar, cujo partido, o Democratas, também deve tomar uma posição em nome da moralidade pública, e não ficar sob as amarras do compadrio e do corporativismo só porque é a sigla do presidente da casa, David Alcolumbre, e também do Conselho de Ética, Jayme Campos.
   Não há nada que possa amenizar a culpa e má-fé do senador Chico Rodrigues, não há atenuantes quando o  dinheiro público for o objeto da malandragem. Há, sim, um agravante, pois o recurso desviado era destinado à área de saúde, em que vidas humanas estão envolvidas, principalmente agora nesses tempos de pandemia.
   Não precisa ser de Roraima pra se indignar, basta ser brasileiro, basta ser humano. A sociedade brasileira não pode mais conviver com o ilegal, o errado, e achar que é normal, que é assim mesmo, tipo tá tranquilo, irmão e segue o barco.
   O senador Chico Rodrigues só faz isso porque não frearam o ímpeto de seus pares no passado. Será que convencionou achar que isso mudaria com tempo? Não. Simplesmente, banalizaram o ilegal junto com a impunidade. Esse sujeito, Chico Rodrigues, é o fiel representante de um pais atrasado, aquele Brasil que no passado institucionalizou a bandalha, a canalhice, a sacanagem com o povo brasileiro. 
   É  por causa de gente assim como o senador Chico Rodrigues e tantos outros que parte da sociedade trata essa imoralidade como coisa normal. 
   Cabe ao povo brasileiro vetar esse projeto de lei para o Brasil.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

EDUARDO PAES NÃO FUNCIONA

 
De todos os candidatos a prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes é o que mais nos permite fazer uma avaliação mais precisa de como pode ser a próxima gestão da cidade.
   Enquanto os outros geram suspeitas e desconfiança, tanto os conhecidos quanto os novatos, deve-se esperar mais um pouco a propaganda deles na mídia, assim como os debates, de onde pode surgir o diferencial de cada um, aquele detalhe que pode definir a escolha da maioria para governar a nossa cidade.
   Já, o Eduardo Paes é aquele velho conhecido dos cariocas, governou o Rio de Janeiro por dois mandatos, por força e obra de seu padrinho político, Cézar Maia, que também fez as vezes de alcaide na cidade maravilhosa.
   Se a gente falar que não houve benefícios à população em sua gestão, pode estar havendo um pouco de injustiça também. Mas não foram mudanças que se eternizaram na realidade da cidade, ou como bem ele dizia nas publicidades que fazia, o tal legado para a população. E olha que Eduardo Paes governou em total interação com os governos estadual e federal na época, o que deixava o Rio de Janeiro com uma certa vantagem com relação às outras unidades da federação.
   Os cariocas poderiam, neste momento, estar gozando de várias ações implementadas por ele, porque, havia a promessa de grandes feitos para a cidade, principalmente pela expectativa que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos geraram para a população nos preparativos desses eventos esportivos que o Rio sediou.
   Até o seu discurso na propaganda atual poderia estar enaltecendo sua passagem como prefeito e os resultados positivos para todos que aqui vivem. Não daria nem tempo nem motivos para alfinetar seu sucessor, como faz insistentemente nessa tentativa de voltar ao cargo. Aliás, ele só fala mal do Marcelo Crivella porque não conseguiu emplacar seu sucessor, e agora fica criticando justamente o gestor que o sucedeu. 
   Então, nesse sentido, é muito pouco provável que Eduardo Paes possa administrar o Rio de Janeiro novamente com uma roupagem diferente. Ele nem dá sinais de que pode ser diferente e melhor, apenas faz questão de destacar seus 30 anos de vida pública sem que isso tenha transformado o Rio de janeiro num eldorado.
   Hoje, se há serviços públicos precários na cidade, sua gestão contribuiu para manter esse nível. Se em algum momento tudo parecia maravilhoso, foi momentâneo, num tempo suficiente para maquiar a cidade em pontos e setores estratégicos e passar uma boa imagem que ele vende agora. 
   Lamentável que tenha passado despercebido de muita gente os projetos inacabados ou mal sucedidos ligados direta ou indiretamente à sua administração. Deve ser gente que paga plano de saúde e não precisa de uma UPA, de uma Clínica da Família, cujo nível de eficiência é insuficiente para a demanda da população que sofre na fila por uma consulta ou internação. 
   Nessa nova tendência  de transporte por aplicativo, muita gente não vê linhas de ônibus sem condições alguma de rodar pelas ruas da cidade, com tarifa absurda, bancos soltos, pneus carecas, sem ar-condicionado, desmandos dos empresários do setor e vista grossa, claro, do então prefeito Eduardo Paes.
   Nas comunidades é onde mais se vê a ausência do poder público, principalmente da municipalidade. Faltam vagas em creches, saneamento básico e coleta regular de lixo em todas as favelas cariocas, localidades que Eduardo Paes sempre mira em suas promessas, sem cumpri-las, no entanto. 
     Para não dizerem que estou perseguindo Eduardo Paes, devo dizer que outros prefeitos, os anteriores e o atual, Marcelo Crivella, também hesitaram em transformar a cidade do Rio de Janeiro ao nível das grandes metrópoles mundiais.
   Em 2012, o Rio sediou a Rio+20, um Fórum global com proposta de desenvolvimento das cidades com ênfase na sustentabilidade, o meio-ambiente atrelado aos principais projetos de cidades e nações. Seria a oportunidade de o Rio de Janeiro dar um salto de qualidade em sua gestão, mas Eduardo Paes também contribuiu para o fracasso do encontro, cujos pontos e temas abordados foram ignorados.
   Agora, Eduardo Paes está aí, tentando administrar o Rio de Janeiro novamente, usando uma narrativa que atenta contra ele mesmo, a promessa de que o Rio vai voltar a funcionar. Para quem teve a chance de otimizar, renovar, modernizar o Rio de Janeiro  e não aproveitou, é melhor que não corramos esse risco novamente.


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O ENTENDIMENTO CONFUSO

    É claro que ia dar o que falar a liberdade que o traficante André do Rap conseguiu com a liminar proferida pelo ministro Marco Aurélio Mello.  
   É necessário destacar, pra começo de conversa,  que toda essa comédia de erros tem fundamentação legal. Por incrível que possa parecer, está tudo dentro da lei mesmo, não é brincadeira, não. Se houve alguma tentativa de modernizar um parágrafo, um inciso ou um artigo qualquer pra se adequar aos novos tempos, ficou no meio do caminho esse ensaio. 
   Veja só, entendimento que é um termo muito utilizado no meio jurídico para esclarecer uma decisão ou interpretar o que diz uma lei, na verdade  é confuso também, ninguém se entende, porque as leis brasileiras são assim, cheias de atalhos, de contornos, permitindo que cada um siga um caminho. 
   E foi justamente isso que ilustrou o falatório sobre a soltura do traficante. Libertaram o cara que já tinha duas condenações em segunda instância, mas a tal revisão da prisão depois de noventa dias não foi feita dentro desse prazo, daí um criminoso de alta periculosidade sair tranquilamente pela porta da frente como um verdadeiro escárnio à sociedade. 
   Pois é, tanto se discutiu sobre as condenações em segunda instância que esgotariam completamente o princípio da inocência  que o próprio Congresso cheio de gente intrincada com a justiça não se empenhou o bastante, por que será? Todo o esforço do Sérgio Moro em emplacar a novidade foi em vão quando ele saiu do governo.
   Agora, fica o Supremo tribunal Federal tendo que abrir os trabalhos às  pressas na Corte pra desenhar, porque só desenhando mesmo, o melhor e  mais adequado entendimento sobre relaxamento de prisão de um elemento que tem mais motivos para estar preso que voando por ai.
   Portanto, nem adianta outra mobilização pra recapturar o André do Rap, com tempo, recursos e logística gastos mais uma vez, enquanto o Congresso vai empurrando com a barriga a questão até que se esgote a paciência da sociedade e abra mais precedentes, pois, dentro da população carcerária está cheio de gente nessas condições.
   Quando ao STF, antes de se definir de quem é a competência para fazer a revisão aos noventa do segundo tempo, é melhor que se decida pela manutenção da prisão, a renovação automática do xilindró, se ninguém aparecer pra reclamar o condenado. 
   A sociedade vai agradecer essa moral.
    

terça-feira, 13 de outubro de 2020

FALTA AMOR AO RIO

    Quando chega a época de eleições parece que o amor floreia no coração dessa gente que fala ou faz qualquer coisa pra sentar na cadeira do prefeito. Eu fico imaginando o coração do cara pulsando em ritmo acelerado com a expectativa de governar a cidade, resolver essa penca de problemas que o Rio tem, descascar o abacaxi de cada lugar da cidade com o coração pulsando de emoção, nessa relação de amor e paixão por essa metrópole com maravilhas, mazelas, perigo, beleza, calor humano, tudo misturado, e o prefeito tirando tudo isso de letra, porque tudo é divino e maravilhoso quando é feito com amor.
   Deve ser realmente encantador cumprir uma agenda de governo sempre com o sorriso estampado no rosto, sem perder a ternura, mesmo que seus auxiliares venham à sua mesa toda semana com balanços e relatórios de tudo que precisa ser feito para o Rio de Janeiro ser  aquela cidade apaixonante pra se viver.
   Se tem alguém ou muita gente que pensa diferente, beleza, mas é esse cenário que eu imagino quando vejo um candidato à prefeito da cidade maravilhosa dizendo em todas essas inserções de  propaganda eleitoral que ama a cidade.
   É fácil compreender como é esse amor de alguém que tem raízes fincadas aqui. Não é surpresa alguma declarar esse amor pelo lugar onde tudo começou no caso dos nativos, assim como daqueles que escolheram o Rio como morada.
   Mas uma coisa é falar o que pensa, o que sente, até porque, quem tem boca fala o que quer, como dizem por aí. Agora, outra coisa é mostrar esse amor com ações práticas no dia a dia.
   Pra quem respira a nossa cidade em sua rotina e percorre todos cantos de um lado para o outro, à pé, de ônibus, trem, metrô ou bicicleta tem uma ideia dos cuidados com o Rio de Janeiro. 
   Se de um lado tem o sujeito que joga uma latinha de refrigerante no meio da rua, sem a menor cerimônia, do outro tem o poder público que oferece os principais serviços à população de forma precária. 
   Diante de todo esse cenário, não tem como disfarçar nossas mazelas, insistindo em divulgar a beleza da cidade nos velhos cartões-postais. Nesses tempos de redes sociais, é  muito fácil um forasteiro chegar aqui no Carnaval, no réveillon  e viralizar uma situação bizarra do Rio de Janeiro.
   Não adianta ficar zoando o paulista, o mineiro ou o amigo que mora na Baixada Fluminense e quando vai à praia deixa todo o lixo na areia quando vai embora. É triste ver o cara roubando fio da rede elétrica em plena luz do dia, o outro mijando no pé da árvore ou dando calote no BRT. Para o cidadão que  espera e exige o melhor de quem governa a cidade, o ideal é que ele faça a sua parte também.
   Pois é justamente essa postura que a gente espera do prefeito e legisladores da cidade do Rio de Janeiro. Muito mais do que amar o Rio é fazer da nossa cidade aconchegante e funcional para nós que vivemos aqui. É muito comum ver as ruas policiadas, mais limpas, metrô funcionando, trem e ônibus sem caô em dias de Carnaval, Réveillon ou eventos esportivos, e depois tudo volta a desandar quando os visitantes vão embora.
   Não adianta que amar o Rio seja um mote de campanha ou plataforma de governo. É preciso diferenciar a gestão das outras anteriores que sempre maquiaram a cidade pra fingir que tudo funciona, quando na verdade é tudo precário, à meia-sola.  Já não rola mais o Rio ter perfis diferentes em cada localidade, o Rio do rico e o Rio do pobre. É necessário seguir os protocolos ambientais nos principais projetos de desenvolvimento para o Rio de Janeiro para que sejamos uma cidade moderna de fato.
   A saúde, a educação, a segurança das pessoas têm de ser levadas à sério, sem essas parcerias público-privadas cheias de suspeição que só trazem prejuízos à população. 
   Por fim, dá pra fazer essa triagem na hora de votar. É só observar as condições da cidade, como ela já estava antes e como ela continua até hoje. Tá na hora de dar uma verdadeira prova de amor ao Rio.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A LADAINHA VOLTOU

    Gente, começou aquela velha ladainha de sempre. Sim, porque não tem como definir de outro jeito a propaganda eleitoral que rola na TV e no Rádio. Em uma semana de programa já dá para ter uma ideia de como será o resto da campanha.
   Claro que há aquela expectativa de algo diferente depois de um tempo ruim, mas nas primeiras falas a gente volta à mesmice de sempre: os caras atacando um ao outro em meio a um monte de coisas que precisam ser feita e nenhuma solução, nenhum fato novo saindo da boca dessa gente.
   É justamente em temas espinhosos que poderia sair novas ideias, outros rumos para a política. Com tanta coisa acontecendo no cenário político que poderia servir de gancho para outros modelos de administração.
   Em vez disso, a turma foge de conversa séria, preferindo ataques pessoais sem nada que se possa aproveitar. A corrupção aí, comendo solto, e ninguém acena com um papo decente. Na verdade, fica até difícil tocar no assunto, porque os principais candidatos que estão nas cabeças, segundo essas pesquisas malucas ai, todos têm ligação ou já esteve ligado com alguma coisa ou gente suspeita.
   Mas se não dá pra falar disso agora, tem a questão da pandemia que poderia clarear a mente dessa gente sobre a questão da saúde. Afinal de contas, depois que a Covid-19 der uma trégua, a rede pública vai ficar de um jeito que só uma gestão séria, muito transparente, inclusive, pra botar tudo nos eixos de novo. Numa campanha de alto nível de inteligência dos candidatos surgiria aquele diferencial pudesse efetivamente solucionar o problema ou pelo menos ensaiar outra diretriz pra uma questão que pede pressa.
   Outro assunto de grande interesse pra geral é a questão ambiental nesses tempos de queimada destruindo a Floresta e o Pantanal. Se tem um tema que pode ser crucial nessa discussão toda, qualquer mudança, qualquer expediente, qualquer intervenção que projetem para a cidade tem de ter a causa ambiental atrelada, e se ninguém acenar com alguma proposta dessa natureza, seguir essa linha de administração moderna e renovadora a cidade vai continuar do jeito que sempre foi. 
   As redes sociais também poderiam ampliar mais o debate pela dimensão e abrangência social, mas o que se vê são discussões inúteis, informações vazias, fake news e outros elementos apenas espetacularizando o ambiente. É a parte em que todo mundo, candidatos e eleitores contribuem para piorar ainda mais o negócio.
   Vamos esperar o debate pra ver como é que fica.
   

sábado, 10 de outubro de 2020

A COMIDA É A VACINA DO POBRE

    Não poderia ter uma premiação mais satisfatória e gratificante para a humanidade o Prêmio Nobel da Paz de 2020 concedido ao Programa Mundial de Alimentos da ONU. 
   No caso da fome como a mazela mais gritante do mundo, é importante que um conjunto de ações promovido por nações ricas se intensifique e melhor, que sirva de exemplo para demais projetos que atendam às necessidades de povos e nações em condições sub-humanas.
   Em lugares pelo mundo, onde há constantes conflitos, como a África, por exemplo, além da violência e destruição que provocam a escassez de alimentos pela infraestrutura precária em regiões conflagradas, nesses tempos de pandemia a falta de alimentos aumenta ainda mais.
   Chama a atenção, no entanto, a fala da presidente do Comitê do Nobel, a sueca Berit Reiss-Andersen à escolha do Programa Mundial de Alimentos ao prêmio da entidade. Quando ela afirma que a comida é a melhor vacina contra o caos, dá para fazer  reflexões  sobre as mazelas de populações desassistidas pelo mundo. O caos a que se refere vai mais além dos cenários de guerra que interrompem ou atrapalharam a ajuda humanitária. Serve de alerta aos países que adotam políticas públicas pouco eficazes no combate à miséria dentro de seus quadrantes.
   O próprio Brasil, que tem uma área cultivável de grandes proporções, tem capacidade para atender as populações famintas ainda concentradas em vários bolsões pelo país, mas ainda hesita em conjugar o agronegócio com qualquer modelo assistencial que reverta o quadro de fome que assola populações em todas as regiões brasileiras, além,  é claro, de uma política econômica totalmente desfavorável à aquisição de itens básicos para a alimentação. Agora mesmo, durante a pandemia, foram justamente os alimentos que mais sofreram aumento de preços, influenciando a alta da inflação no momento atual.
   Tudo isso, somado ao desperdício e a timidez de gestões públicas nas três esferas de governo são fatores que impedem o Brasil de equacionar esse problema dentro e fora de suas fronteiras, no momento em que a pandemia de Covid-19 traz consequências negativas para as classes menos favorecidas em todo o mundo.
   Com relação à ONU, ainda há controvérsia em outras áreas em que órgão pode interferir de forma mais intensa, nos conflitos que fustigam nações fragilizadas por lutas de caráter político, étnico e religioso, na África em especial, assim como no mapa geográfico das doenças que brotaram naquelas terras e a Organização Mundial de Saúde que pouco fez para erradicar o mal em sua origem, permitindo a disseminação fora do continente décadas depois, mas isso é outra história.
   Nada que tire a importância do Programa Mundial de Alimentos, premiada com louvor, por proporcionar a comida como a principal vacina para os pobres.

domingo, 4 de outubro de 2020

O BÁSICO DAS PALAVRAS E AÇÕES

    Ainda existe aquele mito de que é difícil falar de economia. Para muita gente fica complicado acompanhar ou interpretar a fala dos especialistas, aquelas pessoas que têm o notório saber. Eu acho até que mesmo quando eles falam de forma simples e se esforçam para que todos entendam, ainda assim sai um monte de palavras difíceis, termos rebuscados, principalmente quando há a verdadeira intenção de explicar algo que não traz solução alguma.
   É um expediente comum a outras áreas de atuação humana, não só no ambiente de economia, finanças, essas coisas, porque como muita gente já percebeu, toda vez que se pretende camuflar, disfarçar, desviar ou mesmo sonegar informações,  fatos e realidade das coisas, é justamente o jogo de palavras a ferramenta utilizada.
   Só que esse recurso se estende também para as ações homem, o outro estágio depois das falas inúteis. 
   Todo mundo tem acompanhado o esforço do governo para criar esse benefício, o Renda Cidadã, para as classes menos favorecidas, dentro da política assistencial que todo governo adota como meio de sobrevivência, não necessariamente do povo, mas do próprio governo.
   Porque é isso mesmo que a gente vê nessa agenda econômica que o presidente Bolsonaro e sua equipe tentam emplacar nesses tempos de pandemia. É evidente que  o presidente quer fazer graça com os mais necessitados sem que outros setores sejam sacrificados. O governo quer criar recursos para o benefício, sem furar o tal teto de gastos, quando seria  melhor conter gastos, o que implicaria cortar despesas de outros setores. Dá para fazer isso, o problema é que ninguém quer dar sua cota de sacrifício. 
   Seria até bizarro acreditar que o presidente ainda insiste em instituir o Renda Cidadã com recursos do Fundeb, o fundo das crianças da educação básica, mas a equipe vai além e cogita empregar o dinheiro de dívidas que a União tem de pagar por força de decisão judicial. Imagine um aposentado que ganhou uma causa do governo por correção de proventos; um cidadão que finalmente vai receber uma indenização para compensar uma perda; ou a compra de computadores para uma escola que vai ficar para depois. 
   Pois é, são esses que seriam sacrificados, não os detentores de grandes fortunas, que em outros países estariam tranquilamente subsidiando essa ajuda do governo. Seria uma maneira de distribuir renda e viabilizar a economia do país de forma mais saudável. Do jeito que Bolsonaro quer fazer apenas aumenta temporariamente o poder de compra dos mais pobres em itens básicos, sem que isso aumente de fato o poder aquisitivo dessa parcela. 
   Ainda há muito receio de fazer o dinheiro circular saudavelmente. Essas crises que rolam no mundo, que de vez em quando abalam as estruturas é fruto justamente disso, o dinheiro mal distribuído no mundo. A maior parte do dinheiro só circula no mesmo lugar de sempre, nas mãos das mesmas pessoas. 
   Aqui no Brasil é a mesma coisa, ninguém quer contribuir em subir o nível das pessoas de baixo. Muito pelo contrário, se aproveitam e aumentam o preço dos alimentos em plena pandemia. Bancos cobram juros de quem atrasou pagamento por causa da crise do coronavírus. São dois grupos econômicos que poderiam contribuir para melhorar a vida das pessoas, mas, não.
   Pois bem, é assim. Dá para falar de forma simples como dá para agir de maneira menos complicada também. 

sábado, 3 de outubro de 2020

DEPOIS QUE VESTE A TOGA

    
   Eu tenho ouvido algumas pessoas indignadas com a indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal feita pelo presidente Jair Bolsonaro. 
   Tanto em meio ao público comum que apoia o presidente quanto entre seus aliados, havia a expectativa de alguém diretamente ligado à ala conservadora, ainda mais depois que Bolsonaro já havia declarado que iria indicar alguém próximo da Igreja ou de toda a ala conservadora.
   Na verdade, a grita diz respeito à origem de Kassio Nunes e sua fidelidade com relação à questões pertinentes e favoráveis ao governo, como se isso fosse praxe, uma tendência nesse expediente de indicação e preenchimento de vaga de ministro do STF.
    Primeiro que pela atual conjuntura em que o presidente anda de mãos dadas com o Centrão, isso certamente implicaria uma mudança de rumo ou do nome a ser indicado para a Corte, adiando a promessa feita de indicar aquele terrivelmente evangélico, que Bolsonaro vai poder cumprir ano que vem com a aposentadoria de outro ministro, o Marco Aurélio Mello, isso se não houver uma mudança de rumo até lá, porque, agora mesmo, com todo esse esforço do presidente em conquistar a Região Nordeste, o nome de Kassio Nunes caiu bem nas pretensões de Jair Bolsonaro.
   Agora, o caráter político que sempre cercou as escolhas para ministros do STF só dura até o indicado ser aprovado na sabatina do Senado. Depois que o cara veste a toga e passa a integrar as fileiras do órgão, a cultura e o regimento da Casa o impede de ser outra coisa que não seja ministro do Supremo tribunal Federal. E se cobram do novo ministro uma postura fiel e condizente com os interesses de quem fez a indicação, poder tirar o cavalo da chuva que a própria história até recente do STF mostra justamente o contrário. 
   Praticamente todos o ministros do STF já deram sentenças contrárias aos interesses do presidente que o indicou,  por razões técnicas e éticas.  O máximo que Kassio Nunes pode fazer é se posicionar em questões polêmicas, independente de serem sensíveis ou não ao governo. Já, obediência e fidelidade dificilmente vão rolar. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

DESORGANIZAÇÕES SOCIAIS

    Já passou da hora de tirar de cenas essas Organizações Sociais na gestão de unidades de saúde nos estados. Se antes foi concebido para simplificar, agilizar e tornar mais excelente o atendimento à população, hoje, esse modelo se revela completamente prejudicial à população, em todos os aspectos. Não atende com eficiência toda a demanda e ainda traz prejuízos aos cofres públicos, já que funcionam sob regime fraudulento, em meio à teia de corrupção envolvendo seus gestores e agentes públicos.
    Quando começou esse sistema de parceria com a iniciativa privada, vários setores da administração pública aderiram ao modelo de concessão de serviços públicos à empresas privadas como forma de modernizar o atendimento à população. 
   Houve questionamentos sobre as garantias de eficiência na prestação do serviço, já que a administração pública poderia perfeitamente gerir as unidades de saúde de forma direta, adequando os efetivos de cada unidade de acordo com as peculiaridades de cada uma nas regiões em que funcionam.
   Se havia contestação pelo aumento de despesas com pessoal através de concurso público, onerando ainda mais a folha de pagamento, hoje, o montante que o estado gasta com superfaturamento e desvios de toda ordem não compensou o esforço em apostar num modelo que poderia ser excelente para a saúde da população e das finanças do estado.
   Para piorar a situação, não se criou nenhum mecanismo que pudesse resguardar os recursos empregados na empreitada, caso houvesse algum contratempo, alguma mudança de rumo nos contratos feitos com essas organizações, ou seja, não consta nos acordos firmados a má-fé de todos os envolvidos nessa transação pra lá de ilícita. 
   Agora, as organizações interrompem o serviço por força das investigações e prisões efetuadas e a  população fica aí na pista, mais carente do que já estava, ainda mais nesses tempos de pandemia.
    Um estado rico como sempre foi o Rio de Janeiro não deveria passar por isso. Tirando esse tempo em que falta dinheiro para despesas legais e investimentos, com o governo ainda costurando sua política de recuperação fiscal, o estado do Rio de Janeiro pode perfeitamente retomar uma política de saúde pública dentro de todo o orçamento destinado ao setor, sem roubalheira, com transparência, e gerir de forma eficiente as unidades de saúde de sua esfera. O estado do Rio tem potencial, tanto de receita quanto de atração de investidores, capaz de prestar os principais serviços com excelência e lisura.
   Para isso, é necessário que o próximo gestor adote uma política que interrompa de vez essa prática dentro da área de saúde, uma vez que já foi repassada da gestão anterior para essa atual os mesmos desmandos. Porque as prisões efetuadas e todas as investigações e conduções da justiça no caso não terão efeito algum se o próximo governante continuar com essa farra com o dinheiro público.
    
   

terça-feira, 29 de setembro de 2020

FECHANDO A PORTEIRA

    Para quem achava que a boiada passaria em meio à distração da sociedade, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vai botando em prática sua sugestão feita naquela famosa reunião ministerial de abril, às claras mesmo.
   Não bastassem as queimadas que já ardem no Pantanal e na Floresta Amazônica, agora as restingas e manguezais que ficam também na iminência de destruição com a decisão de Salles de revogar normas que protegem essas áreas importantes para o ecossistema. 
   Com isso, abre-se espaço para construções irregulares pelo uso inadequado do solo naquela região, sem qualquer estudo de impacto ambiental, tudo sob a bandeira do turismo ecológico, mas com claros objetivos comerciais para atender a interesses de empreendedores imobiliários.
   A possibilidade de a sociedade ver essas áreas completamente degradadas passa a ser maior, no momento em que o próprio governo mexe na estrutura do Conama, o órgão criado para discutir de forma racional as questões ambientais, diminuindo o poder de voto da sociedade civil de decidir sobre deliberações do órgão.
   Agora, além das cinzas nas matas brasileiras, as restingas e manguezais também poderão sofrer alterações em suas paisagens, já que as eventuais construções nessas áreas vão produzir toda sorte de detritos, lixo e esgoto, que sem tratamento adequado tornará mais difícil o processo de recuperação, mesmo que a própria natureza se recomponha aos poucos.
    É mais um capítulo na velha saga de desequilíbrio ambiental que vem marcando a gestão de Ricardo Salles à frente do ministério do Meio Ambiente, o que já remete a sociedade brasileira a especular sobre os desdobramentos da atual política ambiental do governo federal, completamente oposta às diretrizes, acordos e protocolos de encontros e fóruns já realizados para discutir o assunto em todo o mundo.
    E ao contrário de como sugere o próprio ministro, não passa despercebido de ninguém um assunto de grande repercussão. Além de parlamentares que poderão impedir as mudanças no Conama promovidas por Ricardo Salles, como já  adiantou o deputado federal Alessandro Molon em um Projeto de Decreto Legislativo, o Ministério Público Federal foi mais além e solicitou à Justiça Federal do Distrito Federal o afastamento de Ricardo Salles da pasta do Meio Ambiente.
   Tanto a vigilância do Parlamento quanto a defesa da justiça seria a resposta ideal para frear o expediente e o ímpeto do ministro Salles, que vem trazendo consequências trágicas ao patrimônio natural do Brasil. 
   Que a sociedade possa cada vez mais ficar vigilante aos desmandos de quem cause danos ao meio ambiente, especialmente de quem se espera uma gestão pública que possa conjugar o meio produtivo e demais intervenções e empreendimentos com a preservação das riquezas naturais brasileiras. 
    
   

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

A BRASA NA SARDINHA

       Aos poucos vai tudo voltando ao normal na cidade. Aquela efervescência da qual rolava uma saudade danada vai retomando o seu formato original. Novamente a velha confusão de carros e pessoas em todos os quadrantes da cidade maravilhosa. 
   Eu cheguei a transitar pelas ruas completamente vazias no auge da pandemia e ficava imaginando que numa época distante o Rio de janeiro já foi assim, sem essa atmosfera, sem essa vibe de hoje. Se um dia o Rio ficasse assim novamente, teria que muita gente meter o pé daqui e voltar só nos feriados ou em outras ocasiões pra visitar quem ficou por aqui tomando conta das coisas, das praias, das praças, dos morros e das matas.
   A gente fica até especulando se a cidade do Rio não fosse uma metrópole global ela poderia estar funcionando melhor, sei lá, porque, tem tanta cidadezinha por ai funcionando a todo vapor sem tirar o charme e o bem estar de sua gente.
   Mas a verdade é que a gente já se acostumou com essa bagunça que tem aqui, esse calor das pessoas, a fumaça dos carros e todo mundo fazendo barulho ao mesmo tempo.
   Pois bem, seria maravilhoso ver tudo em seu lugar novamente depois de um período turbulento de recolhimento e o velho Rio de Janeiro voltando a respirar. Seria interessante saber que fizemos a nossa parte com rigor e disciplina, por isso que a gente merece essa volta triunfal. A gente ficaria mais aliviado se tivéssemos de fato livre de qualquer perigo que ainda ronda o mundo, mas, infelizmente não dá pra ter aquela sensação de dever cumprido que deixaria todos com mais ânimo para voltar às atividades.
   Vendo toda essa movimentação a primeira impressão é que cada um vai tentando sutilmente suprir sua própria necessidade, como diziam antigamente, cada um se safando e se resolvendo de acordo com suas conveniências. 
   Como já há um recuo em outras praças onde os casos de Covid ainda persistem ou voltaram, lugares onde houve, inclusive, um confinamento mais rigoroso, fica difícil imaginar que estaremos seguros com certeza, mesmo com pouco tempo de isolamento que a cidade do Rio viveu. 
   A preocupação aumenta ainda mais quando a pressão pela volta das atividades se dá por interesse do mercado, sem qualquer informação das autoridades científicas dando garantias para essa retomada. 
   A gente nota uma pressa enorme dos dirigentes de escolas, museus, cinemas e estádios de futebol sem saber se eles têm um planejamento para a reabertura de suas casas, se existe uma preocupação social maior que os lucros que almejam. Afinal de contas, são esses ambientes os que justamente acumulam pessoas pra consumir os serviços e produtos oferecidos, mas que graça vai ter um bar lotado, um shopping bombando, uma arquibancada em festa, com a iminência de outro contágio? E o esforço daqueles que seguiram à risca todos os protocolos?
    A gente até dispara essas críticas sobre todos os envolvidos nas atividades, os clientes, os funcionários e o chefe, mas o poder público, como gestor da cidade e das crises é o único que não pode se deixar levar pelas pressões que sempre rolam em bastidores. Estão na esfera de governo os órgãos e especialistas que lidam com a questão da Covid com racionalidade, os que têm o retrato real da doença, dados que definem como deve ser agenda da cidade nesse cenário. A voz maior numa hora dessa é da comunidade científica, e a sociedade precisa ter essa noção, em vez de agir com interesses, puxando cada um brasa pra sua sardinha.
   Que a cidade do Rio de Janeiro possa retomar sua rotina com segurança. Pra isso, é preciso mais engajamento das pessoas. Só assim teremos de volta aquela cidade frenética, o couro comendo, o bagulho doido, enfim, essas loucuras que fazem o Rio andar de um lado para o outro sem parar.
   

terça-feira, 22 de setembro de 2020

O MESMO PAPO TORTO

    A questão ambiental é tão importante para a vida do planeta que fica difícil encontrar soluções em meio a todo esse falatório inútil em nível global. 
   Não há novidade alguma quando um dirigente brasileiro discursa para o mundo fazendo defesa da política ambiental do governo do Brasil. Na fala do presidente Bolsonaro na Assembleia da ONU a velha ladainha de tentar passar para a opinião pública internacional a ideia de que a gente aqui segue à risca a cartilha de tudo que foi sugerido e acordado em encontros anteriores para debater o assunto. 
   É repetitivo esse discurso de que há interesses de organismos internacionais pelas coisas do Brasil, todos já falaram isso e não tomaram medidas pelos fim dessas ações. Bolsonaro não foi o primeiro a jogar conversa fora e talvez nem seja o último. Se antes já havia as falas completamente sem sentido e fora da realidade que todos já conhecemos,  hoje, chega a ser ridículo o presidente culpar os índios por parte das queimadas na floresta, num cenário em que, por exemplo, há  garimpo ilegal em terras indígenas, desmatamento em outras áreas demarcadas, e agora também as queimadas no Pantanal, enfim, uma série de ações degradantes que destoam completamente dos  discursos feitos até agora.
   Se antes, quando eram recentes os encontros para discussões sobre o meio ambiente os protocolos não foram seguidos, imagine o atual governo, cuja indiferença à causa ambiental é notável.
   Portanto, mais uma vez o governo brasileiro perdeu a oportunidade de mostrar alinhamento à questão ecológica como um todo, no momento em que, hoje, quaisquer intervenções que visem o desenvolvimento e a modernidade das nações tem o fator ambiental atrelado. 
   As soluções para o problema estão dentro dos nossos próprios domínios, sem a necessidade de interferência externa. O mundo só precisa saber que fazemos a nossa parte porque a questão ambiental é um assunto de todo o planeta, e a Floresta Amazônica é o maior bioma do mundo, importante para todo o planeta. 
   Ao mesmo tempo em que há interesses externos  pelas riquezas do Brasil, há organismos aqui dentro também mal intencionados, paralela à ausência de política governamental alinhada à agenda de tudo que já foi discutido e acertado.
   Portanto, o Brasil está longe de seguir novos protocolos, e a fala de Bolsonaro só reforça o mesmo papo torto de sempre.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

FOGO NO MATO

    Fica até difícil priorizar o assunto sobre as queimadas que vêm assolando a Floresta Amazônica e o Pantanal nesse novo filão do pessoal do agronegócio de derrubar árvores e plantar boi no lugar.
   Se a crítica em si aborrece alguém do setor, os registros já apontam a ação do homem em mais um evento de agressão à natureza nesses tempos em que a mais antiga das atividades do homem, ao contrário do que já se verifica em outros quadrantes, aqui a agricultura também desvia da renovação que o setor já desfruta com ênfase na sustentabilidade. 
   É claro que não se pode generalizar a prática criminosa desse fogaréu todo, mas dá pra afirmar que grande parte das queimadas é delituosa, pois mesmo antes,  quando se atribuía ao aquecimento global as chamas no mato, as ocorrências eram bem menos frequentes que agora.
   O Brasil deve ser o único país que não consegue ou não se dispõe a conciliar a atividade agrícola com o meio ambiente e os recursos minerais distribuídos em sua vasta geografia. Não faltam órgãos de pesquisa e tecnologia que possam auxiliar o setor agrícola a conjugar a lida no campo com a natureza, mas parece que questão mercantilista fala mais alto, o velho princípio do lucro imediato, sem preocupação alguma com as próximas gerações que poderão desfrutar das riquezas do país. 
   Quanto ao governo federal, o mínimo que se pode fazer ele já faz, disponibilizando recursos e infraestrutura aos governos locais, tanto na floresta quanto no pantanal, em socorro aos estados envolvidos nos desmatamentos e queimadas, mas muito pouco para quem deveria adotar uma política ambiental adequada à realidade ecológica do Brasil e em consonância com a tendência mundial de proteção e conservação do planeta.
    Há que se destacar as ações descabidas do ministro Ricardo Salles, do Meio-Ambiente, os casos de agressões à fiscais do Ibama, o descaso com a população indígena, o garimpo ilegal, enfim, uma sucessão de erros que já ocorreram em gestões passadas, mas que se acentuam agora com essa agenda muito pouco alinhada à causa ambiental e ecológica.
   É lamentável que o agronegócio brasileiro não esteja totalmente alinhado à políticas que fortaleçam cada vez mais o setor, com uma visão mais global, com as tecnologias de ponta de que dispõe, mas sem, no entanto,  degradar o meio-ambiente.
   Se tem alguém que tire proveito dessas práticas nocivas, para sociedade como um todo, é necessário e importante apagar esse fogo no mato.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O VÃO DO METRÔ

       O Metrô Rio divulgou uma nota dando conta de uma redução em sua receita da ordem de R$ 409 milhões por conta da pandemia do coronavírus, que reduziu em cerca de 60% o transporte de passageiros. Por isso reivindica o aporte de mais recursos para continuar operando o serviço.
    Só que segundo reportagem do jornal O Dia, há uma batalha jurídica entre a empresa e o estado do Rio por uma parte dos lucros da concessionária, cerca de R$ 198 milhões, obtidos entre 2007 e 2012, que deveriam voltar para os cofres do governo.
    A reportagem destaca ainda a negativa do Metrô Rio quanto à referida quantia em seu caixa, além do imbróglio envolvendo a continuação das obras da Linha 4 e demais investimentos em melhorias do serviço, ou seja, uma briga que vai se arrastar até entenderem o que consta no contrato de concessão e tal pra definir a responsabilidade de cada parte nessa história.
   Agora, nunca é demais lembrar que a população é a única que não pode ser prejudicada nessa briga, principalmente se a concessionária resolver interromper o serviço, como já manifestou, caso não obtenha recursos para prosseguir operando o serviço.
   Ora, já é ruim para a sociedade esse modelo de parceria em que cabe ao estado, por exemplo, a aquisição de novos trens, quando há necessidade de renovação da frota. Ou seja, o dinheiro público ainda empregado em um serviço que o estado não opera. O usuário paga a passagem e ainda compra os trens, e por um tempo bem longo, pois essa parceria do Metrô Rio com o governo do estado vai até 2038, tudo dentro das regras de concessão, sem que  ninguém possa reclamar de eventuais prejuízos. 
   De qualquer forma, essa batalha que está rolando agora só veio em função da pandemia que reduziu o fluxo de passageiros e a consequente projeção de receita e as vantagens para ambas as partes. 
   Mas vale uma reflexão por parte da sociedade e dos próximos gestores do estado esse modelo de concessão de serviços públicos pouco atraente para a população, que além do vão entre o trem e a plataforma, sente no bolso o peso de serviços, ainda por cima, precários. 

domingo, 13 de setembro de 2020

UM RIO DE JANEIRO MELHOR

    A cidade do Rio de Janeiro entrando mais uma vez em clima de eleição com a divulgação das figuras que num primeiro plano vão querer administrar a nossa já combalida cidade maravilhosa. 
   Só lembrando que não foi a pandemia que me impulsionou a fazer essa classificação, pois já havia esse cenário antes da Covid-19 dar essa sacudida geral, não só na cidade como em todos os quadrantes do planeta.
   Aliás, pegando carona nessa forma como os cariocas vêm enfrentando a pandemia nessa aglomeração desenfreada em lugares públicos a gente até reforça a desatenção, falta de educação e de responsabilidade de parte da população com o cenário da doença e seus números ainda em ebulição por aqui.
   É justamente esse vacilo de uma massa considerável que resvala como sempre no cenário político, permitindo que velhas figuras ainda continuem ciscando em nosso terreiro fingindo que fez e que pode fazer mais. O estado em que se encontra a cidade derruba qualquer argumento em defesa dessa gente que governa o Rio ou fez parte de sua gestão nesse últimos tempos.
   Com essas denúncias do Ministério Público contra esses políticos que já governaram a cidade ou ainda estão à frente do governo fica mais uma vez o alerta à população desses caras que nunca representaram algo inovador para o Rio de Janeiro, que pudesse efetivamente colocar nossa cidade no patamar de uma grande metrópole.
  Se os maiores problemas que o Rio tem já duram há muito tempo, essas incursões do MP contra Eduardo Paes, o próprio prefeito Marcelo Crivella, Pedro Fernandes e quem mais vier nessa leva dá bem a dimensão dos cuidados e atenção redobrada aos critérios do eleitorado pra escolher o próximo governante.
  Reservados todos os direitos de defesa de cada um em suposta safadeza com a coisa pública como permite a lei, cabe ao público avaliar e extirpar esses verdadeiros malandros que aprenderam com seus padrinhos políticos a arte de enganar o povo sistematicamente. 
   Não faltam meios pra listar nossas mazelas, basta um rolé pela cidade, usando, inclusive, os modais de transportes públicos, todos precários, para traçar o atual cenário do Rio ao longo de todo seu território. Se alguma fala desses futuros proponentes à gestores da cidades não se enquadrarem nas melhores e mais transparentes  soluções para os nossos problemas, que sejamos bem rigorosos nas escolhas, porque também não faltam oportunidades pra se discutir velhas questões da nossa realidade. 
   O jornal O Globo promove esta semana uma série de debates virtuais com lives no evento “Semana Rio 2020 – Um seminário Reage, Rio!” Durante a semana serão discutidos temas como saúde, educação, transporte e economia com ênfase às particularidades de cada região da cidade do Rio. Especialistas vão enviar suas ideias aos candidatos à prefeituras do Rio ao final dos debates, segundo informações da publicação.
   Taí uma oportunidade pra população ver quem está verdadeiramente antenado com as necessidades do Rio de Janeiro, porque já passou da hora dos enganadores de sempre. 
   A cidade do Rio tem de ter a cara de sua população, não de seus governantes.
   

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

ATUALIZANDO A INDEPENDÊNCIA

       Passados esses cento e noventa e oito anos da independência do Brasil, já deu tempo de os livros didáticos chegarem aos bancos escolares com aquela tecla de F5 pra dar aquela atualizada de leve e mudar a forma como é vista e comemorada a data em que viramos um país de fato.
   Se tem algo de importante no grito do Ipiranga há quase dois séculos atrás, a liberdade do país das mãos do colonizador foi o primeiro passo para sermos localizados no mapa, tipo alguém procurar o Brasil no globo e saber que a gente existe como nação com nome e sobrenome.
   Se desgarrar das mãos do explorador, daquela rotina de desapropriação das nossas riquezas com pouca ou nenhuma vantagem para o Brasil foi uma grande conquista para o povo brasileiro. A partir daquele momento a gente só precisava de sabedoria, transparência e união pra gerir tudo que é nosso.
   É justamente nesse espectro de afirmação nacionalista, nesse conjunto de fatores que o Brasil ainda não atingiu o topo que grandes nações já desfrutam e comemoram também. Se existem níveis de comemorações inerentes à importância dos fatos, só deveríamos lembrar das lutas pra desamarrar as correntes do passado, só isso. 
   O nacionalismo tão exacerbado não se traduz em conquistas para o conjunto do país que ainda é dividido por interesses que passam ao largo da coletividade. É como se o famoso amor à pátria não passasse de uma questão de estética quando se entoa o Hino Nacional e a Bandeira do Brasil é hasteada, no momento em que há um desequilíbrio de forças em detrimento do plano geral de se construir uma nação para todos os brasileiros.   
   Antes que interpretem pessimismo nessas linhas devo lembrar que a soberania de qualquer país é construída dentro de seu próprio quadrante, não tem nada a ver com o orgulho que eventualmente  despertamos no forasteiro. O reconhecimento do Brasil fora de nossas fronteiras  é o sentimento em outros países de que podemos e devemos fazer o dever de casa como fazem por aí. 
   Não tem como desassociar a nossa esperança por um país de ponta com as mazelas e os malfeitos que vão protelando nossos melhores projetos. Se alcançamos a independência, falta agora a hegemonia, aquela instância em que o Brasil é bom para os brasileiros, cuja autoestima não pode ficar restrita à crenças, ideologias e jeitinho brasileiro.